Apocalipse 3 — Comentário Bíblico Online

Comentário Bíblico Online

 


Apocalipse 3 

Continuando rumo ao sudeste de Tiatira, o mensageiro teria de viajar cerca de 50 quilômetros até Sardes, a antiga capital da Lídia. Ela era famosa pela sua fabricação de lã e afirmava ter sido a primeira cidade a descobrir a arte de tingir lã.
Sardes havia alcançado seu ápice de prosperidade sob o rico rei Croesus (ca. 560 a.C.). Conquistada por Ciro, ela permaneceu desconhecida durante o governo persa. No período romano, houve uma certa medida de restauração. Mas Charles diz que mesmo então “ne­nhuma cidade na Ásia apresentou um contraste mais deplorável entre o esplendor passado e o declínio inquietantemente atual”.” Por esse motivo Ramsay chama Sardes de “a cidade da morte”. Ele escreve: “Assim, quando as Sete Cartas foram escritas, Sardes era uma cidade do passado, que não tinha futuro”.” Hoje existe uma pequena vila, chamada Sart.
O principal culto em Sardes era a depravada adoração de Cibele (ou Ártemis). Charles diz: “Seus habitantes tinham se destacado pela luxúria e libertinagem”.' Isso dificultou a manutenção dos padrões cristãos de pureza.
2.    Autor (3.1b)
Aqui Cristo é identificado como o que tem os sete Espíritos de Deus e as sete estrelas (cf. 2.1). Com sete Espíritos de Deus evidentemente se quer dizer o Espírito Santo e sua perfeição e sua obra por meio das sete igrejas, que representam a Igreja universal de Jesus Cristo (veja comentários em 1.4). As sete estrelas representam os mensageiros (pastores) das sete igrejas (cf. 1.20).
3.    Censura (3.1c, 2b)
A expressão Eu sei ocorre no início de cada uma das sete cartas (2.2, 9, 13, 19; 3.1, 8, 15). Nada está escondido aos olhos do Cristo onisciente. Uma vez que Ele conhece perfeitamente, Ele é capaz de julgar com justiça.
Seria difícil imaginar uma censura mais avassaladora: tens nome de que vives e estás morto. Essa cidade arrasada não estava apenas morta, mas a igreja também estava morta. Ela tinha perdido sua vida espiritual. Smith comenta: “Sardes evidente­mente era conhecida como uma 'igreja viva' — em que havia muita atividade, mas Aque­le que não olha para a aparência exterior, mas vê o coração declara: Tu [..] estás morto”.'
Erdman leva esse pensamento um passo adiante: “Provavelmente, seus cultos eram bem frequentados e conduzidos de maneira correta. Podem ter havido comitês e aniver­sários e reuniões. No seu rol de membros podem ter havido líderes sociais notáveis. No entanto, ela estava morta”.”
A igreja tinha obras, mas essas obras não eram perfeitas diante de Deus (2). Erdman comenta: “Ela não conquistou nada no reino espiritual: almas não estão sendo salvas; santos não são fortalecidos; ajuda não está sendo oferecida aos necessitados; seus cultos são formais, sem vida e sem sentido: 'Não achei as tuas obras aperfeiçoadas diante do meu Deus'
A palavra para perfeitas literalmente significa “suficientes” ou “cheias”. Swete faz a seguinte sábia observação: “'Obras' são 'cheias' somente quando são avivadas pelo Es­pírito de vida”.78 Precisamente, é isso que faz a diferença entre uma igreja morta e uma igreja viva. Uma sente a falta do Espírito Santo; a outra está cheia e capacitada pelo Espírito. Não será o número de atividades ou a organização eficiente que tirará o lugar da dinâmica poderosa do Espírito Santo.
4. Exortação (3.2a, 3)
Sê vigilante (2) é literalmente: “Esteja continuamente vigilante”. Vigilante é o particípio presente do verbo gregoreo, que significa “esteja acordado” ou “vigie”. Jesus usou essa palavra duas vezes no discurso do monte das Oliveiras (Mc 13.35, 37), reque­rendo vigilância constante na preparação para sua segunda vinda.
A igreja de Sardes foi advertida da seguinte maneira: confirma o restante que estava para morrer. No meio dessa igreja morta havia alguns elementos de vida. Mas mesmo esses estão prestes a morrer — literalmente: “estavam prestes [verbo no imper­feito] a morrer”. Swete comenta: “O imperfeito olha para trás do ponto de vista do leitor da época quando a visão foi recebida e, ao mesmo tempo, com um otimismo sensível ele expressa a convicção do escritor de que o pior logo teria passado”.79 Isto é, os cristãos em Sardes podiam dizer: “Essas coisas estavam prestes a morrer; mas não vamos permitir que isso aconteça”.
Ramsay destaca em pormenores o significado da ordem à igreja de Sardes de ser vigilante. A cidade tinha sido capturada duas vezes pelo inimigo por causa da falta de vigilância da parte do seu povo. A primeira vez foi quando o rico Croesus era rei. Ramsay descreve a situação da seguinte maneira:
O descuido e a falta de manter uma vigilância eficiente, decorrentes da confi­ança excessiva na evidente resistência da fortaleza foram as causas desse desastre, que arruinou a dinastia e causou o fim do império da Lídia e o domínio de Sardes. Os muros e portões eram extremamente fortes. A colina na qual a cidade alta havia sido erguida era íngreme e imponente. O único acesso à cidade alta era cuidadosa­mente fortificado para não oferecer chance alguma a um invasor. Mas havia um ponto fraco: em um lugar era possível que um inimigo ágil subisse a parede perpen­dicular da montanha imponente, se os defensores fossem negligentes e permitis­sem que ele a escalasse de maneira desimpedida.
Isso ocorreu em 549 a.C. Mas em 218 a.C. voltou a acontecer. Ramsay escreve:
Mais de três séculos depois, um outro caso semelhante ocorreu. Archaeus e Antíoco, o Grande, estavam lutando pelo domínio de Lídia e todo o império selêucida. Antíoco venceu seu rival em Sardes, e a cidade foi capturada novamente por uma surpresa do mesmo tipo: um mercenário de Creta mostrou o caminho, escalando a colina e entrando na fortaleza sem ser observado. A lição dos dias antigos não tinha sido aprendida; a experiência havia sido esquecida; os homens foram desatentos e negligentes; e quando veio o momento da necessidade, Sardes estava despreparada.81
O significado dessa lição para os cristãos é óbvio. Precisamos ter apenas um ponto fraco em nosso caráter, um lugar desprotegido em nossa vida espiritual, para ser vítima da astuta estratégia de Satanás. Continua sendo verdade que a “vigilância eterna é o preço da segurança”.
A admoestação à igreja de Sardes continua: Lembra-te, pois, do que tens rece­bido e ouvido, e guarda-o, e arrepende-te (3). Há uma mudança frequente do tem­po no grego que é difícil de reproduzir na tradução simples em português. Literalmen­te seria o seguinte: “Continue lembrando [presente], pois, como você [singular] tem recebido [e continua possuindo; perfeito] e ouviu [aoristo], e continue guardando [pre­sente], e arrependa-se [agora mesmo; aoristo]”. Lenski observa: “O arrependimento imediato e verdadeiro é o único remédio para a morte que se estabeleceu ou quase se estabeleceu”.' Esse arrependimento sempre quando lembramos da Palavra de Deus que temos recebido e ouvido.
Swete mostra bem a força dos tempos nesse versículo: “O aoristo [ouvido] volta para o momento em que a fé veio pelo ouvir (Rm 10.17) [...]; o perfeito [tens recebido] chama a atenção à responsabilidade permanente da confiança então recebida [...] 'guar­de aquilo que recebeu e imediatamente volte-se da sua negligência passada' “83
Os versículos 2,3 sugerem “Cinco Passos para um Avivamento”: 1) Sê vigilante; 2) Confirma o restante que estava para morrer; 3) Lembra-te; 4) Guarda-o; 5) Ar­repende-te.
Mais uma advertência é anunciada: se não vigiares, virei sobre ti como um la­drão, e não saberás a que hora sobre ti virei. Esse é um claro eco de Mateus 24.42-44. Repetidas vezes somos advertidos de que Cristo virá num momento inesperado.
5. Aprovação (3.4)
Mesmo na igreja morta em Sardes havia um remanescente fiel — algumas pesso­as. Deissmann diz que a palavra grega (onoma) aqui tem “o significado de pessoa”.' Ela é usada dessa forma na Septuaginta em Números 1.2, 20; 3.40, 43, em que provavelmen­te traz o pensamento adicional de “pessoas reconhecidas pelo nome”. Alguns estudiosos sentem que aqui a palavra significa “algumas pessoas cujos nomes estavam no rol de membros da igreja”.”
Os fiéis não contaminaram suas vestes. Moffatt comenta: “A linguagem reflete registros de cumprimento de votos na Ásia Menor, onde roupas manchadas desqualificavam o adorador e desonravam o deus. A pureza moral nos qualifica para a comunhão espiritual”.” Ir à presença de Deus com nossos pensamentos e sentimentos manchados com egoísmo é desonrá-lo. As vestes da nossa personalidade devem ser mantidas puras se desejamos ter comunhão com Deus.
Para aqueles que mantiveram sua pureza, a promessa é a seguinte: comigo andarão de branco. A última palavra está no plural no grego, indicando “roupas brancas”. Uma vez que mantiveram suas vestes limpas eles serão para sempre vestidos de bran­co, símbolo da santidade divina ou da justiça de Cristo. Aqueles que permaneceram brancos são dignos dessa honra.
6. Recompensa (3.5)
A promessa ao vencedor em Sardes se encaixa com o que acabou de ser dito: O que vencer será vestido de vestes brancas. No melhor texto grego aparece a palavra “assim”. O texto deveria ser traduzido da seguinte forma: “O que vencer, será assim vestido de vestes brancas” (referindo-se ao versículo anterior). Charles diz: “Essas ves­tes são os corpos espirituais com as quais o fiel será vestido na ressurreição”.' Ele encontra apoio para isso em 2 Coríntios 5.1, 4 e na literatura intertestamentária. Swete dá a essa expressão uma conotação mais ampla: “Nas Escrituras, vestuário branco denota a) festividade... b) vitória... c) pureza... d) o estado celestial”.” Ele acrescenta: “Todas essas associações convergem aqui: a promessa é de uma vida livre de contami­nação, radiante de alegria celestial, coroada com vitória finar.” Essa parece ser a ex­plicação mais adequada.
Aquele que vencer, que permanece firme até o fim da vida, recebe a promessa: de maneira nenhuma riscarei o seu nome do livro da vida. É isso que as palavras de Jesus querem dizer em Mateus 10.22: “aquele que perseverar até ao fim será salvo”; isto é, eternamente. Esse nome não só permanecerá seguro no registro celestial, mas Jesus promete: confessarei o seu nome diante de meu Pai e diante dos seus anjos. Cristo não se envergonhará em reconhecer aqueles que Lhe pertencem. A linguagem aqui lembra Mateus 10.32: “Portanto, qualquer que me confessar diante dos homens, eu o confessarei diante de meu Pai, que está nos céus”.
7. Convite (3.6)
Essa frase recorrente ressalta a responsabilidade do ouvir. Essas cartas eram lidas em voz alta nas igrejas.
F. CARTA À IGREJA DE FILADÉLFIA, 3.7-13
1. Destinatário (3.7a)
Essa cidade distava de Sardes pouco menos de 50 quilômetros a sudeste (veja mapa 1). Ela recebeu o nome do seu fundador, Atalus II (Philadelphus), que reinou de 159 a 138 a.C. Muitas vezes sacudida por terremotos, ela foi destruída em 17 d.C., junto com Sardes e dez outras cidades no vale de Lídia. O medo fez com que grande parte da popu­lação deixasse de morar no interior dos seus muros. Aparentemente, tanto a cidade quanto a igreja eram pequenas nessa época.
A adoração principal era a Dionísio (mais tarde chamado de Baco). Mas a carta indica que a principal oposição veio dos judeus e não dos pagãos. Quando os turcos conquistaram a Ásia Menor na Idade Média, Filadélfia suportou o ataque por muito mais tempo do que outras cidades. Ramsay diz: “Ela exibia todas as qualidades nobres de perseverança, verdade e constância que são atribuídas a ela na carta de João”.” Hoje há uma cidade relativamente grande lá, com uma estação ferroviária.
2. Autor (3.7b)
Cristo se descreve como o que é santo — literalmente, “o Santo”, um nome para a divindade. Ele também é o que é verdadeiro, “o Verdadeiro”. A palavra grega para verdadeiro (alethinos) significa “verdadeiro, no sentido de real, ideal, genuino”.91 Bultmann diz: “Em relação às coisas divinas ela tem o sentido daquilo que verdadeira­mente é, ou daquilo que é eterno”.” Comentando a respeito desse título duplo de Jesus, Swete escreve: “O Cabeça da Igreja é descrito ao mesmo tempo como santidade absoluta [...] e como verdade absoluta; Ele é tudo aquilo que afirma ser, cumprindo os ideais que prega e as esperanças que inspira”.” Charles entende que, no Apocalipse, não temos o sentido clássico do grego alethinos (“genuíno”) como acontece no Evangelho de João. Em vez disso, é a ênfase hebraica na fidelidade de Deus. Ele diz: “Por isso, alethinos sugere que Deus ou Cristo, como verdadeiro, cumprirá a sua palavra”.'
Jesus então se descreve como o que tem a chave de Davi, o que abre, e nin­guém fecha, e fecha, e ninguém abre. Essas palavras são citadas de Isaías 22.22. Ali o Senhor fala de Eliaquim, servo fiel de Ezequias: “E porei a chave da casa de Davi sobre o seu ombro, e abrirá, e ninguém fechará, e fechará, e ninguém abrirá”. A chave é o símbolo de autoridade. Charles observa que a expressão a chave de Davi “evidente­mente tem um significado messiânico [...] As palavras ensinam que a Cristo pertence completa autoridade com respeito à admissão ou exclusão da cidade de Davi, a nova Jerusalém”.' Mas já em 1.18, Jesus tinha declarado que Ele tinha as chaves da morte e do Hades. Assim, Ele exercita autoridade no céu, na terra, e mesmo no reino dos mortos.
3. Aprovação (3.8-10)
À igreja de Filadélfia, Cristo disse: eis que diante de ti pus uma porta aberta (8) — literalmente: “uma porta que foi aberta e permanece aberta”. A figura de uma porta aberta era familiar para os cristãos do primeiro século. Os missionários pioneiros, Paulo e Barnabé, relataram em Antioquia que Deus “abrira aos gentios a porta da fé” (At 14.27). Em relação à sua obra em Éfeso, Paulo escreveu: “porque uma porta grande e eficaz se me abriu” (1 Co 16.9). Pouco mais tarde, ele diz: “quando cheguei a Trôade para pregar o evangelho de Cristo [...] abrindo-se-me uma porta no Senhor” (2 Co 2.12). Ele pediu aos colossenses a orarem “para que Deus nos abra a porta da palavra” em Roma (Cl 4.3). Essas passagens das epístolas de Paulo parecem indicar o que significa uma porta aberta. Ela significa uma boa oportunidade para a obra missionária.
Ramsay denomina Filadélfia “a igreja missionária”. Ele diz o seguinte dessa cidade:
A intenção dos seus fundadores era torná-la um centro da civilização greco­asiática e um meio de espalhar a língua grega e seus costumes na parte oriental da Lídia e da Frigia. Ela era uma cidade missionária desde o seu princípio [...] O seu ensinamento foi bem-sucedido. Antes de 19 d.C., a língua nativa tinha deixado de ser falada na Lídia e a língua grega era a única falada nesse país.”
Mas agora a igreja de Filadélfia foi chamada para um tipo de obra missionária mui­to mais importante, que é a de espalhar o evangelho de Jesus Cristo. Para essa tarefa, ela estava num lugar apropriado. A estrada do esplêndido porto de Esmirna passava por Filadélfia. Além do mais, “a estrada imperial do correio de Roma até as províncias mais ao leste” passava por Trôade, Pérgamo, Tiatira, Sardes e Filadélfia. “Ao longo dessa grande rota a nova influência estava constantemente se movendo para o leste da Fila­délfia, na forte corrente de comunicação que saía de Roma, passava pela Frigia e ia em direção ao Oriente distante [...] Filadélfia, portanto, era a guardiã do portão para o pla­nalto; mas a porta tinha agora sido permanentemente aberta diante da Igreja, e a obra de Filadélfia era passar por ela e levar o evangelho para as cidades da Frígia”.97
A igreja em Filadélfia se torna um símbolo da grande iniciativa de missões mundi­ais, a próxima etapa na história do cristianismo depois da Reforma Protestante. Nos primeiros 150 anos depois do início de missões modernas protagonizado por William Carey em 1792, provavelmente mais obras missionárias foram desenvolvidas do que nos 1500 anos anteriores.
Acerca dessa porta aberta Jesus disse: ninguém a pode fechar. A “chave de Davi” (v. 7) tinha destrancado a porta, e nenhum humano ou força demoníaca poderia fechá-la. Nunca antes, em 1900 anos de história cristã, o desafio da porta aberta de missões mundiais foi maior do que agora.
Parece surpreendente ler: tendo pouca força. Evidentemente, a igreja de Filadél­fia era pequena e talvez seus membros fossem na maioria da classe mais pobre. A decla­ração guardaste a minha palavra e não negaste o meu nome deveria ser traduzida da seguinte forma: “E mesmo assim guardaste a Minha palavra e não negaste o meu nome”. Evidentemente, a congregação tinha passado por um tempo de provação, mas permaneceu firme.
A frase a sinagoga de Satanás (9) já tinha aparecido em 2.9, na carta a Esmirna. Nessas duas cidades a oposição à igreja veio principalmente dos judeus. Mas eles não são verdadeiros judeus, porque não seguem os passos do Pai Abraão, nem guardam o espírito da lei de Moisés (veja comentários em 2.9).
Desses falsos judeus o Senhor diz: eis que eu farei que venham, e adorem pros­trados a teus pés,” e saibam que eu te amo. Isso parece indicar que alguns judeus seriam convertidos ao cristianismo. Essa interpretação é fortalecida pela primeira frase do versículo: eu farei aos da sinagoga de Satanás. O grego traz: “eu darei da sinago­ga de Satanás [não eu farei]”. Alguns seriam salvos.
Confirmação indireta disso é encontrada na carta de Inácio aos cristãos em Filadél­fia (ca. 120 d.C.), na qual ele os adverte para não darem ouvidos aos judaizantes. Eviden­temente, os judeus se tornaram influentes na congregação de Filadélfia.
Cristo elogiou a igreja porque ela tinha guardado a palavra da minha paciência (10), ou “resistência”. Erdman diz que essa frase dá a impressão de significar: “A prega­ção dessa imutável resistência com a qual no meio de privações Cristo deve ser servi­do”.” Mas é minha paciência. Trench está certo quando comenta: “Muito melhor, no entanto, é entender todo o evangelho como 'a palavra da paciência de Cristo', ensinando em toda parte, como está ocorrendo, a necessidade de uma espera paciente por Cristo, até que Ele, o esperado por tanto tempo, finalmente apareça”.' Lenski vai mais longe e sugere que a frase deveria ser traduzida da seguinte forma: “a Palavra que trata da resistência do Senhor”.' Talvez esses dois pensamentos deveriam ser combinados: é a resistência paciente de Cristo como um exemplo para permanecermos constantes.
Uma vez que a igreja em Filadélfia tinha guardado essa palavra de Cristo, Ele, por sua vez, a guardará da hora da tentação que há de vir sobre todo o mundo (terra habitada), para tentar os que habitam na terra. O substantivo grego para tenta­ção é peirasmos, e o verbo grego para tentar é peirazo. A conexão óbvia no grego também aparece na versão em português (o mesmo não ocorre na KJV). O verbo signi­fica “testar, colocar à prova”. Uma tradução correta seria “provação [...] prova” (NVI) ou “teste [...] testa” (NASB).
O alcance mundial dessa prova mostra que a referência principal é ao período da chamada Grande Tribulação no tempo da Segunda Vinda. Mas há talvez uma aplicação secundária às perseguições romanas ao cristianismo, que se estendiam pela terra então conhecida — o Império Romano.
Tem havido uma discussão considerável se te guardarei da hora da tentação significa isenção do tempo da provação ou ser guardado nesse tempo. A palavra da no grego não é apo, “para longe de”, mas ek, que significa “fora de”. À luz disso, Carpenter escreve: “A promessa não significa ficar guardado longe da tribulação, mas ser guardado no meio dela” — da mesma forma que a cabeça de alguém é “mantida acima da água”.' Swete escreve: “Para a igreja de Filadélfia a promessa era uma garantia de proteção em qualquer prova que lhe pudesse sobrevir”.' Também é uma promessa para nós de que o nosso Senhor nos manterá em segurança em qualquer época de teste.
4.    Exortação (3.11)
Na carta para Filadélfia, como na carta para Esmirna, não há palavra de censura. Assim, passamos imediatamente para a exortação.
Ela começa com uma promessa misturada com advertência: Eis que venho sem demora.' O significado principal de sem demora (cf. 22.20) é que o Senhor não atrasa­rá a sua vinda além do tempo fixado. Mas, uma vez que não sabemos quando isso acon­tecerá, devemos estar constantemente preparados. Além disso, para o Senhor mil anos são como um dia (2 Pe 3.8). Assim, dois mil anos ainda seriam sem demora.
A conexão próxima desse versículo com o anterior sugere que a vinda de Cristo vai livrar os seus da hora da tribulação. Alguns têm sugerido que, da mesma forma que os israelitas tiveram de tomar parte das três primeiras pragas (sangue, sapos, piolhos) com os egípcios (Ex 8.22), assim a Igreja poderá passar pela primeira parte da Grande Tribu­lação antes de ser levada por Cristo.
A igreja de Filadélfia é admoestada: guarda o que tens. Swete sabiamente observa: “A promessa de proteção (v. 10) traz consigo a responsabilidade de um esforço contí­nuo”.'“ Coroa significa a “coroa da vitória” (veja comentários em 2.10). A advertência é contra fracassar na corrida da vida e, consequentemente, perder o direito à coroa da vida. Ou seja: “toma cuidado para que ninguém tome a tua coroa”. Esse objetivo é alcançado ao correr com sucesso até o fim.
5.    Recompensa (3.12)
Para o vitorioso será erguida uma coluna no templo do meu Deus. Swete comen­ta: “Há uma dupla propriedade nessa metáfora: enquanto a coluna dá estabilidade à construção que se apóia sobre ela, ela mesma está firme e permanentemente estabelecida; e esse lado do conceito frequentemente vem à tona [...] e é preeminente aqui”.'“
Uma vez que ele esteja estabelecido, dele [do templo] nunca sairá. Quando o período da provação chegar ao fim e o vencedor tiver se tornado uma coluna no templo eterno de Deus, não haverá mais possibilidades de cair. O caráter dos santos glorificados será firmado para sempre.
A respeito do vencedor, Cristo disse que escreveria três nomes: o nome do meu Deus [...] o nome da cidade do meu Deus[...] e também o meu novo nome. O nome de Deus, significando sua posse, era colocado sobre os israelitas; porque logo após a bela bênção sumo sacerdotal (Nm 6.24-26), é acrescentada: “Assim, porão o meu nome sobre os filhos de Israel, e eu os abençoarei” (Nm 6.27). A nova Jerusalém é descrita em mais detalhes nos capítulos 21-22. Aqui há apenas uma referência de passagem acerca dela.
O que significa o meu novo nome? Trench diz que é esse “nome misterioso e, na necessidade das coisas, não comunicado e, para o tempo presente, incomunicável, que, nessa mesma visão mais sublime, é mencionado como: 'e tinha um nome escrito que ninguém sabia, senão ele mesmo' (19.12) [...] Mas o mistério desse novo nome, que nenhum homem é capaz de descobrir, que nessa condição presente ele não é capaz de receber, será dado aos santos e cidadãos da nova Jerusalém. Eles conhece­rão como são conhecidos (1 Co 13.12)”.1' Swete sugere que o novo nome de Cristo é um símbolo para a glória mais completa de sua Pessoa e Caráter que aguardam revelação na sua Vinda”.1
Três pensamentos se destacam nessa “Promessa ao Vencedor”: 1) Consagração com­pleta a Deus — o nome do meu Deus; 2) Cidadania intransferível na cidade celestial — o nome da cidade do meu Deus; 3) Conhecimento mais completo de Cristo na Segunda Vinda — meu novo nome.'“
6. Convite (3.13)
Ouça significa “preste atenção”. É o que queremos comunicar quando dizemos: “Ago­ra, escute-me”.
G. CARTA À IGREJA DE LAODICEIA, 3.14-22
1. Destinatário (3.14a)
A KJV traduz aqui: “à igreja dos Laodicenses”. Essa tradução tem provocado uma série de comentários e interpretações. Mas ela praticamente não tem apoio dos manus­critos gregos. A tradução correta é: “à igreja que está em Laodiceia”. Ela é similar em forma com os destinatários das outras igrejas.
Laodiceia distava cerca de 60 quilômetros a sudeste de Filadélfia. Ela se localizava junto ao rio Licos, 10 quilômetros ao sul de Hierápolis e 16 quilômetros a oeste de Colossos (veja mapa 1). Fundada por Antíoco II (267-246 a.C.), essa cidade foi chamada de Laodiceia em homenagem à sua esposa, Laodice. Visto que estava localizada na junção de três estradas importantes, tornou-se uma grande cidade comercial e administrativa. O fato de ser um centro financeiro, a tornou tão próspera que foi capaz de reconstruir-se depois do grande terremoto em 60 d.C. sem o subsídio imperial. Ela também era conhecida pela fabricação de roupas e tapetes de uma lã preta, brilhante e macia. Laodiceia também era famosa por causa da sua renomada escola de medicina.
A igreja de Laodiceia já existia quando Paulo estava preso em Roma. Ele escreveu uma carta a ela (cf. Cl 4.16) que evidentemente se perdeu. 
A cidade foi conquistada pelos turcos. No lugar existe hoje uma série de ruínas, ainda não escavadas.
2. Autor (3.14b)
Jesus aqui se identifica como o Amém. Isso pode ser um eco de Isaías 65.16, em que encontramos no hebraico: “o Deus do Amém” (ou “o Deus da verdade”). A palavra foi traduzida do hebraico para o grego e, tempos depois, para o inglês e outras línguas mo­dernas. Hoje, entre os cristãos de todos os países e línguas ouvimos o mesmo “Amém!”.
Provavelmente há uma conexão próxima entre o uso frequente desse termo por Je­sus como está relatado nos Evangelhos. Essa palavra aparece 51 vezes nos Sinóticos e 50 vezes no Evangelho de João. Ela é traduzida como “na verdade” (sempre duplo em João) na frase: “Na verdade vos digo”.
O autor mais adiante se descreve como a testemunha fiel e verdadeira (veja comentários em 1.5; 3.7). Isso provavelmente é sinônimo de o Amém, que é colocado aqui “porque essa é a última das sete epístolas, para que possa confirmar o todo”.'
O terceiro item na descrição é: o princípio da criação de Deus. Mestres heréticos têm se aproveitado dessa frase como prova de que Cristo não era eterno. Mas em Colossenses, em que Ele é designado “o primogênito de toda a criação” (1.15), é mencio­nado logo em seguida: “porque nele foram criadas todas as coisas [...] E ele é antes de todas as coisas” (1.16-17). Além disso, em seu Evangelho, João diz acerca do Logos: “To­das as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez” (Jo 1.3). A frase aqui deve ser interpretada à luz dessas outras passagens. Ela significa “a origem (ou `fonte original') da criação de Deus”.'
3. Aprovação (3.15-17)
No caso da igreja de Laodiceia não há palavras de aprovação ou recomendação. É um fato impressionante que não se diga nada aqui acerca dos nicolaítas ou qualquer outro grupo herético. Pelo que tudo indica, a igreja era ortodoxa. Mas era uma ortodoxia morta. O que estava errado com a igreja de Laodiceia não era um problema da cabeça, mas um problema do coração. Isso era muito mais sério.
A essa igreja o Senhor disse: Eu sei as tuas obras, que nem és frio nem quente. Tomara que foras frio ou quente (15). A palavra grega para frio (psychros) é usada somente nos versículos 15-16 e em Mateus 10.42 — “um copo de água fria”. Quente é zestos (somente nos vv. 15-16 no NT). Essa palavra significa “quente a ponto de ferver”, assim frio aqui provavelmente significa “frio a ponto de congelar”.1” A igreja não era nem friamente indiferente nem fervorosa no espírito (cf. Rm 12.11).
A reação do Cabeça da Igreja é expressa com palavras fortes: Assim, porque és morno e não és frio nem quente, vomitar-te-ei da minha boca (16). Alguns ali­mentos são gostosos somente quando estão frios, outros somente quando estão quentes. Alguns alimentos são gostosos tanto frios quanto quentes. A maioria das pessoas gosta de suco gelado e café ou chá quente; mas quem gosta de uma bebida morna? As palavras gregas para morno e vomitar (esta é emeo, no grego) são encontradas somente aqui no Novo Testamento.
A pior coisa a respeito da condição dessa igreja era sua autocomplacência: Como dizes: Rico sou, e estou enriquecido, e de nada tenho falta (17). A igreja evidentemente refletia o comportamento da comunidade (veja comentários no v. 14). Enriqueci­do significa literalmente: “acumulei riquezas” (mesma raiz de rico na frase anterior); em outras palavras: “Obtive minha riqueza com meu próprio esforço”. A primeira frase expressa auto-satisfação; a segunda, orgulho.
Não existe um exemplo mais triste de orgulho insensível do que o que é exibido na declaração: de nada tenho falta. Que contraste com a humildade realista expressa nas palavras do hino “Preciso de Ti a toda hora”. Esse é o verdadeiro espírito cristão de dependência.
A avaliação de Cristo acerca dessa igreja era bem diferente da avaliação que essa igreja fez dela mesma. Ele disse: e não sabes que és um desgraçado, e miserável, e pobre, e cego, e nu. O grego é consideravelmente mais vívido: “e não sabes que thou (enfático no gr. — tu que tens te vangloriado) és o desgraçado, e desprezível, e pobre, e cego e nu”. Desgraçado é encontrado somente aqui e em Romanos 7.24 (no texto grego): “Miserável homem que eu sou! Quem me livrará do corpo desta morte?”. Miserável ocorre somente aqui e em 1 Coríntios 15.19: “Se esperamos em Cristo só nesta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens”.
Swete resume o restante do versículo da seguinte forma: “Os três adjetivos se­guintes relatam os motivos para a comiseração; um pedinte cego [...] escassamente vestido (cf. Jo 21.7) não era mais merecedor de compaixão do que essa igreja rica e presunçosa”.1Pobre [...] cego [...] nu devem ser entendidos metaforicamente, des­crevendo a condição espiritual da igreja. No entanto, pode haver uma alusão indireta aos recursos ostentosos da cidade onde estavam localizados. A igreja era pobre em um centro financeiro opulento, cego em uma comunidade que tinha uma excelente escola de medicina, e nu em um lugar famoso pela fabricação de roupas feitas de uma lã de alta qualidade. É possível que a Igreja dos nossos dias prospere exterior­mente no meio de prosperidade material, e mesmo assim seja pobre, cega e espiritu­almente nu.
4. Exortação (3.18-20)
A essa igreja opulenta, que “não tinha falta de nada”, Jesus disse: aconselho-te que de mim compres ouro provado no fogo, para que te enriqueças (18). O termo compres é um eco de Isaías 55.1: “vinde, comprai e comei; sim, vinde e comprai, sem dinheiro e sem preço, vinho e leite”. Essa é a única maneira de com­prarmos de Deus. De mim é enfático. Essas coisas necessárias podem ser adquiri­das somente de Cristo.
Provado no fogo ou “refinado no fogo”, isto é, purificado pelo fogo. A mesma forma verbal ocorre na Septuaginta em Salmos 18.30 — “a palavra do Senhor é provada”. Em Provérbios 30.5, lemos “pura” — “Toda palavra de Deus é pura”. Assim, aqui significa que esse ouro é puro e genuíno.
Além disso, a igreja precisava de vestes brancas, para que te vistas, e não apa­reça a vergonha da tua nudez. A roupa branca e pura estava em contraste com a lã preta, pela qual Laodiceia era famosa.
Em terceiro lugar, Jesus aconselhou a igreja para que unjas os olhos com colírio, para que vejas. Acerca desse remédio, Charles diz: “Em nosso texto refere-se ao famoso pó da Frigia usado pela escola de medicina de Laodiceia”.
Não se deve deixar de notar que as três partes do versículo 18 correspondem aos últimos três adjetivos do versículo 17: “pobre”, “nu”, “cego”. A igreja de Laodiceia achava que não precisava de nada. Na verdade, ela sentia falta das necessidades mais básicas da vida espiritual.
Nesse versículo, vemos “O que é o Evangelho”: 1) Riqueza divina para nossa pobreza espiritual; 2) Veste branca de justiça para nossa pecaminosidade; 3) Visão espiritual para nossa cegueira.
A exortação continua: Eu repreendo e castigo a todos quantos amo; sê, pois, zeloso e arrepende-te (19). O castigo é um sinal do cuidado amoroso de Deus como
nosso Pai celestial (cf. Hb 12.5-11). É interessante que o verbo amo aqui não é o costu­meiro agapao, mas phileo, que introduz um toque meigo e sentimental — para a igreja
que menos o merecia! Repreendo é “declarar culpado”. Castigo é literalmente “educar uma criança”. Tudo isso mostra a compaixão de Cristo em lidar com essa igreja como uma criança geniosa que precisava do amor e disciplina do Pai. Swete observa: “Talvez a condição deplorável da igreja de Laodiceia era devida à falta de correção; não há nenhu­ma palavra de quaisquer provas até aqui sofridas por essa igreja”.115
Essa igreja tinha falta de “tempero” (veja comentários acerca de “quente”, v. 15). Ela carecia de zelo. Assim, o Senhor disse: sê, pois, zeloso (imperativo presente, sê constan­temente zeloso). Arrepende-te está no aoristo, requerendo uma ação imediata em uma decisão crucial.
Pode parecer estranho que sê [...] zeloso preceda arrepende-te. Plumptre obser­va: “A raiz da maldade da igreja de Laodiceia e seus representantes era sua indiferença
e mornidão, a ausência de qualquer zelo, de qualquer seriedade. E o primeiro passo, portanto, para coisas mais elevadas era passar para um estado em que esses elementos de vida não mais seriam manifestos pela sua ausência”.'
A esse chamado para arrependimento “Cristo acrescenta a mensagem mais terna encontrada nessas cartas”:' Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha
voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e com ele cearei, e ele, comigo (20). Esse é um dos mais importantes textos do evangelho no Novo Testamento e deveria ser citado frequentemente na evangelização pública e na abordagem pessoal. Por esse moti­vo, esse versículo deveria ser memorizado por todo cristão e ganhador de almas.
A simplicidade do evangelho é expressa de maneira singular nessa passagem. Cris­to está parado à porta do coração de cada pecador, batendo e esperando para entrar. Ele não vai demolir a porta e forçar a entrada, porque nos criou com vontade própria e não violará esse aspecto. Mas se o pecador abrir a porta, o que só ele pode fazer, o Salvador promete entrar. A grande tela de Holman Hunt, “A Luz do Mundo”, é a evangelização tornada visual.
A ideia de “cear” é de comunhão, e mais especificamente de uma comunhão sem pressa ao redor da mesa do jantar, quando a agitação do dia passou. O pensamento é expresso belamente pela NEB: “e sentar para jantar com ele”. Esse aspecto também antevê o banquete eterno com Cristo.
A comunhão é dupla. G. Campbell Morgan a descreve da seguinte forma: “Primeiro, serei seu Convidado, 'Eu cearei com ele'. Ele será o meu convidado, 'e ele comigo'. Senta­rei à mesa que o seu amor provê e satisfarei o meu coração. Ele sentará à mesa que o meu amor proverá e satisfará o seu coração”.'
5. Recompensa (3.21)
A promessa final é: Ao que vencer, lhe concederei que se assente comigo no meu trono, assim como eu venci e me assentei com meu Pai no seu trono. Esse é um eco e extensão da promessa que Jesus fez aos seus doze apóstolos em Mateus 19.28 e Lucas 22.29,30. Jesus venceu todas as tentações e provações na sua vida na terra e recebeu sua recompensa. Para aqueles que o seguem plena e fielmen­te até o fim, uma recompensa igual o estará aguardando. Essa promessa obviamente antecipa a vida futura.
6. Convite (3.22)
Mais uma vez os ouvintes dessas cartas são admoestados a ouvir o que o Espírito diz às igrejas. Todas as sete mensagens estão repletas de advertências e exortações salutares para os cristãos de hoje. Faríamos bem se prestássemos atenção a elas.

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