Apocalipse 11 — Comentário Bíblico Online
Apocalipse 11 — Comentário Bíblico Online
Apocalipse 11
b) As duas testemunhas (Ap 11.1-4). João
recebeu uma cana semelhante a uma vara (1). A cana era uma planta
de junco que crescia ao longo do rio Jordão (cf. Mt 11.7), chegando muitas
vezes a medir cinco metros de altura. Essa cana era semelhante a uma vara em
força e no seu alinhamento, porém mais comprida. Ezequiel viu um homem medindo
o novo templo com uma cana de cerca de três metros de comprimento (Êx 40.5).
Zacarias também menciona um homem medindo Jerusalém, mas com um cordel (Zc
2.1,2). Em 21.15, João verá um anjo medindo a nova Jerusalém com uma cana de
ouro.
O vidente então ouve: Levanta-te e mede o templo (naos)
de Deus, e o altar, e os que nele adoram. O templo aqui
evidentemente significa a Igreja de Jesus Cristo, como nas epístolas de Paulo
(1 Co 3.16; 2 Co 6.16; Ef 2.21). Swete escreve: “A medida do Santuário
proporciona a sua preservação da destruição geral e assim corresponde ao selar
dos cento e quarenta e quatro mil, que precedeu a abertura do sétimo selo, da
mesma forma que a medição precede o soar da sétima trombeta”.” O fato de
a medição corresponder ao selar é sugerido pelo fato de João precisar medir os
que nele adoram.
No entanto, uma restrição foi feita: ...deixa o
átrio que está fora do templo e não o meças; porque foi dado às nações (2).
Esse era o átrio dos gentios no Templo dos dias de Jesus. Somente os judeus
podiam ir além dele para o átrio interior. João deveria deixar de parte (lit.,
“excluir”) o átrio exterior. Ele seria profanado junto com o restante da
cidade. Swete comenta: “Se o naos [templo, santuário] representa a
Igreja, o átrio exterior represente talvez a sinagoga rejeitada; como em 2.9,
3.9, a mesa é virada, e enquanto a Igreja enche o átrio dos israelitas e adora
no altar da Cruz (Hb 13.10), o Israel carnal é lançado fora (Mt 8.12) [...] e
entregue nas mãos dos pagãos”.”
Acerca dos gentios é dito o seguinte: pisarão a
Cidade Santa (cf. Is 63.18; Dn 8.13; Zc 12.3; e especialmente Lc 22.22) por
quarenta e dois meses; isto é, três anos e meio. Isso é equivalente a mil
duzentos e sessenta dias (3).
A que se refere isso? Alguns preteristas (veja
Int., “Interpretação”) encontram sua resposta nos três anos e meio da revolta
judaica, culminando na destruição de Jerusalém pelos romanos em 70 d.C. Isso
colocou um fim no sacrifício de animais no Templo, que nunca mais foi
reconstruído desde aquela época. Outros intérpretes preteristas, como McDowell,
acham que os 42 meses simplesmente representam “períodos de tempo breves e
incompletos”.” Ele diz, no entanto: “A explicação mais provável para o
simbolismo difícil dessa seção é que ele deve ser entendido tendo como fundo a
destruição de Jerusalém e do Templo”.” Kepler diz que três anos e meio é “o
período convencional em que forças malignas reinam, desde quando Antíoco VI
profanou o Templo em que Zeus do Olimpo foi adorado por três anos e meio,
168-165 a.C.”.97 Essa foi a pior crise pela qual os judeus passaram
entre o cativeiro babilônico e a queda de Jerusalém em 70 d.C.
Os historicistas afirmam que o capítulo 10 descreve a Reforma Protestante ( século 16).
Utilizando o assim chamado “princípio de um dia para cada ano” — em que cada
dia no Apocalipse equivale a um ano — eles encontram nos 1260 dias um paralelo
com os 1260 anos da supremacia papal, finalizando em 1517.
Os futuristas entendem que o elemento tempo se
refere aos três anos e meio do reinado do Anticristo, que é conhecido como a
Grande Tribulação no final dessa era. A interpretação está baseada em Daniel
7.25: “E proferirá palavras contra o Altíssimo, e destruirá os santos do
Altíssimo [...] e eles serão entregues nas suas mãos por um tempo, e tempos, e
metade de um tempo”; isto é, três anos e meio. Isso geralmente está conectado à
septuagésima semana de Daniel (uma semana significa sete anos), descrita em
Daniel 9.27: “E ele firmará um concerto com muitos por uma semana; e, na metade
da semana, fará cessar o sacrifício e a oferta de manjares; e sobre a asa das
abominações virá o assolador, e isso até à consumação; e o que está determinado
será derramado sobre o assolador”. Isto é, a segunda parte da septuagésima “semana”
será a Grande Tribulação. Devemos observar que essa interpretação insere toda a
era da Igreja (que se inicia em 30 d.C.) entre a sexagésima nona e a
septuagésima semana de Daniel. De acordo com a visão futurista, os dois
primeiros versículos do capítulo 11 “retratam a segurança espiritual da Igreja
durante a era do controle do Anticristo”.”
Quem são as duas testemunhas (3) que
profetizarão por três anos e meio, vestidas de pano de saco (um sinal de
penitência e lamentação)? Elas têm sido identificadas como Moisés e Elias,
Elias e Eliseu ou Enoque e Elias. O motivo ao sugerir a última dupla é que eles
são os únicos dois indivíduos no Antigo Testamento de quem se relata que não
morreram. O raciocínio é que eles devem voltar para a terra durante a Grande
Tribulação e morrer (cf. v. 7), visto que todos os homens devem morrer algum dia.
Mas não há nada na passagem aqui que faça alusão a Enoque e Elias, embora
Tertuliano defendesse esse ponto de vista no segundo século. Swete descarta
todas as identificações pessoais. Ele escreve: “Na verdade, as testemunhas
representam a Igreja em sua função de testemunha”.”
As duas testemunhas são descritas simbolicamente como
as duas oliveiras e os dois castiçais (candelabros) que estão diante
do Deus da terra (4). A linguagem é claramente derivada de Zacarias 4.2-3,
em que “duas oliveiras” são mencionadas, embora haja “sete lâmpadas”.
Imagina-se evidentemente que as oliveiras suprirão o óleo para as lâmpadas (Zc
4.12). Assim, aqui as duas testemunhas brilham gloriosamente pelo seu Senhor.
Em Zacarias 4.14 os “dois ungidos [...] estão diante do Senhor de toda a terra”,
como aqui.
A referência em destruir seus inimigos pelo fogo
(5) parece apontar para Elias (2 Rs 1.10-12), como também a menção de poder
para fechar o céu, para que não chova nos dias da sua profecia (6; cf. 1 Rs
17.1). Por outro lado, têm poder sobre as águas para convertê-las em sangue
e para ferir a terra com toda sorte de pragas é uma alusão ainda mais
impressionante a Moisés no Egito. Foi Moisés e Elias que estiveram com Jesus no
monte da Transfiguração (Mt 17.3), representando a lei e os profetas. Se essas
duas testemunhas precisam ser identificadas com indivíduos, Moisés e Elias
parecem ter a preferência. Phillips interpreta a última parte do versículo 5
assim: “Na verdade, se alguém tentar causar-lhes dano, essa será a forma que ele
certamente morrerá”.
No final do ministério de três anos e meio das
testemunhas, a besta que sobe do abismo lhes fará guerra, e as vencerá, e as
matará (7). A besta é identificada pelos preteristas (veja
Int., “Interpretação”) como sendo o poder imperial de Roma. Por exemplo, Swete
escreve: “O vidente antecipa uma luta entre a Igreja e todo o poder do Império
Romano; ele prevê que os problemas que começaram com Nero e Domiciano
terminarão em um conflito tal como foi levantado por Décio e na última perseguição
sob Diocleciano”; ele acrescenta: “Mas suas palavras cobrem, na realidade,
todos os martírios e massacres da história na qual forças cruéis parecem ter
triunfado sobre a verdade e a justiça”.”
Representando os historicistas, Barnes
identifica as duas testemunhas com as seitas perseguidas da Idade Média e a
besta com o papado. Os futuristas entendem que a besta é o Anticristo,
embora difiram em relação às duas testemunhas.
Os corpos mortos (v. 8) dos dois profetas jazerão na
praça da grande cidade que, espiritualmente, se chama Sodoma e Egito, onde o
seu Senhor também foi crucificado. A última parte do versículo parece
sugerir que a cidade referida era Jerusalém. Os governantes e o povo de Judá
são chamados “vós príncipes de Sodoma” e “vós, ó povo de Gomorra” (Is 1.10).
Foi em Jerusalém que morreram os primeiros mártires cristãos. Também pode haver
uma referência a Roma como o centro posterior de perseguição.
Os corpos mortos ficaram expostos em céu aberto, sem
serem sepultados — uma indignidade trágica aos olhos dos judeus — por três
dias e meio (9). Isso foi “tantos dias quantos os anos da profecia das
testemunhas — um breve triunfo na realidade, mas tempo suficiente para que
parecesse completo e finar.'
Ao interpretar os três anos e meio, Barnes mostra sua
diligência pelos detalhes que geralmente marcam os intérpretes historicistas.
De acordo com seu princípio dia-ano, os três dias e meio representam três anos
e meio. Ele entende que esse tempo ocorreu entre 5 de maio de 1514, quando o
Concílio de Latrão fez a proclamação de que toda a oposição do papado havia
cessado e 31 de outubro de 1517, quando Lutero afixou as 95 teses.' Mas isso
parece um pouco fantasioso.
Depois de muita celebração pelo povo da cidade —
porque os dois profetas tinham atormentado (10) as consciências dos seus
ouvintes — o espírito de vida, vindo de Deus (11) entrou nas duas
testemunhas e puseram-se sobre os pés. Eles ouviram uma grande voz do
céu [...] E subiram ao céu em uma nuvem (12) diante do olhar dos seus
inimigos. Naquela mesma hora houve um grande terremoto, e caiu a décima
parte da cidade (13). Sete mil homens foram mortos no terremoto,
deixando os sobreviventes amedrontados e deram glória ao Deus do céu. Os
primeiros leitores do Apocalipse de João, na Ásia Menor, estavam familiarizados
com terremotos destrutivos. Essa imagem despertaria terror em seus corações. Terremoto
literalmente significa “tremor”. Houve muitos abalos e convulsões na
história da humanidade, mas o pior ainda está por vir no fim dos tempos.
No versículo 14, temos uma outra pausa: É passado
o segundo ai; eis que o terceiro ai cedo virá. Isso se assemelha com 9.12.
Esses três últimos julgamentos anunciados pelas trombetas foram muito mais
severos do que os primeiros quatro. Agora, depois de um longo interlúdio
(10.1-11.14), o palco está preparado para o soar da sétima trombeta.
7. A Sétima Trombeta: Consumação (11.15-19)
Quando tocou o sétimo anjo a trombeta [...] houve
no céu grandes vozes (15). Isto contrasta grandemente com a abertura do
sétimo selo, quando “fez-se silêncio no céu” (8.1). Essas vozes podem
ter sido as vozes das quatro criaturas viventes (cf. 6.1, 3, 5, 7), embora não
tenham sido mencionados aqui.
João ouviu a proclamação mais maravilhosa já feita: Os
reinos do mundo vieram a ser de nosso Senhor e do seu Cristo, e ele reinará
para todo o sempre. Nesse momento o milênio é anunciado, embora não chegue,
de fato, até o capítulo 20.
Em seguida, João viu os vinte e quatro anciãos se
prostrarem sobre o seu rosto e adorarem a Deus (16). Deles veio um hino
de gratidão ao Senhor, Deus Todo-poderoso (17). Mais uma vez, Ele é
descrito como o Eterno: que és, e que eras, e que hás de vir (cf. 1.4,
8; 4.8). Os anciãos, representando os redimidos de todos os tempos (veja
comentários em 4.4), se regozijam porque tomaste o teu grande poder e
reinaste. A força ilimitada de Deus está prestes a ser manifestada quando
vencer todos os inimigos e estabelecer o seu Reino.
Iraram-se as nações (18) aponta para o Salmo 2, que é citado em Atos 4.25-26 em conexão com
a crucificação de Cristo. Aqui ele recebe uma aplicação mais ampla. A hostilidade
mundial em relação ao governo de Deus chega a um ponto de convergência final.
O resultado é que veio a tua ira, e o tempo dos
mortos, para que sejam julgados. Mas também é um tempo de dar galardão
aos profetas, teus servos, e aos santos, e aos que temem o teu nome, a pequenos
e a grandes. O crente mais insignificante, se for fiel, receberá seu
galardão. Mas Deus destruirá os que destroem a terra. Todos os inimigos
da humanidade finalmente serão eliminados. Os horrores da guerra acabarão para
sempre.
A visão da sétima trombeta encerra com uma observação
surpreendente: E abriu-se no céu o templo (santuário) de Deus, e a
arca do seu concerto foi vista no seu templo (19). A arca, que estava no
Santo dos Santos do antigo Tabernáculo e do Templo, desapareceu em 586 a.C.,
quando o Templo foi destruído. Provavelmente, ela desapareceu naquela época.
Uma lenda posterior dizia que Jeremias escondera a arca em uma caverna (cf. 2
Macabeus 2.5). Em relação à arca mencionada aqui, Swete escreve: “Em Cristo,
Deus fez um novo concerto com os homens [...] e o aparecimento da arca pelas
portas abertas do templo celestial, no momento em que os fiéis receberem a sua
recompensa, indica a restauração do acesso perfeito a Deus por meio da Ascensão
do Cristo Encarnado”.1”
A manifestação da presença divina foi acompanhada por
relâmpagos, e vozes, e trovões, e terremotos, e grande saraiva.
Apropriadamente, Alford chama essas catástrofes de “o aplauso solene da
artilharia dos céus, com a qual cada série de visões é concluída”.1” João nos conduziu
até o tempo do julgamento e vitória final. No entanto, mais uma vez ele volta e
descreve outras cenas de tribulação.
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