Apocalipse 9 — Comentário Bíblico Online
Apocalipse 9 — Comentário Bíblico Online
Apocalipse 9
A descrição dos quatro primeiros julgamentos
anunciados pelas trombetas é breve. Mas o quinto e o sexto recebem uma
descrição mais pormenorizada. Isso provavelmente ocorre porque seres humanos
estão envolvidos, não a natureza.
João viu uma estrela que do céu caiu na terra (1)
— literalmente, “uma estrela que havia caído do céu sobre a terra” (NVI). Essa
estrela evidentemente era uma pessoa, porque diz: e foi-lhe dada a chave do
poço do abismo (abyssos). Esse pode ter sido Satanás, como foi
sugerido possivelmente pelas palavras de Jesus em Lucas 10.18: “Eu via Satanás,
como raio, cair [gr., caindo] do céu”. Foi-lhe dada (por Deus) a
chave do poço do abismo; isto é, o poder de abrir ou fechar sua entrada.
Usando essa autoridade, ele abriu o poço do abismo
(2). De lá subiu fumaça do poço como a fumaça de uma grande fornalha, escurecendo
o céu.
Ocorre então uma coisa marcante. Da fumaça vieram
gafanhotos (3). E foi-lhes dado poder (exousia, liberdade ou
poder de agir) como o poder (exousia) que têm os escorpiões da
terra. Uma praga de gafanhotos sempre tem sido uma das catástrofes mais
temidas no mundo mediterrâneo. Os primeiros dois capítulos de Joel apresentam
um retrato gráfico da sua obra de destruição.
Esses não são gafanhotos literais, porque receberam a
ordem para que não fizessem dano à erva, verdura ou árvore (4).
Essas são precisamente as coisas que sempre são destruídas por nuvens de
gafanhotos. Esses gafanhotos, no entanto, deveriam causar dano somente aos
homens que não têm na testa o sinal de Deus (cf. 7.3). Da mesma maneira que
os israelitas foram poupados das sete últimas pragas que vieram sobre os
egípcios (Ex 8.22), assim os santos selados serão livrados dessas últimas
aflições severas. Porventura, há aqui uma alusão de que a Igreja compartilhará
dos sofrimentos no início da Grande Tribulação?
Esses “gafanhotos” não matariam, mas os homens seriam
atormentados por cinco meses (5). Esse tempo provavelmente é sugerido
pelo fato de os gafanhotos geralmente nascerem na primavera e morrerem no fim
do verão. Assim, o tempo de vida do gafanhoto natural é de cerca de cinco
meses, de novembro a março (de acordo com as nossas estações do ano).
A natureza do sofrimento infligido é definida mais
adiante dessa maneira: e o seu tormento era semelhante ao tormento do
escorpião quando fere o homem. Barclay apresenta a seguinte descrição
vívida dessa criatura:
O escorpião era um dos flagelos da Palestina. Ele se assemelha a um pequeno gafanhoto. Tem garras como um gafanhoto, com as quais agarra sua vítima. Tem um rabo comprido, que se curva para cima sobre suas costas e sobre sua cabeça; no fim do rabo há um ferrão curvado; é com esse ferrão que o escorpião ataca, e esse ferrão expele veneno quando penetra na pele da vítima. O escorpião chega a medir 15 centímetros de comprimento.”
Como resultado da ferroada do escorpião os homens desejarão
morrer, e a morte fugirá deles (6). Cornelius Gallus, um autor latino,
disse: “Pior do que qualquer ferida é desejar morrer, mas não conseguir”.
Barclay acrescenta: “Esse será o estado dos homens em que até a morte seria um
alivio”.” Mas não escapamos ao morrer.
João diz que o aspecto dos gafanhotos era
semelhante ao de cavalos aparelhados para a guerra (7). O mesmo pensamento
é expresso em Joel 2.4,5, e viajantes com frequência comentavam acerca dessa
semelhança em aparência. Mas, diferentemente dos gafanhotos literais, esses
tinham sobre a sua cabeça [...] coroas semelhantes ao ouro, o sinal do
conquistador. Além disso, o seu rosto era como rosto de homem, sugerindo
inteligência.
Ademais, eles tinham cabelos como cabelos de
mulher (8). Um provérbio árabe diz que a antena dos gafanhotos é parecida
com o cabelo de uma donzela. Além disso, os seus dentes eram como de leão. Essa
é uma citação de Joel 1.6. Gafanhotos não só comem o capim verde e as folhas,
mas chegam a devorar toda a casca das árvores. Seus dentes têm um poder
cortante devastador. A menção de couraças de ferro (9) é, sem dúvida,
uma referência aos flancos escamosos e tórax duros do gafanhoto.
Um enxame de gafanhotos faz um barulho estrondoso,
como muitos autores têm testificado. Assim, João relata aqui: e o ruído das
suas asas era como o ruído de carros, quando muitos cavalos correm ao combate. Isso
se assemelha à descrição em Joel 2.5: “Como o estrondo de carros sobre os cumes
dos montes, irão eles saltando”.
O versículo 10 novamente faz referência aos
escorpiões: “tinham ainda cauda, como escorpiões, e ferrão; na cauda tinham
poder para causar dano aos homens, por cinco meses” (ARA). Essa, em grande
parte, é uma repetição do versículo 5.
As hostes demoníacas são descritas como tendo um rei,
que é o anjo do abismo (11). Em hebreu seu nome é Abadom,
em grego, Apoliom. As duas palavras significam “Destruidor”. Em
relação à sua identidade, Swete escreve: “É desnecessário investigar se com a
palavra Abadom, o Destruidor, o vidente refere-se à Morte ou a Satanás”.'
A seriedade dos últimos três julgamentos, anunciados
pelas trombetas, volta a ser ressaltada: Passado é já um ai; eis que depois
disso vêm ainda dois ais (12). O sino parece anunciar o toque da morte na
terra.
6. A Sexta Trombeta: Anjos Destruidores (9.13-21)
Quando tocou o sexto anjo a trombeta, João
ouviu uma voz que vinha das quatro pontas do altar de ouro que estava diante
de Deus (13). Isso parece uma referência às orações dos santos (cf. 6.10;
8.3-5).
O anjo da sexta trombeta recebe a seguinte ordem: Solta
os quatro anjos que estão presos junto ao grande rio Eufrates (14). Esses
não parecem os mesmos quatro anjos mencionados em 7.1, uma vez que os anjos
daquele texto estavam detendo os ventos de julgamento, enquanto estes estão
presos.
O Eufrates marcava o limite oriental ideal da Terra
Prometida (Gn 15.18). Além do rio ficavam os grandes impérios da Assíria e
Babilônia. A Assíria venceu o Reino do Norte, Israel, e a Babilônia venceu o
Reino do Sul, Judá. Nos tempos antigos, esses eram os inimigos mais temidos dos
israelitas. “Assim, a ideia apresentada pelos anjos da vingança presos à margem
do rio Eufrates é que o dia da vingança estava sendo refreado até que o tempo
de Deus tivesse se cumprido. Quando finalmente fossem soltos, a inundação
rebentaria os seus limites e a ruína seguiria”.1 O Eufrates é
mencionado novamente em conexão com a sexta taça (16.12). No tempo de
Domiciano, os partos, ao leste do Eufrates, eram os inimigos mais temidos de
Roma.
Em resposta à ordem, foram soltos os quatro anjos
que estavam preparados para a hora, e dia, e mês, e ano (15). Literalmente
temos: “para aquela hora, dia, mês e ano” (cf. NVI). Isso se refere a um
período de tempo. O propósito em soltar os anjos era para que matassem a
terça parte dos homens. Aqui é morte, não simplesmente tormento como nos
julgamentos anteriores anunciados pelas trombetas. No entanto, esse julgamento
não é final e completo: somente uma terça parte dos homens deve ser morta.
E o número dos exércitos dos cavaleiros invasores (16) é apresentado como sendo de
duzentos milhões. O fogo, e fumaça, e enxofre (17) é um lembrete da destruição
de Sodoma e Gomorra (Gn 19.24, 28). Essas três pragas mataram uma terça
parte dos homens (18). Porque o poder dos cavalos está na sua boca (19)
já foi explicado nos versículos 17-18 como fogo, fumaça e enxofre saindo das
bocas dos cavalos. A cauda dos cavalos se parece com serpentes com
cabeça, com a qual danificam (ferem). É possível que esteja se
referindo ao costume dos partos de amarrar os rabos dos cavalos para que se
parecessem com cobras.
Certamente imaginaríamos que tudo isso seria uma advertência
suficiente para aqueles que permaneceram vivos. Mas esse não foi o caso. E os
outros homens, que não foram mortos por estas pragas, não se arrependeram das
obras de suas mãos (20). McDowell chama essa seção de: “A Tragédia da
Humanidade Não Arrependida”. O sofrimento nem sempre aproxima os homens de
Deus; às vezes os afasta ainda mais dEle. Esse fato triste foi ilustrado
amplamente na Segunda Guerra Mundial. A guerra resultou em mais apostasia em
vez de avivamento.
Essas pessoas não arrependidas continuaram a adorar os
demônios e os ídolos. Os ídolos eram feitos de diversos materiais, mas
todos eram imagens insensíveis e impotentes. Os homens também não quiseram
arrepender-se dos seus homicídios [...] feitiçarias [...] prostituição
[...] ladroíces (21). Idolatria e imoralidade, esses pecados muito
parecidos do mundo pagão, não diminuíram, apesar do julgamento divino. Os
homens têm vontade própria, e Deus não pode obrigá-los a se arrepender.
Os intérpretes preteristas
(veja Int., “Interpretação”) atribuem essas trombetas aos tempos
turbulentos do Império Romano. Os futuristas as identificam com os
julgamentos da Grande Tribulação no fim dos tempos. Barnes, representante da
interpretação historicista, entra em muito mais detalhes. Ele entende
que a primeira trombeta se refere a Alarico, rei dos godos (410 d.C.); a
segunda trombeta a Átila, rei dos hunos (447); a terceira a Genserico, rei dos
vândalos (455) e a quarta, a Odoacer, rei dos visigodos, que se tornou rei da
Itália, derrotando o Império Romano no Ocidente em 476. Ele então encontra em
8.13 uma mudança do Ocidente para o Oriente. Os gafanhotos (quinta trombeta)
representam os conquistadores muçulmanos, que assolaram o norte da África e
Ásia ocidental. Barnes entende que a sexta trombeta se refere à ascensão do
poder turco, culminando na captura de Constantinopla em 1453 e o fim do Império
Romano no Leste. Esse é um exemplo típico da interpretação historicista.
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