Gênesis 2 — Comentário Evangélico
Comentário Evangélico
Gênesis 2
O primeiro sábado (shabbãth) (2:1-3)
A palavra shabbath significa apenas "cessar". Deus não "descansou" porque estava cansado, já que Deus não se cansa (Sl 121:4). Antes, ele cessou suas obras criativas, a tarefa estava terminada. Ele abençoou as criaturas (1:22) e o homem (1:28). Agora, ele abençoa o sétimo dia ao separá-lo como um dia especial. Aqui, não há uma ordem para que as pessoas observem o sábado. De fato, uma vez que Adão foi criado no sexto dia, na verdade o sétimo dia era o primeiro dia para ele.
O sábado não é mencionado de novo no Antigo Testamento até Êxodo 20:8-11, quando Deus dá o sábado a Israel como seu sinal especial da aliança (Êx 31:12-1 7). Nas Escrituras, não há evidência de que Deus tenha dito aos gentios que observassem o sábado; na verdade, Salmos 147:19- 20 deixa claro que Deus deu apenas a Israel a Lei Mosaica do Antigo Testamento. Um dos motivos do cativeiro de Israel foi a profanação do sábado (Ne 13:15-22). Cristo, enquanto esteve na terra, observou o sábado, já que viveu sob a dispensação da Lei. E claro que ele não seguia as regras dos fariseus, feitas pelos homens (Mc 2:23-28).
Nos primeiros anos da igreja, os cristãos encontravam-se na sinagoga no sábado, isso até que os judeus cristãos passaram a ser perseguidos e expulsos. Entretanto, o primeiro dia da semana (domingo, o dia do Senhor) era o dia especial deles para a comunhão e a adoração (At 20:7; 1 Co 1 6:1 -3; Ap 1:10). O primeiro dia comemora a ressurreição de Cristo (Mt 28:1; Jo 20:1), a conclusão de sua obra, a nova criação. Veja 2 Coríntios 5:1 7. Esses dois dias especiais — o sábado e o dia do Senhor — comemoram coisas diferentes e não devem ser confundidos. O sábado relaciona-se à antiga criação e foi dado expressamente a Israel. O dia do Senhor relaciona-se à nova criação e pertence especialmente à igreja. O sábado fala da lei em que após seis dias de trabalho segue-se um dia de descanso, mas o dia do Senhor fala da graça, para que iniciemos a semana com o descanso que é seguido de trabalho.
Hebreus 4 indica que o sábado do Antigo Testamento é um tipo de descanso no reino futuro, bem como o descanso espiritual que temos por meio da fé em Cristo. Colossenses 2:13-1 7 deixa claro que o sábado pertence à "sombra" da Lei, e não à Juz plena da graça, Se as pessoas querem adorar no sábado, certamente elas podem fazer isso, mas não podem julgar nem condenar os cristãos que não se juntam a elas (Cl 2:1 6-1 7). Gálatas 4:9-11 indica que a legitimidade em guardar o sábado é um retorno à escravidão. Romanos 14:4-13 sugere que guardar o sábado pode ser uma marca da imaturidade do cristão que tem"" pouca consciência. Com certeza, vários grupos de cristãos confessos podem adorar no sábado, se assim preferirem, mas não devem condenar os que dão ênfase especial à adoração nos domingos, o dia da ressurreição.
O primeiro jardim (2:4-14)
Podemos resumir a história da Bíblia com quatro jardins: (1) Éden, onde entrou o pecado; (2) Getsêmani, onde Cristo entregou-se à morte; (3) Calvário, onde ele morreu e foi sepultado (veja Jo 19:41-42); e (4) o jardim celestial (Ap 21:1 ss). Moisés descreve a moradia que Deus deu para o primeiro casal. O relato da criação no capítulo 1 não inclui os detalhes adicionais dados nessa passagem; esses detalhes são complementares, não contraditórios. O versículo 5 indica que Deus precisava do homem para cultivar a terra. O homem foi formado como o oleiro forma a argila (mesma palavra em Jr 18:1 ss). O homem tinha a responsabilidade de cuidar do jardim (zelar) e de protegê-lo (guardá-lo, sugerindo a presença de um inimigo). Deus deu a Adão e Eva tudo que precisavam para viver e ser felizes, tudo que era bom e agradável, e permitiu que usufruíssem de tudo em abundância.
As duas árvores são importantes. O texto de 3:22 sugere que a árvore da vida fornece vida para a humanidade (veja também Ap 22:2). Se Adão tivesse comido da árvore da vida depois de pecar, não teria morrido, e, assim, a morte não passaria para todos os homens (Rm 5:12ss), e Cristo não precisaria morrer para redimir os homens. A árvore do conhecimento simbolizava a autoridade de Deus; comer dessa árvore significava desobedecer a Deus e incorrer em pena de morte. Não sabemos que árvores eram essas, contudo é evidente que Adão e Eva compreendiam a importância delas.
A primeira lei (2:15-17)
Adão era uma criatura perfeita que nunca pecara, mas tinha capacidade para pecar. Deus fizera Adão um rei com domínio (1:26ss). Contudo, um governante só pode governar outras pessoas se conseguir governar a si mesmo, assim, era necessário que Adão fosse tentado. Deus sempre quis que suas criaturas o amassem e lhe obedecessem de livre vontade, e não por coerção ou por recompensa.
Esse teste era perfeitamente legítimo e justo. No jardim, Adão e Eva desfrutavam de liberdade e de provisão em abundância e não precisavam do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal.
O primeiro casamento (2:18-25)
Tudo na criação era "muito bom" (1:31), exceto a solidão de Adão. "Não é bom que o homem esteja só", essa afirmação aponta o fundamento para o casamento: (1) fornecer companhia; (2) dar continuidade à raça; (3) ajudar um ao outro a trazer à tona o melhor de si mesmo. O verbo "auxiliar" (v. 18) refere-se à auxiliadora: alguém que satisfaça as necessidades dele. Em nenhuma parte da criação animal, encontra-se essa criatura, o que mostra o grande abismo existente entre as criaturas irracionais e os seres humanos feitos à imagem de Deus. Deus fez a primeira mulher com a carne e o osso do primeiro homem, e ele fechou "o lugar com carne" (v. 21). No versículo 22, na verdade, o verbo "fazer" seria "construir", como construir um templo. O fato de Eva ser feita com o osso e a carne de Adão mostra a unidade da raça humana e a dignidade da mulher. Observe que Eva foi feita não a partir dos pés do homem para ser pisada por ele, ou da cabeça dele para que o governe,, mas de seu lado para estar perto do coração dele e ser amada por ele.
Adão deu nome a todos os animais que Deus trouxe até ele (v. 19), o que mostra que o primeiro homem tinha inteligência, vocabulário e fala. Agora ele dá o nome de "mulher" a sua noiva (ishshah, em hebraico, relaciona-se a ish, que significa "homem"). Por isso, homem e mulher se pertencem em nome e em essência. Como seria maravilhoso se todos os casamentos fossem realizados por Deus. Assim, todas as casas seriam o paraíso na terra.
É claro que esse evento é uma bonita ilustração de Cristo e sua igreja (Ef 5:21-33). Cristo, o último Adão, dá vida à igreja quando morre na cruz, e os homens perfuram o lado de seu corpo (Jo 19:31-37). Ele compartilha nossa natureza humana a fim de que possamos compartilhar a natureza divina dele. Eva foi objeto do amor e do interesse de Adão, assim como a igreja recebe o amor e o ministério de Cristo. Em 1 Timóteo 2:11-15, observa-se que Adão comeu de boa vontade do fruto proibido, que ele não foi enganado como Eva. Ele quis transformar-se em pecador a fim de ficar com sua noiva, assim como Cristo quis fazer-se pecado a fim de que pudéssemos ficar com ele para sempre. Que amor e que graça! Observe também que Eva foi feita antes de o pecado entrar em cena,
exatamente como fomos escolhidos em Cristo "antes da fundação do mundo" (Ef 1:4).
Se observarmos de perto esses versículos, veremos neles três imagens da igreja iguais à descrição da igreja fornecida em Efésios. Eva era a noiva (Ef 5:21-33); ela também era parte do corpo de Adão (Gn 2:23; Ef 5:29-30); e ela foi feita, ou "construída", o que sugere a igreja como um templo de Deus (Ef 2:19-22).
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