Significado de Apocalipse 4
Apocalipse 4
Apocalipse 4 inaugura a segunda grande seção do livro — a abertura das visões celestiais — e marca a transição da mensagem às igrejas para a revelação do governo divino no trono. Aqui não há mais exortações éticas, mas a contemplação litúrgica do céu. João é arrebatado “em espírito” e introduzido na sala do trono, onde Deus é adorado incessantemente por seres celestiais. É uma teofania em moldura apocalíptica, saturada de imagens tiradas de Isaías, Ezequiel e Daniel. O foco absoluto é a soberania de Deus, e o cenário antecipa o desenrolar dos julgamentos escatológicos. O capítulo não é apenas uma visão: é uma entronização simbólica do Deus que está prestes a julgar e redimir.
I. Estrutura e Estilo Literário
Apocalipse 4 se estrutura como uma cena litúrgica celestial, dividida em três movimentos:
Chamado à visão e entrada no céu (v. 1–2a): João vê uma porta aberta no céu e ouve a voz que o convida a “subir”.
Descrição do trono e daquele que nele está (v. 2b–6a): Deus é descrito com imagens de pedras preciosas, arco-íris e relâmpagos, rodeado por vinte e quatro anciãos e sete tochas (espíritos).
Adoração incessante dos seres viventes (v. 6b–11): quatro seres com formas simbólicas louvam o Santo, e os anciãos prostram-se, oferecendo coroas.
O estilo é doxológico, com linguagem elevada, repleta de símbolos. A cena remete ao culto do templo, à glória divina da visão de Ezequiel (Ez 1) e à majestade do trono em Isaías 6. O uso da repetição (como no “santo, santo, santo”) é próprio da poesia hebraica. O capítulo é a fundação litúrgica da teologia apocalíptica: antes do juízo, Deus se revela como centro absoluto do universo.
II. Hebraísmos e Palavras-Chave
A linguagem grega do capítulo é permeada por semitismos e imagens veterotestamentárias. Destacam-se:
θρόνος ἐν τῷ οὐρανῷ (thronos en tō ouranō) – “trono no céu” (v. 2): corresponde ao hebraico כִּסֵּא בַּשָּׁמַיִם (kissēʾ baššāmayim), como em Isaías 66:1 – “O céu é o meu trono”. Aqui, o trono é símbolo da soberania universal de Deus.
ὅμοιος ὁράσει λίθῳ ἰάσπιδι καὶ σαρδίῳ (homoios horasei lithō iaspidi kai sardio) – “semelhante em aspecto a jaspe e sardônio” (v. 3): evoca Êxodo 28:17, onde as pedras do peitoral sacerdotal representam as tribos. A beleza visual simboliza pureza e majestade. O hebraico para jaspe é יָשְׁפֵה (yāšpêh), e para sardônio, אֹדֶם (ʾōdem).
ἶρις κυκλόθεν τοῦ θρόνου (iris kyklōthen tou thronou) – “arco-íris ao redor do trono” (v. 3): remete à visão de Ezequiel 1:28, onde o arco representa a glória envolvente de Deus. Em hebraico, קֶשֶׁת (qéšeṯ), que também evoca a aliança de Gênesis 9.
πρεσβύτεροι εἴκοσι τέσσαρες (presbyteroi eikosi tessares) – “vinte e quatro anciãos” (v. 4): ecoa as 24 classes sacerdotais de 1 Crônicas 24. O termo hebraico correspondente é זְקֵנִים (zĕqēnîm), que designa líderes espirituais e anciãos de Israel.
ζῷα τέσσαρα (zōa tessara) – “quatro seres viventes” (v. 6): paralelos com os חַיּוֹת (ḥayyôt) de Ezequiel 1. Cada ser representa aspectos da criação animada, sob domínio e adoração do Criador.
Ἅγιος Ἅγιος Ἅγιος (Hagios Hagios Hagios) – “Santo, Santo, Santo” (v. 8): reflexo exato de קָדוֹשׁ קָדוֹשׁ קָדוֹשׁ (qādôš qādôš qādôš) de Isaías 6:3. A tripla santidade é um superlativo semítico, indicando perfeição absoluta.
δούναί σοι τὴν δόξαν (dounai soi tēn doxan) – “dar-te glória” (v. 11): corresponde ao hebraico לָתֵת כָּבוֹד (lāṯēṯ kāḇôḏ), fórmula comum nos Salmos (cf. Sl 29:1). O termo כָּבוֹד (kāḇôḏ) expressa o peso, a majestade e a presença de Deus.
ὁ κτίσας τὰ πάντα (ho ktisas ta panta) – “aquele que criou todas as coisas” (v. 11): traduz o hebraico הַבּוֹרֵא כֹּל (habbōrēʾ kol), como em Isaías 45:18. A criação é fundamento do louvor.
A estrutura frásica, os paralelismos e a reverência expressa no vocabulário revelam o substrato semítico do pensamento apocalíptico de João.
III. Versículo-Chave
Apocalipse 4:11 – “Digno és, Senhor nosso e Deus nosso, de receber a glória, a honra e o poder, porque tu criaste todas as coisas, e por tua vontade existem e foram criadas.”
Este versículo encerra o capítulo com uma doxologia total. Ele resume a mensagem central: Deus é digno porque é Criador. Antes que se abram os selos do juízo, João estabelece que o mundo não está à deriva, mas sob domínio do Deus eterno e santo. A criação não é autônoma; ela existe por vontade divina.
IV. Intertextualidade com o Antigo e o Novo Testamento
Apocalipse 4 eleva o leitor ao conselho celeste e recompõe, em registro litúrgico, as grandes teofanias bíblicas. A “porta aberta no céu”, a voz “como de trombeta” e a locução “fui arrebatado em espírito” prolongam o padrão de arrebatamento profético de Isaías e Ezequiel e reencenam o Sinai como matriz sonora das manifestações divinas: Isaías vê “o Senhor assentado sobre um alto e sublime trono” (Isaías 6:1–8), Ezequiel é tomado pelo Espírito e introduzido na visão das “semelhanças” celestes (Ezequiel 1:1–3; Ezequiel 2:2; Ezequiel 3:12–14), e o Sinai é marcado por trovões, relâmpagos e som de trombeta (Êxodo 19:16–19). No Novo Testamento, a voz trombetal ecoa a escatologia de Jesus e dos apóstolos (Mateus 24:31; 1 Coríntios 15:52; 1 Tessalonicenses 4:16), enquanto a experiência de João “no Espírito” dialoga com o céu aberto de Estêvão (Atos 7:55–56) e com a doutrina de Hebreus sobre o santuário celeste que fundamenta o culto cristão (Hebreus 8:1–5; Hebreus 9:11–12; Hebreus 12:22–24).
O eixo visual é “um trono no céu e, sobre o trono, alguém assentado”, retomando o Ancião de Dias diante de quem se instalam tronos e correm rios de fogo (Daniel 7:9–10) e condensando os Salmos de entronização que proclamam YHWH rei (Salmos 93; 95–99). O fulgor “como jaspe e sardônio” alinha-se ao brilho das teofanias (Ezequiel 1:26–28) e remete ao peitoral do sumo sacerdote, onde jaspe e sardônio integram a constelação de pedras que representam Israel (Êxodo 28:17–21), sinalizando que a glória do trono é, ao mesmo tempo, glória cultual. O arco-íris “como esmeralda” que circunda o trono relembra a aliança no pós-dilúvio como círculo de misericórdia que envolve o juízo (Gênesis 9:13–16) e reaparece como halo da glória divina em Ezequiel (Ezequiel 1:28). Do trono partem relâmpagos, vozes e trovões, linguagem que solda Sinai e realeza (Êxodo 19:16; Salmos 29:3–9; 97:2–4) e que o próprio Apocalipse retomará como refrão a cada ciclo de juízo (Apocalipse 8:5; 11:19; 16:18).
Diante do trono ardem “sete lâmpadas de fogo... os sete Espíritos de Deus”, fundindo a menorá do santuário (Êxodo 25:31–40) à visão de Zacarias do castiçal alimentado pelo Espírito (Zacarias 4:1–10) e à plenitude septiforme do Espírito prometida e operante (Isaías 11:2–3), motivo que volta quando o Cordeiro aparece “com sete olhos... que são os sete Espíritos” (Apocalipse 5:6; Zacarias 3:9; 4:10). O “mar como de vidro, semelhante ao cristal” articula duas tradições: o firmamento cristalino de Ezequiel sob o qual os viventes se movem (Ezequiel 1:22, 26) e o “mar de bronze” do templo diante do santuário (1 Reis 7:23–26; 2 Crônicas 4:2–6). Em chave cósmica, o mar, símbolo do caos, é mostrado pacificado perante o trono do Rei que domina as águas (Salmos 29:10; Salmos 93:3–4; Jó 38:8–11), preparação para o “mar de vidro misturado com fogo”, onde os santos celebram o êxodo definitivo (Apocalipse 15:2; Êxodo 15:1–18; Isaías 51:10).
Ao redor, vinte e quatro anciãos, com vestes brancas e coroas, formam um conselho que integra tribunal e liturgia. De um lado, a assembleia celeste que delibera na presença de Deus (1 Reis 22:19; Jó 1:6; Salmos 82:1; Daniel 7:10); de outro, os vinte e quatro turnos sacerdotais/levíticos que serviam no templo (1 Crônicas 24–26). As vestes brancas coadunam justificação e alegria nupcial (Isaías 61:10; Zacarias 3:3–5) e antecipam as promessas feitas aos vencedores nas cartas (Apocalipse 3:4–5, 18; 7:14), enquanto as coroas dialogam com as recompensas escatológicas (Tiago 1:12; 1 Pedro 5:4; 2 Timóteo 4:8). O gesto de lançar coroas diante do trono dramatiza Romanos 11:36: “dele, por ele e para ele são todas as coisas”. Não é acidental que o número 24 possa também sugerir a totalidade do povo de Deus (12 tribos + 12 apóstolos), sinalizando a convergência de Antigo e Novo em torno do trono (Mateus 19:28; Apocalipse 21:12–14).
Os quatro seres viventes, “cheios de olhos por diante e por detrás”, com faces de leão, boi, homem e águia, e “seis asas”, fundem querubins e serafins: em Ezequiel, os viventes têm múltiplas faces e estão repletos de olhos (Ezequiel 1:5–14; 10:12), expressão de vigilância e onisciência; em Isaías, os serafins de seis asas entoam o tríssanto que enche a terra da glória divina (Isaías 6:2–3). O cântico em Apocalipse acrescenta a fórmula temporal “o que era, o que é e o que há de vir”, que rearticula o “Eu Sou” de Êxodo 3:14 e os títulos de YHWH como “Primeiro e Último” (Isaías 41:4; 44:6) com a autodeclaração do Deus do Apocalipse (Apocalipse 1:4, 8). Os muitos olhos conectam-se ainda ao motivo dos “sete olhos” associados ao Cordeiro e à providência penetrante de Deus (Apocalipse 5:6; Zacarias 4:10).
O hino dos anciãos (“Tu és digno... porque criaste todas as coisas, e por tua vontade vieram a existir e foram criadas”) é a grande doxologia da criação. Ele condensa os salmos e profetas que celebram o Senhor como autor e sustentador de todas as coisas (Salmos 33:6–9; 95:3–7; 148; Jeremias 10:12; 32:17; Isaías 40:26; 42:5), e encontra desenvolvimento cristológico no Novo Testamento, onde todas as coisas são ditas criadas “por meio” e “para” o Filho, sem perder o fundamento do louvor único ao Criador (João 1:3; 1 Coríntios 8:6; Colossenses 1:16–17; Hebreus 1:2–3; 11:3). A tríade “glória, honra e poder” alinha-se às doxologias apostólicas (Romanos 11:36; Judas 25) e prepara os cânticos do capítulo seguinte, onde o Cordeiro recebe louvor paralelo por sua obra redentora (Apocalipse 5:9–13). Forma-se, assim, um díptico: capítulo 4 exalta o Criador; capítulo 5, o Redentor — e o louvor não é competitivo, mas convergente no único trono.
Também a arquitetura concêntrica da cena é intertextual: trono, círculo de seres viventes, círculo de anciãos, lâmpadas e mar compõem um “templo celeste” que dá forma ao culto terreno (Êxodo 25–27; 1 Reis 6–7; Hebreus 8:5). Os relâmpagos “saindo do trono” sinalizam que liturgia e governo andam juntos, como nos Salmos em que a alegria da criação acompanha a justiça do Rei (Salmos 96:10–13; 97:1–6). O trono do capítulo também dialoga com a linguagem de Jesus sobre “o trono de Deus” (Mateus 5:34) e com a exaltação do Cristo à direita da Majestade (Salmos 110:1; Atos 2:33–36; Efésios 1:20–22; Colossenses 3:1), ganhando, em Hebreus, densidade cultual: o Filho ministra no verdadeiro tabernáculo, e a igreja já participa da assembleia festiva dos céus (Hebreus 8:1–2; 12:22–24).
Assim, Apocalipse 4 reordena Isaías 6, Ezequiel 1–10, Daniel 7 e os Salmos de entronização para exibir o Deus da aliança em trono, cercado por conselho e liturgia, com o caos pacificado e o Espírito em plenitude. O Novo Testamento reconhece esse cenário como o pano de fundo do evangelho: o Cristo exaltado participa do trono, o culto da igreja se ancora no santuário celeste, e a história será conduzida a partir desse trono até a nova criação, quando “o trono de Deus e do Cordeiro” será o centro da cidade, e “verão o seu rosto” (Apocalipse 21:5; 22:1–5). Nesse sentido, o capítulo 4 estabelece a gramática de todo o livro: a adoração ao Criador funda e orienta os juízos que virão e prepara o cântico ao Cordeiro, de quem procedem, junto com o Pai, “glória, honra e poder, pelos séculos dos séculos” (Apocalipse 5:13).
V. Lição Teológica Geral
Apocalipse 4 nos ensina que o centro do universo não é o caos, nem o império, mas o trono de Deus. Antes de qualquer juízo, o Apocalipse nos apresenta a soberania absoluta do Criador. A visão do trono é um ato teológico: toda a adoração, toda a história e toda a realidade orbitam em torno do Deus que é santo, eterno e criador.
A adoração celestial não é retórica — ela é política, escatológica e espiritual. Ela subverte os centros de poder humanos e convida a Igreja a contemplar o verdadeiro Senhor. A criação é afirmada, a santidade é celebrada, e a glória é oferecida Àquele que reina.
VI. Comentário de Apocalipse 4
Apocalipse 4:1 Esse versículo sinaliza o início de uma nova seção do livro de Apocalipse, que revela os acontecimentos aterrorizantes que ocorrerão no futuro. Essa parte, que e a principal do Apocalipse, continua até o capítulo 22.5.Sobe aqui e também a ordem dada para as duas testemunhas que ressuscitaram em Apocalipse 11.12. Algumas pessoas consideram que essa ordem se refere ao arrebatamento da Igreja antes da grande tribulação (Ap 7.14; Mt 24:21). No entanto, pode ser simplesmente uma frase no estilo apocalíptico que introduz a visão reveladora de João (Ap 4:2).
Apocalipse 4:4 Vinte e quatro anciãos ocupam outros tronos. A identidade deles não e exata, e algumas pessoas acreditam que eles representem a Igreja [do AT e do NT, a soma das 12 tribos de Israel e os 12 apóstolos da Israel neotestamentária], ou anjos que fazem parte de um concilio governamental celestial (Jr 23.18, 22).
De autoridade são investidos aqueles que, pela idade e experiência, são mais qualificados para governar. Se os referidos anciãos representam a Igreja, deve-se notar que a septuagésima semana de Daniel esta prestes a começar e que Deus esta mais uma vez referindo-se a Israel, enquanto a Igreja no céu esta num outro tempo e dimensão. Também e improvável (logica e sequencialmente) que a Igreja, como a Noiva a ser entronizada diante de seu Senhor e esposo, fosse reconhecida como sendo digna para reinar (Ap 5.8, 9). Ao contrario, ate a passagem de Apocalipse 19.7, 8, a Igreja ainda não esta preparada para reinar. De fato, ela compartilhara de Seu trono futuramente (Ap 3.21).
As vestes brancas e as coroas de ouro apontam para aqueles que são confirmados em justiça e que possuem autoridade para governar. O uso dessas coroas indica que os anciãos já foram julgados e recompensados. Esses anciãos já exercem um papel de sacerdotes-governantes.
Apocalipse 4:5 Relâmpagos e trovões refletem a maravilhosa majestade de Deus e lembram a autoridade divina para julgar (Ap 6.1; 8.5; 11.19; 14:2; 16.18; 19.6). Os sete Espíritos de Deus, simbolizados por sete lâmpadas, as quais tipificam o papel exclusivo do Espirito Santo na execução do juízo, apresentam a plenitude das sete características do Espirito Santo (Is 11.2, 3).
Apocalipse 4:6 O mar de vidro, semelhante ao cristal, torna a aparência da sala do trono celestial ainda mais imponente. Será a vitória para os mártires crentes, relatada em Apocalipse 15.2. Os quatro animais (gr. criaturas viventes) são impressionantemente parecidos com os querubins que Ezequiel viu perto do trono de Deus (Ez 10.1-20). O fato de serem cheias de olhos significa que essas criaturas veem tudo.
Apocalipse 4:7 O leão, o bezerro, o homem e a águia tem sido entendidos como uma referencia aos quatro Evangelhos com seus diferentes retratos de Cristo. No entanto, a descrição lembra os quatro querubins mencionados em Ezequiel 1.4-10, e, assim, as quatro figuras provavelmente representam quatro diferentes anjos (Ez 10). Essas criaturas viventes ou anjos parecem ter associação com a criação e sua redenção final.
Apocalipse 4:1-7
O Trono
Apocalipse 4:1. É importante ver que com este capítulo começa uma nova parte do livro (ver Apocalipse 1:19). Essa nova parte (que também é a última e mais longa do livro) começa com “depois destas coisas”, que é depois dos eventos que tratamos nos dois capítulos anteriores. Nele você viu o desenvolvimento do Cristianismo na terra, onde os verdadeiros crentes foram abordados. A partir do capítulo 4, todos os verdadeiros crentes foram levados para o céu. Isso aconteceu na vinda do Senhor Jesus para a igreja e todos os crentes do Antigo Testamento (1 Tessalonicenses 4:15-18).
Agora o caminho está livre para Deus fazer Sua obra com a terra (cf. 2 Tessalonicenses 2:6). Ele julgará o mundo e o purificará de tudo o que está em contraste com Ele. Após esses julgamentos, o Senhor Jesus virá à terra para reinar por mil anos. Ele cumprirá todas as promessas que foram profetizadas por todos os profetas. Nenhuma palavra dita por Deus ficará sem cumprimento.
Cristo mostrará a João toda a obra que Deus fará após o arrebatamento da igreja. João vê “uma porta [de pé] aberta no céu”. A partir daí a primeira voz que ele “ouviu, como [o som] de uma trombeta” (Apocalipse 1:10) – que é o Senhor Jesus – fala com ele. A voz está dizendo para ele subir ao céu para ver tudo o que vai acontecer na terra. E você tem permissão para olhar por cima do ombro de João!
Apocalipse 4:2. Logo após o comando para subir, João estava no Espírito. Ele não precisa fazer isso por seu próprio poder, o que nem seria possível. Portanto, ele recebe o poder do Espírito Santo. Você também não pode ter uma visão do futuro do Senhor Jesus por seus próprios esforços. Você precisa que o Espírito Santo lhe mostre isso (João 16:13). Você deve dar a Ele espaço para isso e não deve haver impedimentos por causa de pecados não confessados ou por andar segundo a carne.
A primeira coisa que João vê no céu é “um trono” e Aquele que está sentado nele. Você fica no salão do trono onde as coisas são governadas e o julgamento é dado. Este é o local de ação para o resto do livro. A palavra ‘trono’ aparece nada menos que quarenta e duas vezes como o trono de Deus e ainda mais cinco vezes com outro significado, enquanto aparece apenas quinze vezes no restante do Novo Testamento.
O trono “estava de pé”, o que indica a estabilidade e firmeza da autoridade divina, em contraste com todos os tronos terrenos instáveis e mutáveis. Também está situado “no céu” e, portanto, além de todos os tronos terrestres. Também todos os tronos terrestres serão imediatamente submetidos visivelmente. Que o verdadeiro governo se encontre no céu deve ser um encorajamento para todos os que, como crentes, sofrem sob autoridade ímpia.
Também há Alguém no trono. Parece que João não consegue ter uma visão correta Dele. Pela descrição que ele dá, está brilhando muito. A Pessoa que está sentada nela é resplandecente, cheia de glória e esplendor. Ninguém mais senão o glorificado Filho do Homem que recebeu todo o julgamento do Pai em Suas mãos (João 5:22; João 5:27).
Apocalipse 4:3. João usa imagens da natureza para descrever o esplendor Daquele que ele percebe no trono. Ele primeiro menciona duas pedras preciosas. As pedras preciosas refletem a luz do sol em vários feixes coloridos. Eles são usados para descrever a glória de Deus na nova Jerusalém (Apocalipse 21:19). Doze pedras preciosas estão no peitoral do sumo sacerdote (Êxodo 28:17-20). Destas pedras preciosas que estão no peitoral, a ‘pedra de sárdio’ é mencionada primeiro e a ‘pedra de jaspe’ por último.
O “arco-íris” é o símbolo da aliança fiel de Deus com a terra. Ele nos lembra que o dilúvio destruiu a terra e também a bênção depois (Gn 9:8-17). Este símbolo também indica que os julgamentos de Deus têm um limite e que Ele em meio à ira também se lembra da misericórdia (Gn 8:1; Hb 3:2). O arco-íris “ao redor do trono”, que não é meio, mas todo um círculo fechado, anuncia que Sua bondade nunca cessa, mas é eterna.
Uma ‘esmeralda’ tem uma bela cor verde, a cor típica da criação. Esta é a cor do arco-íris como os santos glorificados sempre o verão. Enquanto o julgamento sobre o homem rebelde e o mal é anunciado, a lembrança da graça de Deus e as promessas para com Sua criação estão vividamente diante de seus olhos.
Apocalipse 4:4. O Senhor Jesus não reina sozinho. Ao lado Dele estão “vinte e quatro tronos”, e sobre eles “vinte e quatro anciãos”. O número de ‘vinte e quatro’ indica duas vezes doze. Nestes vinte e quatro anciãos, os crentes do Antigo Testamento e do Novo Testamento estão simbolicamente representados. Você pode entender isso quando se lembra que o povo de Deus no Antigo Testamento se originou dos doze filhos de Jacó e que o povo de Deus no Novo Testamento é edificado sobre o fundamento dos doze apóstolos do Senhor Jesus.
As “vestes brancas” indicam a pureza e o caráter sacerdotal dos anciãos. Eles se sentam em tronos como reis, como reis companheiros do Senhor Jesus. Eles carregam “coroas de ouro em suas cabeças”. Essas coroas não são tiaras, mas guirlandas que são recebidas pelos vencedores. O valor dela não é o valor material, mas sim a homenagem pública. Você pode considerar isso um encorajamento para si mesmo. Quando na terra você for fiel em seguir o Senhor rejeitado, logo terá permissão para reinar com Ele.
Apocalipse 4:5. Tudo o que sai do trono proclama os julgamentos que virão. Isso nos lembra da aparição de Deus no Monte Sinai (Êx 19:16; Êx 20:18). O trono aqui não é o trono da misericórdia, o que ele é para você hoje (Hb 4:16). Também no reino milenar da paz o trono é um trono do qual vem a bênção em forma de corrente de água (Ez 47:1-12). Mas antes que isso aconteça, muitos julgamentos devem vir primeiro do trono, para que a bênção flua livremente.
Com o trono de Deus, o Espírito de Deus está relacionado. O Espírito é aqui representado sete vezes em “sete lâmpadas de fogo”. O número ‘sete’ indica perfeição e ‘fogo’ simboliza julgamento. Os julgamentos de Deus são diferentes para cada situação, mas sempre perfeitos. Eles são executados sem chance de erro sob a operação perfeita do Espírito de Deus. É bom considerar que o Deus que você pode chamar de Pai é ao mesmo tempo um fogo consumidor em relação a tudo em sua vida que não está de acordo com Ele (Hb 12:29; cf. 1Pe 1:17).
Apocalipse 4:6. É notável como tudo neste capítulo está relacionado ao trono. Você leu sobre (Alguém) no trono, (os anciãos) ao redor do trono, (relâmpago, etc.) que procedeu do trono e (os sete Espíritos de Deus) que estavam diante do trono. Agora você vê algo mais diante do trono e até mesmo algo mais no meio do trono.
Primeiro olhamos para o que estava diante do trono: algo “como um mar de vidro, como cristal”. Isso nos lembra da grande pia no templo de Salomão, que é chamada de ‘mar’ (1Rs 7:23). Essa pia estava cheia de água com a qual o sacerdote deveria lavar as mãos e os pés antes de entrar no santuário. A água aqui é ‘cristal’. No céu não há mais necessidade de lavar. O fato de o mar estar diante do trono significa que a pureza no céu está em perfeita harmonia com o caráter santo do trono.
Para entender um pouco do que representam os quatro seres viventes no meio do trono, você precisa ler alguns versículos do livro de Ezequiel (Ez 1:5; Ez 1:10; Ez 1:18; Ez 10 :12; Ez 10:14). Quando você compara o que João vê com o que Ezequiel vê, você vê que as criaturas vivas estão relacionadas aos julgamentos de Deus na terra que são caracterizados por quatro coisas. Que eles estão relacionados a julgamentos já transparece de sua posição em relação ao trono. Eles se encontraram no meio dela, o que os faz, por assim dizer, serem identificados com o trono.
O fato de haver quatro deles enfatiza a generalidade do julgamento. O número ‘quatro’ é típico da terra. Você ouve isso em expressões como: quatro direções do vento, quatro cantos da terra, quatro estações. Os quatro seres viventes são em relação à terra não apenas oniscientes em seu julgamento, mas também o exercem com uma visão completa no futuro (“ cheio de olhos na frente”) e no passado (“e atrás”). Essa percepção pertence à natureza de Deus, que o faz agir com pleno conhecimento de todas as circunstâncias, de todas as causas e de todas as consequências.
Apocalipse 4:7. As características de Seus julgamentos são comparadas com quatro de Suas criaturas:
1. Em primeiro lugar está “um leão”. O leão é o rei entre os animais que não se desvia de nenhum (Pv 30:30) e contra quem ninguém pode resistir. No leão você vê o poder e a majestade do reino e dos julgamentos de Deus.
2. Seus julgamentos continuam firmes, como “um bezerro” que está arando continua firme.
3. Seus julgamentos são executados com sabedoria e discernimento, com os quais Ele dotou o “homem” como uma criatura acima dos animais.
4. Por fim, vês na “águia voadora” a rapidez com que os juízos do céu atingirão a terra (cf. Dt 28,49).
Agora leia Apocalipse 4:1-7 novamente.
Reflexão: Mencione as coisas que nesta porção estão relacionadas com o trono.
Apocalipse 4:8-11 Descanso e uma necessidade física da vida terrena, mas ele e desnecessário no céu, onde existe adoração constante dia e noite. Santo, santo, santo lembra o cenário celestial similarmente descrito em Isaías 6.1-10. Que era, e que é, e que há de vir fala da natureza eterna do Altíssimo, passado, presente e futuro. Os anciãos lançavam as suas coroas diante do trono, o que simbolizava a entrega voluntaria da autoridade deles ao Criador. Como ninguém, a não ser o Todo-poderoso, pode criar, apenas Ele deve ser adorado e reconhecido como Rei soberano.
Apocalipse 4:8-11
As quatro criaturas vivas
Apocalipse 4:8. Além das diferenças entre os seres vivos, você também vê o que eles têm em comum. Cada uma das criaturas vivas tem “seis asas”. Os serafins que Isaías viu em sua visão também os têm (Is 6:2). Em Isaías você lê o que eles fizeram com as seis asas. Com duas de suas asas cobriram o rosto, pois não podiam ver a glória de Deus. Com duas outras asas cobriam os pés, o que indica que à luz daquela glória não se acham dignos de servi-lo, enquanto mostram sua prontidão para servir movendo continuamente outras duas asas.
Parece que com as criaturas vivas todas as seis asas estão se movendo. Eles não terão descanso enquanto a terra ainda estiver em caos e rebelião contra Deus, enquanto não houver harmonia entre o céu e a terra e o céu ainda não estiver reinando na terra. A santidade de Deus, por tanto tempo já sendo violada, está diante deles. Tendo em vista isso, eles, como executores dos julgamentos de Deus, farão seu trabalho em nome Dele.
Eles estão perfeitamente equipados para este trabalho. Há uma visão perfeita em todas as coisas ao seu redor (“cheios de olhos ao redor”) e interiormente eles estão perfeitamente conscientes da santidade de Deus (“cheios de olhos... por dentro”). Além disso, isso os leva a realizar sua obra de julgamento, pela qual eles, por assim dizer, estão esperando impacientemente para fazer, eles adoram a Deus por causa de Sua santidade. Eles estão cheios daquela santidade, que você pode derivar deles pronunciando três vezes a palavra “santo”. Eles O conhecem como o Deus da história (“Quem foi”) e do presente (“e Quem é”). Ele também é “Quem há de vir” para encher o mundo com Sua santidade. Ele é o Todo-Poderoso, Ele é capaz e Ele o fará.
Apocalipse 4:9. Os quatro seres viventes têm características que os distinguem uns dos outros e têm características em que são iguais. Eles também dão “glória, honra e graças “ a Deus. Ele está sentado no trono e tem todo o poder para reinar. Seu reino nunca chegará ao fim, pois Ele “vive para todo o sempre”. Com Ele e Seu trono eles estão intimamente relacionados. Eles não podem fazer outra coisa senão honrá-Lo e cumprir Sua vontade. Todas as suas ações na execução dos julgamentos têm como ponto de partida e propósito a glória de Deus.
Você também pode aplicar isso à igreja quando o pecado foi publicamente revelado em seu meio (1Co 5:13). O julgamento sobre o pecado também deve acontecer a partir dessa consciência. Motivos pessoais não devem ter parte nisso. Somente a honra de Deus é importante. Nessa honra reside também a bênção do homem. Essa honra é o que o Senhor Jesus sempre buscou e quão grande é a bênção que dela advém para os homens!
Apocalipse 4:10. Após a adoração das criaturas vivas vem a dos anciãos. A causa de sua adoração é certamente também a santidade e onipotência de Deus. Eles também agradecem pelas coroas que receberam Dele como recompensa por sua fidelidade na terra. Eles têm a profunda consciência de que sua fidelidade foi finalmente resultado do que Sua graça operou neles. Portanto, eles também lançarão suas coroas com muita gratidão diante do trono e expressarão sua admiração por Ele.
Apocalipse 4:11. Em sua homenagem, os anciãos dirigem-se a Ele diretamente, enquanto os anjos falam sobre Ele, não para Ele. Eles começam com “digno és tu”. Isso envolve a Sua Pessoa. Ele pessoalmente é digno. Sua glória pessoal aparece aqui por causa de Suas obras. No próximo capítulo é dito novamente que Ele é digno (Apocalipse 5:9). Ali acontece por causa da magnificência de Sua obra redentora. Aqui você vê que o Objeto de adoração é tanto o Deus trino que está sentado no trono quanto o Filho que, por causa de Sua obra na cruz, recebeu todo o poder em Suas mãos.
Quando os anciãos falam sobre o que Deus é digno de receber, isso não significa que algo é dado a Deus que Ele ainda não possui. O desejo deles é que o que Ele tem seja visto e admirado por toda a criação e que isso seja falado a Ele. Tudo o que existe, foi criado por Ele. Todas as coisas existem, porque Ele quis isso e porque Ele realizou Sua vontade e de fato as criou.
Você já pode dizer a Ele que vê Sua glória, honra e poder em Suas obras e que O admira por isso. Então você já estará fazendo o que vê os anciãos fazendo aqui e o que você também fará em breve no céu. Não é maravilhoso dizer isso a Deus e ao Senhor Jesus?
Agora leia Apocalipse 4:8-11 novamente.
Reflexão: O que você poderá, no devido tempo, oferecer diante do trono do Senhor Jesus?
Índice: Apocalipse 1 Apocalipse 2 Apocalipse 3 Apocalipse 4 Apocalipse 5 Apocalipse 6 Apocalipse 7 Apocalipse 8 Apocalipse 9 Apocalipse 10 Apocalipse 11 Apocalipse 12 Apocalipse 13 Apocalipse 14 Apocalipse 15 Apocalipse 16 Apocalipse 17 Apocalipse 18 Apocalipse 19 Apocalipse 20 Apocalipse 21 Apocalipse 22
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