Lucas 1 — Estudo Devocional

Lucas 1

Lucas 1 oferece-nos um vislumbre profundo do desenrolar do plano divino de Deus através da vida de indivíduos comuns. Este capítulo prepara o cenário para os eventos milagrosos que levaram ao nascimento de João Batista e, em última análise, ao nascimento de Jesus Cristo. À medida que nos aprofundamos neste capítulo, somos convidados a refletir sobre temas de fé, obediência e cumprimento das promessas de Deus.

O capítulo começa com a aparição do anjo Gabriel a Zacarias, um sacerdote, enquanto ele servia no templo. Gabriel anuncia que Zacarias e sua esposa, Isabel, apesar da idade avançada e da esterilidade, conceberão um filho que preparará o caminho para o Messias. A resposta inicial de Zacarias é marcada pela dúvida, questionando como isso seria possível. Em contraste, a resposta de Maria à mensagem de Gabriel, mais adiante no capítulo, é de humilde aceitação e fé.

Este contraste entre Zacarias e Maria nos ensina uma lição valiosa sobre a fé e a confiança nos planos de Deus. A dúvida de Zacarias o silencia temporariamente, enquanto a confiança de Maria na palavra de Deus a leva a louvá-Lo com o icônico Magnificat. Isto lembra-nos que as promessas de Deus são cumpridas de maneiras inesperadas e que a nossa resposta deve ser de fé inabalável, mesmo quando as circunstâncias parecem impossíveis.

Outro tema chave é a obediência. Tanto Zacarias como Maria são confrontados com mensagens divinas que os chamam a participar no desenvolvimento do plano de Deus. Zacarias é chamado a dar ao seu filho o nome de João e criá-lo em preparação para o Messias, enquanto Maria é convidada a dar à luz o Filho de Deus. As suas respostas demonstram obediência face à incerteza, lembrando-nos que os planos de Deus muitas vezes exigem a nossa disponibilidade para entrar no desconhecido com confiança.

O capítulo culmina com o nascimento de João Batista e com o belo cântico de Zacarias, também conhecido como Benedictus. Esta canção é uma proclamação da fidelidade de Deus, da salvação e do cumprimento de Suas promessas. Reflete a alegria que advém de testemunhar o desenrolar do plano de Deus e de fazer parte de Sua obra redentora.

Nas nossas próprias vidas, Lucas 1 encoraja-nos a abraçar as promessas de Deus com fé e obediência. Assim como Zacarias e Maria desempenharam papéis únicos no plano de Deus, nós também temos um papel a desempenhar na Sua história contínua de salvação. Que possamos ser inspirados pelos seus exemplos a confiar na fidelidade de Deus, a dar um passo de obediência e a regozijar-nos no Seu plano em desenvolvimento para as nossas vidas.

Devocional

1.1 Prezado Teófilo. Este nome significa "amigo de Deus", e é o destinatário deste Evangelho e de sua continuação, o livro de Atos dos Apóstolos. Embora haja muita especulação sobre quem seria essa pessoa, o convite de Lucas é para que nós sejamos "amigos de Deus", buscando nos aproximar mais, ter mais contato, conhecê-lo melhor e desfrutar mais de sua companhia. Isso para Lucas é muito importante, e recebe um tratamento bem respeitoso ("excelência"). Seja você também um "Teófilo" — e este livro o ajudará a conhecer melhor a Deus e a saber toda a verdade através de Jesus Cristo.

1.1-4 estudei com todo o cuidado. Como se pode ver pelo esforço de Lucas em pesquisar os acontecimentos, a inspiração divina não abriu mão da inteligência e dos recursos humanos; antes, o Espírito Santo age guiando e preservando os autores bíblicos de erros que pudessem comprometer a mensagem de salvação. Lucas faz o trabalho de historiador disciplinado e abençoa a humanidade com este evangelho. Deus se comunica conosco de várias formas que incluem nossa própria inteligência e nossa consciência e, nesse processo, nosso papel, na maioria das vezes, não é apenas passivo, mas, como aconteceu com Lucas, envolve esforço e pesquisa. A transmissão das boas-novas hoje igualmente necessita ter bom fundamento, fruto de pesquisa das fontes bíblicas, o que requer disciplina e dedicação de bom tempo para encontro com o Senhor. Desta familiaridade brotará a boa mensagem aos homens e mulheres de nosso tempo.

1.5-25 ele havia sido escolhido por sorteio. Todos os descendentes de Arão do sexo masculino eram sacerdotes e, divididos em vinte e quatro grupos, oficiavam sacrifícios no templo duas vezes por ano, durante uma semana cada vez. Somente eles tinham acesso aos recintos mais sagrados do Templo e apenas aqueles que não tivessem nenhum defeito físico podiam servir (Lv 21.16-24). Esse serviço era considerado um grande privilégio e todo sacerdote sincero devia aguardar sua vez com intensa expectativa. Embora conscientes de que Deus está presente em todos os lugares, deviam considerar que, de alguma forma, ao entrar no santuário estariam experimentando de uma forma especial a presença do Altíssimo. Tenhamos isso em mente ao considerar o extraordinário privilegio que é concedido a todos os cristãos — homens ou mulheres, sãos ou enfermos, fisicamente perfeitos ou não — de encontrar-se diretamente com Deus, e poder fazê-lo com um Pai amoroso, em qualquer momento e em qualquer lugar.

1.5 Herodes era o rei. Israel se encontra numa região milenarmente conturbada, com sangrentas disputas pela terra entre potências e grupos políticos. Sempre um remanescente fiel ao Senhor preservou a esperança messiânica, como o casal Zacarias e Isabel, descendentes de famílias sacerdotais.

1.6-7 Isabel não podia ter filhos. Isabel era estéril. O texto trata da questão de um desejo não realizado, a espera frustrada por muitos anos, e realça a fidelidade, independente de não terem alcançado o que tanto queriam. Mas Deus tinha seus planos e, quando quis, tomou a iniciativa de mudar a história do casal enviando um anjo para anunciar a Zacarias que ele seria pai (vs. 13,18).

1.10 incenso... orações. Bela a associação de orações e incenso. O movimento ascendente e aromático da fumaça de incenso ilustra como nossas orações chegam e agradam a Deus. Orar significa reconhecer nossa dependência do amoroso Criador, Provedor e Senhor. Dependência de Deus não nos infantiliza; ao contrário, promove nosso crescimento emocional e nos aplica uma dose de realismo, livrando-nos da presunção de autossuficiência.

1.11 um anjo do Senhor apareceu. Aparições de anjos foram raras e se deram em momentos muito especiais da história da salvação. Destaques para Agar (Cn 16.7), Abrão (Cn 18.2), Abraão/lsaque (Cn 22.11), Moisés (Êx 3.2); e, no pequeno círculo próximo à família de Jesus, o anúncio do nascimento de João Batista e de Jesus (vs. 11,19,26; Lc 2.9), após sua tentação (Mc 1.13) e novamente no anúncio da ressurreição (Lc 24.4). Pelo seu caráter extraordinário, sempre suscitaram medo num primeiro instante, seguido de apaziguamento e conforto. Suas intervenções possibilitaram outra ordem de conhecimento e redirecionaram a vida e a história segundo o propósito de Deus.

1.13-17 ele será um grande homem. O casal idoso foi alvo da misericórdia de Deus num modo parecido com a história de Abraão e Sara (Gn 18.10-15). João Batista foi profeta corajoso, comprometido com a Palavra de Deus, sem amarras com ninguém, sem privilegiar pessoas nem temer autoridades, vai trazer alegria e felicidade para você. Ao mesmo tempo em que João cumpre um propósito importantíssimo de Deus, as emoções humanas não são desprezadas — o nascimento e a criação de um filho ou filha trazem muita alegria, e isso é um dom de Deus que merece nossa dedicação. Veja o quadro "João Batista, personalidade profética" (Jo 1).

1.19 porque não acreditou, você ficará mudo. O que fez com que este sacerdote, que havia orado para que Deus lhe desse um filho (v. 13), não conseguisse acreditar que sua oração seria atendida, e de forma grandiosa? Provavelmente, no cuidado disciplinador do Pai, parar de falar seja uma boa medida para recuperar a fé. Quem fala e ministra aos outros — especialmente na função de sacerdote, como Zacarias — corre o risco de assumir tudo para si, de se julgar capaz (ou responsável) para fazer a obra de Deus. Ao ficar mudo durante quase 10 meses, Zacarias acabou reaprendendo a apenas observar a obra de Deus, e ao acompanhar a gravidez de sua esposa idosa (que hoje seria considerada de altíssimo risco!), pode reaprender o cuidado de Deus pela humanidade, e a atenção dele às tristezas de sua esposa pelo desprezo sofrido (v. 25). Nesse tempo, utilizou a comunicação por gestos, recurso comum das pessoas com deficiência auditiva. Sua dificuldade em crer de imediato não impediu que Deus o abençoasse. Ele e sua esposa recobraram a fecundidade, a gravidez aconteceu, bem como o nascimento do filho; quando chegou a hora de recuperar a fala, a fé estava madura para poder louvar a Deus (v. 64).

1.38 eu sou uma serva de Deus. Semelhantemente ao sacerdote Zacarias, Maria também apontou a dificuldade de a profecia se cumprir (v. 34); a diferença foi que ela acreditou e se dispôs a ser instrumento de Deus. Essa disposição de crer, tanto de Isabel quanto de Maria, levou suas almas a se unirem ao Espírito de Deus e cantarem louvores, felizes com o que, pela fé, já podiam enxergar e entender da obra que Deus fazia.

1.46-55 manda os ricos embora com as mãos vazias. Da mesma forma que no cântico de Ana (1Sm 2.1-10), a Canção de Maria põe em evidência quanto os valores do Reino de Deus são diferentes dos valores meramente humanos de nossas sociedades. Nestas, são admirados e invejados os poderosos, os ricos e as celebridades, enquanto para Deus são mais valiosos os pobres e os humildes. A tendência a medir nosso valor pessoal usando critérios estranhos e contrários aos do Reino é uma causa comum de baixa autoestima e de sentimentos depressivos. Embora não seja nada fácil superar os modos de pensar e de julgar do meio em que vivemos, é importante pedir a Deus e investir energia para que os critérios com que avaliamos a nós mesmos e aos outros sejam coerentes com os ensinos de Jesus e do Novo Testamento em geral.

1.57-66 os vizinhos ficaram com muito medo. O medo que os vizinhos de Isabel e Zacarias demonstraram deve ser entendido como uma atitude de espanto e reverência diante de acontecimentos inusitados. Vale a pena observar quantas vezes nos relatos relacionados ao nascimento de Cristo os mensageiros de Deus usam a expressão "não tenha medo" (vs. 13,30); de fato, a presença de Jesus sempre afasta o medo.

1.68 ele veio ajudar o seu povo. Zacarias, com o nascimento de seu filho João Batista, sentiu que o Senhor Deus de Israel visitou seu povo e sentiu o desejo de Deus em salvar o seu povo, manifestando desta forma sua misericórdia aos pais e lembrando de sua aliança. Este menino foi preparar os caminhos do Senhor Jesus, e ficou no deserto até o dia em que havia de mostrar-se a Israel (3.3). O Pai sabe dos caminhos dos homens: João Batista estava no deserto sendo santificado para o momento de ir adiante do Senhor. O nome João significa "Deus é gracioso".

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