Lucas 9 — Estudo Devocional
Lucas 9
Lucas 9 apresenta um capítulo de momentos significativos no ministério de Jesus, enfatizando temas de discipulado, fé, altruísmo e a natureza transformadora do encontro com Cristo. Este capítulo convida-nos a examinar o nosso compromisso em seguir Jesus, a nossa compreensão da Sua missão e a nossa vontade de abandonar os nossos desejos por causa do Seu reino.
O capítulo começa com Jesus enviando os Doze discípulos em uma missão para pregar o reino de Deus e curar os enfermos. Isto marca um passo significativo na sua jornada de discipulado, pois lhes é confiada autoridade e poder. Este relato nos lembra que o discipulado envolve aprender com Jesus e participar ativamente em Sua missão. Como seguidores de Cristo, nós também somos chamados a partilhar a mensagem do reino de Deus e a estender o Seu amor e cura aos necessitados.
A alimentação dos cinco mil demonstra a compaixão e a provisão milagrosa de Jesus. Quando confrontado com uma multidão necessitada de sustento, Jesus não os rejeita. Em vez disso, Ele realiza um milagre, demonstrando Sua autoridade sobre a escassez. Esta história nos lembra que quando oferecemos o pouco que temos a Jesus, Ele pode multiplicá-lo além da nossa imaginação. Também reflete Seu coração compassivo pelas necessidades físicas e espirituais de Seus seguidores.
O momento crucial do capítulo é a confissão de Pedro de Jesus como o Cristo. O reconhecimento de Pedro de que Jesus é o Messias — o Ungido — revela uma compreensão profunda da identidade e do propósito de Jesus. Esta confissão serve de fundamento para a nossa própria fé, convidando-nos a reconhecer Jesus como Salvador e Senhor das nossas vidas.
O ensinamento de Jesus sobre o custo do discipulado desafia-nos a avaliar o custo de segui-Lo. Ele enfatiza que o discipulado requer abnegação e disposição para abandonar desejos e ambições pessoais. Isto ecoa o chamado anterior de Jesus para “tomar diariamente a tua cruz e seguir-me”. Lembra-nos que o verdadeiro discipulado envolve entregar a nossa vontade à vontade de Deus e alinhar as nossas vidas com os Seus propósitos.
Lucas 9 nos convida a refletir sobre a natureza do nosso discipulado. Estamos participando ativamente na missão de Jesus de compartilhar o Evangelho e estender o Seu amor? Confiamos em Sua provisão milagrosa em nossas vidas, mesmo quando enfrentamos limitações? Estamos dispostos a declarar Jesus como o Cristo, o centro da nossa fé? E estamos prontos para aceitar o custo do discipulado, abandonando atividades egocêntricas em favor de segui-Lo de todo o coração?
Ao meditarmos em Lucas 9, respondamos ao chamado de Jesus com boa vontade e devoção de todo o coração. Que possamos abraçar a Sua missão, confiar na Sua provisão e renunciar aos nossos desejos por causa do Seu reino. Assim como os discípulos foram transformados através dos seus encontros com Jesus, que nós também possamos experimentar uma jornada transformadora de fé ao segui-Lo com um compromisso inabalável.
Devocional
9.1-6 os enviou para anunciarem... e curarem. Aqueles que haviam ouvido a mensagem agora são enviados: igreja é missão, discipulado é missão. Sempre acontecem duas coisas complementares e assimétricas, uma visível e outra invisível. As pessoas escutam o que falo: eu o vejo! Escuto a palavra que pronuncio e, imediatamente, esse gesto nos transforma a ambos: eu o sinto!
9.3 não levem nada. Este seria um exercício fundamental de fé: os discípulos estariam aprendendo a confiar totalmente no cuidado do Pai do Céu.
9.7 ficou sem saber o que pensar. Herodes perplexo! O poder político vive de frustrações; os planos de manipular a vida através de ameaças de morte se voltam contra seus dirigentes em forma de "síndrome do pânico".
9.10-17 deem vocês mesmos comida a eles. Ao nos enviar ao mundo, Jesus sempre nos convida a participar do trabalho de preparar a mesa. Que não falte o pão e o vinho, que não se esconda meu sorriso, porque sobre eles se produzirá a bênção que alimentará a cinco mil pessoas que sentem fome!
9.18 estava sozinho, orando. Repare quantas vezes Jesus se retira para orar! Isso é relatado também em Lc4.42; 5.16; 6.12; 22.41.
9.18-20 O Messias que Deus enviou. Ao sentir sua presença ressoar em minha carne, minha pele arrepia, e descubro pela primeira vez a realidade do Senhor da comunidade de Israel: assim Pedro deve ter sentido a origem desta sua confissão sobre Jesus.
9.21-22 proibiu... de contarem isso. A essa altura os discípulos dariam um testemunho ainda muito incompleto sobre Jesus ser o Messias. Ainda faltava entenderem no seu íntimo a parte mais importante: a necessidade do sofrimento. Um primeiro silêncio perante grandes descobertas é um bom caminho para compreendermos mais. O Filho do Homem... Será morto. Parece que Jesus confronta a confissão de Pedro, sobre ele ser o Messias (v. 20); é como se dissesse: "vocês entenderão o que confessaram quando este corpo, que hoje veem pulsando, o verem frio e quieto. Será então que o invisível, o Espírito Santo, visitará vocês com a ressurreição."
9.23 se alguém quer ser meu seguidor. É nessa hora, depois de deixar claro que caminha para a morte, que Jesus convida seus seguidores a "negarem-se a si mesmos e tomar suas cruzes." Ou seja, mesmo ele sendo o Messias, o caminho será de rejeição e morte, até chegar à ressurreição. E é neste Jesus que encontramos a vida. Se alguém quiser preservar sua vida, acabará se perdendo, não encontrando o caminho.
9.24-26 O que adianta alguém ganhar o mundo inteiro? Parece que um grande inimigo do seguir a Cristo é o desejo de ganhar mais, de enriquecer e conquistar este mundo. Vemos aqui um dos paradoxos da vida em Cristo: perder a vida por causa de Cristo é ganhá-la — o encontro com Cristo no interior da nossa humanidade gera uma alegria maior do que qualquer perda que isso signifique. Viver com Cristo é paradoxal, como já expressam as Bem--aventuranças (Mt 5). Veja o quadro "A dificuldade das riquezas" (Lc 18).
9.27 não morrerão antes de ver o Reino. O Reino de Deus é uma realidade invisível para nós — e só se tornará visível depois de morrermos. Mas Pedro, Tiago e João tiveram o privilégio de ver Jesus no poder do seu Reino, uma semana depois destas palavras (v. 28).
9.28-36 Este é o meu Filho... Escutem o que ele diz! Com o ensino sobre a necessidade da morte, e que os seguidores deveriam ter o mesmo tipo de atitude (vs. 21-26), o rosto dos discípulos tinha ficado pálido, suas forças se perdiam, e uma vontade enorme de chorar os invadia. Jesus então disse algo como: "vamos, rapazes, não fiquem assim! Vamos à montanha e eu mostrarei a vocês um pouco disso que falei...". E a realidade do grande poder de Deus ficou evidente e convincente para os três amigos; tanto que, muitos anos depois, Pedro o menciona em sua segunda carta (2Pe 2.16-18). Veja o quadro "Erros na avaliação de experiências de fé transformadoras" (1Pe 1)
9.37-43 Jesus deu uma ordem ao espírito mau, curou o menino e o entregou ao pai. A revelação de Jesus inclui o "descer do monte", as emoções contagiantes do "ataque de pânico" e também outros modelos de pais e de filhos. Suportar toda essa emoção requer oração (Mac 9.29) e, por via das dúvidas, não "acampar em barracas" no espetáculo religioso...
9.44-45 não esqueçam...: o Filho do Homem será entregue. A traição, a zombaria e a morte fazem parte do horizonte da vida. Não entendemos essas coisas porque não queremos incluir essas realidades. Mas não devemos esquecer que sofrimento e morte fazem parte: negar os aspectos duros da nossa vida nos deixará entorpecidos.
9.46-48 o mais humilde... é o mais importante. Mostrando uma criança, Jesus diz que o menor é que é o maior entre eles. As dimensões no mundo visível ficam marcadas desde a infância. Quando éramos pequenos dizíamos "amo mamãe tanto assim", mostrando com os braços abertos o máximo que podíamos. Já na comunidade dos salvos pela graça as dimensões são invisíveis, são o contrário daquilo que vemos. Por causa do Reino de Deus, felizes são os que agora choram, os que agora são pobres, e os que agora são pequenos.
9.49-50 Não o proíbam. A missão dos discípulos é permitir que o amor floresça e apareça até a pele. Por isso é necessário deixar que o sorriso se forme no rosto, favorecendo (e não proibindo) aquele que ainda está começando na fé. E não achar que somente o nosso grupo cristão tem o direito de seguir a Jesus.
9.51-56 como estava chegando o tempo... ele resolveu ir para Jerusalém. Dava para ver no rosto de Jesus o quanto ele estava decidido a ir para Jerusalém, quer que a gente mande descer fogo do céu? Os discípulos querem acompanhar "com tanques de guerra" o retorno de Jesus a Jerusalém. O Império Romano, com sua atitude de domínio pela força, os seduziu de tal forma que negam a realidade: nossa missão é para salvar as pessoas, inclusive aquelas que nos rejeitam! Veja o quadro "Nossa estrada para Jerusalém" (Mt 20).
9.57-62 quem começa a arar a terra e olha para trás. Iniciar a tarefa na comunidade dos céus supõe incondicionalidade. E possível que o apego à riqueza esteja enfocado aqui, tanto no conforto de ter onde morar, quanto no esperar a morte do pai e assim estar "garantido" pela herança. A mão no arado está ligada com a colheita, que já começa a vir. Olhar para trás é "desatender" a um compromisso com a própria vida.