Lucas 6 — Estudo Devocional

Lucas 6 

Lucas 6 apresenta um capítulo crucial que investiga o cerne dos ensinamentos de Jesus e desafia a nossa compreensão do que significa viver como Seus discípulos. Este capítulo aborda temas de amor, compaixão, humildade e a natureza radical da ética cristã. À medida que exploramos estes ensinamentos, somos convidados a refletir sobre como eles moldam as nossas vidas e relacionamentos.

O capítulo começa com os ensinamentos de Jesus sobre o sábado. Ele enfatiza o princípio de que o sábado foi feito para a humanidade, e não o contrário. Isto desafia atitudes legalistas e encoraja-nos a dar prioridade à misericórdia e à compaixão em detrimento da adesão rígida às regras. A autoridade de Jesus sobre o sábado destaca Seu papel como Senhor de todos os aspectos de nossas vidas.

Uma das partes mais famosas deste capítulo é o “Sermão da Planície”, onde Jesus profere as bem-aventuranças e outros ensinamentos profundos. As Bem-aventuranças revelam uma perspectiva contracultural sobre felicidade e bem-aventurança. Jesus abençoa os pobres, os famintos, os enlutados e os perseguidos, virando as normas sociais de cabeça para baixo. Estas bênçãos lembram-nos que os valores do reino de Deus diferem dos do mundo, centrando-se na humildade, na dependência de Deus e num coração compassivo.

O chamado de Jesus para amar os nossos inimigos e fazer o bem àqueles que nos odeiam desafia os nossos instintos humanos. Este ensino reflete o amor e a graça radicais que caracterizam a natureza de Deus. É um chamado para superarmos o ressentimento e a amargura, incorporando o poder transformador do amor de Cristo em nossas interações.

Além disso, a metáfora do construtor sábio de Jesus enfatiza a importância de uma base sólida para as nossas vidas. Esse alicerce é construído ouvindo e obedecendo Suas palavras. Ilustra que as tempestades da vida virão, mas aqueles que constroem as suas vidas sobre a rocha dos ensinamentos de Jesus permanecerão firmes.

Lucas 6 nos convida a examinar as motivações por trás de nossas ações e atitudes. Somos movidos pelo amor e pela compaixão ou estamos confinados pelo legalismo e pelo interesse próprio? Os ensinamentos deste capítulo lembram-nos que o verdadeiro discipulado envolve uma transformação do coração que reflete o carácter de Cristo na nossa vida diária.

Ao meditarmos em Lucas 6, procuremos imitar o amor radical e a humildade de Jesus. Estejamos dispostos a reavaliar as nossas prioridades, permitindo que os Seus ensinamentos moldem as nossas perspectivas sobre riqueza, felicidade e relacionamentos. Ao vivermos os princípios deste capítulo, não só honramos a Cristo, mas também nos tornamos vasos da Sua graça e agentes de transformação num mundo que precisa tão desesperadamente da Sua luz.

Devocional

6.1-5 fazendo uma coisa que a nossa Lei proíbe fazer. Lucas agora conta um acontecimento que ilustra o que Jesus acabou de ensinar, que a aliança com Deus que ele trouxe é nova, diferente da aliança pela obediência à Lei. Para Jesus nunca é proibido fazer o bem, nem mesmo no sábado quando os judeus descansavam. Deus é Senhor do sábado porque foi ele quem o criou e o estabeleceu para a edificação das pessoas. Não foi feito para ser observado com um temor obediente, mas foi feito para fazer o bem, para que haja um descanso, um refrigério da alma, do corpo e do espírito. O exemplo de Davi, que transgrediu a lei para matar a fome do seu grupo, foi uma transgressão bem mais séria do que os discípulos debulharem espigas. Assim Jesus ilustra como as necessidades da pessoa podem ser mais importantes do que a lei.

6.5 O Filho do Homem tem autoridade sobre o sábado.
A lei do sábado era a mais sagrada nos costumes daquela época (tanto que todos esperaram passar o sábado para cuidar do corpo de Jesus na sepultura). Aqui Jesus deixa claro que tem autoridade divina, ao mesmo tempo que começa a utilizar o título que também indica sua condição humana ("Filho do Homem"). Veja o quadro "O descanso em Jesus" (Hb 3).

6.6-11 Num outro sábado. A dificuldade que o povo da lei tinha com a nova aliança era tanta que Lucas conta outro evento semelhante, em que Jesus curou um homem com a mão aleijada em pleno dia de sábado, e argumentou que não curá-lo seria fazer o mal.

6.12 passou a noite orando. Por que Jesus tantas vezes se retira para orar? Por que leva os discípulos para retiros? É porque quer manter-se (e a eles) em contato com a realidade invisível do Reino de Deus; ele sabe que precisamos nos manter constantemente dependente de Deus. As multidões, a vida de celebridade, assim como a impressão de que nós é que administramos nossa vida, nos afastam dessa dependência humilde (como ilustra o solo espinhoso da parábola do semeador, 8.14; veja o quadro em Mc 4). Aqui Jesus fez escolhas (de quem seriam os seus discípulos) depois de passar um tempo em oração. Quantas vezes nós deixamos de tomar decisões sábias por não pararmos para orar primeiro...

6.19 dele saía um poder que curava. De Deus sai poder para curar, não apenas o nosso corpo, mas também a nossa alma. O poder de Deus pode retirar as farpas do nosso coração, colocar bálsamo e sarar as feridas da alma também. Encorajemos uns aos outros a buscar e confiar na ajuda de Jesus.

6.20 felizes são vocês, os pobres. Essa bem-aventurança da pobreza não é óbvia e tem sido sistematicamente evitada por quase todos. Para confirmar que aqui não se trata de pobreza espiritual, Lucas registra que Jesus acrescentou também seu oposto: ai de vocês que agora são ricos. O mesmo sentimento se aplica a todas as outras bem-aventuranças: por causa da realidade de Deus, a verdadeira felicidade está onde nós humanos não imaginamos e não desejamos estar. Veja o quadro "A dificuldade das riquezas" (Lc 18).

6.27-36 amem os seus inimigos. O Evangelho traz uma mudança de paradigma: amar os inimigos, fazer bem a quem nos faz mal, abençoar a quem nos amaldiçoa, e isso foge completamente daquilo que a nossa carne humana pede; esse tipo de atitude vem do Espírito de Cristo. Ao mostrar o contraste com nossas atitudes, Jesus pretende nos convencer de que, mesmo sendo "povo de Deus", estamos muito aquém do padrão de Deus, e necessitamos muito da misericórdia divina. Veja o quadro "Aprendendo a perfeição do Pai" (Mt 5).

6.34-35 não esperem receber de volta. Aqui Jesus está condenando o padrão da reciprocidade, de pagar na mesma moeda. O problema é que essa reciprocidade faz o próprio ser humano ser o padrão, deixando Deus totalmente de fora, omitindo a relação interna do homem com Deus, de Pai-filho/a. A relação com Deus tem como cerne a não reciprocidade, porque ele é bom para com os ingratos e com os maus (v. 35), e ser filho/a desse Deus é o elemento central do Cristianismo. Veja Jo 1.12, nota, e o quadro "Aprendendo a perfeição do Pai" (Mt 5).

6.37 não julguem os outros. Curioso como praticamente não se prega essa mensagem. Quando nós julgamos os outros, nós "entendemos" que sabemos mais do que se passa dentro do outro do que a própria pessoa. É como se pudéssemos ser a autoridade sobre a motivação do outro. Ninguém sabe realmente o que acontece no coração do outro, nem as razões pelas quais fazemos as coisas, a não ser Deus. Julgar é fazer papel de Deus, e é o contrário de ter misericórdia (v. 36). Veja Tg 4.11, nota.

6.38 Deem aos outros. Na mudança de paradigma trazida por Jesus, a regra é dar para receber, e não receber para dar. Em vez de julgar e acumular, ser misericordioso e generoso. Tome-se um doador e um perdoador: a "régua" com a qual medimos será a régua com a qual seremos medidos.

6.39 um cego não pode guiar outro cego. Não conhecemos os corações humanos; não podemos ver bem enquanto tivermos feridas em nosso próprio coração; tendemos a ser mesquinhos com os outros: melhor não tentar guiá-los com nossos julgamentos.

6.42 Tire primeiro a trave que está no seu olho. Esse conselho sempre deve ser seguido, para sermos "menos cegos" e para não sermos julgados por Deus (v. 37).

6.43-45 árvore boa não dá frutas ruins. Parece que Jesus quer ensinar que não adianta forçar um comportamento obediente se ele não vier de dentro, do coração. Para que nossos frutos sejam bons, só se formos árvores boas, pessoas de bom coração. Podemos reconhecer como está nosso coração pelas palavras que falamos, porque aquilo que está dentro do nosso coração fatalmente acabará saindo por nossa boca.

6.46-49 ouve a minha mensagem e é obediente a ela. A prova do bom fruto do cristão é a prática das palavras de Jesus. O único jeito de fazer um bom fundamento com o que Cristo ensina é pôr logo em prática estes ensinos que ele transmitiu. Desde que Jesus explicou que "vinho novo se coloca em odres novos" (5.38), Lucas apresenta formas de "ouvir e praticar" a palavra de Jesus, a Vida que ele nos dá. Jesus está apresentando outra realidade, invisível para nós — o Reino de Deus, a vida eterna, que chega até nós pela doação, pela graça e misericórdia de Deus, doando-nos vida a cada instante. A fé em Jesus é exatamente crer nesse mundo invisível, em que ele é Rei e doador da vida. É ficar na "posição de publicano", de recebedor por misericórdia (Lc 18.9-14). Esse "ouvir e praticar" está intimamente relacionado com fé, que (segundo Hb 11) é viver na experiência e espera dessa realidade invisível, do Reino de Deus.