Lucas 22 — Estudo Devocional

Lucas 22 

Lucas 22 apresenta um capítulo que nos conduz pelos momentos intensos das horas finais de Jesus antes de Sua crucificação. Através dos acontecimentos da Última Ceia, dos argumentos dos discípulos sobre a grandeza, da oração de Jesus no Jardim do Getsêmani e da Sua prisão, somos convidados a refletir sobre temas de humildade, entrega e o significado do sacrifício de Cristo.

O capítulo abre com a preparação para a ceia pascal, onde Jesus partilha a Última Ceia com os seus discípulos. Durante este momento comovente, Ele institui a Ceia do Senhor como uma lembrança do Seu sacrifício. Este ato de partir o pão e partilhar o cálice enfatiza a profundidade do Seu amor e a centralidade da Sua morte e ressurreição na fé cristã.

O argumento dos discípulos sobre quem é o maior revela a sua má compreensão do reino de Jesus. Em resposta, Jesus ensina sobre a natureza da verdadeira grandeza – uma grandeza marcada pela humildade e pelo serviço. Este ensinamento desafia-nos a reavaliar as nossas atitudes em relação ao estatuto e ao sucesso e a abraçar uma vida de humildade e altruísmo.

A cena no Jardim do Getsêmani retrata a profunda angústia de Jesus enquanto Ele se prepara para enfrentar a cruz. Sua oração - "Pai, se queres, afasta de mim este cálice; contudo, não seja feita a minha vontade, mas a tua" - demonstra Sua perfeita submissão ao plano do Pai. Este momento de entrega serve de modelo para nós, lembrando-nos da importância de alinharmos a nossa vontade com os propósitos de Deus, mesmo em meio às provações.

A prisão de Jesus e as reações dos discípulos sublinham o cumprimento da profecia e a necessidade do sacrifício de Cristo para a redenção da humanidade. Apesar da confusão e do medo dos discípulos, Jesus permanece decidido em cumprir a Sua missão.

Lucas 22 nos convida a refletir sobre a profundidade do sacrifício de Jesus e o significado da Última Ceia. Estamos nos lembrando da morte e ressurreição de Cristo com reverência e gratidão através do ato de comunhão? Estamos buscando a grandeza por meio da humildade e do serviço, conforme exemplificado pelos ensinamentos de Jesus? E estamos dispostos a entregar nossa vontade à de Deus, confiando em Seu plano mesmo em meio aos desafios?

Ao meditarmos em Lucas 22, possamos aproximar-nos da Ceia do Senhor com um sentido renovado do sacrifício e do amor que ela representa. Que possamos abraçar a humildade e o serviço como caminho para a verdadeira grandeza, seguindo o exemplo de Jesus. E que possamos aprender com a entrega de Jesus no Jardim do Getsêmani, reconhecendo que Seu sacrifício é o fundamento da nossa fé e a fonte da nossa esperança.

Devocional

22.1-6 Faltava pouco tempo para a... Páscoa. Antes da Páscoa sempre há o caos. Isso lembra a terra sem forma e vazia de Gn 1.1 no início da criação, misturado com a perseguição de Êx 14, no início do êxodo do Egito. Esta combinação também aparece como pano de fundo do relato da crucificação, como preparação para a nova vida criada em Cristo. Judas começou a procurar uma oportunidade para entregar Jesus a eles, sem que o povo ficasse sabendo. O amanhecer revelará a aliança entre um discípulo (que era o administrador da comunidade) e o sinistro poder religioso. Os conspiradores estavam motivados por medos diferentes.

22.14-23 quando chegou a hora, Jesus sentou-se à mesa com os apóstolos. Esta cena quebra o ritmo do relato da conspiração. O Filho do Homem, que é o próprio Deus, experimenta o tempo deste mundo. Ele descansa, antes do anoitecer final da morte. Este é o descanso (shabat) perfeito, antes de começar o domingo. Veja o quadro "A Ceia do Senhor" (1Co 11).

22.19 isto é o meu corpo entregue em favor de vocês. Na primeira Páscoa, Deus instruiu Moisés a celebrar o fato de o anjo da morte "pular" as casas dos judeus (marcadas com o sangue do cordeiro) e assim deixá-los escapar da morte que atingiu as casas dos egípcios. Por isso o significado hebraico de "páscoa" é "pulo, passagem". Assim, durante todo o tempo do Antigo Testamento, milhares de animais foram sacrificados para livrar os humanos do castigo de seus pecados. Já no grego do Novo Testamento a palavra "páscoa" deriva de "sofrimento". E refere-se ao ato de Jesus ser o humano que finalmente enfrentou a morte, de uma vez por todas, tomando o lugar daquele cordeiro cujo sangue livrava o seu povo. E assim os sacrifícios de animais deixaram de ser necessários. Veja os quadros "Velha aliança e nova aliança" (jo 1) e "Os pecados e a salvação em jesus" (Jo 3).

22.20    Este cálice é a nova aliança feita por Deus com o seu povo. Este momento é histórico: Jesus deixa claro que o derramamento de seu sangue — sua morte — inaugura um novo relacionamento entre a humanidade e Deus. E por isso que o véu do templo, a cortina que até então separava a presença de Deus dos pecadores, se rompeu (23.45-46). Com a morte de Jesus o problema do pecado finalmente é resolvido. Veja o quadro "A Ceia do Senhor" (ICo 11).

22.21 o traidor está... comigo à mesa. Aqui fica bem claro que Judas ainda está presente, e Jesus deixa que ele participe da Santa Ceia. Será que muitas vezes nossas igrejas não estão querendo ser "mais santas" que Jesus, ao restringir a participação mais do que ele fez? Veja o quadro "O valor psicoteológico da Ceia" (Atos 20).

22.24-30 os apóstolos tiveram uma forte discussão. Ainda estão presentes as emoções profundas despertadas pelo "pão e vinho", e imediatamente a biologia do primeiro Adão produz uma insatisfação na alma! A disputa era em torno do poder, e esse acontecimento soa um pouco parecido com "negociação" com políticos religiosos. Entre vocês não pode ser assim. O Mestre parece dizer: "amigos, a coisa não é assim! No domingo a realidade do universo será outra!"

22.31-34 Simão, Simão. O que Jesus diz para Pedro soa mais ou menos assim: "você terá de assistir aos primeiros atos da nova criação; você vai viver dentro do caos do conflito do amor próprio. E este não é importante, o importante é que eu (que sou o Messias)" tenho orado por você! Este é o relato do penúltimo evento da solidão humana.

22.35-38 aqui estão duas espadas. Os discípulos sentem que a noite chega... o medo que ocupa o coração já se chegou até as mãos! O Senhor responde "Basta!" (pois não fazem falta). Eles acabaram de reconhecer que, durante os três anos de comunidade, nada lhes faltou (v. 35). Agora também não lhes faltará; essa "muleta" não é necessária, a não ser para cumprimento das Escrituras.

22.39-46 Porém não seja feito o que eu quero, mas o que tu queres. Esta frase nos salvou. A cruz, mais que um cenário exterior e visível, tem um cenário interno e invisível: é a morte do eu autônomo, da vontade própria! "seja feita a tua vontade" é o último suspiro de vida do primeiro Adão, do velho homem. A partir de agora, tudo é recriado: já soam as trombetas da redenção!

22.40 orem pedindo que vocês não sejam tentados. O que eu faço diante de uma situação difícil, ou até de desespero? Oração para entrega, para confissão, para arrependimento, para confiança e para paz.

22.47-53 Parem com isso! O espetáculo teatral da traição se apresenta com Judas em sua maior encenação. Alguns discípulos querem atuar com as duas espadas. O Mestre diz "Basta!" pela segunda vez. A representação não tem futuro na comunidade dos céus. Jesus diz: Eu estava com vocês até há pouco, antes que suas mentes fossem governadas pelo príncipe das trevas (v. 53)

22.54-62 chorou amargamente. O olhar de Jesus para Pedro lembra-o das palavras, leva-o ao arrependimento. A pessoa que contempla o Messias recebe um alívio. O choro marca a distância, e assim fica reinstalada a relação. É que o Cristo imaginado, depois do fracasso, passa a "viver em mim", e então comove minhas entranhas! Em um instante recupero toda a vitalidade vinda da comunhão com sua presença!

22.63-65 Taparam os olhos dele. Queriam tirar a visão do criador da visão. Essa enorme estupidez inicia o último momento da conspiração do homem caído. Zombaram de Jesus. O mal no coração do homem se manifesta. Daqui em diante crescerá a barbárie contra a Vida. E então o homem assistirá repetidas vezes a seu maior fracasso. No domingo, a Vida levantará com sua majestade o sol da terra com um brilho diferente!    ^

22.66-71 Não precisamos mais de testemunhas. É uma brutal confissão do egoísmo a serviço de comportamentos homicidas. A conspiração uniu o poder do Império, a política judaica, os religiosos de Jerusalém, junto com os amigos do Mestre. Todos foram comovidos pela manhã do domingo. Alguns serão abençoados pelo ressuscitado.