Lucas 15 — Estudo Devocional

Lucas 15 

Lucas 15 oferece um capítulo que revela o coração do amor, da compaixão e da redenção de Deus pelos perdidos. Através das parábolas da ovelha perdida, da moeda perdida e do filho pródigo, Jesus ilustra o poder transformador da graça, a profundidade da busca de Deus e a alegria do arrependimento.

O capítulo começa com a parábola da ovelha perdida, destacando a busca incansável de Deus por cada indivíduo. A determinação do pastor em deixar as noventa e nove e procurar a única ovelha perdida fala da profunda preocupação de Deus pelo bem-estar de cada alma. Esta parábola nos lembra que Deus se alegra quando até mesmo um pecador se arrepende, enfatizando o imenso valor que Ele atribui a cada pessoa.

A parábola da moeda perdida enfatiza ainda mais a busca inabalável de Deus pelos perdidos. Assim como a mulher procura diligentemente a moeda perdida, Deus procura aqueles que se desviaram Dele. Esta parábola enfatiza a alegria no céu quando um único pecador se arrepende, reforçando a verdade de que o coração de Deus se enche de alegria quando nos voltamos para Ele.

A parábola do filho pródigo é talvez uma das histórias mais poderosas e conhecidas da Bíblia. Mostra o amor e o perdão incondicionais de Deus. A resposta do pai ao filho rebelde, correndo para abraçá-lo e celebrando o seu retorno, reflete a graça ilimitada de Deus. Esta história nos ensina que não importa o quanto nos tenhamos desviado, Deus está sempre pronto para nos receber de braços abertos.

Lucas 15 convida-nos a considerar a profundidade do amor de Deus pelos perdidos e o Seu desejo de reconciliação. Estamos conscientes da nossa própria necessidade da graça de Deus? Estamos dispostos a nos arrepender e voltar para Ele quando nos desviamos? Estamos dispostos a estender o perdão e a compaixão àqueles que se perderam?

Ao meditarmos em Lucas 15, podemos ser lembrados do incrível valor que Deus dá a cada pessoa e até onde Ele vai para restaurar os perdidos. Que possamos responder com humildade, reconhecendo a nossa necessidade do Seu perdão e graça. E que possamos compartilhar a alegria do céu ao procurarmos levar outros ao arrependimento e experimentar o poder transformador do amor redentor de Deus.

Devocional

15.1-2 pessoas de má fama. Este capítulo é um marco notável sobre a graça e o amor de Deus que Jesus veio trazer à terra. Foi para pessoas consideradas "perdidas" — publicanos e pecadores — que Jesus contou suas histórias mais bonitas sobre a graça de Deus. É característico da graça que ela só pode ser vivida por aqueles que se conscientizam que são pecadores. Só meu lado perdido pode ser encontrado. Este é um dos paradoxos do evangelho: todos caíram no pecado e perderam a glória, para serem achados pela graça. Lado perdido também pode significar lado escondido, inconsciente. Quem se afasta do seu interior, da sua vida emocional, corre o grande risco de se tornar "desalmado", tal como os fariseus, para o ouvir. A atitude de Jesus era de abertura para pessoas, mesmo que fossem mal vistas na sociedade. Elas se chegaram a Jesus para o ouvir, e isto era o importante. Ele sempre recebia quem quer que fosse que quisesse ouvi-lo, ou mesmo falar-lhe, até mesmo os fariseus, que lhe faziam críticas levianas (v. 2) e propunham armadilhas maldosas. Em sua sabedoria, Jesus sempre responde com algo muito ligado à vida das pessoas, como por exemplo ir atrás de um animal perdido até achá-lo e ainda se alegrar com os amigos pela volta do animal perdido (talvez hoje, na sociedade urbana, ele falasse de um cachorro perdido?). Ensinando que sempre haverá gozo e alegria por uma pessoa que se arrepende, é este o trabalho de Jesus: buscar os que estão perdidos, afastados, e com estes assentar-se para testemunhar sobre a glória do Pai. Quem procurava sua ajuda chegava perto e ouvia, e nós também podemos fazer isto.

15.3- 32 Então Jesus contou. Estas três parábolas são excelentes amostras do que é o cerne do evangelho: boas notícias. Elas têm ainda atraído a atenção de intérpretes e pregadores desde que foram contadas por Jesus e têm sido fonte riquíssima de bênção para milhões de pessoas. A primeira parábola é de alguém muito bom cuidador de cada uma das suas ovelhas; a segunda, de uma mulher, também cuidadosa com suas moedas; e finalmente de um pai amoroso e receptivo para com seus dois filhos rebeldes. Todas estas parábolas ressaltam a personalidade de Deus, mostrando ser ele bem diferente daquilo que a tradição religiosa imaginava. Veja o quadro "O filho pródigo e a crise na fé".

15.4-7 por acaso não vai procurá-la? Aqui está a maior diferença entre nossas idéias sobre deus e religião e o Deus da Bíblia: ele se interessa, cuida e busca os que são seus. Ele é atento e preocupado em ter-nos sempre perto dele. Perceba a ternura revelada na atitude do pastor/dono das ovelhas. Isto é somado à alegria que manifesta ao reunir a ovelha fugitiva às demais no aprisco. Afinal, seu amor é por todas igualmente. Nem Jesus, nem Deus Pai, nem o Espírito Santo fazem diferença entre as pessoas. O bom conselho de Jesus ao contar esta parábola a pessoas consideradas "perdidas" naquela sociedade é que Deus as procura e se alegra muito ao encontrá-las.

15.8-10 uma mulher... vai procurá-la. Novamente, Jesus fornece um exemplo do universo masculino e outro do feminino (cf. 5.36-38). Aqui a ênfase é no valor das pessoas para o Reino de Deus: tal como uma moeda (pagamento de uma diarista) é alvo de atenção e cuidado por parte de sua possuidora, assim a pessoa que está afastada é vista por Deus. Há até um pouco de humor nesta parábola, pois na festa após o reencontro da moeda a mulher pode ter gasto mais do que o valor nominal da mesma. De novo, o mais importante é seu esforço para não deixar a moeda perdida e a alegria quando a reencontrou. Deus "gastou" para a nossa salvação nada menos que seu Unigênito Filho — isto é de nos deixar pasmos com a dimensão seu amor.

15.11-32 Um homem tinha dois filhos. Esta parábola do filho pródigo na verdade fala de dois filhos, ambos rebeldes e descontentes com seu pai, diferindo no detalhe de o mais novo ter saído de casa. Mas o comportamento do mais velho na hora da festa também foi egoísta, alienado, invejoso e arrogante. Assim o pai "perde" os dois filhos, e é empolgante vermos sua atitude soberanamente bondosa para com os dois, mostrando o mesmo misterioso amor para recuperá-los na mesma noite e na mesma festa. E maravilhoso notar com que enorme sabedoria ele fez valer sua autoridade, só faltando empurrar os rapazes para dentro da festa. Novamente, sua atitude desperta em nós certo senso de humor. Seria muito interessante ver estes dois encontrando-se cara a cara, depois de tantos anos, na frente do pai comum, mais ou menos como fariseus e cobradores de impostos estavam ali, perante Jesus. Veja o quadro "O filho pródigo e a crise na fé".

15.22 Tragam a melhor roupa. O filho mais novo, que desceu até o nível mais baixo pela necessidade que passava, reconheceu que estava pecando contra tudo e principalmente contra o seu pai, percebendo-se indigno de ser considerado filho. Mas a sabedoria do pai nem deu resposta ao pedido de emprego feito pelo filho: passou imediatamente a providenciar a festa. Pelos costumes da época, o pai teria poder legal de morte sobre o filho por sua atitude. Outra vez a maravilha da parábola está na decisão soberana do pai, não lhe aplicando a pena cabível, mas agindo com seu sábio e poderoso coração. Seu ato significava dizer ao filho: "Embora você tenha me desafiado ao sair de casa e embora você tenha me procurado como se eu fosse uma agência de empregos, de minha livre e espontânea vontade vou adotá-lo novamente como meu filho, porque eu sou seu pai. E isto não depende de você: é minha decisão e você não pode mudá-la". Veja o quadro "O filho pródigo e a crise na fé". 

15.28 O mais velho ficou zangado. Com o filho mais velho não foi muito diferente a conversa, em sua essência. O rapaz achava que, por ter ficado em casa trabalhando para o pai, tinha direito a favores dele — o cabrito para comer com os amigos, se é que realmente os tinha. Isto mostra o seu espírito mesquinho, indicando que o pai teria obrigação de presenteá-lo. Mesmo sendo filho, agia como se fosse empregado! Ele não consegue se alegrar com o retorno do irmão mais moço, da miséria para a vida. Ainda mais, censurou o pai por ter recebido o outro filho, sendo, com isto, igualmente arrogante e desrespeitoso. Em resumo, ele também não cultivava qualquer relacionamento genuíno com o pai, encontrando dificuldades em compreender o seu gesto amoroso. Quantas vezes nós também não conseguimos nos apropriar daquilo que o Pai oferece, não nos alegrando por sermos seus filhos/as e deixando de experimentar esta festa de graça.

15.30 esse seu filho. Repare o contraste entre essa forma usada pelo filho mais velho e como o pai responde, no v. 32: "este seu irmão". Isto é um pai com mão forte e coração sábio para mostrar que filhos do mesmo pai são irmãos entre si, e que é necessário que aprendam a viver como irmãos, por mais difícil que isto lhes pareça. Veja o quadro "O filho pródigo e a crise na fé".

15.31 Meu filho. O pai primeiro reforçou a ligação paterno--filial numa fala amorosa, autônoma e independente, mostrando que ser filho não é uma conquista, e sim uma dádiva, coisa de pai. Então mostrou que, como filho, ele não precisava ganhar nada do pai: era só usufruir (tudo o que é meu é seu), coisa que nós também podemos aprender!

15.32  era preciso fazer esta festa. Aqui Jesus introduz uma nota de extrema importância: a alegria! E esta nota é reforçada pela frase "era preciso". Quando Deus acha que "é preciso" algo é porque é o melhor para nós, e seremos mais felizes se o fizermos em vez de questionar. Além disso, no texto original são usadas duas palavras, uma com a ideia de celebração, a outra de alegria. A reunião da família era uma "festa alegre". Belíssima redundância! estava morto e viveu de novo; estava perdido e foi achado. O rapaz não reviveu por si: foi o pai quem o fez viver de novo; ele estava perdido dentro de seu orgulho tolo: o pai o achou. Veja o quadro "O filho pródigo e a crise na fé".

O filho pródigo e a crise na fé.
Um homem tinha dois filhos. Assim como havia dois grupos de pessoas escutando, também há dois filhos na história. O mais velho só aparece mais tarde, fica à margem neste primeiro tempo. Isso é típico de quem não quer se destacar, faz o que é correto, cumpre com seus deveres.

O mais moço, por seu lado, não quer esperar. Ele é típico de alguém mais jovem, mais imaturo — é impulsivo, não quer esperar a morte do pai para gozar da herança. Tudo tem de ser antecipado, prematuramente usufruído.

... partiu para um país que ficava muito longe. Ali viveu uma vida cheia de pecado e desperdiçou tudo o que tinha. Facilmente olhamos para este texto e identificamos nele os pecados mais visíveis — mau uso do dinheiro e da sexualidade. Afinal, Jesus estava falando àqueles publicanos e pecadores. Vamos arriscar outro entendimento, sem anular o primeiro:

Sentimo-nos ricos espiritualmente ao recebermos sua graça e então partimos sozinhos a uma terra distante — sozinhos, sem a dependência diária da sua graça, do seu poder. Às vezes também somos filhos imaturos que pedem a antecipação da herança.

E o triste é que ali desperdiçamos os bens do Pai — usamos seus dons para atrair pessoas a nós. A herança de Deus vira um meio para atingir nossos fins — reconhecimento, poder, glória, afeto. Já não nos importa ficar na presença divina, mas sim o que obtemos nas terras humanas. Trocamos o ser pelo ter. Sempre de novo assistimos ao fracasso de herdeiros de graças divinas que as dissiparam em troca de tesouros humanos.

... e começou a passar necessidade. Então procurou um dos moradores daquela terra e pediu ajuda. Quando a herança paterna termina, vem a fome: fome de sentido de vida, fome de relacionamentos genuínos. O moço encosta-se num cidadão daquele país — é a tentativa de buscar a nutrição no que é terreno; há tantas promessas de vida em tantos cursos, técnicas e objetos a adquirir.

Agora, o ter não passa de comida de porcos — não alimenta a fome existencial. Jesus provavelmente contou esta história sentado à mesa, enquanto comiam — lágrimas de emoção devem ter aflorado aos olhos daqueles que conseguiram se identificar com o filho perdido.

E nós? Já conseguimos entrar em contato com nosso lado perdido, que se esconde atrás do brilho da aparência? Quantas mulheres sentem sua vida como apascentar porcos? Mas é puro ativismo! É vida oca, que não alimenta a alma, pois não tem a melhor parte, aquela que Jesus reconheceu em Maria.

Caindo em si... O filho caiu em si. Esta foi uma saudável queda! Quantas vezes nos assustamos com nossas crises de fé, e nos entupimos com tarefas, em vez de ouvirmos nossa alma que sente saudades do Pai. A culpa saudável é a que leva ao diálogo com o Pai.

Este filho estava sentindo culpa, queria voltar ao pai, mas a neurose se infiltrou — caso típico de culpa neurótica disfarçada. Quer voltar ao pai, na posição de empregado. Quer estabelecer uma relação de troca, típica de escravo: trabalho em troca da comida. A culpa o leva a desistir da sua condição de filho, da relação por amor. Quer a relação mercantilista, de troca. Modo neurótico de não sair do remoer.

...mas o pai... Quantas vezes nós também voltamos à casa do Pai, mas queremos estabelecer antecipadamente o lugar a ocupar e os rituais de expiação. Rejeitamos o seu abraço de Pai e só queremos estender a mão para firmar um contrato com o patrão (ex-pai). Não há entrega da alma, pretende apenas prestar serviço. Típico da neurose obsessiva, que surge de medo do descontrole do amor e se lança na religião ativista.

Então Jesus conta de uma forma linda sobre a intervenção de Deus no nosso contrato escravizante. E inicia este trecho com um "mas Deus"... Mas é a pequena palavra que muda o curso da história do filho, que mostra que o pai não aceita o trato proposto. Veja que belo paralelo há entre Lc 15.22-24 e Ef 2.4-7:

—    Mas o pai ordenou aos empregados: "Depressa! Tragam a melhor roupa e vistam nele. Ponham um anel no dedo dele e sandálias nos seus pés. Também tragam e matem o bezerro gordo. Vamos começar a festejar porque este meu filho estava morto e viveu de novo; estava perdido e foi achado."

—    E começaram a festa.
Mas a misericórdia de Deus é muito grande, e o seu amor por nós é tanto, que, quando estávamos espiritualmente mortos por causa da nossa desobediência, ele nos trouxe para a vida que temos em união com Cristo. Pela graça de Deus vocês são salvos. Por estarmos unidos com Cristo lesus, Deus nos ressuscitou com ele para reinarmos com ele no mundo celestial. Deus fez isso para mostrar, em todos os tempos do futuro, a imensa grandeza da sua graça, que é nossa por meio do amor que ele nos mostrou por meio de Cristo Jesus.

O pai, desde o início, recebe-o como filho. Esta condição não muda. Isto não depende do que o filho fizer, isto é da essência da natureza amorosa de Deus. Não é controlável pelo filho — ele apenas precisa deixar que o pai faça as ações. Veja os verbos: tragam a melhor roupa, vistam nele, ponham um anel e sandálias.

... o filho mais velho... chegou perto da casa. No meio da festa, o mais velho entra em cena. Provavelmente estava trabalhando no campo, sonhando com o dia em que tudo seria seu. Quantos sacrifícios deve ter feito para manter-se na linha! Talvez tenha sentido inveja do irmão que gozou a vida.

Faz tantos anos que trabalho... Mas ainda não entendi o que significa graça na tua presença. O filho mais velho também está perdido — pois vive perto do pai sem usufruir da sua presença. A situação lembra-nos dos estressados que, apesar de quase morarem na igreja, vivem de uma graça pobre!
Quantas vezes nós, cristãos/irmãos mais velhos, temos assumido a mesma atitude amarga: sempre prontos a criticar e a impedir a festa da graça. Reprimimos nossos desejos e assim tornamo-nos condenadores de todos os que nos provocam com seu desregramento. Este é um modo neurótico de garantir distância do que nos ameaça.

Então o pai respondeu:

Lc 15.31-32
"Meu filho, você está sempre comigo, e tudo o que é meu é seu. Mas era preciso fazer esta festa para mostrar a nossa alegria. Pois este seu irmão estava morto e viveu de novo; estava perdido e foi achado."

Ef 2.8-10
Pois pela graça de Deus vocês são salvos por meio da fé. Isso não vem de vocês, mas é um presente dado por Deus. A salvação não é o resultado dos esforços de vocês; portanto, ninguém pode se orgulhar de tê-la. Pois foi Deus quem nos fez o que somos agora; em nossa união com Cristo Jesus, ele nos criou para que fizéssemos as boas obras que ele já havia preparado para nós.

O pai trata ambos os filhos com amor — para o mais novo dá o perdão e a festa. Para o mais velho, ele o lembra de que pode participar de tudo, também da festa.

E onde estamos nós? Conseguimos acolher em nosso coração a festa da graça? Aceitamos o abraço do Pai e deixamos que ele nos torne feitura sua — aceito na família, nova roupa, anel e sandálias?

E ao tomarmos a sua feitura — à sua imagem e semelhança — conseguimos ter a sua atitude para com nossos irmãos velhos e novos? Estendemos o convite para a festa da graça a todos?