Lucas 8 — Estudo Devocional

Lucas 8 

Lucas 8 apresenta um capítulo de poderosas parábolas e demonstrações da autoridade de Jesus sobre a natureza, a doença e o mal. Através destas histórias, somos convidados a considerar a condição dos nossos corações, a importância de receber e nutrir a Palavra de Deus e o impacto transformador do encontro com Jesus.

O capítulo começa com a parábola do semeador, um ensinamento fundamental sobre as diferentes respostas que as pessoas têm à Palavra de Deus. Os vários tipos de solo representam diferentes condições do coração, desde a dureza e superficialidade até a receptividade e a fecundidade. Esta parábola nos encoraja a refletir sobre o estado de nossos corações e a cultivar um coração que recebe, nutre e produz frutos da Palavra de Deus.

As parábolas seguintes – a lâmpada num candeeiro e a semente que cresce – sublinham a ideia de que as verdades do reino de Deus devem ser partilhadas e nutridas. A Palavra de Deus é uma fonte de luz e crescimento e, como destinatários da Sua verdade, foi-nos confiada a responsabilidade de espalhar a Sua mensagem a outros.

O capítulo então muda para mostrar a autoridade de Jesus sobre a natureza enquanto Ele acalma uma tempestade no mar. Este relato nos lembra que em meio às tempestades e desafios da vida, Jesus é Aquele que pode trazer paz e tranquilidade. Sua autoridade se estende tanto ao reino físico quanto ao espiritual, oferecendo-nos um refúgio de calma em meio ao caos.

O encontro com o homem de Gadara, possuído pelo demônio, destaca a autoridade de Jesus sobre as forças do mal. A transformação dramática do homem – do tormento para a liberdade – ilustra o profundo impacto do encontro com o poder de Jesus. Esta história enfatiza que nenhuma escuridão é grande demais para ser superada por Jesus, e Seu trabalho transformador pode trazer libertação completa.

Lucas 8 nos convida a examinar a nossa receptividade à Palavra de Deus e a nossa resposta à autoridade de Jesus. Nossos corações são suaves e receptivos, permitindo que a Palavra de Deus crie raízes e produza frutos em nossas vidas? Estamos compartilhando a luz de Sua verdade com outros? Estamos buscando a presença calmante de Jesus em meio às tempestades da vida, confiando em Sua autoridade sobre todas as situações?

Ao meditarmos em Lucas 8, podemos comprometer-nos a nutrir os nossos corações como solo fértil para a Palavra de Deus, permitindo que ela molde os nossos pensamentos e ações. Que possamos abraçar a autoridade de Jesus em todos os aspectos de nossas vidas, encontrando paz e transformação em Seu poder. E que possamos, tal como o homem possuído por demónios, experimentar a liberdade que advém do encontro com Jesus, à medida que o Seu amor e autoridade expulsam as trevas e trazem uma nova vida de propósito e esperança.

Devocional

8.1-3 mulheres que... ajudavam Jesus e os seus discípulos. A vida humana precisa de sustento, e é muito interessante que Jesus e seus discípulos tenham sido sustentados — pelo menos em parte — por mulheres. Mesmo naquela época de cultura machista, vemos a importância que Jesus dava à mulher e como elas foram utilizadas por Deus para ajudar no sustento — inclusive financeiro — do ministério de seu Filho.

8.4-15 certo homem saiu para semear. Assim como o semeador nunca sabe exatamente onde vão cair as sementes, quando levamos a mensagem de Deus também não sabemos que tipo de reação haverá. Por isso podemos estar sempre semeando e entregar a Deus a possibilidade do crescimento. A terra boa dá muito mais do que seria de se esperar; é sinal de bênção, quando colhemos mais do que "deveriamos". Veja as notas na narrativa de Mac 4, e o quadro "A parábola do semeador e as outras parábolas" (Mac 4). 

8.18 vejam como vocês ouvem. Provavelmente aqui seja uma conclusão para os discípulos da parábola do semeador — que ouçamos a mensagem de Jesus como "terra boa", com o coração disposto a pô-la em prática. Com diz Henry, na escuta da Palavra o ser humano se torna fiel ao dom de Deus, da própria vida; se não a escutar, ele se tomará como fundamento de seu próprio ser e agir, e nesse egoísmo radical perderá o sentido da vida no meio dos cuidados do mundo e dos seus afazeres (veja o quadro "A parábola do semeador e as outras parábolas", Mc 4). Além disso, na vida em geral, as pessoas subestimam a importância do ouvir. A audição é o último sentido que se vai quando as pessoas estão à morte, em coma ou até sob anestesia. Ouvir palavras de morte pode ferir fundo, enquanto palavras verdadeiras e agradáveis podem ajudar muito o sofredor, quem tem receberá mais. A matemática divina funciona de um jeito muito diferente da humana. Do que Jesus está falando aqui? Não é dinheiro, mas o ouvir como "terra boa", a capacidade de crer na mensagem de Jesus e dar muitos frutos, de coração.

8.19-21 minha mãe e meus irmãos são aqueles que ouvem... e a praticam. Jesus continua mostrando a importância fundamental de praticarmos as palavras que dele ouvimos, e essa relação de fé com ele é mais importante até do que os laços de sangue. Da mesma forma, podemos observar a importância que tem a "família escolhida", a "família da fé". Na Bíblia inteira vemos a importância da adoção, às vezes até sem o caráter formal: a adoção de Ester por Mordecai, de Samuel pela família de Eli, de Moisés pela filha de Faraó, do próprio Jesus por José. Muitas vezes é a família que escolhemos — os amigos — que nos socorre mais que a família de sangue, que pode ter patologias tão grandes que poderia piorar a situação em vez de melhorar. Outras vezes, no meio da igreja, recebemos afetos de "tios" ou "avós" voluntariamente, ou nos importamos por crianças que não são nossos filhos naturais. Veja Lc 12.49-53, nota, e o quadro "Família na família de Deus" (Jo 1).

8.22-25 Mestre! Nós vamos morrer! Jesus acalma qualquer tempestade e é nossa grande garantia de segurança. Os discípulos, frente à realidade do barco se enchendo de água, perderam toda fé (v. 25) e imaginaram que Jesus seria "pego de surpresa" e, assim, acabariam todos como vítimas das circunstâncias. Veja as notas à narrativa em Mac 4. 

8.25 Por acaso vocês não têm fé? O que Jesus queria que os discípulos fizessem? Muitos deles eram experientes pescadores exatamente nesse mar, ou seja, essa tempestade era realmente perigosa. Provavelmente a "bronca" foi por causa de "uma fé que não aguenta tempestades". Talvez Jesus quisesse que os próprios discípulos repreendessem a tempestade; ou simplesmente que ficassem seguros e certos de que estavam protegidos. Seja como for, Jesus, sempre aliando verdade com amor, atende ao apelo e acalma o vento e o mar. Mas eles estavam admirados e com medo. Parece que o medo e a admiração são inimigos da fé, tal como mais tarde, em 24.37 (veja nota). 

8.26-39 o meu nome é Multidão. Numa terra estrangeira, Jesus liberta um homem severamente dominado por muitos demônios (veja o comentário em Mc 5). Mas, num sentido mais amplo, todos nós temos personagens que moram lá dentro: os diferentes papéis incorporados, uma legião não de demônios mas, por exemplo, a mãe ou pai incorporados e que continuam "nos dizendo" coisas desde nosso íntimo. Muitas vezes precisamos "exorcizar" estes personagens internos para as feridas vinculadas a eles poderem sarar. Jesus também pode nos auxiliar nesse processo, inclusive utilizando bons conselheiros ou psicólogos.

8.37 pediu que Jesus saísse da terra deles. Às vezes o que Jesus faz de bom assusta as pessoas, e estas pedem para ele ir embora. Tem gente que não aguenta as coisas boas de Jesus e suas soluções, preferindo a "forma conhecida" de viver que, mesmo sendo ruim, é conhecida e familiar. Esse mesmo processo também pode ocorrer como resistência a um trabalho de psicoterapia, por exemplo. 

8.40-56 Quem foi que me tocou? Podemos tocar em Jesus e ser curados daquilo que nos está afligindo. A mulher com hemorragia não teve medo, e foi tocar em Jesus, exatamente como ela cria. Jesus confirma: Minha filha (repare o afeto demonstrado), você sarou porque teve fé. Vá em paz. Veja o comentário em Mac 5 e o quadro "jesus cura a mulher: de menina a adulta" (Mac 5).

8.50 Tenha fé, e ela ficará boa. Depois de curar a mulher, Jesus orienta Jairo com sua fé a não cair na armadilha do medo: não tenha medo; tenha fé, e ela ficará boa. Ele entra na casa de Jairo e deixa fora todos os que não ajudariam (inclusive 9 discípulos), levando somente os amigos mais chegados Pedro, Tiago e João, mais o pai e a mãe da menina. Forma-se, portanto, em volta dela um "círculo íntimo de afeto", que participa da cura, da ressurreição da menina. Não é hora de assistir a um espetáculo — a multidão fica de fora. Não é hora de quem quer "ver para crer", não é hora de ironias e zombarias, nem de "entender melhor como Jesus age": não é hora do racional, nem do humor, nem do sensacional. O poder curador e doador da Vida, que Jesus traz do mundo invisível do Reino de Deus, vem à menina pelo afeto, num pequeno grupo de parentes e amigos íntimos, onde ela poderá acordar, ser acolhida em paz e também receber o alimento de que precisa. No mundo visível ela estava morta; no mundo invisível ela estava como o Senhor tinha dito: dormindo (v. 52). Jesus "cura" até a morte; para ele a morte pode ser apenas uma forma de doença. Veja o comentário em Mac 5.21-43 e o quadro "Jesus cura a mulher: de menina a adulta" (Mac 5).