Estudo sobre Romanos 8:26-27

Romanos 8:26-27

Paulo anuncia, portanto, uma segunda forma de prestação de ajuda pelo Espírito. Também o Espírito, semelhantemente, nos assiste em nossa fraqueza. Essa fraqueza consiste em fracassar num ponto central: porque não sabemos orar como convém. O NT na verdade atesta para os primeiros cristãos uma grande riqueza de motivos, formas e conteúdos de oração, porém é justamente na execução da oração em si que se torna manifesta cada vez uma incapacidade de orar, ou seja, a incapacidade de orar como convém. Essa indicação geral é preenchida de conteúdo no próximo versículo por “segundo a vontade de Deus”109. No face a face da pessoa com Deus passam a vigorar os critérios dele. Por isso não há ocasião em que o ser humano se mostre mais desqualificado que justamente na oração. Nem no pensar e no querer e nem no falar ele combina com Deus. Também a dádiva produzida pelo Espírito, de orar em línguas [glossolalia], segundo 1Co 13 faz parte do que é imperfeito, por ser um falar inadequado (1Co 13.8-11)110. Quem está cônscio do que diz quando pronuncia “Deus”, sabe também que Deus mora numa luz à qual nós seres humanos não temos acesso (1Tm 6.16). Isaías se depara com as chamas das espadas revolventes de Gn 3.24 e exclama diante do três vezes Santo: “Ai de mim! Estou perdido!” e: “Quem dentre nós habitará com chamas eternas?” (Is 6.5; 33.14). Nesse sentido, pois, é que Paulo designa a condição básica de quem ora como fraqueza. Mesmo depois de ter feito tudo que está em suas forças para dominar sua desatenção, resistência e vaidade, ele ainda assim comparece diante do Verdadeiro de joelhos frouxos. Quem ora faz algo que o ser humano deve fazer, mas que na realidade é impossível a partir dele. O fato de pertencer ao mundo passageiro (v. 23) faz efeito precisamente na hora de orar. “A carne é fraca”, afirmou Jesus a esse respeito (Mc 14.38; cf 1Co 15.43).

O Espírito, no entanto, nos assiste. Este verbo composto ocorre no NT somente ainda em Lc 10.40, onde, porém, está belamente ilustrado. Marta deseja que sua irmã a “assista” no trabalho da casa. Não é uma razão para que Maria faça todo o trabalho sozinho, mas ela tampouco deve deixar Marta servir sozinha. Semelhante é a assistência no nosso texto. O que crê não interrompe a oração, mas continua orando com toda a fraqueza, sabendo, porém, que também o Espírito ora. Forma-se uma comunhão de oração desigual, mas real.

Na segunda metade do versículo o conceito “fraqueza” ganha contornos mais nítidos. Mas o mesmo Espírito intercede por nós. O fato de que este verbo raro aparece em Paulo somente aqui em Rm 8, mas logo três vezes (v. 26,27,34), tem de ser importante para a exegese. No v. 34 é Cristo quem nos assiste, quem realiza intercessão à direita do Pai, de modo que também Deus está a nosso favor. Em contraposição, aqui no v. 26 trata-se do Espírito como o “outro Consolador”. Seu serviço não acontece no céu, mas declaradamente na terra “junto de, com e nos” discípulos (Jo 14.16-18), em seus “corações” (v. 27; 5.5; 8.15; Gl 4.6). Ou seja, um único processo é testemunhado com uma riqueza trinitária: Deus está a favor de nós, Cristo está a favor de nós, o Espírito está a favor de nós. Além disso o terceiro texto da intercessão no v. 34 também nos fornece clareza, pelo contexto detalhado desde o v. 31, do que Paulo tem em mente quando fala dessa fraqueza perante Deus: Está em jogo nada menos que nossa justificação. O pecado pessoal, a culpa e a aflição de consciência tornam-se ameaças. Incansavelmente nos assediam poderes de acusação e condenação, querendo invadir o mais íntimo círculo fortificado da fé e separar-nos ali do amor de Deus. Porém Deus é Deus, Cristo vive, o Espírito não nos deixa sozinhos.

Importa captar com exatidão a ideia de Paulo sobre o papel do Espírito. Mas o mesmo Espírito, acentua ele, intercede (empenha-se) por nós sobremaneira, com gemidos inexprimíveis. Não devemos pensar em nossos próprios gemidos inexprimíveis do v. 23. Paulo pensa num acontecimento do qual o que ora por certo pode ter conhecimento com base no presente ensinamento, assim como sabem da intervenção de Jesus nas alturas. Esse acontecimento, porém, eles não experimentam como atividade deles próprios. A palavra “gemer” refere-se na Bíblia a múltiplas situações. Aqui o contexto dirige a atenção para Mc 7.34. Assim como o Jesus terreno assumiu sobre si sofrimento alheio, assim age hoje o Espírito em lugar dele. Seu gemido é caracterizado como inexprimível, i. é, lábios humanos não são de forma alguma apropriados para ele (cf 2Co 12.4). É de natureza divina, e por isso também tem eficácia divina, como nenhuma oração humana teria. E aquele que sonda os corações sabe qual é a mente do Espírito, porque segundo a vontade de Deus é que ele intercede pelos santos. Sem dúvida Deus e Espírito harmonizam plenamente (1Co 2.10,11).

Retrospectivamente pode-se perceber que Paulo não descreve procedimentos especificamente cultuais. Eles acontecem nos “corações”, também fora da congregação. Da mesma forma ele não testemunha nesse caso manifestações do Espírito a indivíduos isolados em oração, como p. ex. no êxtase de 2Co 12.4 (“[ele] ouviu”) ou na glossolalia de acordo com At 2.4 ou 1Co 14.2 (“passaram a falar”). Sem dar atenção destacada à sua condição, aquele que ora persiste na oração (Rm 12.12), mesmo quando não há “nem voz nem resposta”. De modo algum ele enveredará pelo caminho dos sacerdotes de Baal em 1Rs 18.26-29, nem intensificará práticas exteriores de religiosidade (duração, volume da voz, envolvimento corporal). Adequado, no entanto, é um novo ouvir do evangelho de Deus e Cristo no Espírito, que acompanha incessantemente a nossa oração de modo eficaz e condizente com Deus. No desenrolar desse acontecimento vem ao nosso encontro um saber de fé, com extrema certeza, como diz a continuação do texto.