Resumo Geral do Antigo Testamento
A. O Pentateuco.
1. Gênesis.
Gênesis apresenta o Yahweh como o único Deus verdadeiro, o criador de todo o
universo, que tem o controle soberano sobre todas as forças da natureza. O
homem é a coroação de sua obra de criação, pois só ele foi feito à imagem de
Deus e somente a ele foi concedido o privilégio de ter um relacionamento
pessoal com o Senhor. Apesar de Adão ter perdido sua posição privilegiada
através do pecado, ao colocar o seu próprio desejo acima do desejo de Deus, ele
tomou-se objeto de perdão e graça, e o relacionamento que fora perdido foi
parcialmente restaurado, com base na obra futura de redenção do Messias, “o
descendente da mulher” (Gênesis 3.15). Esta herança de fé foi transmitida
através de Sete (apesar de ter sido rejeitada por Caim, o filho mais velho de
Adão), alcançando Noé e sua família, que foi o único a sobreviver ao julgamento
universal do Dilúvio. A tocha do testemunho foi passada a Abraão, o pioneiro da
fé, que se dispôs a abandonar sua terra e segurança para obedecer ao chamado de
Deus, dirigindo-se à terra prometida. Ele contentou-se em viver ali como um
estranho, um estrangeiro, aguardando o cumprimento da promessa de Deus para
seus descendentes. Seu filho, Isaque, cuja esposa foi escolhida pelo Senhor,
entregou essa herança para Jacó, aquele egoísta astuto, que finalmente foi
conquistado à verdadeira submissão a Deus pelo trabalho e perigo. Seus 12
filhos, apesar de seus pecados e faltas graves, mantiveram acesa a consciência
de pertencer a Yahweh sob a aliança da graça feita com Abraão e sua
descendência. E predominantemente em José que a verdadeira piedade é novamente
expressa. Deus o preparou através de provas sucessivas para a grandeza e o usou
para salvar sua família da extinção, ao acolhê-los no refúgio do Egito, onde
poderiam crescer e formar uma grande nação.
2. Êxodo.
O segundo livro relata como Deus preparou seu servo Moisés para a tarefa de
liderar Israel e libertar esse povo da escravidão opressiva, a que estava
sujeito no Egito. Após 40 anos de educação na corte do Egito, ele teve mais 40
anos como exilado no deserto do Sinai, onde, através da sarça ardente, foi
chamado e comissionado para sua tarefa. Após as dez pragas, o Faraó foi coagido
a deixar os israelitas partirem, para logo em seguida tentar recapturá-los e perder
seus carros e cavaleiros no mar. Deus sustentou toda essa multidão de
israelitas com maná que caía do céu e com água que jorrava da rocha. O Senhor
os encontrou como nação para a renovação da aliança no Monte Sinai, onde lhes
entregou o Decálogo, o Livro da Aliança, e as especificações para o Tabernáculo
e seu sacerdócio. Após a ruptura, em consequência da apostasia do bezerro de
ouro, Moisés intercedeu pelo povo e persuadiu Yahweh a renovar seu
relacionamento com a nação de Israel, que fora castigada. Deus, então, advertiu
o povo quanto à futura idolatria, ordenando-os a observar o sábado e a
consagração do Tabernáculo com seus altares e a arca. Na cerimônia, em que
dedicaram o Tabernáculo e a arca ao Senhor, Deus desceu sobre o Tabernáculo na
nuvem de glória.
3. Levítico.
O livro de Levítico especifica as regulamentações em relação à oferta de
manjares e aos seis tipos de sacrifício de sangue, em que cada um deles
revelava um aspecto da expiação: oferta queimada (pela pecaminosidade em
geral), oferta pelo pecado (por transgressões individuais públicas), oferta
pelas transgressões (para ofensas que resultam em danos que deviam ser
reparados em 120% do seu valor), ofertas pacíficas (as ofertas de
agradecimento, as ofertas votivas e as ofertas voluntárias) que envolviam uma
refeição de comunhão com Deus. Após Arão e seus filhos terem sido solenemente
consagrados para o sacerdócio, os dois filhos mais velhos (Nadabe e Abiú)
morreram em consequência de sua irreverência no Tabernáculo. Há a lista de
alimentos limpos e imundos, além de leis acerca da purificação (da mulher após
o parto, da lepra depois de sarada e de vítimas de lepra). Essas listas são
seguidas pelas regulamentações acerca do Dia da Expiação e da preservação da
santidade dos sacrifícios. Santidade significava separação total de todo tipo
de imoralidade sexual, imundícia e idolatria. Somente homens santos poderiam
desempenhar os deveres de sacerdote e supervisionar as santas convocações, ou
seja, a celebração do Sábado, da Páscoa e dos Pães Asmos, de Pentecostes, da
Festa das Trombetas e da Festa dos Tabernáculos. Após as admoestações contra
profanação, há as ordenanças acerca do ano do Descanso e do ano do Jubileu. O
capítulo 26 profetiza sobre o cativeiro na Babilônia (apesar de não o mencionar
pelo nome) e do retomo à Palestina. O último capítulo trata dos votos e dos
dízimos.
4. Números.
O quarto livro continua relatando a jornada de Israel do Sinai até a fronteira
de Canaã, em Cades-Bameia, e continua o relato, após o castigo de 40 anos de
peregrinação pelo deserto, com a descrição da chegada nas planícies de Moabe e
do encontro com o rei Balaque e o profeta Balaão (que fora contratado para
amaldiçoar Israel, mas foi compelido por Deus a abençoá-lo). Há um censo no
início do livro de Números (caps. 3 e 4) e outro no final (cap. 26), cada um
deles totalizando um pouco mais de 600 mil homens capazes de sair à guerra.
Após as 12 tribos terem dedicado ofertas ao Senhor, os levitas foram
oficialmente instalados e o povo rumou para Cades. De tempos em tempos os
filhos de Israel reclamavam e rebelavam-se, especialmente após o relato
desfavorável dos dez espias acerca da inexpugnabilidade de Canaã. Arão e Miriã
rebelaram-se contra Moisés, assim como alguns levitas também o fizeram sob o
comando de Coré. Todos eles foram subjugados por Deus com julgamentos
miraculosos. Várias íeis acerca da santidade estão entremeadas no texto. A
conquista da Transjordânia foi garantida pela derrota de Seom e Ogue, porém em
Moabe os israelitas foram temporariamente seduzidos pela idolatria e
prostituição religiosa, que foram seguidas por uma praga e pela execução de
alguns dos principais ofensores.
5. Deuteronômio.
O quinto livro contém as admoestações finais do ancião Moisés, no começo da
conquista da Terra Prometida. A forma do discurso de Moisés segue a estrutura
observada nos tratados suseranos de Anatólia do segundo milênio: (i) preâmbulo
(Dt 1.1-5); (ii) prólogo histórico (Dt 1.6-4.49), exposição do tratamento
gracioso de Deus para com o seu povo; (iii) estipulações que catalogam as
provisões especiais da aliança (um resumo seletivo da lei, caps. 5-26); (iv)
maldições pela violação da aliança e bênçãos por sua observância (caps. 27-30);
(v) preparativos para a continuidade das sanções da aliança por intermédio da
leitura pública e da convocação solene de testemunhas para sua validade; há
também provisões para a custódia de ambas as cópias da aliança para cada uma
das partes contratuais (no caso de Levítico, ambas as cópias deveriam ser
guardadas na arca da aliança) — cp. caps. 31-33. Essa enérgica admoestação à
nação, como um todo, para manter-se verdadeira em sua confiança em Deus era
natural de uma constituição para a nova teocracia a ser estabelecida na Canaã
conquistada.
B. Os livros históricos.
1. Josué.
O livro de Josué registra a conquista da Terra Prometida e o cumprimento das
promessas feitas a Abraão e Moisés, ao assegurar a vitória sobre as tribos de
Canaã. O compromisso total de Josué para com o Senhor tomou-o uma arma
irresistível nas mãos de Deus, quando atravessou o leito seco do Jordão durante
uma enchente de primavera, e quando após seis dias de marcha ao redor das
muralhas de Jericó, ele as viu ruírem pelo poder de Deus. O revés sofrido em Ai
o instigou a destruir o ofensor que escondera os despojos da amaldiçoada Jericó
em sua tenda. Ao executar Acã, Josué garantiu a obediência perfeita a Deus por
suas tropas, desse episódio em diante. A lei foi lida publicamente e os
compromissos da aliança foram solenemente aceitos pelo exército vitorioso aos
pés do Monte Gerizim. Em defesa de seus aliados espontâneos da liga dos heveus,
os israelitas obtiveram uma tremenda vitória sobre a coalizão hostil na batalha
de Gibeão, durante a qual um grande número de inimigos foi morto por enormes
granizos e o sol se deteve, para que os vencedores pudessem capturar os
fugitivos antes do cair da noite. Após uma campanha igualmente vitoriosa no
norte, contra Hazor, Josué distribuiu, por sorte, o território da Palestina a
oeste das margens do Jordão para as dez tribos, determinando as suas
fronteiras. Foram designadas as cidades de refúgio, que se destinavam aos
homicidas fugitivos, assim como as cidades destinadas aos levitas. No final de
sua carreira Josué desafiou a nação a renovar sua fidelidade exclusiva a
Yahweh.
2. Juízes.
O livro de Juízes pega a narrativa neste ponto, relatando como as gerações
posteriores não conseguiram completar a conquista da terra. Relata também como,
após cederem à frouxidão moral e à idolatria, essas gerações tomaram-se presa
de seis ou mais nações opressoras, a começar por Cusã-Risataim, rei da
Mesopotâmia, seguida pela dominação dos moabitas, depois pelos cananitas sob o
domínio de Jabim de Hazor, seguida pela opressão dos midianitas, para depois
sofrerem com aquela imposta pelos amonitas e ainda mais uma vez com a dos
filisteus. Dos 12 “juízes”, ou líderes nacionais, levantados para repelir esses
opressores, os mais proeminentes foram Baraque (que com Débora destruiu o
exército de Hazor), Gideão (o conquistador dos midianitas), Jefté (que repeliu
os amonitas), e Sansão, um homem que valia por um exército, manteve os
filisteus em apuros até ser traído por sua amante, Dalila. Apesar de períodos
de arrependimento e restauração, a tendência geral entre as 12 tribos nesse
período era fazer aquilo que parecia bom aos seus próprios olhos, ignorando as
Escrituras (i.e. o Pentateuco). O sequestro de um sacerdote local empregado por
Mica o efraimita, quando um grupo migrante de danitas, que se dirigia para
Laís, uma cidade do norte, passava por onde se encontrava, apresenta um exemplo
de desumanidade desse período. Contudo, um fato ainda mais impressionante foi o
assassinato da concubina de um levita em Gibeá, que acabou por acarretar uma
guerra civil contra toda a tribo dos benjamitas, cujo resultado foi a quase
extinção dessa tribo.
3. Rute.
Em contraste com esses problemas, o livro de Rute narra um episódio afetuoso e
romântico, ocorrido na época dos juízes, quando uma moabita por fidelidade à
sua sogra, Noemi, originária da Judeia, que estava desamparada e sem recursos,
mudou-se com ela para Belém, para ali ajudá-la a ganhar o seu sustento.
Atraindo a atenção de Boaz, um homem rico e solteiro, que era primo de Noemi.
Boaz acabou por tomar Rute como sua mulher, pois reconheceu que era o seu
parente remidor. Essa mulher, Rute, toma-se ancestral do rei Davi.
4. 1 e 2 Samuel.
Estes livros iniciam sua narrativa com os últimos dias do sumo sacerdote Eli,
que recebeu o pequeno Samuel como seu protegido, o qual fora dedicado a Deus
por sua mãe. Após os filisteus terem massacrado Israel em Siló e terem tomado a
arca da aliança como despojo, foram compelidos a devolvê-la aos hebreus por
terem sido assolados por uma praga. Samuel, finalmente, liderou uma revolta bem-sucedida
contra a Filístia, e foi guiado por Deus para coroar Saul como o primeiro rei
de Israel (em resposta à exigência de Israel de tomar-se uma monarquia, como
seus vizinhos). Saul valentemente libertou Jabes-Gileade dos amonitas, que a
haviam sitiado, e entusiasmado por um ataque ousado feito por seu filho
Jônatas, também derrotou os filisteus. Contudo, o desafio do gigante Golias,
filisteu, só pôde ser confrontado pelo jovem ousado, Davi, que ganhou
notoriedade ao derrubá-lo com uma pedra. O pecado de Saul, ao poupar a vida de
alguns amalequitas, quando lhe fora ordenado o seu extermínio, resultou em sua
rejeição por Deus, que ordenara a Samuel de antemão que ungisse Davi como rei.
Apesar dos serviços de Davi como harpista, e sua nova posição como genro de
Saul, pois havia se casado com Mical, Saul tomou-se loucamente enciumado pelo
êxito de Davi e começou a persegui-lo como um criminoso. Essa perseguição
continuou até o momento em que Saul foi forçado a combater os filisteus no
Monte Gilboa, onde ele e seus filhos caíram em batalha. Segundo Samuel começa
com o lamento de Davi pela perda dessas vidas. Na sequência, registra todo o
reinado de Davi. Primeiramente como o rei de Judá e, posteriormente, após o
assassinato de Isbosete, filho de Saul, como o rei das 12 tribos. O desejo de
Davi de construir um templo para Yahweh foi negado. Contudo, seu filho poderia
ter esse privilégio (cap. 7), o qual incluía a promessa de que seu trono seria
estabelecido para sempre por intermédio da descendência messiânica de Davi.
Davi acaba por conquistar todo o território que se estendia do Egito ao
Eufrates, como Deus prometera a Abraão (Gênesis 15.18). O adultério com
Bate-Seba e o planejar o assassinato de seu marido, Urias, trouxe a maldição da
contenda para a casa de Davi. Seu filho mais velho, Amnom, após violentar a irmã
de Absalão, foi posteriormente morto pelo próprio Absalão, que queria vingar
sua irmã. Absalão acabou por rebelar-se também contra Davi, seu pai, que foi
forçado a fugir para o outro lado do Jordão. Absalão foi finalmente derrotado
por Joabe, o comandante de Davi, que o matou na floresta. Davi foi então
restituído ao poder supremo. Era agora um homem entristecido, que teve de
tratar de uma grande crise causada pela penúria, além de outras guerras com os
filisteus (em que todos os gigantes foram mortos). O seu cântico de ações de
graça está registrado no capítulo 22 (cp. Salmos 18). Posteriormente, há a
lista de seus 30 campeões de batalha, os valentes de Davi. Seu censo nacional
foi punido com uma praga, que cessou somente quando Davi ofereceu sacrifício no
local onde o futuro templo seria erigido, o qual havia sido comprado de Araúna,
o jebuseu.
5. 1 e 2 Reis.
Esta narrativa continua a história da monarquia hebraica, de Salomão a
Zedequias. O primeiro livro dos Reis encerra-se com a morte de Acabe (853 a.C.).
Na velhice de Davi, seu filho mais velho naquele momento, Adonias, reivindicava
a sucessão ao trono, até que Bate-Seba fez com que Davi se recordasse de sua
promessa feita a Salomão, que foi então constituído rei. O pedido de Salomão
por sabedoria, para que pudesse governar bem, foi-lhe conferido por Deus, que
lhe deu também o que não houvera pedido, riquezas e vitória. Após casar-se com
a filha de Faraó (um casamento que causou a tolerância para com adoração de
ídolos), Salomão construiu um templo magnífico a Deus. Dedicou-o solenemente ao
Senhor com orações e sacrifícios em abundância. Sua riqueza e glória
impressionam a rainha de Sabá. A ciência e literatura floresceram com o
encorajamento de Salomão. Contudo, a sua poligamia grosseira e sua tolerância
aos cultos prestados por suas esposas estrangeiras, levaram a nação a um
declínio espiritual e a uma agitação política. Após Damasco conquistar sua
independência (depois da morte de Salomão em 931 a.C.), houve uma separação
permanente entre Judá e as dez tribos, as quais escolheram Jeroboão I como
governante do Reino do Norte, pois não queriam ficar sob o comando do filho
tirânico de Salomão, Roboão. Guerras intermitentes entre os dois reinos foram
acompanhadas pela cisma espiritual, pois Jeroboão estabeleceu novos templos
para a adoração do bezerro de ouro em Betei e Dã. O faraó Sisaque atacou
Jerusalém e saqueou o templo. Os edomitas rebelaram-se contra Judá. Quando
Baasa ameaçou Judá, ao construir uma nova fortificação em Ramá, Asa (apesar de
ser um rei fiel ao Senhor) recorreu ao suborno para convencer Damasco a invadir
o território das dez tribos do norte. Posteriormente, a capital foi transferida
para Samaria por Onri, cujo filho, Acabe, casou-se com Jezabel de Tiro, uma
adoradora de Baal. Elias predisse três anos de seca para o reino de Acabe. Essa
seca durou até que os profetas de 3aal foram desafiados no Monte Carmelo, após
o qual as chuvas retomaram. Para escapar da ira de Jezabel, Elias fugiu para o
Monte Sinai, onde recebeu novas instruções de Deus. Depois de Acabe ter dado
cabo de Nabote, quando o sentenciou à morte em um julgamento em que foi acusado
por falsas testemunhas, sua ruína foi profetizada por Elias. Acabe finalmente
morreu em Ramote-Gileade, ao ser ferido por um arqueiro sírio. O segundo livro
dos Reis relata a morte prematura do filho de Acabe, como fora profetizado por
Elias. Eliseu foi ungido por Elias, ficando com ele até que este subisse ao céu
nas cercanias do Rio Jordão. Judá, sob o comando do rei Josafá (que fora aliado
de Acabe), auxiliou Jorão, o filho de Acabe, na batalha contra os moabitas, que
haviam se rebelado. Eliseu ajudou Jorão em sua luta contra os invasores sírios,
após ter curado de lepra o capitão Naamã, durante um período de paz com
Damasco. Jeú, comandante do exército israelita, foi secretamente ungido rei por
um mensageiro de Eliseu, em Ramote-Gileade. Jeú assegurou-se do apoio do
exército e matou Jorão em Jezreel, e mais tarde também a audaciosa Jezabel.
Apesar de ter exterminado todos os israelitas adoradores de Baal, ele não
aboliu o culto ao bezerro de ouro. Tanto ele, quanto seus sucessores, sofreram
derrotas em combates com os sírios, até que Joás os conseguiu derrotar, de
acordo com a profecia de Eliseu em seu leito de morte. Seu filho, Jeroboão II,
restabeleceu os limites do norte de Israel e subjugou Damasco. Contudo, após
sua morte, o seu remado foi sucedido por uma série de reis fracos, os quais
levaram Israel a viver um período de anarquia, que culminou com o colapso final
de Samaria, que caiu sob o domínio dos invasores assírios em 722 a.C. Uzias de
Judá, um rei fiel a Deus, restabeleceu as fronteiras do reino do sul e
prosperou economicamente até que sua arrogância no Templo levou-o a contrair
lepra e, em consequência, teve de transferir o poder para seu bom filho, Jotão
(751 a.C.). O filho mau de Jotão, Acaz, levou Judá ao desastre, apesar de sua
aliança com a Assíria. Só a restauração, sob o comando do piedoso Ezequias,
conseguiu adiar a ruína de Judá, tomando possível o livramento do poderoso
exército de Senaqueribe (701 a.C.). Quando Ezequias mostrou toda a sua riqueza
aos caldeus, Isaías profetizou o cativeiro babilônio, que ocorreria 125 anos
mais tarde. A idolatria e a depravação de Manassés, filho de Ezequias,
garantiram essa decadência, apesar de esta ter sido adiada para o período após
a morte de Josias, o seu neto fiel a Deus. Josias incitou a última restauração
de Judá. Contudo, os filhos incompetentes de Josias tentaram jogar os egípcios
contra os babilônios, sem nenhum sucesso, pois essas manobras culminaram com a
invasão de Jerusalém por Nabucodonosor, que queimou a cidade e o Templo. Após o
reinado de Gedalias, o governador de Judá nomeado pelos babilônios, que foi
morto por Ismael, um líder guerrilheiro, os últimos remanescentes da população
judaica refugiaram-se no Egito.
6. 1 e 2 Crônicas.
Nestes livros a história de Israel é revista sob a perspectiva do
relacionamento de aliança da nação com Deus, como adoradora do Senhor, de
acordo com as formas de culto prescritas por Deus e como administradas pelos
sacerdotes ordenados divinamente, e sob o governo da dinastia divinamente
autorizada de Davi. O Reino do Norte é tratado apenas incidentalmente nesses
livros, pois representava o cisma político e religioso. Enfatiza-se a rica
herança espiritual de Israel, que se estende até a época dos patriarcas (o que
justifica, portanto, a proeminência dada às listas genealógicas) e, também, as
instituições distintas de adoração, as quais foram adicionadas ao culto a Deus
por Davi e Salomão. Os momentos supremos de fé e confiança no Senhor,
observados nas vidas de reis, como Roboão, Asa e Josafá, os quais não foram
registrados em 1 e 2 Reis, refletem esse interesse do historiador (que pode
muito bem ter sido Esdras). Por outro lado, alguns dos trágicos lapsos de fé,
como o pecado de Davi com Bate-Seba, assim como a poligamia degradante de
Salomão e sua permissividade em relação à idolatria, são silenciados. A
narrativa continua até a queda da Babilônia e a libertação do povo do cativeiro
por Ciro da Pérsia.
7. Esdras.
Este livro relata como o primeiro grupo de 42 mil judeus migrou da Babilônia
para a Palestina (537 a.C.), e fundou a “segunda nação”, ao lançar os alicerces
do Templo e retomar a adoração sacrificial no altar restaurado. A pressão de
Estados vizinhos hostis impediu a continuação da reconstrução do Templo até que
Ageu e Zacarias exortaram o povo a completar o santuário, mesmo sem uma
permissão oficial para a construção (519 a.C.). Algumas décadas mais tarde,
Esdras retoma da Babilônia com a bênção do imperador, a qual contribuiu para a
restauração espiritual da desanimada e pequena província de Judá (457). Esdras
os persuadiu a obedecer a Torá, e em consequência disso, despedir suas mulheres
pagãs e abandonar a atitude permissiva em relação ao paganismo, que então
prevalecia.
8. Neemias.
Neemias, o copeiro do imperador, narra como foi autorizado a servir como
governador de Judá (começando em 446 a.C.) até que conseguisse reedificar os
muros de Jerusalém, e seus compatriotas restabelecessem uma postura de defesa e
auto-respeito frente aos seus vizinhos hostis. Os samaritanos e seus aliados,
primeiro, ridicularizaram, depois ameaçaram e, finalmente, procuraram corromper
Neemias, para que parasse de trabalhar, e ameaçaram caluniá-lo na corte. Neemias
não só organizou o povo para que pudesse se defender com êxito, mas também os
levou a um reavivamento na Festa dos Tabernáculos, em que Esdras fez uma
campanha para o ensino das Escrituras (cap. 8). Quando a nação renovou sua
aliança com Deus, as reformas mais urgentes foram levadas a cabo, i.e., o
estabelecimento de uma população considerável em Jerusalém para garantir a sua
própria defesa (cap. 11), a restituição das fazendas hipotecadas aos seus
proprietários, o que significava a renúncia da usura (cap. 5). Durante o
segundo período do governo de Neemias (433 a.C.), Esdras impôs também a
exclusão de estrangeiros no recinto do Templo (fato que o sumo sacerdote
negligenciara) e insistiu no pagamento dos dízimos para a manutenção dos
levitas. Ele também proibiu todas as transações comerciais e trabalho aos
sábados e compeliu todos que tivessem tomado esposas estrangeiras a despedi-las
(cap. 13).
9. Ester.
Esta é uma narrativa emocionante sobre o livramento da nação judaica do
genocídio. Essa ameaça de extinção foi sugerida por Hamã, que odiava a raça do
judeu Mordecai, pois este se recusava a reverenciá-lo. Contudo, Hamã não sabia
que a bela e jovem rainha de Xerxes (Assuero), que era a sobrinha de Mordecai,
estava disposta a arriscar sua própria vida para salvar seu povo. Apesar de ter
se apresentado ao rei sem ser convidada, o rei a salvou da pena de morte ao
estender-lhe seu cetro. Assim, ela pôde executar o plano em que exporia Hamã
como aquele que tramara contra a sua vida. Xerxes, no seu furor, ordenou que
esse homem fosse enforcado na mesma forca que ele preparara para Mordecai, e
concedeu aos judeus, com outro decreto, a autorização para, em todo o império,
matar seus inimigos no dia que fora determinado para o extermínio dos judeus.
Este fato foi comemorado com a Festa de Purim, que é ainda celebrada hoje em
dia.
C. Os livros poéticos.
1. Jó.
Este episódio aconteceu no norte da Arábia, provavelmente antes do período
mosaico. E escrito em forma de um diálogo poético, uma espécie de “literatura
de sabedoria”. A prosa do prólogo revela as razões de Deus, ao permitir que
Satanás sujeitasse Jó à perda de sua riqueza, de seus filhos e de sua saúde: a
saber, para provar a Satanás que um crente sincero pode amar a Deus mesmo que
perca as bênçãos que lhe foram concedidas. Após sua mulher o abandonar por
sentir repulsa por ele, Elifaz, Bildade e Zofar vieram consolá-lo, porém,
procurando também examinar minuciosamente algum pecado secreto, que
justificasse aquela calamidade aparentemente imerecida. Jó sustentou,
resolutamente, que não havia pecado secreto que necessitasse confessar. O seu
discurso alternava entre uma confiança humilde no Senhor e um lamento amargo,
pois não podia apresentar sua defesa diante de Deus — um ímpeto que Eliú
censurou, assim como censurou o dogmatismo dos outros três, que assumiram o
pressuposto da culpabilidade de Jó. O Senhor falou com Jó do meio de um
redemoinho, desafiando-o a explicar as forças poderosas da natureza, caso ele
se aventurasse a questionar a sua própria sabedoria e justiça. Após Jó ter
expressado o seu humilde arrependimento por sua presunção, Deus repreendeu os
amigos de Jó, que vieram “confortá-lo” e restaurou a sua fama, fortuna e as
alegrias da paternidade, de modo mais abundante do que anteriormente.
2. Salmos. Os
Salmos são em sua maioria orações de louvor e petições a Deus, oferecidas por
crentes que estão passando por experiências de perigo, de aflição ou de júbilo.
Setenta e três dos 150 Salmos possuem títulos que indicam Davi como o autor.
Contudo, muitos dos Salmos “anônimos” foram, indubitavelmente, também compostos
por ele (At 4.25 afirma que é davídico). Alguns desses Salmos são didáticos, como
o Salmo 1 (que contrasta a atitude, a vida e o destino dos justos com a dos
ímpios) e o Salmo 37 (que afirma que o juízo final irá alcançar até mesmo o
mais próspero dos ímpios). Outros celebram a glória e o poder de Deus revelados
através do poder da natureza, das Escrituras (Sl 8; 19) e do livramento
providencial dos crentes que confiam no Senhor (Sl 46). Alguns deles
expressam um desejo ardente e amor pelo Senhor (Sl18; 42), outros imploram
por sua compaixão e perdão (Sl 51) ou o louvam por suas concessões (Sl 32).
Os Salmos messiânicos são de importância especial, pois profetizam o caráter,
os sofrimentos e o triunfo de Cristo, especialmente o Salmo 2 (At 13.33;Hb 1.5;
5.5 etc.), Salmo 16 (At 2.25-28), Salmo 110 (Mt 22; 44 etc.) e Salmo 22 (que
Jesus citou na cruz). Dez Salmos são atribuídos aos descendentes de Coré (Sl 42;
44-49; 84; 87; 88); doze a Asafe (50; 73-83); o Salmo 90 é atribuído a Moisés
(portanto o mais antigo de todos); o Salmo 127 a Salomão; o Salmo 83 a Hemã e o
Salmo 89 a Etã. Dentre os Salmos anônimos, muitos são sublimes em seu louvor a
Deus (e. g., Sl 103; 104) e à sua Palavra revelada (Sl 119). Apesar de ser
inquestionável sua utilização na adoração pública de Deus, no templo, não há
nenhum bom motivo para supor (como alguns eruditos sugerem) que expressam os
sentimentos da “personalidade coletiva” de Israel, ao invés das emoções
pessoais de cada um dos salmistas.
3. Provérbios.
Esta coletânea contém vários grupos de máximas e advertências a respeito das
leis que governam a vida e as relações humanas, cujo objetivo é a instrução dos
jovens na arte da vida bem-sucedida. A maioria desses provérbios foi compilada
por Salomão, de acordo com um gênero há muito utilizado no Antigo Oriente
Próximo. Contudo, foram adaptados para servir a um padrão mais elevado de
moral, baseado em convicções estritamente monoteístas. Respeito aos pais,
fidelidade aos votos matrimoniais e compromissos contratuais, o contraste do
comportamento dos sábios com o dos tolos, o trágico fim do ímpio e do
presunçoso, e o êxito final e satisfação do prudente, daquele que teme a Deus e
do laborioso — todos estes são temas constantes nesse livro. As advertências
mais enérgicas e longas são dirigidas contra a fornicação e o adultério, e as
seduções da “mulher estranha”, em uma época em que o relativismo moral estava
em alta. Há também menções frequentes quanto aos perigos da intoxicação e do
alcoolismo. Todas estas opções morais são apresentadas ao leitor para
compeli-lo a tomar uma decisão nítida, ao invés de recorrer à conciliação de
padrões ou vacilações.
4. Eclesiastes.
Este testemunho solene de Salomão refere-se à fugacidade e futilidade de todos
os empreendimentos humanos que são direcionados a alvos mundanos. “Tudo é
vaidade”, à parte da aceitação cheia de gratidão das providências de Deus e da
nossa obediência sincera para com os seus preceitos. Apesar da sua riqueza e
poder incomensuráveis possibilitar a obtenção de qualquer objeto material de
seu desejo, tudo aquilo que se alcança neste mundo transforma-se em pó e
cinzas, e nada consegue preencher a alma, a não ser a inclinação em agradar a
Deus.
5. Cântico dos Cânticos.
Este livro contém um diálogo, em que o interlocutor principal é Salomão — o
amado, e a bela sulamita, uma moça do campo por quem ele se apaixona. Eles
expressam sua admiração recíproca com palavras ardentes, e apesar da separação
temporária, ou de algum mal-entendido, reconciliam-se e unem-se novamente. O
“coro” desse drama de amor é o harém em Jerusalém. Há cenas de esplendor régio,
que se desenrolam na área ocupada pelo palácio. Contudo, o pacto de amor é
finalmente ratificado na casa campestre da moça, em um cenário pastoril. Por
sua radiante amabilidade e ardente devoção, a sulamita ensinou a Salomão o
significado de um único amor, totalmente envolvente — apesar dele não ter
permanecido fiel a essa descoberta. Quando interpretados por sua tipificação, esses
dois amantes são vistos como a representação da devoção ardente que une Cristo
à sua noiva, a Igreja.
D. Os profetas maiores.
1. Isaías.
Estes 66 capítulos contêm mais ensinamentos sobre Cristo do em qualquer outro
lugar do AT — “o evangelho segundo Isaías”. O ministério de Isaías estendeu-se
de 739 a.C. (“No ano da morte do rei Uzias” — Is 6.1) até o final do ano de 680
(a morte de Senaqueribe). Durante o período da sua vida atravessou diversas
situações: a degeneração na época do rei Acabe, o reavivamento sob o comando de
Ezequias e a apostasia incorrigível do reinado de Manassés. O tema central do
livro é a salvação concedida somente pelo poder e graça de Deus, “o Santo de
Israel”. Os homens não poderiam conquistar ou merecer essa salvação pelos seus
próprios esforços ou por suas boas obras. O Senhor dos Exércitos não poderia
tolerar atitudes que não fossem santas no povo com quem tinha uma aliança, e
iria, portanto, purificá-los e chamá-los ao arrependimento e utilidade em
cumprimento de seu papel missionário junto às nações pagãs. Esse povo deveria
buscar auxílio em Deus para a libertação de seus inimigos humanos, em vez de
recorrerem ao Egito ou à Assíria. Deveriam saber que a sua salvação derradeira
viria através do Deus-homem, nascido de uma virgem, seu rei messiânico,
Emanuel. Após a agonia do cativeiro na Babilônia, a nação culpada seria
restabelecida na Terra Prometida para retomar sua missão de testemunhar sobre o
único Deus verdadeiro perante os gentios idólatras. A libertação final viria através
do Servo do Senhor, que iria oferecer a sua própria vida como expiação por seus
pecados. Um sacrifício por intermédio do qual a vitória completa e a glória
suprema seriam conquistadas pelo Salvador de Deus, que resgataria o
remanescente dos verdadeiros crentes.
2. Jeremias.
A profecia abarca a carreira de Jeremias, desde sua juventude no reinado de
Josias (c. 626 a.C.) até a queda de Jerusalém, que foi conquistada pelos
caldeus em 587 a.C., resultando na migração dos sobreviventes para o Egito alguns
anos depois. Deus o comissionou para denunciar a idolatria, a imoralidade e
autocomplacência que imperavam no meio de seu povo, alertando-os sobre a total
ruína da nação, caso não se arrependessem. Quanto à política, foram
aconselhados a se submeter ao governo de Nabucodonosor, o instrumento de Deus
para discipliná-los, para que não nutrissem esperanças de livramento por meio
de alianças com o Egito. Todas as classes sociais da sociedade hebraica,
inclusive os sacerdotes e os profetas, eram culpadas perante Deus de flagrante
violação das Escrituras e, portanto, sua ruína era inevitável. Após 70 anos de
cativeiro, eles voltariam para a terra da promessa e finalmente seriam libertos
pelo Messias, um descendente de Davi (“o Renovo justo”). Todas as nações pagãs
das circunvizinhanças, que se opuseram e desafiaram o Senhor, seriam
irrevogavelmente destruídas. Jeremias era compassivo e sensível por natureza,
porém fora compelido por Deus a proclamar uma mensagem austera sobre uma
destruição irreversível, e assim ter de suportar a difamação de ser considerado
um traidor, além do ódio de todos os contemporâneos, inclusive de seus parentes
mais próximos.
3. Lamentações.
Aqui, Jeremias expressa de modo eloquente a sua angústia pela depravação total
de seu povo e a trágica perda de sua dignidade, liberdade e posses. Mesmo
assim, Jeremias encontrou consolo na santidade imaculada e no amor de Deus:
“Grande é a tua fidelidade”.
4. Ezequiel.
Esta profecia inicia-se em 592 a.C., com a visão da glória de Deus. A última
profecia foi em 570 a.C., mas Ezequiel pode ter continuado a ministrar para os
judeus cativos da Babilônia por alguns anos ainda. Os primeiros 24 capítulos
contêm advertências sobre a queda iminente de Jerusalém, que seria dominada
pelos caldeus, a retribuição inevitável pela flagrante idolatria e depravação
dos judeus que haviam ficado em Judá, pois seguiram o exemplo vergonhoso da
adúltera Samaria. Os capítulos 25-32 contêm profecias sobre a derrota contra a
Fenícia, Egito e outras nações das circunvizinhanças. Os capítulos de 33-39
profetizam sobre a restauração e renovação espiritual do cativo Israel, a qual
seria governada pelo verdadeiro Pastor, e da posterior conquista, a definitiva,
dos poderes do mundo (Gogue, Magogue, Rôs e outros). Amais impressionante é a
visão da ressurreição dos ossos secos no vale desolado, os quais se transformam
em um vigoroso exército para o Senhor. Os capítulos 40-48 descrevem o Templo
que seria construído durante o milênio — e as correspondentes ordenanças em
relação à adoração, a nova distribuição de terra às tribos e o rio abençoador
que flui do Templo até para o Mar Morto, no qual haverá abundância de vida
nova.
5. Daniel.
Como em Ezequiel, o livro é contextualizado no cativeiro de Judá durante o exílio.
O jovem Daniel e seus três amigos piedosos excederam a todos os outros na
academia real e foram promovidos aos cargos elevados do governo. O perigo de
execução por charlatanismo foi evitado, quando Daniel, por revelação, trouxe à
lembrança de Nabucodonosor o sonho profético sobre os quatro impérios
(Babilônia, Pérsia, Grécia e Roma), os quais, de acordo com o plano de Deus,
sucederiam um ao outro em épocas futuras. Os três amigos hebreus de Daniel
foram, posteriormente, libertos miraculosamente da fornalha ardente, na qual
foram lançados por terem se recusado a adorar a imagem de ouro do rei (o qual
foi punido posteriormente, por seu orgulho arrogante, com sete anos de
insanidade). Anos mais tarde, Daniel interpretou para o rei Belsazar a terrível
mensagem de julgamento escrita, de modo miraculoso, na parede do salão de
banquete. No capítulo 6, Daniel escapou da morte na cova dos leões, na qual
fora jogado por sua piedade, pois continuou a orar a Deus durante o interdito
de 30 dias, em que toda a petição a qualquer outro, deus ou homem, exceto ao
rei Dario, foi proibida. Os últimos seis capítulos contêm visões a respeito dos
impérios futuros e, em particular, a crise em consequência da perseguição à fé
dos judeus, por Antíoco Epifãnio (em 168 a.C.), o qual serviria para tipificar
o último ditador do mundo (“a besta”) durante a grande tribulação (capítulos 2
a 7 estão em aramaico; o restante em hebraico).
E. Os profetas menores.
1. Oseias.
Oseias era cidadão do Reino do Norte. Ele profetizou ali entre 755 a.C. até c.
720 a.C., pois foi anterior à queda de Samaria em 722 a.C. O adultério da
esposa de Oseias, Gômer, equivalia à infidelidade de Israel a Yahweh. Seus três
filhos com ela receberam nomes proféticos: “Jezreel” profetizava a destruição
da dinastia de Jeú; “Desfavorecida” significava que não haveria a restauração
nacional para as dez tribos após Sargão os levar como escravos; “Não-Meu-Povo”
(Os 1.9) queria dizer que este era um aviso de que, como nação, a aliança deles
com Deus nunca mais seria restaurada. Os santuários de idolatria foram
denunciados e os pecados de adultério, de crueldade em relação aos pobres, de
embriaguez, e de corrupção, que abundavam naquela época, selaram a sentença de
escravidão e exílio. O amor de Deus, no entanto, não estaria para sempre
impedido de alcançá-los e haveria ainda um remanescente de verdadeiros crentes
que herdariam as promessas da graça do Senhor.
2. Joel.
Este livro foi provavelmente escrito por volta de 830 a.C., quando o rei Joás
era ainda muito jovem e um governo provisório estava encarregado do governo. Os
inimigos de Judá eram ainda os fenícios, os filisteus, os edomitas e os
egípcios (Jl 3.4,19). A terrível praga de gafanhotos destruíra a terra como um
aviso de uma invasão ainda mais devastadora, que seria realizada por inimigos
humanos (os assírios e caldeus), a qual só poderia ser evitada por um
arrependimento sincero que abrangesse cada uma das classes sociais da sociedade
daquela época. Deus prometeu que, em alguma época posterior, iria destruir os
seus inimigos e derramaria o seu Espírito Santo sobre todos — homens, mulheres
e crianças (J1 2.28 32), como aconteceu no Pentecoste (At 2.17-21). O
julgamento sobre a Fenícia e a Filístia e sobre os futuros opressores
selêucidas foi profetizado. Há, também, a promessa do triunfo derradeiro e da
paz para a Jerusalém milenista.
3. Amós.
Este profeta era um leigo, natural de Judá, que foi enviado para alertar o
Reino do Norte por volta de 760-755 a.C. Após declarar o propósito de Deus, que
puniria as nações vizinhas (como Damasco, Gaza, Tiro e Edom) por crimes contra
a humanidade, ele anunciou o julgamento sobre Judá por ter se afastado das
Escrituras à procura de falsos mestres. Denunciou Israel por sua exploração
desumana dos pobres e pela perseguição dos verdadeiros crentes, sua imoralidade
grosseira e seu desprezo para com Deus. Sua busca por prazeres carnais e o
formalismo vazio na adoração, ditaram a sua ruína. Apesar de que a praga
destruidora de gafanhotos e a terrível seca pudessem ser refreadas, as cidades
seriam arrasadas e os templos de idolatria seriam totalmente destruídos (Am
9.1-10). Contudo, há a promessa de uma nova era, que irá ocorrer após a
consumação milenista (Am 7.10-17 registra uma discussão vibrante entre Amós e o
sacerdote do santuário real em Betei, Amazias).
4. Obadias.
O livro todo consiste em um único capítulo. Parece que foi escrito antes de
todos os outros, no reino de Jeorão (848-841 a.C.), quando os invasores,
filisteus e árabes, foram aparentemente auxiliados pelos edomitas em sua
pilhagem de Jerusalém (v. 11). O Senhor, no entanto, avisou os edomitas de que
a capital do seu reino seria capturada e destruída, em consequência de seu
orgulho e do ódio cruel pelo povo de Deus, a não ser que prestassem atenção na
advertência feita no v. 13 (“não devias ter entrado pela porta do meu povo, no
dia da sua calamidade”).
5. Jonas.
Jonas, o profeta desobediente, natural de Gate-Hefer em Zebulom, recusou-se a
ir a Nínive para avisá-la do julgamento iminente, preferindo pegar um navio
para Társis, localizada na região oeste do Mediterrâneo. Uma terrível
tempestade quase destruiu o navio e, em consequência da insistência do próprio
Jonas, os marinheiros salvaram as suas próprias vidas ao lançá-lo no mar. Jonas
foi resgatado por um grande peixe, que o manteve seguro em seu ventre. Após
três dias, o peixe vomitou Jonas na praia. Jonas, finalmente, resolveu
obedecer, e pregou aos ninivitas tão ardentemente, que toda a população se
arrependeu e se lamentou perante o Senhor. Irado, pois esse inimigo perigoso de
Israel fora poupado, Jonas reclamou e lamentou até que Deus lhe ensinou uma
lição sobre compaixão por meio da aboboreira, que apesar de ter murchado
rapidamente, fornecera-lhe uma sombra agradável.
6. Miqueias.
Este profeta foi contemporâneo de Isaías, no 82 século, e foi enviado para
anunciar o julgamento de Deus sobre ambos os reinos, em razão de sua idolatria
e violação das Escrituras. Após profetizar o avanço inexorável dos invasores
assírios, ele denunciou os ricos por explorarem os pobres, o governo por
devorar seus cidadãos e os sacerdotes corruptos por abandonar suas obrigações
para com Deus. Contudo, após o seu sofrimento, exílio e retomo para a
Palestina, haveria também o julgamento de seus inimigos pagãos. O Messias,
divino-humano, nascido em Belém, defenderia seu rebanho e subjugaria o mundo,
ao triunfar nesse novo período da história e no milênio. Primeiro, no entanto,
Israel precisaria aprender que a adoração aceitável deve ser acompanhada de uma
vida santa e de uma confiança sincera na graça e misericórdia de Deus.
7. Naum.
Este profeta viveu em algum período entre 650 e 625 a.C. Ele proclamou a
vingança de Deus sobre a brutalmente opressiva Nínive, que era a capital do
Império Assírio. Ao profetizar a maneira como seriam capturados, ele descreveu
o iminente cerco e a destruição da cidade (que posteriormente foi levada a cabo
pelos caldeus e medos). Para o povo da aliança de Deus, haverá uma restauração
para favorecer e abençoar aqueles que se arrependerem.
8. Habacuque.
Amensagem deHabacuque foi proferida por volta de 607 a.C., no intervalo entre a
batalha de Megido (609 a.C.) e a de Carquemis (605 a.C.). Consiste de um
diálogo, à luz da justiça divina, entre esse profeta e Deus a respeito do procedimento
providencial do Senhor para com Israel. Cada uma de suas perguntas angustiantes
foi respondida por Deus: as classes governantes opressoras de Judá seriam
punidas pelos caldeus; os orgulhosos caldeus, por sua vez, seriam destruídos,
por causa de sua crueldade impiedosa. Porém, “o justo viverá pela sua fé” (Hc
2.4) e, independente das circunstâncias, irá regozijar-se no Senhor, mesmo que
todas as bênçãos materiais lhe sejam retiradas.
9. Sofonias.
Sua mensagem, proferida no início do reinado de Josias (c. 625 a.C.), é a
respeito do advento do Dia do Senhor. A invasão recente dos citas, os quais
marcharam sobre o Oriente Médio e Próximo por volta de 630 a.C., era um aviso
do julgamento vindouro de Deus sobre Judá, Jerusalém e todas as nações
circunvizinhas da Palestina, por seus pecados. Tão certamente como os crentes
sinceros e humildes buscassem o Senhor e levassem uma vida piedosa (Sf 2.3), o
reino abençoado de Deus seria estabelecido e o remanescente piedoso de
verdadeiros crentes herdaria a terra em plenitude e paz, e todos os gentios que
sobrevivessem aprenderiam a mesma linguagem de fé (Sf 3.9,10).
10. Ageu.
Talvez ele tenha sido o único profeta completamente bem sucedido cuja mensagem
foi preservada no AT. Após o retomo do cativeiro na Babilônia, em um momento em
que o desânimo resultara na interrupção da reconstrução do templo, Ageu
instigou seus compatriotas a retomarem esse projeto divino, apesar de não terem
uma permissão atualizada para fazer esse trabalho de construção, e por estarem
também impedidos pelas dificuldades financeiras. Esse segundo Templo, mesmo que
menos pretensioso, se tomaria mais glorioso que o primeiro, pois o Messias (“as
coisas preciosas de todas as nações”) iria algum dia estar ali. Portanto, todos
os judeus deveriam renunciar todas atitudes profanas e egoístas (as quais até
aquele momento resultaram em safras ruins e recessão) e deviam finalizar as
obras de seu centro de adoração, para a glória de Deus. Em três anos (i.e. 516
a.C.), o novo Templo foi solenemente dedicado a Deus.
11. Zacarias.
Um jovem profeta, que ajudou Ageu em seu esforço (começando em 519 a.C.).
Relatou também uma série de oito visões encorajadoras, que o Senhor lhe dera,
em que profetizava a intervenção de Deus a favor de Israel, e a destruição
sucessiva de seus opressores (Assíria, Babilônia, Grécia e Roma). Jerusalém,
quase totalmente desolada, tomar-se-ia grande e populosa. Israel seria perdoado
e purificado do pecado, e serviria como candeia para testemunhar aos gentios.
Como um símbolo da vinda do Sacerdote-Rei, o sumo sacerdote Josué foi
solenemente coroado. A entrada de Cristo em Jerusalém no domingo de ramos (Zc
9.9,10) anunciaria seu programa de redenção, apesar de que primeiro seria
recusado como o Bom Pastor de Israel, pois esta nação iria preferir o pastor
néscio (os falsos líderes de Judá). Nos últimos dias, Israel se converterá e
aceitará a fé em Cristo, a quem seus antepassados “traspassaram” (Zc 12.10),
enquanto que seus oponentes pagãos serão derrotados diante da força miraculosa
do povo de Deus. A idolatria será removida para sempre de Israel e os falsos
profetas serão silenciados. No meio da conturbada Jerusalém, os invasores
ímpios serão repentinamente subjugados pela intervenção divina e o reino
milenista será introduzido para dominar mundo todo.
12. Malaquias. Esta foi a última mensagem escrita pelos profetas. Ele foi enviado a Judá por volta de 435 a.C., com a finalidade de fazer essa nação retomar à piedade sincera e a uma resposta amorosa à graça de Deus. Os sacerdotes descuidados não deveriam mais permitir sacrifícios desonrosos no altar de Deus, ou ensinar a lei corruptamente. O casamento com incrédulos devia ser repudiado e os homens deveriam retomar para suas primeiras esposas. Todos os dízimos deveriam ser fielmente entregues ao Senhor (como requisito necessário para que ele abençoasse suas colheitas), e os piedosos seriam defendidos contra o escárnio dos cínicos. Após o ministério daquele que precederia a Cristo (João Batista), o Senhor mesmo viria e executaria o julgamento sobre todos os ímpios, em perfeita justiça. Este é o resumo do conteúdo e da mensagem dos 39 livros do AT. Ao longo dos mil anos em que foram escritos, os livros do AT refletiram sobre o mesmo tema, a redenção — desde a primeira promessa feita a Eva (Gênesis 3.15) até o anúncio final (Ml 3.1-3) da vinda de Cristo — com a finalidade de transmitir as promessas da aliança de Deus ao crente Israel. O mesmo sublime conceito, é mantido do começo ao fim de haver um só Deus, verdadeiro e soberano. Em um sentido muito profundo, o AT contém o retrato do Filho de Deus. As suas muitas profecias sobre eventos futuros, que foram cumpridos subsequentemente, demonstram a sua origem e autoridade divina, além de preparar o caminho para o ministério de Cristo e sua igreja no NT. Para Jesus e os apóstolos, o AT representava a voz infalível de Deus, e nenhuma palavra das Escrituras hebraicas jamais poderia ser transgredida.