Estudo sobre Filipenses 3:17

Estudo sobre Filipenses 3:17


Também nesse trecho está em jogo algo que no primeiro cristianismo e também na visão que o apóstolo tinha da “justificação” tinha uma relevância bem diferente do que em geral tem para nós, cristãos evangélicos: a conduta, o cristianismo concretamente vivido. Sobretudo nas igrejas alemãs, o peculiar traço acadêmico que lhe foi incutido pela atuação da teologia e das universidades na época da Reforma fez com que ser cristão parecia equivaler-se a possuir os conhecimentos corretos. Consequentemente, a vida real – sob a primazia dos Dez Mandamentos em lugar das instruções do NT – ficou rapidamente entregue à moral burguesa, à qual ainda foi adicionado um significativo destaque unilateral para a “ética profissional”. No entanto, na carta aos Filipenses repetidamente trata precisamente dessa vida real! Há pouca “dogmática” nessa carta! E quando ocorre, em Fp 2.5-11; 3.2-11, ela está inteiramente a serviço da prática, da configuração real da vida. “Dogmática” e “ética” estão indissoluvelmente entrelaçadas, porém de tal maneira que o peso repousa nitidamente sobre a “ética”.

No entanto, depois que os traços fundamentais da conduta correta foram maciçamente evidenciados em todas as considerações anteriores, Paulo não transmite agora à igreja como diretriz um pequeno compêndio da ética cristã com vários parágrafos, mas pessoas que dão um exemplo concreto e vivo: “Olhai para os que andam assim…!” Novamente toda a nossa posição “fiel à Reforma” parece estar ameaçada com essa afirmação. Será que pobres e míseros pecadores podem ser apresentados como ponto de referência e exemplo? Isso não levará forçosamente ao orgulho e farisaísmo? Não persiste, enfim, no cristão, o pecador agraciado, o fato de que ele só faz tudo sempre errado e mal-feito? E mais impossível parece ser para nós que Paulo no final aponte até mesmo para si mesmo: “Sede imitadores meus com os demais; olhai para os que andam segundo o tipo que tendes em nós!” Não há como mudar o texto, afinal Paulo o escreveu desse jeito. E temos de admitir: mesmo na igreja atual a minoria é dada à leitura. E livros, até mesmo aqueles acerca da “conduta”, em geral não levam além das “idéias” e discussões intelectuais. Mas um filho lembra até o fim de sua vida, por mais longa que seja e por mais alto que seja o posto alcançado, de como sua mãe simples “andava”, como ela cria, orava, agia e sofria. Precisamos de um “tipo” de cristão concretamente diante de nós. Neste mundo que se tornou complexo já não será a pregação do teólogo, fortemente preso a seu círculo de vida específico, que será capaz de mostrar como é possível permanecer em pé e viver como “cristão” em todas essas situações difíceis, mas somente o “exemplo” do trabalhador cristão diante do trabalhador, do empresário cristão diante do empresário, do político cristão diante dos que fazem política. Sem dúvida todos esses “exemplos” carecem pessoalmente do “tipo” com base no qual se orientam. Por isso o Espírito Santo fez com que Paulo anotasse na presente carta a forma como o processo de vir a ser cristão e de viver como cristão acontecia. Paulo diz a nós como aos filipenses: “Sejam imitadores meus com os demais!”

O exemplo claro, encorajador e sustentador é ainda mais necessário quando influências muito diferentes se impõem ao cristianismo e é possível constatar outra conformação de vida. Paulo fala disso com visível irritação e com palavras muito ásperas. Suas palavras atingem-nos diretamente com muita gravidade. Não obstante, a exegese deste texto tem muita dificuldade em dizer exatamente em quem Paulo de fato está pensando. Os intérpretes divergem muito neste ponto.