Estudo sobre Filipenses 3:4-6

Estudo sobre Filipenses 3:4-6


Isso, portanto, é o que os filipenses e sobretudo também seus adversários têm de levar em consideração: afinal, ele mesmo também possuía tudo isso que os adversários enalteciam e tentavam impor às igrejas, sim ele o possuía na proporção máxima! Não critica aquilo que os adversários trazem como a raposa desmerece as uvas azedas, por lhe serem inatingíveis! Ele é “alguém que também poderia depositar sua confiança na carne”. Sim, “se qualquer outro pensa que pode confiar na carne, eu ainda mais!” Se depende de circuncisão – Paulo foi circuncidado no oitavo dia, exatamente segundo a prescrição de Lv 12.3. Se pertencer a Israel significa a salvação – ele é oriundo “da geração de Israel”, sendo até capaz de “citar a tribo a que pertence, algo que somente os membros originários do povo podiam fazer, mas não aqueles que foram agregados mais tarde” (Schlatter). Trata-se daquela tribo a que, conforme Js 18.28, no início também pertencia Jerusalém e da qual surgiu o primeiro rei de Israel, de quem Paulo tinha o nome. Ele é um “hebreu de hebreus”, o que certamente significa: apesar de ser originário de Tarso, ele não descende de judeus helenistas da diáspora, mas de antigos grupos de fala aramaica (cf. At 6.1; 2Co 11.22)! Por acaso algum de seus adversários pode afirmar isso tão facilmente a respeito de si mesmo? A essa sua origem impecável em termos nacionais e religiosos correspondia sua própria atitude interior. Aderira àquele grupo rigoroso no povo que insistia no cumprimento detalhado e completo de toda a lei. No termo “fariseu” não devemos imaginar logo o quadro que, com base nas palavras de Jesus, costumamos conceber de forma demasiado rápida e “farisaica”. Os fariseus eram antes de tudo homens que com zelo ardente e disciplina férrea da vontade realmente tentavam obedecer a Deus em tudo. Se a questão é “fazer”, nós só temos a nos envergonhar com nossa moral cristã morna diante da integridade e resolução daqueles fariseus. Muitos deles confirmaram a seriedade de sua mentalidade por meio de um duro martírio. Se os judaístas queriam introduzir um pouco de “lei” na igreja – Paulo sabe o que significa realmente levar a sério toda a lei. Ele próprio fora fariseu. Havia levado esse zelo pela lei radicalmente a sério. Por isso ele não combateu apenas com palavras os cristãos, esses sonhadores, que de forma tão ridícula quanto blasfema pretendiam ver em um criminoso vergonhosamente executado o Messias de Israel, o filho do Exaltado, mas também tentou exterminá-los sistematicamente: “quanto ao zelo, perseguidor da igreja”. Ele sabe como a mensagem do evangelho é revoltante para toda pessoa séria em termos morais e religiosos. Porque precisamente isso fora o jovem Saulo de Tarso: um moço impecável, sincero e devoto, “quanto à justiça, à justiça na lei, irrepreensível”. Quando lhe apresentavam os mandamentos, podia afirmar com o jovem rico: “Tudo isso tenho observado desde a minha juventude”. Por essa razão ele também era conhecido nos mais altos escalões, um personagem promissor, ao qual desde já se confiavam importantes tarefas (At 9.2).

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Portanto, Paulo foi conduzido de maneira bem diferente do que Martinho Lutero. Tudo o que sabemos de Lutero e também transferimos facilmente para Paulo - o sofrimento debaixo da lei, o temor perante a ira e o juízo de Deus, o medo da perdição - tudo isso não podia ser constatado no jovem Saulo de Tarso. Experimentou a lei da mesma maneira como ela se espelha, p. ex., nos Sl 19 ou 119: “A lei do Senhor é perfeita e restaura a alma; o testemunho do Senhor é fiel e dá sabedoria aos símplices” (Sl 19.7). Sua atitude correspondia aos numerosos idealistas éticos que fervorosamente subordinam a vida à “lei” (independentemente de como possam entender seu conteúdo) e obtêm satisfação de sua decidida entrega às exigências do bem. Portanto Rm 7.14ss não tem sentido biográfico! Somente mais tarde Paulo adquiriu esse entendimento do ser humano sob a lei. Justamente o rigor moral é um mundo fechado em si, cuja limitação e dubiedade não podem ser percebidas por quem está do lado de dentro. “Falhas” da própria vida, porventura descobertas, aparecem primeiramente apenas como “exceções”, como falhas a serem superadas o quanto antes, que somente impelem para um engajamento maior. A mensagem da graça do evangelho apenas pode ser sentida como tolice incompreensível, e até mesmo como perigoso solapamento da disposição voluntária, sendo conscientemente combatida. Não temos nenhum motivo para introduzir quaisquer dúvidas e aflições íntimas em Saulo, que corre para prender cristãos em Damasco. Ele trilhava a via da lei e, por consequência e com toda a convicção, a via do extermínio do revoltante fanatismo cristão, “na ignorância, na incredulidade” (1Tm 1.13).