Estudo sobre Filipenses 1:3-6

Filipenses 1:3-6


Com a ação de graças Paulo dá início à carta propriamente dita, como também faz em Rm 1.8; 1Co 1.4; 2Co 1.3; Ef 1.3; Cl 1.3; 1Ts 1.2; 2Ts 1.3. Será isso mero “costume”? O “costume” também pode ser muito útil, e o “hábito”, a expressão de uma atitude interior muito essencial. Paulo considerou a gratidão especialmente importante para todo o nosso relacionamento com Deus, motivo pelo qual repetidamente estimulava as igrejas a agradecer. Afinal, estamos nos relacionando com um Deus que age e nos presenteia, e que está operando por sua própria graça soberana, antes de nos dirigirmos e pedirmos a ele. Por isso sempre temos um poderoso motivo para agradecer, e na gratidão reconhecemos Deus como aquele que livremente presenteia e cria. Sobretudo a simples existência de uma igreja neste mundo constitui um milagre de sua atuação e um motivo para a gratidão incessante e alegre. Por essa razão, ao ditar uma carta, Paulo sempre coloca diante de si e dos destinatários da carta o que Deus concedeu a eles, e consequentemente também a Paulo. É óbvio que somente o amor é capaz de escrever assim. Porque apenas o amor vê naquilo que foi propiciado a outro o motivo da própria alegria e o estímulo à gratidão pessoal a Deus.

Justamente na presente carta isso é expresso com especial clareza e nitidez. “Dou graças ao meu Deus a cada recordação de vós.” Assim como o Deus vivo é capaz de lembrar simultaneamente de inumeráveis seres, fazendo-o de tal maneira que cada um deles tenha certeza da atenção e do amor de Deus como se estivesse a sós com ele, assim alguém como Paulo consegue lembrar-se diariamente de muitas igrejas, devotando a cada uma delas inteiramente o coração. Por isso ele tem o direito de assegurar isto sinceramente em cada uma de suas cartas. É verdade, e que vida de recordação e oração Paulo viveu por esse motivo! Isso também faz parte da natureza do apostolado. Como declarou aos tessalonicenses (1Ts 3.8): sua própria “vida” depende de que as igrejas “permaneçam” no Senhor. Por isso ele se lembra de Filipos, e o lembrar sempre transita para o agradecer. Ele dá graças a “seu” Deus, o Deus que ele sempre de novo conheceu na própria vida como milagrosamente atuante, e justamente também na história dessa igreja. Na realidade sua lembrança de Filipos em oração não permanece algo tão genérico. Afinal, não dirigiu a carta de antemão apenas “à igreja”, mas a “todos os santos”. Por isso é capaz de dizer também agora: oro “por todos vós”. Todos eles lhe vêm pessoalmente à mente. Mas essa oração, incluindo até a citação de muitos nomes individuais, não representa um peso para ele, mas sempre de novo uma alegria.


Por que isso é assim? Por que ele precisa agradecer a seu Deus? “Por causa de vossa participação no evangelho, desde o primeiro dia até agora.” Para nós é bastante difícil reproduzir o teor vivo e flexível da frase grega. Koinonia significa “comunhão com” ou “participação em”. Também no grego o termo vem acompanhado de um “com” ou do genitivo do objeto. Aqui, porém, Paulo acrescentou um eis ao acusativo, ou seja, um “para até”. Desse modo expressa que os filipenses não apenas possuíam passivamente a participação objetiva no evangelho, mas viviam ativamente voltados em direção do evangelho e se empenhavam juntamente em prol do evangelho. Essa atitude foi tomada por eles desde o começo de sua condição de cristãos (Lídia! Carcereiro!). E ainda continuam apresentando essa atitude após muitos anos. Porventura Paulo não deveria lembrar deles com alegria e agradecer a seu Deus?!

Afinal, experimentou de sobejo em árduas aflições e lutas como é difícil manter e levar adiante uma igreja de Jesus. Ele não pretendia dizer que, uma vez que pessoas aceitassem a fé, tudo progrediria “automaticamente”. Experimentou quantos distúrbios e abalos, quantos perigos e descaminhos podem abater-se sobre uma igreja (gálatas! coríntios!). Por isso é muito valioso quando a comunhão em direção ao evangelho permanece inalterada em uma igreja “do primeiro dia até agora”. Não é por essa razão, porém, ele também não se tranquiliza em vista do futuro restante com a convicção de que essa esplêndida igreja com certeza chegará a bom termo. Sua certeza repousa sobre outro fundamento, mais sólido: “Aquele que começou boa obra em vós também há de consumá-la.” Deus não é alguém que começa uma boa obra e a abandona no meio do caminho! A trajetória não vai rumo a uma história incerta, cujo alvo e desfecho se perde na névoa. A história do mundo possui um alvo claro: o dia de Deus! A história da igreja possui um alvo claro: “o dia do Cristo”! Esse “dia” é aquele que Paulo descreveu aos tessalonicenses (1Ts 4.13-18), o dia no qual não se olha mais para a humanidade, para o juízo final e a criação, o dia que como dia de Jesus é dedicado exclusivamente ao corpo dele, à igreja, e que por isso é o único do qual se fala em 1Ts 4. Muito antes da consumação do mundo a igreja chegará ao alvo. Ressuscitada, arrebatada, presenteada com um novo corpo, unida para sempre com o cabeça e vivendo na união de seus membros, ela estará aperfeiçoada. Contudo mesmo então a obra de Deus nela prosseguirá. Justamente isso constitui o fundamento da sólida certeza de Paulo.