Estudo sobre Filipenses 1:12

Filipenses 1:12



Quando Paulo escreveu a carta aos Colossenses ele passou a falar de sua situação pessoal somente no final. É que ali existia uma igreja que ainda não o conhecia pessoalmente, não tendo ligação direta com ele, mas que estava inquieta por causa de uma série de perguntas. Cumpria, pois, primeiro prestar um serviço decisivo à igreja e ajudá-la a obter clareza. Aos filipenses, no entanto, Paulo está pessoalmente ligado há anos, e de forma sólida. Afinal, eles são “seus participantes na graça” e esperam ansiosamente por notícias. Talvez nem mesmo conseguiriam dedicar atenção plena às exposições dele se não ouvissem primeiramente como Paulo está. Por isso Paulo agora acrescenta de imediato, depois da gratidão e da intercessão pela igreja, uma palavra sobre sua própria situação. Porém –que maneira de fazer isso! Ele havia enfrentado uma dura mudança. Fora privado da vantagem de ter uma moradia própria alugada (At 28.30s), com relativa liberdade, pois agora está detido no “pretório”. No grego “pretório” é um estrangeirismo latino. Originalmente designa os aposentos residenciais do praetor no acampamento e depois é usado para a moradia oficial de um procurador romano. É assim que o termo aparece no NT em Mt 27.27; Mc 15.16; Jo 18.28,33; 19.9 e At 23.35. Se a presente carta tivesse sido escrita ainda durante o cativeiro de Paulo em Cesareia, a escolha do pretório seria imediatamente subsequente a At 23.35. Mas na verdade estamos em Roma, onde naturalmente não havia “procurador” [governador]. Por isso devemos imaginar um grande quartel, em que a guarda imperial como guarnição de Roma estava acantonada, ou então a própria guarda imperial. Visto que de imediato segue uma referência a pessoas (“e de todos os demais”), seria linguisticamente plausível imaginar também na menção de “todo o pretório” não um prédio, mas um grupo de pessoas. “Minhas algemas, em Cristo, se tornaram conhecidas de toda a guarda pretoriana e de todos os demais. “Na verdade teria sido mais óbvio que também “a guarda imperial”, como “todos os demais”, fosse formulada no simples dativo. O “em” antes de “pretório” volta a apontar para um prédio. Não chegaremos a uma conclusão definitiva nessa questão. Contudo seguramente podemos traçar um quadro condizente da situação do apóstolo.


Aparentemente, depois de longa pendência (At 28.30: “dois anos”), o processo de Paulo passou a um estágio crítico. Paulo havia sido trazido ao quartel para os interrogatórios e as tramitações decisivas. Como isso interferia em sua realidade pessoal! Moradia própria alugada ou uma cela certamente não muito amistosa em um quartel – que diferença! Além disso, Paulo era uma pessoa idosa! Mas nem os filipenses nem nós obtemos notícia a respeito de seu estado pessoal. Nem mesmo a alusão a uma queixa sai de seus lábios. Pensa que simplesmente não vale a pena falar de sua condição pessoal. Move-o tão-somente uma única pergunta: o que essa mudança de situação significa para a mensagem?! Nesse caso também parecia ser uma mudança para pior. Corte da moradia própria, transferência para o quartel, detenção mais rigorosa – isso não representava um impedimento total para seu trabalho evangelizador? Pelo jeito os filipenses já haviam ouvido dessa alteração decisiva na situação do apóstolo. Paulo não lhes conta isso como se fosse novidade. Porém agora, diante da pergunta tensa e preocupada sobre como tudo isso aconteceu e que consequências teve, Paulo pode responder “que sua situação conduziu mais ao progresso do evangelho”.