Levítico 4 — Explicação das Escrituras

Levítico 4 trata dos regulamentos para ofertas pelo pecado, que são oferecidas para fazer expiação por pecados não intencionais cometidos por indivíduos ou pela comunidade. O capítulo descreve diferentes ofertas pelo pecado para vários níveis de liderança: o sacerdote ungido, toda a congregação, um governante e um indivíduo comum. O processo envolve identificar o pecado, trazer um animal sem defeito até a entrada do tabernáculo, impor as mãos sobre a cabeça do animal para transferir o pecado e abatê-lo. O sangue é então aplicado no altar e o restante do animal é queimado fora do acampamento. Essas ofertas significam o reconhecimento do pecado e a busca de perdão e reconciliação com Deus.

Em resumo, Levítico 4 detalha os procedimentos para ofertas pelo pecado, que servem para expiar pecados não intencionais. O capítulo distingue as ofertas com base no nível de liderança e enfatiza a importância de reconhecer e abordar o pecado na comunidade. Essas ofertas são essenciais para manter a pureza, restaurar o relacionamento com Deus e buscar a reconciliação por meio do sistema sacrificial estabelecido nas práticas de adoração israelitas.

Explicação 4

Indivíduo. 4 A oferta pelo pecado (heb. hattā'th) foi designada para um povo redimido. Não fala de um pecador vindo ao Senhor para salvação, mas de um israelita, em relacionamento de aliança com o Senhor, buscando perdão. Tem a ver com pecados cometidos inconscientemente ou involuntariamente.

A oferta em si: Havia diferentes graus de ofertas, dependendo da pessoa que pecou: O sacerdote ungido - isto é, o sumo sacerdote, se por pecar trouxesse culpa ao povo (v. 3) - trazia um novilho sem defeito; toda a congregação (v. 13) trouxe também um novilho; um governante (v. 22) trouxe um cabrito dos bodes, um macho sem defeito; uma pessoa comum (v. 27) trazia uma cabra, sem defeito (v. 28), ou uma ovelha, sem defeito (v. 32). (A palavra hebraica aqui indica animais adultos.)

Deveres do(s) ofertante(s): Em geral, o ofertante trazia o animal à porta do átrio do tabernáculo, apresentava-o ao Senhor, punha-lhe a mão sobre a cabeça, matava-o e retirava-lhe a gordura, os rins e o lobo gorduroso acima do fígado. Os anciãos agiam pela congregação (v. 15). A morte da vítima era considerada simbolicamente como a morte do pecador.

Deveres do sacerdote: Para si e para a congregação, o sumo sacerdote levava o sangue do sacrifício ao lugar santo do tabernáculo, aspergia-o sete vezes diante do véu (vv. 5, 6, 16, 17) e sobre o chifres do altar de ouro do incenso (vv. 7, 18). Em seguida, derramou o restante do sangue na base do altar do holocausto (vv. 7, 18). Para um governante e para as pessoas comuns, um sacerdote aspergia o sangue nas pontas do altar do holocausto e derramava o resto do sangue na base do altar (vv. 25, 30, 34). Para todas as classes, ele queimou a gordura, os rins, o lóbulo gorduroso acima do fígado e a cauda gorda no altar do holocausto (vv. 8–10, 19, 26, 31). No caso da oferta para o sumo sacerdote ou para toda a congregação, todo o resto do animal era levado para fora do acampamento e queimado (vv. 11, 12, 21).

Distribuição da oferta: A parte do Senhor era a porção que era queimada sobre o altar - a gordura, os rins, o lóbulo gorduroso acima do fígado, etc. O sacerdote tinha permissão para comer a carne das ofertas de um governante ou de um plebeu porque o sangue dessas ofertas não era levado ao santuário (7:30), como no caso das ofertas do sumo sacerdote e da congregação (4:5, 6, 16, 17). Ele também podia comer as ofertas descritas em 5:6, 7, 11 pela mesma razão. Nenhuma parte das ofertas acima foi reservada para o ofertante.

O corpo de qualquer oferta pelo pecado cujo sangue fosse levado para o lugar santo era queimado fora do acampamento. Assim, nosso Senhor, por meio de Seu próprio sangue, entrou no santuário de uma vez por todas (Hb 9:12), depois de ter sofrido fora da cidade de Jerusalém. Somos admoestados a “sair a ele fora do arraial, levando o seu opróbrio” (Hb 13:13).

Nota: A expressão “pecado por ignorância” parece significar mais do que falta de conhecimento do pecado. Provavelmente significa que o pecado não foi intencional, deliberado ou feito em desafio ou rebelião. Não havia sacrifício pelo pecado voluntário; a pena de morte tinha de ser imposta (Números 15:30).

A pessoa que trouxe uma oferta pelo pecado estava reconhecendo que havia pecado sem querer por fraqueza ou negligência. Ele buscou o perdão dos pecados e a purificação cerimonial.

A oferta pelo pecado aponta simbolicamente para Cristo, que foi “feito pecado” por nós, embora não conhecesse pecado, para que nEle fôssemos feitos justiça de Deus. Alguns sugerem que a oferta pelo pecado fala de Cristo lidando com o que somos, ao passo que a oferta pela culpa O retrata lidando com o que fizemos.
O Santo que não conheceu pecado,
Deus o fez pecar por nós;
O Salvador morreu nossas almas para ganhar,
Sobre a cruz vergonhosa.
Seu precioso sangue sozinho valeu
Para lavar nossos pecados;
Através da fraqueza Ele prevaleceu sobre o inferno,
Através da morte Ele venceu o dia.


— Hannah K. Burlingham
Notas Adicionais

4.1-35 Oferta pelo pecado.
Este tipo de sacrifício era necessário para expiar pecados específicos. O grau da culpa e a qualidade da oferta variavam de acordo com a posição e a responsabilidade do pecador. O pecado do sumo sacerdote era o mais grave, porque era ele quem representava a nação inteira. O atual que se requeria era igual, para o sacerdote e para o povo, no tocante ao touro (“novilho”) que se oferecia em ambos os casos, mas havia uma diferença quando se comparava o mesmo com o dos holocaustos, sendo que o sacrifício pelo pecado incluía o ato de pôr uma parte do sangue da oferta diante do véu do santuário; a gordura era queimada no altar, mas o resto era queimado fora do arraial. Isto prefigurava a crucificação de Cristo fora da cidade de Jerusalém (Hb 13.12). A justiça de Deus requeria o castigo pelos pecados. Cristo levou esta culpa sobre Si na cruz. Agora Deus perdoa aqueles que, pela fé, aceitam o sacrifício que Cristo sofreu por eles (Is 53.6, 7; 1 Pe 2.24; Rm 3.25, 26).

4.2 Ignorância. Esta palavra não se refere aos pecados dos insolentes e arrogantes, para os quais nenhuma expiação poderia ser feita. A pena imposta era morte (Nm 15.30, 31; Hb 5.2). O próprio fato de se exigir a expiação pelos pecados da ignorância demonstra que a ignorância não é uma desculpa adequada para a violação das leis de Deus. Ordena-se aos crentes que estudem as Escrituras (2 Tm 2.15), e não se oferece nenhuma desculpa aos que se recusam a se instruir nos mandamentos de Deus. Tal falta é um pecado de omissão que precisa ser confessado, perdoado e abandonado (1 Jo 1.9). 4.3-27 Quatro classes de pecadores são enumeradas neste trecho: 1) Os sacerdotes, 3; 2) A congregação, 13; 3) O príncipe, 22; 4) Os simples indivíduos de entre o povo, 27. • N. Hom. O sangue do novilho era sinal visível de sua morte, assim como o sangue de Cristo representa a Sua morte expiatória, que nos purifica de todo o pecado (1 Jo 1.7) e nos aproxima de Deus (Ef 2.13). O apresentar o sangue perante o santuário mostra que é preciso prestar contas ao próprio Deus por todos os pecados cometidos.

4.17 O dedo no sangue. Notem-se os lugares onde o sangue devia ser aplicado: 1) Nas pontas do altar do incenso, 7; 2) Na base do altar do holocausto, 7; 3) Diante do véu, 17; 4) Nas pontas do altar do holocausto, 30; 5) Ao redor do altar e sobre o altar, 1.5, 11; 3.2; 6) Sobre a parede do altar, 5.9; 7) No santuário, 6.30; 8) Na ponta da orelha direita do sacerdote, 8.23-24; 9) No polegar da mão direita do sacerdote, 8.23-24; 10) No polegar do pé direito do sacerdote, 8.23; 11) Nas casas, 14.51-53; 12) Na ponta da orelha direita das pessoas que queriam se purificar, 14.25-28; 13) Sobre o polegar da mão direita da pessoa que queira se purificar, 14.25, 28; 14) Sobre a polegar do pé direito da pessoa que queira se purificar; 15) Sobre a frente do propiciatório, 16.14-15; 16) Perante o Tabernáculo, Nm 6.8; 17) Sobre o povo, Êx 24.6-8; 18) Sobre o Livro da Aliança, Êx 24.6-8; 19) Sobre os sacerdotes, Êx 29.21; 20) Sobre as vestes dos sacerdotes, Êx 29.21.

4.20 Expiação. Da raiz hebraica kipper, que significa “cobrir”. O pecado, com a sua culpa e o seu castigo, é apagado por um ato especifico: a morte. Mas Deus permitiu a morte substitutiva de um animal, o qual tipificava o sacrifício de Cristo, o único que apaga as consequências eternas do pecado.

4.22 Pecar. Ver também 2, 13 e 17. Em contraste comi o holocausto, que não tinha ligações específicas com transgressões individuais, e simbolizava uma aproximação ao Deus santo, dando ao pecador valor diante de Deus, os sacrifícios pelos pecados outorgavam a expiação por pecados específicos, pelos quais esses sacrifícios ofereciam uma “cobertura” perdoando-se assim o pecado. Dois tipos de pecado se definem nestas Leis: 1) Os pecados da ignorância, 5.5-18; Nm 15.22-29, praticados na ignorância, sem saber aquilo que a Lei exigia, ou ainda, praticados acidentalmente, mesmo quando se sabia que eram pecados, Dt 19.4; 2) Os pecados atrevidos, Êx 21.14 Nm 15.30; Dt 1.43, 17.12-13, 18.20-22, Sl 19.13; 2 Pe 2.10. Tais pecados se cometiam deliberada, premeditada e obstinadamente, 24.11-16; Hb 10.26-31. Nota geral: em todos esses sacrifícios, notam-se duas classes: os de “aroma agradável” e os demais. A expressão “aroma agradável” se aplicava somente aos três primeiros tipos de sacrifício: os holocaustos, cap. 1, as ofertas de manjares, cap. 2, e os sacrifícios pacíficos, cap. 3. Estes três tipos de ofertas voluntárias, prenunciavam a absoluta e bendita perfeição do sacrifício de Cristo, em aroma aceitável a Deus, Ef 5.2. Os demais sacrifícios eram os que se ofereciam pelo pecado e pelo sacrilégio, nos quais Cristo era prefigurado como Aquele que carrega os pecados do mundo; eram ofertas de expiação, que, pela sua própria existência, condenavam o pecado - não que Deus tenha prazer na condenação. As ofertas de aroma agradável eram voluntárias, e as ofertas pelo pecado eram compulsórias. • N Hom. A confissão dos pecados é uma parte essencial de uma vida de retidão, e Deus a exige de todos aqueles que pecaram, 5.5; Os 5.15. Sem confissão dos pecados, precedida pelo arrependimento, apela-se em vão ao sacrifício de sangue. Da mesma maneira, o NT ordena aos homens que confessem seus pecados (Tg 5.16), oferecendo, ao mesmo tempo, a certeza do perdão e purificação, 1 Jo 1.9; Sl 32.5. A verdadeira confissão de pecados inclui, entre outras coisas: 1) A tristeza religiosa por causa do pecado cometido, Sl 38.18; 2) Á humilhação, Jr 3.25; 3) A oração pelo perdão, Sl 51.1; 4) A restituição dos danos causados, Nm 5.6; 5) A humilde aceitação da correção divina aplicada na forma de um castigo, Ed 9.13; Ne 9 33; 6) O abandono daquele pecado, Lc 19.1-10; Lv. 15.11-32.