Estudo sobre Colossenses 1:23

Estudo sobre Colossenses 1:23


O que nos cabe fazer nessa questão? Porventura nada, já que ele, afinal, pretende realizar e consumar tudo? Não, essa lógica pobre e primitiva não é própria da instrução apostólica. Jesus, afinal, não dirige o trabalho de sua graça viva a troncos de madeira, mas a pessoas vivas. Por isso há uma clara condição para a conduta dessas pessoas: “desde que permaneceis na fé, alicerçados e firmes, não vos deixando afastar da esperança do evangelho”. Demanda-se de nós que perseveremos na fé, nem mais nem menos. Obviamente Paulo não é impelido por aquela sagaz problemática com que a teologia nos envolve de sobra: afinal, conseguirei perseverar na fé? Porventura até mesmo conservar-me na fé não é uma obra que compete unicamente a Deus? Do contrário não cairemos em um questionável “sinergismo”? Ele escreve a crentes que sabem o que significa “crer”. Sua vida está apoiada sobre um fundamento sólido e seguro. Agora eles conseguem e precisam resistir a tudo que tenta seduzi-los ou demovê-los desse fundamento sólido. Afinal, esse fundamento é Cristo (1Co 3.10s). Precisam permanecer com ele na perseverante ligação de vida na fé, para que consuma sua obra neles. Essa fé, contudo, é ao mesmo tempo esperança. Lança o olhar para o futuro e capta tudo o que lá espera por nós como a “herança dos santos na luz”. Enquanto isso estiver limpidamente diante de nós, preenchendo nosso coração, também deixaremos acontecer em nós a obra de Jesus, que nos torna “aptos para participar dessa herança”, que faz de nós mesmos verdadeiros “santos”, e que portanto nos “santifica”. Mas se nos deixarmos “afastar da esperança do evangelho”, se nosso olhar for mais e mais capturado pelos bens e objetivos terrenos, então nos afastamos também da atuação santificadora e aperfeiçoadora de Jesus. Agora ele não pode mais nos colocar sem mácula e repreensão perante sua face. Mais uma vez Paulo indica que essa esperança de paz é parte essencial do evangelho. Evangelho sem escatologia não é evangelho.

Foi esse o evangelho que os colossenses ouviram, porque “foi pregado a toda criatura debaixo do céu”. Paulo já encontrou essa locução prefigurada em sua Bíblia: p. ex., Dt 2.25; 4.19. Assim ela também é utilizada na história do Pentecostes: At 2.5. Porque fundamentalmente a obra de Deus vigora sempre: Sl 36.6, ainda que no dia de Pentecostes não estivessem representados estatisticamente todos os povos do mundo em Jerusalém e nossa missão ainda hoje se esforce para de fato anunciar “a toda criatura debaixo do céu” a mensagem de Jesus. Ao usar o termo “criatura” Paulo, segundo o linguajar consolidado no judaísmo, pensa nas pessoas, assim designadas porque o fato de serem criaturas de Deus também fundamenta sua vocação para Cristo e sua participação na graça da reconciliação. Na proclamação de Jesus não há influência de nada, nenhuma diferença entre os povos, de estudo, de obra pessoal. Ele é oferecido a todos aos quais o poder criador de Deus concedeu a vida” (Schlatter).

Quando Paulo acrescenta: “cujo servo eu, Paulo, me tornei”, a estranha ênfase “eu, Paulo” já mostra que não se trata de uma frase final para arredondar o texto, mas de uma afirmação significativa que abre um novo tema. Paulo tinha consciência de seu envio singular. Tentou explicitá-lo aos coríntios contrapondo-se a uma pessoa tão importante como Moisés (2Co 3.4-13). Lá também consta o termo “servo” que, não obstante seu conhecimento sobre a dificuldade do engajamento exigido (2Co 11.23ss), não deixa de ter nos lábios de Paulo a conotação sublime e solene de uma incumbência extraordinária. Ele é “servo” do evangelho livre da lei e por isso válido de fato para “todas as criaturas”. Mas por isso ele também é “devedor de gregos e não-gregos, dos sábios e não-sábios” (Rm 1.14) e inegavelmente carrega a responsabilidade pelo evangelho em todas as criaturas. É justamente sobre isso que Paulo deseja falar mais detidamente à igreja em Colossos, que não foi fundada por ele pessoalmente.