Estudo sobre Colossenses 1:9-11

Estudo sobre Colossenses 1:9-11


Assim como o evangelho teve eficácia imediata em Colossos (v. 6), assim Paulo e Timóteo começaram imediatamente com a intercessão assim que ouviram acerca desta igreja. Contudo ela não se restringiu a uma única oração, por ocasião da primeira alegria causada pela nova notícia. “Desde então não cessaram” de lembrar de Colossos com intercessões.

O que um apóstolo pede em favor de uma igreja? Que seja preservada de pressões, aflição e sofrimento? Nada disso aparece aqui. Paulo sabe que segundo Deus a trajetória de uma igreja de Jesus necessariamente passa por muitas tribulações (At 14.22; 1Ts 3.4). Contudo o apóstolo está preocupado com que a jovem igreja em Colossos não fique parada naquilo que ela já possui e é agora. Sem dúvida, essa era a obra maravilhosa de Deus em favor do evangelho no meio deles, e Paulo e Timóteo agradeceram de coração por isso (v. 3). Mas Deus tem muito mais coisas e coisas muito maiores! Paulo não conhece a auto-satisfação prematura e a falsa modéstia, que tão facilmente nos levam a nos contentar com inícios precários. Tampouco compartilha nosso receio diante do “perfeccionismo”. Deus tem para nós a plenitude, por isso Paulo também busca confiantemente essa plenitude para Colossos: “plenos de conhecimento” – “toda sabedoria” – “todo conhecimento” – “inteiro agrado” – “toda boa obra” – “todo poder” – esse é o modo “perfeccionista” com que Paulo ora! E sem sombra de dúvida ele leva essas preces a sério.

Porque assim como o evangelho é vivo, “frutificando” e “crescendo” (v. 6), assim também a igreja gerada por ele é um organismo vivo que não pode ficar parado, que não deve vegetar precariamente, mas ser capaz de “frutificar” e “crescer”. Uma poderosa palavra de “Avante! Para frente! Não fiquem parados!” É isso que o presente parágrafo deseja expressar.

Essa é a diferença marcante entre a vida eclesial apostólica e nossas circunstâncias atuais. Lá ainda não predominava esse clima de lamento e miserabilidade em relação a nós mesmos, que costuma ser a tônica de muitos hinos de nosso hinário. Todas as exortações dos apóstolos também estão repletas de um tom alegre e confiante. Mas a autocomplacência equivocada não é combatida com o relato da própria pecaminosidade e dos muitos fracassos, mas com uma visão clara do alvo e o olhar lúcido para a magnitude das tarefas que estão diante da igreja.

Em primeiro lugar é citado o “conhecimento de sua vontade”. Mas nós, modernos seres humanos intelectualistas, não devemos entender isso erroneamente. Paulo não pretendia dizer que os colossenses deveriam estudar muito mais dogmática e ética, para terem uma capacitação teológica melhor sobre Deus. Para ele importa algo muito diferente, que muitas vezes nos parece tão irrelevante ao lado da melhor teologia: a “conduta”, a configuração real da vida como um todo. Paulo, profundo conhecedor da miséria humana, evidentemente não se sente nem um pouco constrangido pela convicção (recorrente entre nós) de que, afinal, continuamos sendo os mesmos pobres e miseráveis pecadores e que por isso também a nossa conduta não produz nada senão fracassos e pecados. Ele quer – e toda oração genuína é uma vontade resoluta! – que a vida dos colossenses corresponda ao glorioso Senhor que os chamou. Como Jesus não era um dado teórico distante para Paulo (cf. acima o exposto sobre o v. 4), mas um Senhor pessoal vivo, “dentro” do qual os colossenses viviam, por isso ele, na perspectiva do apóstolo, tampouco pairava como um ídolo imóvel e impassível acima das igrejas, mas via e conhecia todo agir e toda omissão também dos colossenses, agradando-se ou não com isso. Paulo considera viável uma vida de igreja com a qual Jesus se agrada inteiramente! Do contrário, como poderia rogar seriamente por ela?

Na sequência Paulo, mensageiro explícito da justificação somente por fé, não tem o menor receio de falar vigorosamente de boas obras! Considera possível que uma igreja não apenas dê fruto aqui e acolá, mas “em toda boa obra”. Ou seja, a igreja em Colossos precisa realizar coisas definidas e concretas de forma incessante. Então não haverá monotonia na vida eclesial. Então não surgirá uma indagação decepcionada e aborrecida pouco tempo depois da primeira alegria da conversão: e agora? Quando as belas pétalas das flores da primavera caem, a árvore trabalha silenciosamente em centenas de frutos.

No entanto, faz parte disso o “conhecimento da vontade dele”. Como assim? Porventura não conhecemos a vontade de Deus a partir dos Dez Mandamentos? A sua vontade não é sempre a mesma? Deus é em si mesmo o Eterno de vontade imutável, que infalivelmente alcançará seu alvo derradeiro. Mas ele é o Deus que determina o hoje da história de forma constantemente renovada, definindo de forma concreta sua boa e misericordiosa vontade aqui e agora, para cada cada igreja, cada um de seus membros e cada questão específica. As incumbências de Paulo e Pedro foram diferentes, e novamente especiais para João. Pelas circunstâncias de cada época, uma igreja de hoje tem outras tarefas do que uma igreja no ano de 1525. Por isso a respectiva vontade de Deus precisa ser constantemente apreendida, não apenas de forma mais ou menos e fragmentada, mas plena e integralmente. De modo crescente e renovado fazem parte disso (“toda”) “sabedoria”, capaz de perceber as correlações dos planos divinos, e “entendimento”, capaz de avaliar a situação existente e de encontrar os meios certos para a obra agora necessária. Isso, porém, não é sabedoria e entendimento que o ser humano possua por natureza em si mesmo. Faremos bem se nos convencermos da profundidade com que esses termos de conotação “grega”, “sabedoria”, “conhecimento”, “entendimento”, estão enraizados no AT: Êx 31,3; Dt 4.6; 34,9; 2Cr 1.10; Sl 49.3; 111.10; Is 11.2. No entanto, o que na velha aliança em muitos aspectos ainda permanece como anseio e promessa foi concretizado cabalmente na igreja de Jesus. Nela habita o Espírito Santo, “a fonte da qual jorra toda a sabedoria”. Com sabedoria “carnal” e habilidade humana nós nos enganaríamos na vontade de Deus. Ai da igreja que se deixa dirigir por elas! Carecemos da sabedoria e do entendimento “concedidos” unicamente pelo “Espírito de Deus”. Por isso o apóstolo roga por eles em prol da igreja.

Desse modo origina-se uma prática de vida eclesial que gera fruto por meio de toda boa obra. No entanto, é justamente apenas por meio de desse tipo de prática, e não somente da teoria obtida ao sentar-se à escrivaninha, que acontece um crescimento no conhecimento de Deus. Porque Deus não é um “problema” ou um “dogma”, mas vontade viva, do qual me apercebo gradativamente somente quando ajo. Por isso leigos exercitados e amadurecidos na ação e no sofrimento espiritual repetidamente mostraram um conhecimento mais verdadeiro de Deus que muitos teólogos com seus numerosos livros.


Nós acreditamos que precisamos mostrar verdadeira humildade não deixando de acentuar incansavelmente nossa fraqueza e impotência. Paulo, porém, almeja e roga por uma igreja forte. Não há dúvida de que ela não consegue ser assim vigorosa em si mesma. Mas ela se relaciona diretamente com um Deus a respeito do qual declara em adoração: “Tua é a força e a glória.” E “segundo a força da sua glória” também será “fortalecida com todo poder”. Realmente não é honra para Deus se sua igreja está frágil e impotente, fracassando em todos os desafios. Isso não é “digno do Senhor”! Por isso Paulo anseia e roga também em Colossos por um cristianismo vigoroso.

O poder obviamente se mostra de modo bem diferente da força que o mundo admira. Caracterizam-na não a valentia, a bordoada, os punhos batendo na mesa, mas, pelo contrário, a “paciência” e a “longanimidade”. Novamente não se trata de um pouco ou de amostras, mas de “toda” a paciência e longanimidade que forem necessárias. Deparamo-nos aqui com um traço básico da ética do NT, recorrente em todas as cartas. Chama atenção que elas falam pouco dos Dez Mandamentos. Mas “amabilidade, humildade, mansidão, paciência” estão constantemente em foco. Assim como toda a força do Senhor da glória, vitoriosa sobre o mundo, se revelou justamente no fato de que ele sofreu e carregou sua cruz e morreu por rebeldes e inimigos, assim a força de sua igreja também reside em “suportar por baixo” e com “fôlego resistente”, resistindo diante do ódio do mundo sem fugir covardemente nem cair em ira e amargura. Desse modo ela demonstra que é mais forte que o mundo. Assim ela é digna de seu Senhor e obtém dele o beneplácito total. Suportar, aguentar, perdoar, amar inimigos – é claro que isso é indizivelmente difícil. Neste ponto soçobra toda força natural, toda valentia humana. Mas a igreja pode contar com o poder que lhe é concedido segundo a força da glória divina, da maneira como e pelo fato de que se está suplicando por ela.