Estudo sobre Colossenses 1:5-6

Estudo sobre Colossenses 1:5-6


Em seguida é pronunciada a última palavra da tríade: esperança. “… por causa da esperança, que vos está preparada nos céus.” A que ideia Paulo relacionou esse “por causa”? Será que os colossenses têm o amor para com todos os santos e, por conseguinte, também a fé em Cristo Jesus “por causa da esperança”? Porventura se apegam a Jesus e amam os irmãos porque se descortina para eles um futuro tão grande e glorioso? Ou será que “por causa” designa o último fundamento e o supremo conteúdo daquele “agradecemos”? Será a gratidão de Paulo e Timóteo tão forte e alegre porque os colossenses creem e amam não apenas agora nesta época transitória, mas também terão participação na glória das eras vindouras? Ambas as conexões são gramaticalmente possíveis. Independentemente de qual das duas preferirmos, o que fica claro é que esperança no NT (aqui e sempre) não é um “apêndice” de relevância menor, mas aparece predominantemente no centro, sendo propriamente o alvo da gratidão, talvez até mesmo a base sustentadora da fé e do amor. O nexo interior de “fé, amor, esperança” aparece, além de em 1Co 13.13, também em 1Ts 5.8. Toda a estreita e direta ligação da “esperança” com a “fé” é explicitada em Rm 4.18; 5.2; 8.24; 2Co 3.12; Gl 5.5; na presente carta também em Cl 3.3s.

Além disso, “esperança” não designa aqui a atividade subjetiva de esperar, mas seu conteúdo objetivo, o “bem da esperança”. É o que mostra nitidamente o adendo “que está preparada para vós nos céus”. (O NT prefere utilizar o plural “os céus”, a fim de assinalar a riqueza e a multiformidade do mundo invisível de Deus. Paulo, p. ex., fala em 2Co 12.2 do “terceiro céu”, ao qual foi arrebatado.)

Mais uma vez, porém, corremos o perigo de involuntariamente introduzir concepções costumeiras no texto. O bem da esperança encontra-se pronto no mundo celestial – logo chegaremos a esse céu depois da morte, achando-o ali e tomando posse dele. Concluímos isto porque perdemos toda a noção bíblica do futuro e colocamos em seu lugar (durante uma longa evolução na história da igreja) pensamentos sobre “imanência” e “transcendência” que não são originárias da Bíblia, mas da visão de mundo de Platão e do neoplatonismo. Uma comparação da presente passagem com Fp 3.20s; 1Pe 1.4s; Cl 3.3s e Ap 21.2 mostram-nos de imediato que a Bíblia pensa de forma completamente diferente. Todas essas maravilhas de nosso bem da esperança estão no céu não para que permaneçam lá e sejam apropriadas por nossas almas ditosas, mas para descer de lá e transformar toda a nossa existência. O fato de essa esperança estar preservada no mundo celestial somente pretende nos deixar seguros de que jamais poderemos perder esse bem da esperança, e que ele também não pode ser roubado de nós. Lá está mais seguro que jóias terrenas no mais seguro cofre do mundo (cf. Mt 6.20; 1Pe 1.4; veja também o Comentário Esperança, Mateus, p. 111ss).

“Da qual ouvistes de antemão pela palavra da verdade do evangelho.” A esperança está no futuro. O fim dos poderes destrutivos deste mundo, o reinado dos céus sobre esta terra, o fim do diabo e da morte, o juízo universal, o novo céu e a nova terra (tudo isso constitui o “bem da esperança” bíblico) – tudo isso na realidade ainda virá! Mas desde já ouvimos acerca disso na palavra do evangelho. Fica visível em que medida o evangelho naquele tempo abrangia tanto a mensagem do Senhor que retorna como a do Cristo crucificado e ressuscitado. Que empobrecimento e deturpação o evangelho sofreu desde então no cristianismo! Ouvimos tão pouco a respeito da esperança bíblica do futuro. Mas justamente ela é o verdadeiro alvo do evangelho, que por isso também é e continua sendo o “evangelho do reino” na pregação apostólica.

Os colossenses e também nós “ouvimos de antemão”. Conforme Hb 11.1 a “fé” é uma “persuasão de coisas que não se veem”. Por princípio o santo Deus agora é invisível no mundo caído. Por isso, o “ver” só será nosso quinhão no mundo vindouro. Agora o “ouvir” é que constitui o objeto central dos crentes. “E, assim, a fé vem pela pregação, e a pregação, pela palavra do Cristo” (Rm 10.17; cf. Ef 1.13; 1Ts 2.13). Deus, porém, como Deus vivo, é o Deus dos feitos futuros. Sua fama diante de todos os “ídolos” é que ele anuncia previamente esses feitos (Is 41.21-23; 42.8s; 44.6-9; 45.18-25). Por isto, a glória da igreja é que ela possa “ouvir de antemão”.

Esse evangelho é a palavra da verdade. O conceito da “verdade” no NT tem menos o sentido da retidão individual e mais o sentido do real, essencial, em contraposição à fachada e à distorção da realidade. Paulo não enfatiza que os mensageiros do evangelho não mentiram aos colossenses (o que é óbvio), mas que lhes propuseram no evangelho realidades divinas. Honestidade subjetiva ocorre entre os defensores de todas as visões de mundo! Justamente também oponentes do cristianismo muitas vezes estiveram imbuídos de um elevado patos da “veracidade” pessoal. A força da pregação cristã, porém, reside na certeza de trazer às pessoas a verdade última, incontestável, porque divina. Cf. Sl 119.43; Jo 17.17; 2Co 4.2; 6.7; Gl 2.5; 2.14; 5.7. Isso vale justamente para a “esperança”, que, ao contrário de todas as esperanças e sonhos arbitrários das pessoas, é verdade de Deus.

Por isso de forma alguma o assunto principal são os mensageiros e suas qualidades subjetivas. Pelo contrário, o próprio evangelho é uma unidade coesa em si, de ação própria, com poder vital interior próprio: “que está presente entre vós, como também está produzindo fruto e crescendo em todo o mundo…” Com admiração Paulo percebeu que o evangelho está no mundo inteiro! O evangelho saiu de Jerusalém para a Judéia e Samaria, chegou a Antioquia, veio com Paulo para o Chipre e a Galácia, a Macedônia, Corinto, Atenas, Éfeso, mas também está onde o próprio Paulo não o consegue levar: na capital do Império, Roma, na cidadezinha de Colossos. De que forma nós conseguimos ver esse curso do evangelho hoje! Onde ele está, demonstra uma força irresistível, traz fruto, cresce.

Afinal, os colossenses o presenciaram pessoalmente. “… como também entre vós, desde o dia em que o ouvistes e reconhecestes a graça de Deus em verdade.” Por estar no mundo inteiro, espalhando-se como um aroma em todos os lugares (2Co 2.14), o evangelho chegou certo dia também a Colossos. E também ali realizou sua obra misteriosa em corações e consciências: homens chegaram à fé em Jesus. Pensamentos e ensinamentos humanos podem ser acolhidos lentamente e disseminados aos poucos. Mas quando o evangelho atua, ele remove rapidamente (“desde aquele dia…”) o véu que oculta a realidade de Deus do ser humano caído, e mostra a graça redentora de Deus “em verdade” (literalmente quase: “como não-encoberta”), de modo que pessoas a abraçam, encontrando sua vida em Jesus Cristo. Quantos frutos do evangelho houve também em Colossos; quanto crescimento também se pode constatar lá!


Paulo é capaz de falar do evangelho como se ele fosse uma pessoa autônoma. Mas ao falar assim não esquece que apesar disso são necessárias pessoas no serviço do evangelho. Por isso, sem se contradizer 1Co 3.6s, ele pode constatar enfaticamente que ele é o pai espiritual dos coríntios (1Co 4.15). Do ponto de vista lógico isto é uma contradição, porém a experiência de vida nos mostra poderosa e claramente que a palavra demanda o engajamento total incondicional dos mensageiros e que apesar disso desenvolve sua eficácia real por seu poder próprio. Por isso Epafras é mencionado também com reconhecimento cordial, como um homem que possui importância especial para a igreja em Colossos. No entanto o “grande” Paulo não coloca o “pequeno” Epafras abaixo de si, mas ao lado de si, como “amado conservo” do único Senhor. Porque Epafras é um servo fiel do Cristo, e graças a esse serviço os colossenses alcançaram o melhor de sua vida. O termo “conservo” deve revestir-se de uma conotação bem definida. Paulo não chama todos os cristãos de “escravos de Jesus Cristo”, mas somente pessoas que colocaram a vida a serviço de Jesus mediante o engajamento de toda a sua vida. Como “conservo” Epafras é, portanto, “colaborador” de Paulo. Provavelmente veio de Colossos e foi atingido pela proclamação de Paulo durante a atuação deste em Éfeso, aceitando então a fé. Por incumbência de Paulo retornou a Colossos, a fim de prestar o serviço evangelizador em sua cidade natal. Essa suposição se torna ainda mais verossímil quando lemos uma variante muito bem fundamentada, que em lugar de “fiel servo para vós” traz “fiel servo de Cristo para nós”. Nesse caso Paulo considera Epafras praticamente como seu representante em Colossos, que realizou o trabalho ali expressamente “para Paulo (e Timóteo)”. Por seu turno, Epafras não tomou medidas receosas para que o grande Paulo não tivesse nenhuma oportunidade de interferir em “sua” igreja, lançando sombras sobre a luz dele. Alegrou-se sem inveja com o fato de que os colossenses amam a Paulo, não com o amor psíquico que se apega ao homem famoso, mas unicamente com o amor gerado pelo o Espírito Santo. Essa interpretação da passagem é contestada. Aqui não se estaria falando do amor dos colossenses por Paulo, mas a palavra “amor” (agape) designaria a condição dos cristãos como tal. No entanto, seria curioso se Paulo, que acabava de agradecer pela “fé, amor, esperança” entre os colossenses, de repente descrevesse toda a condição dos cristãos só com a palavra “amor”. Nos “santos” ele havia indicado um claro objeto para o “amor” dos colossenses, e agora o “amor” seria usado sem objeto? Tudo isso parece ser muito improvável. Não temeu uma longa viagem até o prisioneiro Paulo para informá-lo sobre o amor dos colossenses e solicitar a palavra clara e auxiliadora de Paulo em relação às aflições e dificuldades da igreja. Como a conduta desses dois homens é exemplar para nós! Como a realidade entre “obreiros do reino de Deus” muitas vezes é diferente! No final da carta, em Cl 4.12, Epafras é citado entre aqueles que enviam saudações, e mais uma vez somos informados do desprendido empenho com que ele se engaja na oração pela igreja em Colossos.