Estudo sobre Colossenses 1:12-13

Estudo sobre Colossenses 1:12-13


A realidade de que ela não se limita a dar conta penosamente das tarefas que lhe são dadas, mas se apresenta “com todo o poder” é evidenciada particularmente no fato de que também em labores, lutas e fardos ela continua sendo uma igreja que agradece alegremente e “dando graças ao Pai com alegria”. Como é capaz disso? Ela sempre e em todos os casos tem numerosos motivos para agradecer porque sua vida foi completamente transformada por Deus. Isso se mostra poderosamente em todos os três tempos nos quais se subdivide nosso tempo de vida: passado, presente e futuro.

O futuro paira sombrio diante das pessoas. É verdade que elas colorem essa escuridão com suas esperanças e expectativas, mas no fundo sabem muito bem que suas ilusões sempre terminam em desilusão. E por trás de todos os seus planos espera a velhice, a decrepitude, a morte, a grande escuridão, o nada. Para “nós”, porém, houve uma transformação total. Temos um futuro brilhante porque lá está “a herança dos santos na luz”. Inicialmente a “herança” era Canaã, a “terra prometida”, que se situava diante do povo na peregrinação pelo deserto, a “terra em que jorra leite e mel” (Dt 12.10). Os levitas e sacerdotes, porém, já podem aprender a renunciar a uma parte desse legado terreno e buscar sua “herança” em alturas muito maiores: no próprio Deus vivo (Dt 10.9; 18.1s; Ez 44.28). Deus, porém, é uma luz radiante, diante de quem sol e lua se esvaecem (Is 2.5; 60.19). A igreja do NT, como um verdadeiro povo de sacerdotes, não ambiciona mais cumprimentos terrenos, mas vê à sua frente a “herança dos santos na luz”. Não a inventamos, não precisamos conquistá-la nem merecê-la com labores incertos. Cabe-nos uma “parte” totalmente certa dela, porque o próprio Deus nos “tornou idôneos” para ela. Paulo conhece a certeza clara e definida da salvação, obviamente não a considerando “farisaica”. Evidentemente também não tem a opinião de que essa participação na herança dos santos seria muito duvidosa em vista do juízo vindouro sobre o mundo. Constata que com jubilosa gratidão uma igreja de crentes pode estar ciente de ter sido tornada idônea para essa herança de luz. Por essa razão nós também já não precisamos verificar com temor e avidez onde há algo neste mundo que se pudesse “herdar”. Fomos libertos da inveja, da correria e disputa e capacitados para abrir mão, renunciar e perdoar com toda a paciência e longanimidade. Porventura isso não é motivo de gratidão?

Contudo o cristianismo não é uma “consolação para o além”. Também foi transformado e renovado o nosso presente, essa linha milimétrica tão decisiva que se coloca entre o que acabou de passar e o momento mais imediato do futuro. Nesse “agora” acontecem nossos atos e são tomadas nossas decisões. “Agora” pronuncio a palavra boa ou má, “agora” pratico a ação benéfica ou danosa, “agora” perco a oportunidade irrecuperável. Por natureza encontramo-nos todos na “esfera de poder das trevas”, tão certo como o diabo é o “príncipe deste mundo”, e até mesmo o “deus deste éon”. Ao aproveitar o agora, ao pensar e falar, agir e deixar de agir, somos escravos do inimigo. Quem de fato aprendeu a se conhecer sabe que isso não é uma difamação revoltante do ser humano, mas uma terrível verdade. Essa escravidão de forma alguma precisa ser rude e grosseira, pois pode ter formas delicadas e “nobres”. Conhece correntes e algemas de ouro que amarram suas vítimas de forma invisível, também nos píncaros da ciência, arte e moralidade. Lembramos particularmente também da rede de superstição e feitiçaria que justamente hoje enleia multidões de pessoas modernas. Cartomancia, horóscopo, astrologia, vaticínios, benzeduras, espiritismo, o amuleto no carro e no avião –isso também constitui “esfera de poder das trevas”.

Somos libertos não por resolução e luta próprios, não por desesperados esforços, não por lágrimas amargas e bons propósitos. Justamente o lutador honesto e corajoso experimenta a verdade de Rm 7.19. É com autoridade que precisamos ser “arrancados da esfera de poder das trevas”. A expressão “que arrancou” traz aqui o mesmo termo que a tradução grega do AT traz nas passagens que algumas traduções vertem com a palavra “Redentor”: Is 44.6; 47.4; 48.17; 49.7,26; 54.5. Também em passagens como Sl 18.17,20 constatamos o mesmo verbo. A redenção de Israel do Egito é o grande paradigma no AT. Foi isso que Deus fez! Porém não para agora nos abandonar a própria sorte. Que pequena ajuda significaria isso! Não, ele nos “transportou para debaixo do senhorio do Filho de seu amor”. Que transformação de vida é essa! Não uma possibilidade vaga, não uma perspectiva incerta de futuro, mas uma realidade! Tornar-se cristão implica uma mudança completa real de senhorio. É assim que Paulo descreve ao rei Agripa a conversão dos seres humanos como tarefa que recebeu de Jesus, em At 26.18. Que coisa maravilhosa, não precisar mais servir ao frio e cruel inimigo, mas poder devotar-se ao amado Filho de Deus! Essa mudança proporciona um “agora” totalmente novo, frutífero e abençoado. Inesgotável e diariamente renovada, a alegre gratidão eleva-se ao Pai por isso!


Contudo, porventura não carrego irremediavelmente comigo o fardo de meu passado? A peculiaridade desse tempo verbal é que o tempo de fato “passou”, que apenas o possuímos em imagens na recordação. Precisamente por isso, porém, ele também é imutável, incorrigível. O que está no passado ainda exerce uma poderosa influência em nossa vida. Notamo-lo particularmente em nossa – culpa! Que fardo de culpa cada ser humano arrasta atrás de si com seu passado! Justamente o psiquiatra e psicólogo moderno sabem quanto “nervosismo”, quanta irritação, depressão e enfermidade são decorrência dessa carga. No entanto, tampouco consigo livrar-me pessoalmente desse fardo. Qualquer tentativa de esquecer a culpa resulta no máximo em “recalque”, e precisamente isso leva a distúrbios nervosos e psíquicos ainda mais graves. Quem, no entanto, se achega a esse “Filho do seu amor” experimenta que nele “temos a redenção, o perdão dos pecados”. Que presente inefável e libertador! Pergunte aos mais famosos cientistas do mundo se conhecem um medicamento para libertar da culpa; pergunte aos grandes artistas se são capazes de eliminar da consciência a culpa através da música, ou da pintura, ou da poesia; pergunte aos ricos e poderosos desta terra se o peso da culpa desaparece diante de tesouros de ouro ou de exércitos blindados – a pergunta será em vão. Em Jesus você encontrará aquilo pelo que seu coração anseia, não apenas como possibilidade ou consolação difusa, mas como realidade total e ditosa, aqui e agora: “no qual… temos!” Porventura isso não será motivo para louvar e agradecer, mesmo na pior situação, mesmo no dia mais sombrio? E não decorre disso novamente “toda paciência”, “toda longanimidade”, que é capaz de acolher outros da maneira como Cristo nos acolheu?

Com essas palavras Paulo já passou para o tema que tem importância decisiva para ele justamente com vistas às questões e descaminhos em Colossos. Se os colossenses desejarem obter um juízo próprio sobre os “esforços de santificação” que lhes são trazidos com zelo e que lhes anunciam um cristianismo “mais perfeito”, então terão de ver como Jesus é grande.