Estudo sobre Colossenses 1:16

Estudo sobre Colossenses 1:16

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“Tudo foi criado nele e em direção dele.” Será que de fato estamos cientes disso? Consideramo-lo? Quando contemplamos o universo à noite e vemos oceanos de sóis acima de nós – é por meio de Jesus e para Jesus que essas imensas esferas ardentes seguem sua trajetória. Mas também a pequena flor silvestre que ninguém vê e considera – é por meio de Jesus e para Jesus que ela floresce. Tão grande é Jesus! Será que quando citamos o nome de Jesus na oração temos em mente que agora passamos a falar com aquele no qual “foi criado tudo nos céus e sobre a terra, as coisas visíveis e as invisíveis”? Porventura esse mundo frequentemente tão sinistro não se torna mais familiar e aconchegante para nós, pois agora temos o privilégio de saber que estamos nos movendo na propriedade que desde a criação pertence ao nosso glorioso Redentor? E não terá razão por isso aquele marinheiro que disse: “O mar em que meu corpo afunda também não é mais que a concha da mão de meu Redentor, da qual nada me pode arrancar”? (Gorch Fock).

A criação de Jesus não acaba no “visível”, no que “está sobre a terra”. Criou também “as coisas invisíveis” e povoou também “os céus” com incontáveis criaturas, que nós chamamos de “anjos”. É evidente que esses anjos são bem diferentes das adoráveis figuras de crianças, moças e mulheres que nossos pintores nos propuseram. Toda vez que um personagem bíblico avista um anjo, esta pessoa se assustam e fica atemorizada. Há “quatro mil vezes mil” desses anjos (Ap 5.11; Dn 7.10). Que mundo de vida, força e luz! Assim como tudo na criação de Deus é multiforme e ao mesmo tempo ordenado, assim parece haver também no mundo invisível dos espíritos grandes ordens e grupamentos, para os quais apontam as expressões “tronos”, “principados”, “poderes”, “potestades”, tanto aqui como em outras passagens do NT. Tanto Paulo como todos os seus contemporâneos tinham uma certeza bem diferente da nossa a respeito da existência e atuação desses poderes invisíveis no mundo. Por isso os nomes brevemente referidos comunicam para ele e os leitores da carta muito mais que para nós. Para nós muitas perguntas permanecem sem resposta. Talvez Paulo tenha diferenciado entre “tronos” e “potestades” como esferas de anjos que servem a Deus e os “poderes” e “potestades” que, arrastados pela revolução satânica (cf. 1Co 6.3; 2Pe 2.4; Jd 6), agora desempenham com autonomia arbitrária seu domínio sobre a criação de Deus. Porque quando fala do aniquilamento desse domínio dos anjos, ele menciona somente os “poderes” (archai) e “potestades” (exousiai): 1Co 15.24; Ef 6.12; Cl 2.15; em 1Co 2.8 ele fala dos archontes deste mundo; em Rm 8.38 de angeloi e archai. Em Ef 3.10 volta a referir archai e exousiai, mas nesta passagem não fica claro se ela tem em vista poderes contrários a Deus. Na presente passagem, porém, a forma da frase destaca: “independentemente de serem ‘tronos’ ou ‘principados’ ou ‘poderes’ ou ‘potestades’…”, essas distinções no mundo angelical, que estavam sendo apresentadas aos Colossenses como doutrinas essenciais e necessárias, se tornam irrelevantes diante da magnitude de Jesus. Não serão esses entes e poderes majestáticos extremamente importantes para o ser humano? Não interferem eles com eficácia na vida dele, e até mesmo na história dos povos? (Dn 10.13.) Porventura não podem ser muito úteis ou muito perigosos? Não temos de tentar estabelecer um relacionamento com eles, e até mesmo lhes devotar adoração? Tais indagações haviam se manifestado também entre os cristãos em Colossos. Ou seja, não mais “somente Jesus”, mas “Jesus e os anjos”? Será que o cristianismo não se tornava amplo e perfeito apenas quando os misteriosos poderes cósmicos eram incluídos? Não! Por mais avassalador que esse mundo invisível possa ser, também ele foi criado por meio de Jesus e para Jesus. Entre o mais glorioso e poderoso anjo e Jesus se estende o mesmo abismo que separa a criatura do Criador. Jesus é aquele “diante do qual os serafins se prostram em oração, em torno do qual anjos prestam serviço”. Tão grande é Jesus! Por isso não existe “Jesus e os anjos”. Vale igualmente com vistas ao mundo invisível com todos os seus mistérios: “Jesus, por isso, tu somente, és único e tudo para mim.”

Jesus, o Criador acima de todas as criaturas – será que nos apercebemos, pois, do que acontece nos feitos milagrosos de Jesus durante sua trajetória terrena? Aquele por meio de quem o corpo humano foi criado toca corpos enfermos e deformados. Aquele por meio de quem Deus chamou à existência o cereal e o vinho multiplica o pão e transforma a água. O mar carrega prontamente o primogênito de toda a criação, vento e ondas silenciam diante daquele que é Senhor deles! E o serviço solícito dos anjos evidencia que os grandes poderes espirituais do cosmos de fato jazem aos pés de sua extraordinária sublimidade (Lc 2.9-14; Mt 4.11; Jo 1.51; Mt 26.53), assim como faz o tremor dos demônios (Mc 1.23-27; etc.).

Não obstante, mais importante entre todas as criaturas é o ser humano. Agora podemos aplicar ao ser humano, a nós mesmos: “criados por meio de Jesus e para Jesus!” Como isso é importante para toda a missão e evangelização! Quando chamamos pessoas para Jesus, não as chamamos para que se aproximem de uma pessoa desconhecida. Quando lhes testemunhamos Jesus, não lhes impomos artificialmente um personagem desconhecido. Chamamo-los para aquele a quem já pertencem por criação e por direito, trazendo-lhes aquele que, como origem e alvo de sua existência, há tempo já é sua verdadeira pátria. Por isso a palavra “Veio para o que era seu, e os seus não o acolheram” (Jo 1.11) paira constantemente sobre a rejeição a Jesus. Sem dúvida essa palavra fala primeira e particularmente de Israel. Mas, uma vez que o prólogo do evangelho de João é tão universalmente abrangente como a presente exposição de Paulo, falando do eterno Verbo do Pai como luz e vida “dos seres humanos”, manifesta-se na culpa de Israel a culpa de toda a humanidade. Cada um de nós, ao fazer um retrospecto de sua própria vida, precisa confessar: “Veio a mim, que lhe pertencia desde as origens, e eu – o rejeitei!” Só assim é que justamente o pecado (o pecado de “que não creem em mim” – Jo 16.9) se evidencia com toda a sua característica incompreensível e indesculpável. A conversão a Jesus, porém, representa para cada um de nós, apesar de toda novidade de vida por ela propiciada, um maravilhoso retorno ao lar. E vice-versa: o fato de que pessoas de todas as raças e graus de desenvolvimento podem reconhecer a Jesus e confiar-se a ele de coração confirma e atesta que Jesus é aquele por meio do qual e para o qual todos nós fomos criados. Apesar de toda a atenção a questionamentos e conceitos da filosofia Paulo não nos fornece elucubrações teóricas acerca de Jesus. Permanece firmemente ligado à experiência viva da fé e nos mostra a grandeza de Jesus da forma como precisamos conhecê-la para nossa própria fé e para nosso serviço a outros.

Por meio desse conhecimento de Jesus também somos aliviados de uma preocupação que dificulta o acesso a Jesus para muitas pessoas. Se eu me render inteiramente a Jesus em uma conversão sincera, minha vida não se torna pobre, estreita e unilateral? Se Jesus fosse apenas um pequeno personagem religioso isolado, nós poderíamos ter razão com esse receio. Mas, se nos confiarmos àquele por meio de quem tudo foi criado, haverá algo que possamos perder ou de que sejamos privados? Não é imperioso que com Jesus, nesse caso, sou ganhador de – tudo? Afinal, meus bens e riquezas nunca poderiam ser mais abrangentes e completos do que quando o Criador e soberano do mundo todo me aceita como sua propriedade amada. Foi assim que o apóstolo Paulo considerou com audaciosa alegria: “Seja Paulo, seja Apolo, seja Cefas, seja o mundo, seja a vida, seja a morte, sejam as coisas presentes, sejam as futuras, tudo é vosso, e vós, de Cristo, e Cristo, de Deus” (1Co 3.22s) e “Se somos filhos, somos também herdeiros, herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo…” (Rm 8.17).


Ademais, podemos ainda atentar particularmente para a maravilhosa verdade de que o universo, com toda a sua plenitude de mundos visíveis e invisíveis, não apenas foi criado “por meio dele”, mas também “em direção dele”. Aqui se descortina para nós a percepção de que a vontade de amor divina foi não deixar “prontos” o mundo e suas criaturas, mas propiciar-lhes a alegria do desenvolvimento próprio rumo a um alvo glorioso. Esse alvo, no entanto, para o qual a criação foi projetada desde sua origem, é Jesus! Sobretudo para os humanos havia a “determinação” de Deus em Rm 8.29: “que fossem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos”, até mesmo independentemente da queda no pecado, desde o começo. Jesus, o Filho, teria uma relevância central para nós mesmo sem a catástrofe de nosso desprendimento de Deus. É evidente que se tornou o Reconciliador unicamente pela cruz. Mas teria sido Mediador e Consumador mesmo sem ela, ainda que não sejamos capazes de imaginar como tudo teria acontecido. Pela queda, porém, esse “em direção dele” obtém relevância e profundidade totalmente novas. Paulo falará disso em seguida. Nós, porém, faremos bem em preservar no coração e na memória o sentido original, essencial, do “em direção dele”, se quisermos apreender toda a poderosa fundamentação do reconciliador “para ele”. Também aqui “cosmologia” e “soteriologia” formam uma unidade.