Estudo sobre Colossenses 1:3, 4

Estudo sobre Colossenses 1:3, 4

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“Agradecemos” – é assim que Paulo começa esta carta, como na maioria de suas epístolas dirigidas a igrejas (cf. Rm 1.8;1Co 1.4; Ef 1.3; Fp 1.3; 1Ts 1.2; 2Ts 1.3). Somente quando luta pela igreja de Corinto em 2Co ele não tem como iniciar com gratidão pela igreja, mas somente com um louvor pessoal a Deus (2Co 1.3). E em vista das confusões nas igrejas da Galácia ele expressa imediatamente sua amarga dor (Gl 1.6). No mais, porém, Paulo sempre eleva primeiro um olhar agradecido a Deus. Será que nós também fazemos isso?

A gratidão dirige-se a “Deus, o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo”. Apenas excepcionalmente, e condicionado especialmente pelo contexto, ocorre em Paulo um agradecimento direto a Jesus em 1Tm 1.12. No mais, ele sempre tem diante de si a Deus, o Pai, como a última fonte criadora de todas as boas dádivas. Ele direciona também a gratidão da igreja para Deus: Cl 3.17; Ef 5.20 e também 1Ts 5.18. No entanto, ainda que Deus já busque o coração e a gratidão dos seres humanos por meio de suas dádivas naturais (At 14.17; Rm 1.21), ele com certeza só será realmente reconhecido como “Pai” em Jesus Cristo, e é apenas através de Jesus Cristo que podemos agradecer-lhe corretamente. É verdade que o AT já mostra rudimentos de um entendimento da paternidade de Deus não a partir da “natureza”, mas da “história da salvação”: Dt 32.6; 2Sm 7.14; Is 9.6; 63.16; Jr 3.19; 31.9; Ml 1.6; 2.10; Sl 103.13; Os 11.1. Mas é bastante significativo que esses rudimentos não se tornaram determinantes para o relacionamento de Israel com Deus: no judaísmo tardio o Deus inacessível, cujo nome já não se tem coragem de pronunciar, se afasta para distâncias cada vez maiores. Ainda mais que a ingênua ideia do ser humano moderno, de poder encontrar o “Pai” na natureza e na vida humana (“Irmãos, acima do céu estrelado tem de haver um Pai de amor”), se despedaçou. As palavras de Jesus constituem fato inconteste: “Ninguém vem ao Pai senão por mim” (Jo 14.6). Em vista desse imenso mundo enigmático da criação caída brota do coração humano unicamente por meio do “Espírito da filiação” (Rm 8.15; Gl 4.6) a verdadeira exclamação “Pai!”, quando e porque no Filho se tornou visível o amor do Pai (Jo 3.16; 14.9). Somente agora se consegue e também se deve agradecer sinceramente.

Essa gratidão, porém, não surge somente agora no coração de Paulo, quando ele começa a ditar a carta; muito menos é apenas uma amabilidade cortês para com os destinatários. Essa gratidão é genuína, porque há muito, antes de os colossenses saberem, ela já foi elevada a Deus na silenciosa reclusão: “sempre quando oramos por vós”. Devemos imaginar isso de forma tão concreta quanto possível, afinal não se trata de fórmulas devotas. Muitas vezes Paulo e Timóteo se prostraram em oração perante Deus. Paulo investiu horas primordialmente (1Tm 2.1) para esse serviço decisivo. Então o nome “Colossos” também era mencionado, e depois veio aos lábios dos dois homens em oração a alegre gratidão. Os colossenses podem se sentir firme e intimamente ligados a Paulo e Timóteo, ao ouvir isso no começo da carta: “Oramos e agradecemos muito por vocês!” E isso certamente os deixará dispostos a acolher corretamente também as exortações e advertências que lerão posteriormente na carta!

Pelo que Paulo e Timóteo agradecem? “Porque ouvimos da vossa fé em Cristo Jesus.” Em Colossos há um grupo de crentes! – isso desperta a mais viva gratidão. Por muito tempo o cristianismo nos pareceu “óbvio”. Afinal, todas as pessoas, com poucas exceções negativas, eram “cristãs”. E obviamente havia igrejas e congregações em todos os lugares. O que haveria de especial nisso para “agradecer”?! No entanto o catecismo deveria nos ter ensinado que a fé em Jesus é uma obra milagrosa do Espírito Santo, o nascimento de uma nova vida divina. Hoje notamos novamente, nas salas dos quartéis, postos avançados e campos de prisioneiros, em fábricas e conjuntos habitacionais, que um “cristão” é uma raridade! Começamos outra vez a entender porque o coração de Paulo e de Timóteo foi preenchido de alegria e gratidão quando ouviram: pessoas aceitaram a fé em Colossos. No deserto de idolatria, superstição, incredulidade e insensatez agora também existem em Colossos pessoas com fé clara em Jesus. Isso é motivo de gratidão toda vez que o recordamos.


Paulo diz aqui “fé dentro de Cristo Jesus”. Essa expressão exclui vigorosamente aquele equívoco intelectualista da fé que ameaça particularmente a nós, pessoas da Idade Moderna. Ser cristão não consiste em crer “em” um Jesus, que no passado realizou grandes coisas e agora está distante no céu. Muito menos consiste em concordar com determinadas doutrinas desse Jesus. Fé é a ligação vital pessoal com o próprio Cristo Jesus, de modo que minha fé esteja enraizada “dentro” de sua pessoa viva e presente, transformando toda a minha existência em uma vida “dentro de Cristo”. Veja o acima exposto sobre o v. 2. “… e do amor que tendes para com todos os santos”, foi o que Paulo e Timóteo ouviram. “Fé, amor, esperança, esses três” caracterizam a vida, não tanto de cada cristão, que o NT nem reconhece como indivíduo solitário, mas da igreja. Acontece que esse “amor” não é algo indefinido, um sentimento universal, mas “amor para com os santos”. Conseqüentemente, está inseparavelmente ligado com fé autêntica, decorrente do renascimento. “Todo aquele que ama ao que o gerou também ama ao que dele é nascido” (1Jo 5.1). Afeto ou rejeição puramente humanos, o “conhecer segundo a carne” (2Co 5.16), i. é, segundo as qualidades naturais agradáveis ou desagradáveis submerge na alegria pelo outro, simplesmente porque também ele é um “santo”, um ser humano “em Cristo”. Como também nós voltamos a conhecer esse amor, quando um “santo”, alguém que como nós conhecia e amava a Jesus, vem ao nosso encontro na torrente de indiferença, oposição e escárnio! Esse tipo de amor representa um milagre da nova criação divina (1Jo 3.14; 1Ts 4.9). Por isso, ao vê-los, também se eleva a gratidão a Deus, que em meio a esse mundo de frieza, egoísmo e ódio conduz pessoas a tal amor fraterno.