Estudo sobre Colossenses 2:10
Estudo sobre Colossenses 2:10
Contudo não foi somente a pergunta por Deus que obtém aqui sua resposta definitiva. Também é solucionada, de forma surpreendete, a pergunta pelo ser humano. Em Jesus ficou claro que a pergunta do ser humano por si mesmo, por sua verdadeira humanidade, não é teórica, mas eminentemente prática. O ser humano fracassou em seu próprio propósito. Por meio de passos em falso, por meio de toda a sua condição atual (a Bíblia emprega para isso o termo “carne”) ele está “morto”. Está irremediavelmente endividado, a “promissória” paira sobre sua vida, persegue-o e tira-lhe liberdade e vida. Por isso os melhores conhecimentos teóricos sobre a natureza do ser humano podem ajudá-lo tão pouco quanto as mais corretas e sublimes exigências, instruções e metas. A filosofia de todas as categorias e linhas, ao elaborar considerações sobre o ser humano, erige palacetes para – prisioneiros culpados e mortos. A busca pela humanidade do ser humano é na verdade a busca pela anulação eficaz da culpa e pelo despertar real da morte. Quem consegue fornecer uma resposta a essa questão que não seja uma resposta da teoria, mas da ação? Nenhuma filosofia é capaz disso. Mas há dois mil anos a igreja de Jesus sabe e experimenta em todas as circunstâncias e em cada ser humano (tanto o antropófago no Pacífico quanto o professor europeu) que a façanha de Jesus na cruz e sua ressurreição deram essa resposta de forma poderosa. Assim como em Jesus habita a “plenitude da divindade”, assim também o ser humano é “plenificado” com ele: “Nele estais plenificados”. Em Cristo Jesus o ser humano se reencontra – não teoricamente, mas de modo real – como pessoa criada segundo a imagem de Deus, destruída na queda do pecado e agora salva e renovada. Em Jesus serenam, de forma fundamental, todas as indagações sobre si mesmo, sobre o “de onde” e “para quê”.
Por esse motivo, pois, é fato que uma criança ou uma pessoa muito simples em Jesus sabem muito mais sobre Deus e o ser humano, por ser viva propriedade, do que filósofos sem Jesus, até mesmo quando sua produção intelectual conferiu, e com razão, grande brilho ao nome deles. É a partir daí que precisamos compreender as duras palavras que o apóstolo profere pelo Espírito Santo à igreja de todos os tempos: “Cuidai que ninguém vos conduza à escravidão com sua filosofia e vãos engodos” [v. 8]. A luta e indagação do intelecto do ser humano na filosofia merecem todo o reconhecimento. Mas quando a filosofia passa a fazer de conta que realmente encontrou a resposta, ela se torna culpada de “engodo” (o que naturalmente não significa que cada um dos pensadores é acusado de cometer fraude intencional!). Quando suas supostas respostas e soluções visam conquistar pessoas da igreja de Jesus, ela age como um conquistador que arrasta pessoas da liberdade da terra natal para a escravidão do estrangeiro.
Evidentemente as coisas com freqüência parecem ser muito diferentes. Acaso não estão no “cristianismo” as amarras, a estreiteza, a pobreza, e lá fora, no debate intelectual da filosofia, a liberdade de pensar, a amplitude, a riqueza?! Sobretudo a geração jovem da igreja sente isso constantemente. Ela corre um perigo especial quando a igreja falha em seu dever de realmente extrair os tesouros da sabedoria e do conhecimento em Cristo e deixar justamente a juventude participar deles: quando os adolescentes na igreja por isso têm a impressão de que todas as perguntas do intelecto vivaz são rápida e superficialmente descartadas e que as pessoas se contentam com a lmera repetição de fórmulas arcaicas. Então são seduzidos pela novidade lá de fora, pela abundância multicor, pela livre ousadia da indagação, pela espirituosa originalidade das respostas, pelo fascínio de grandes personalidades. Por isso a exortação de Paulo possui profundidade e impacto: “Cuidai.” Porque prevalece a verdade de que aquele que se afasta de Jesus e de sua cruz não caminha para a liberdade, mas para a escravidão, não para a abundância, mas para o vazio. Troca a única resposta verdadeira por uma problemática imprevisível. Foi enganado! Aqui é preciso que a igreja, com ardente amor pelos corações, com inabalável firmeza, seja vigilante: “Cuidai para que não haja ninguém que…” No entanto, meras declarações de proscrição obviamente não resolvem. A igreja precisa ter experimentado pessoalmente com exultante gratidão que de fato possui em Cristo a resposta e que por isso também seus mais humildes membros têm uma infinita vantagem sobre os sábios de todo o mundo. Conseqüentemente, ela precisa ser capaz de testemunhar vigorosa e claramente a todos os que estão buscando e procurando o que pode ser encontrado em seu glorioso cabeça, e somente nele. Para isso ela precisa apropriar-se o tempo todo da percepção que Paulo lhe franqueia na carta aos Colossenses. Então ela compreenderá o grande contraste metodológico que Paulo coloca no auge de suas considerações: “segundo os elementos do mundo e não segundo Cristo”. Há duas maneiras radicalmente distintas de contemplar e julgar o mundo e a vida. O cristão o faz segundo “Cristo”. Para o cristão, Cristo não é uma questão de “religião”, um objeto de sentimentos edificantes à parte da vida verdadeira. Cristo é, como Paulo expressou em suas breves e impactantes frases, origem e alvo de toda a realidade. O mundo inteiro, portanto, somente pode ser entendido corretamente quando é visto a partir de Cristo e em direção de Cristo. Essa é a visão de mundo do cristão. Mas os filósofos que tentavam obter influência sobre a igreja em Colossos têm um ponto de vista bem diferente e outro princípio de entendimento, a saber “os elementos do mundo”. O que isso quer dizer?
O conceito “elementos do mundo”, em grego stoicheia tou kosmou, é usado por Paulo – ao contrário do termo pleroma – não apenas aqui, mas também na carta aos Gálatas (Gl 4.3 e 9). No idioma grego, designa primeiramente as letras do alfabeto. A partir daí ele também pode ser usado em sentido figurado, exatamente como o nosso “ABC”. “Elementos” refere-se, portanto, às substâncias fundamentais do mundo. Até hoje o pensamento popular conhece os “quatro elementos”, fogo, água, ar e terra, e conservamos também na química o conceito dos “elementos”. Do mesmo modo também 2Pe 3.10,12 fala simples e objetivamente dos elementos, que derreterão sob o calor da ruína do velho mundo. É óbvio que o pensamento daquele tempo não tinha essa sobriedade cabal, e era em grande proporção mitológico. Os quatro elementos eram considerados poderes espirituais ou pelo menos esferas de domínio de entes espirituais. A língua grega moderna emprega até hoje a palavra stoicheia para demônios locais. Na Antigüidade, porém, encontramos a expressão stoicheia tou kosmou também para descrever astros, especificamente as constelações do zodíaco, às quais se atribuíam uma influência muito especial sobre o curso do mundo. Também as estrelas são “anjos” ou moradas de “anjos”. Por essa razão a temerosa observância de determinados “dias”, sobretudo de “luas novas” (cf. a astrologia atual!), igualmente pode estar relacionado com o culto aos astros. O parsismo levou à agregação de idéias sobre a correlação de “macrocosmos” e “microcosmos”: porventura o ser humano não era formado também pelos mesmos “elementos” que eram reencontrados lá fora, na grande construção cósmica? Não eram “forças que originavam o mundo” que misteriosamente perpassavam todo o universo, tanto o “corpo” do espaço sideral como o pequeno mundo do organismo humano? Não era preciso venerar religiosamente esses “poderes geradores”, da mesma maneira como eram transformados em tijolos da reflexão que buscava explicar o mundo?
Por isso uma parte dos exegetas modernos considera que também na presente passagem da carta aos Colossenses, bem como na carta aos Gálatas, o termo de Paulo stoicheia tou kosmou se refere a esses entes espirituais. Paulo estaria completamente inserido na mentalidade de sua época. Nessa questão seria um fato grandioso que na carta aos Gálatas a apostasia dos cristãos da Galácia para o judaísmo foi estigmatizada como recaída no paganismo, no serviço aos espíritos elementares.
No entanto, impõem-se consideráveis objeções a uma compreensão dessas!
A fé nesses entes espirituais necessariamente deveria ter sido o centro da filosofia religiosa tanto dos colossenses como dos gálatas. Afinal, Paulo não diz que passaram a dedicar interesse a esse tipo de espíritos além de outras coisas e de “poderes” e “potestades”, mas contrapõe o “segundo os stoicheia tou kosmou” ao “segundo Cristo” como princípio dominante de todo o pensar! Por isso, ele tampouco menciona os “elementos” entre os poderes espirituais cujo “desarmamento” por Deus é exaltado no v. 15. Pelo contrário, para ele os colossenses morreram “com Cristo para os elementos do mundo” (v. 20). Também nesse aspecto os “elementos” são importantes e dominam a totalidade da existência de uma forma muito diferente do que todos os poderes angelicais e espirituais que Paulo conhece e cita nas demais vezes. Esta posição tão central e proeminente dos stoicheia, porém, não está suficientemente comprovada como caracaterística da religião sincrética daquele tempo.
Nesse caso Paulo não apenas deveria ter considerado uma fé dessas como um perigo penetrando na igreja de fora para dentro, mas deveria tê-la compartilhado integralmente! Os cristãos em Colossos são chamados de “morridos com Cristo para longe dos elementos do mundo”. Ou seja, viveram anteriormente sob esses “elementos do mundo”. Com nenhuma palavra Paulo dá a entender que isso teria sido apenas fruto da imaginação gentia dos colossenses. Mesmo para ele o fato é simples: sem a salvação por Cristo vivemos sob os elementos do mundo. Isso é corroborado por Gl 4.3. Aqui Paulo se inclui expressamente no “nós” que na época da ignorância vivia escravizado pelos “elementos do mundo”. O judeu e fariseu Paulo, que em Fp 3 se distancia expressamente do judaísmo helenista como “hebreu de hebreus”, teria compartilhado a fé de alguns cultos helenistas a entes espirituais, chamados de stoicheia tou kosmou, a tal ponto de considerar a si mesmo e a todas as pessoas fundamentalmente sujeitas a esses entes espirituais, antes que viesse o Cristo?! Ao mesmo tempo, porém, teria ele classificado como “fraca e pobre” a importância desses entes espirituais, que em muito sobrepujam todos os “tronos, dominadores, poderes e potestades” (Gl 4.9)? Esses “fracos e pobres” seres espirituais não são desarmados e desmascarados com os demais “poderes”, mas seriam tão fundamentais para a nossa existência que, contrastando com a figura de Cristo, pudéssemos transformá-los em princípio da explicação do mundo, sendo necessário “morrer” para eles, assim como se morre para o mundo e o pecado?
Não, essas tentativas modernas de explicação produzem um quadro totalmente impossível. Não explicam, mas somente defrontam com enigmas. Por isso caberá voltar a supor que as palavras de uma língua por um lado podem ter significados específicos e conotações peculiares em determinados círculos, mas que por outro lado não é absolutamente forçoso que outras pessoas que utilizem o termo também associem a ele essa conotação peculiar, uma vez que as palavras não perdem seu sentido genérico no idioma. Antes de transformar Paulo em adepto de uma determinada seita helenista que venerava os “elementos cósmicos”, precisamos verificar se o entendimento comum e simples da expressão stoicheia tou kosmou não rende um bom sentido para as afirmações de Paulo.
É o que de fato ocorre. A palavra “elementos” é um acréscimo elucidativo para o termo “mundo”, que Paulo usa com freqüência e de maneira fundamental. O “mundo” é este mundo humano separado de Deus e por isso sombrio e moribundo. Realmente somos escravizados por seus “elementos”, seus traços, poderes e concepções rudimentares, e até mesmo pela lei, como os israelitas, até que Cristo nos liberte para uma nova existência. Por isso toda reflexão sobre o mundo e o ser humano caminha irremediavelmente nos círculos dessas linhas básicas do mundo (“segundo os elementos do mundo”). Sem conseguir superá-lo, o mundo sempre volta a repetir seu velho abecedário, em todos os sistemas filosóficos e não obstante a grandiosidade das realizações intelectuais . Essa ladainha é sempre “pensamento legalista”, como reconheceram os Reformadores, com profundo reconhecimento da natureza do ser humano (dos “elementos do ser humano”). Daí a estreita ligação entre “preceitos” e “elementos do mundo”. Os stoicheia, portanto, não fazem parte dos “poderes” que Deus desarma e desmascara. Pelo contrário, precisamos e podemos “morrer” para eles, de sorte que somos retirados do mundo e de sua essência básica elementar. A partir de Cristo, porém, vemos como são “fracas” e “pobres” as linhas e traços rudimentares do mundo, mesmo quando antes o mundo nos pareceu tão rico, uma matéria inesgotável para nossa reflexão e nosso agir. Por isso, dar ouvidos àqueles que não vêem as coisas na radiante luz do Cristo, mas buscam nos fracos e pobres elementos do mundo os princípios de sua visão de mundo não seria enriquecimento e aperfeiçoamento, mas “condução para a escravidão”.
Na seqüência podemos notar como essa moldura poderosa e de validade atemporal é preenchida com a controvérsia contra a visão de mundo específica que naquele tempo ameaçava causar dano aos colossenses. Tentaremos também encontrar aqui, em tudo o que parece estranho e curioso, tendências do coração humano que não é tão estranho e desconhecido para nós. Isso se torna ainda mais importante porque é muito difícil extrair das alusões da presente carta e do nosso conhecimento geral do pensamento e da vida daquele tempo uma idéia histórica realmente segura e clara da “visão de mundo” de que se trata aqui. Até mesmo pesquisadores conscienciosos e de amplo saber divergem consideravelmente em suas concepções. Isso é possível pelo fato de que na realidade se trata de “sincretismo”, de uma “mescla” de idéias, concepções e esforços das mais diversas formas e mais coloridas origens. Hoje temos dificuldade em distinguir tais mesclas, e nos respectivos conceitos persiste a imprecisão a respeito de a qual componente da mistura pertencem e que sentido específico conseqüentemente possuem. Afinal, estamos na época do “helenismo”. No encontro entre a Grécia e o mundo oriental as mais diferentes linhas de pensamento, concepções de religião, costumes cultuais e configurações de vida haviam exercido influência uma sobre as outras, associando-se e estimulado-se para formar as mais diversas mesclas.
No entanto, não se deve omitir um aspecto nessa questão: a influência muito intensa do judaísmo que, assim como na Galácia ou em Corinto, evidentemente também atuava em Colossos. Tanto aqui quanto na Galácia a circuncisão é um tema bastante discutido! Trata-se (sobretudo quando antecipamos o olhar para o trecho seguinte) de “preceitos”, do cumprimento do sábado e de outros dias sagrados, de proibições de alimentos e prescrições de purificação. Ao advertir aqui contra uma “filosofia” que se alicerça sobre “a tradição das pessoas”, esse conceito apresentado por Paulo nos coloca diretamente diante de Mc 7.8, ou seja, no âmbito de Israel! É provável que a nova maneira de pensar se tornasse perigosa para uma igreja apenas pelo fato de apelar para o AT e a antiqüíssima religião de Israel. Portanto não podemos acompanhar a tendência das pesquisas que durante muito tempo buscaram uma base para as explicações exclusivamente no contexto grego do NT.
Fato é que naquele tempo Israel já não estava restrito a Canaã e já não era um povo coeso em um território próprio. Havia judeus em todas as partes do mundo, realizando intercâmbio não apenas comercial mas igualmente intelectual com seu entorno. Levaram para dentro do sincretismo da época suas convicções, sua lei, seu modo de vida religioso, acreditando que com isso podiam fornecer uma resposta especial a buscas, anseios, sonhos e indagações de seu contexto, assim como de seu lado também foram influenciados pelo pensamento dele. Sob esse enfoque cumpre compreender o que começava a mexer também com os cristãos em Colossos.
Aparentemente trata-se de dois grandes conjuntos de perguntas. Inicialmente está em jogo a “pureza”. A Antigüidade tardia é uma época de desenfreamento e decomposição. Paulo pode se arriscar a descrever essa época como faz em Rm 1.18ss, sem precisar temer o protesto dos romanos. As velhas religiões populares com sua moral religiosa haviam acabado. Não existiam mais estados independentes com sua respectiva ordem e moralidade política. Em que, pois, as pessoas deveriam se basear na vida? O corpo humano, admirado por sua beleza e celebrado nos esportes públicos, esbaldava-se de forma desenfreada com seus impulsos ardentes. Desfrutar a vida, quer de forma refinada ou grosseira, parecia ser o sentido e o conteúdo da vida. Mas a voz da consciência não podia ser sufocada. Mesmo as pessoas daquela época sabiam o que é sentir “o fardo dos desejos”. Também elas percebiam a impossibilidade de transformar o desfrute da vida em alvo da existência: “Cambaleio, pois, do desejo à fruição, e na fruição morro de desejos.” Por essa razão, a época era perpassada por um anseio por uma “vida” que verdadeiramente valesse a pena. Ao mesmo tempo era um ardente anseio por “pureza”, por libertação da escravidão dos instintos e das paixões. A veneração errada do corpo guinou para um desprezo muitas vezes mórbido pelo corpo, um terror diante da “carne”. Não estava tudo conspurcado e deturpado? A vida não era na realidade uma morte, que prendia as pessoas?
O judaísmo, entendido como “filosofia para todos”, respondia: nós temos para vocês as instruções claras para a vida, nos mandamentos, na lei. Temos justamente os preceitos que vêm ao encontro ao seu anseio por “pureza”, dizendo a vocês o que evitar para se preservar diante desse mundo deturpado e impuro. Organizamos a vida de vocês com uma série de dias sagrados. E nós temos a circuncisão! Quem se deixa circuncidar é retirado do paganismo, da humanidade corrupta. Na circuncisão é “podado” o corpo, a “carne”, justamente com seus desejos mais perigosos e impuros. Dessa maneira vocês encontram o que procuram: pureza, que os torna aptos para o mundo divino de eterna vida e luz. – Isso não era plausível? Isso não seria também o caminho para a igreja em Colossos, se ela quisesse levar sua fé inteiramente a sério e ser realmente uma igreja de puros e santos neste mundo cheio de tentação e sujeira?
Um segundo aspecto se agrega a isso. Afinal, lidamos simples e unicamente com Deus no mundo? Porventura os anjos já não tinham uma importante função no AT, inclusive como mediadores entre Deus e humanos, até mesmo governando e dirigindo os acontecimentos em nações inteiras (Dn 10.13,20s)? A visão de mundo daquele tempo não teria razão em falar muitas coisas acerca de todos os mundos e seres intermediários entre a divindade e a terra, dos “poderes” e “potestades”? Porventura não era necessário que se estabelecesse um relacionamento com esses “poderes”, conquistando seu favor e auxílio e ambientando-se em seu misterioso reino? O caminho até Deus não passava primeiro por esse reino? O ser humano daqueles dias, assim como todo “gentio” e também ser humano moderno e esclarecido com sua astrologia, seu “pé-de-coelho”, sua “ferradura”, seu amuleto no carro e no avião, suas benzeduras, seu medo diante do número 13, diante do “dia de azar” da sexta-feira, etc., considera-se rodeado de “poderes”, “espíritos”, “ancestrais”, “feitiços”. Depara-se com eles a cada passo, devendo conhecer a maneira correta de lidar com eles, a fim de proteger-se de sua maldade e obter sua ajuda. Agora, pois, tudo isso era explicado pela “filosofia”, mediante o uso de antigos fundamentos “bíblicos”, e mostrava-se simultaneamente o caminho para o poderoso reino que preenche o abismo entre “Deus” e “mundo”. Porventura a igreja em Colossos podia simplesmente passar ao largo dessas questões importantes? Não haveria restado aqui uma lacuna irresponsável, perigosa, na instrução recebida até então da parte de Epafras? Quem conhece a profundidade com que os temores mágicos habitam no coração humano pode imaginar a apreensiva inquietude com que os colossenses ouviam o que pessoas “experientes” lhes expunham detalhada e insistentemente acerca desses “poderes originários” e entes espirituais.
Como, pois, Paulo se posicionou diante de todas essas questões? Para nós é muito importante e instrutivo observar seu modo de proceder. Não entrou em quaisquer controvérsias específicas. Não combateu opiniões isoladas, não desvendou equívocos específicos, não tentou corrigir concepções particulares. O único resultado disso é, sempre, conversas com desfecho imprevisível.
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