Estudo sobre Colossenses 2:16-17

Estudo sobre Colossenses 2:16-17


Depois dos esclarecimentos fundamentais vem agora uma breve controvérsia com as diversas acusações e ataques com que a igreja em Colossos se defronta. A resposta aos grupos que interpelavam a igreja resulta automaticamente de tudo o que foi dito antes – o trecho inicia com “por isso” – e apresenta simplicidade e clareza objetivas. Evidentemente deparamo-nos nela com diversas expressões e conceitos que não conhecemos das demais cartas de Paulo. Além disso, justamente nessas frases o texto grego está nitidamente prejudicado. Por isso o comentário forçosamente permanecerá impreciso em um ou outro ponto.

A igreja é “criticada”. Essa crítica brota de sua atitude prática diante de coisas bem determinadas. A igreja lida sem receios com alimentos e bebidas. Que pouca seriedade, que pouca santidade isso reflete! Quem realmente leva sua conduta “santa” a sério precisa, afinal, observar: “Não pegue! Não experimente! Não toque!” A igreja igualmente segue despreocupada com os dias. Não se importa com as fases da lua e não cumpre o sábado. Como pode ser tão leviana! Como são importantes os dias festivos, que na verdade estão relacionados com o curso dos astros e, portanto, com os poderes espirituais que governam os astros! Ainda mais o sábado! Ele já fora instituído já na criação e incutido pelo AT com tanta veemência![Ainda que as fontes helenistas evidenciem que a veneração dos astros levava à temerosa “observância sagrada” de determinados dias particularmente ligados às fases da lua, e ainda que a crítica à igreja em Colossos possa remontar a tais convicções helenistas astrológicas, não se pode desconsiderar que o AT empregava exatamente a mesma constelação “festas, luas novas, sábados”, p. ex., em 2Cr 2.4; 31.3; Is 1.13; Ez 45.17; Os 2.13. Não há necessidade de que as explicações sejam primeiro buscadas de forma complicada, como a pesquisa gostava de fazer em certa época! De qualquer modo a prática astrológica dos gentios somente podia causar impacto em uma igreja de Jesus se simultaneamente conseguisse se apresentar como “bíblica” e argumentar com a Bíblia.] A igreja deixa isso simplesmente de lado?! Então ela jamais conquistará o prêmio da vitória, jamais será coroada por Deus!

No entanto, se a igreja em Colossos leu e entendeu corretamente o que Paulo e Timóteo lhe escreveram no trecho anterior, ela também compreenderá a continuação consequente: “Por isso ninguém vos critique…” Naturalmente não pode evitar que essa crítica seja expressa contra ela. Porém não deve permitir que isso a abale ou derrube. Deve rejeitar com clareza e firmeza essa crítica.

“Comida e bebida” – Jesus já apontara para o fato de que essas coisas na realidade não podem contaminar o ser humano, “porque não lhe entra no coração, mas no ventre, e sai pela via natural” (Mc 7.19). Do mesmo modo, também Paulo constata que “todas essas coisas, com o uso, se destroem” [v. 22]. O que terão, pois, a ver com nossa santidade perante Deus? Deixem os críticos falarem!

E a pergunta a respeito dos “dias de festa”? Do “sábado”? Paulo explicita a questão com a ilustração do “corpo” e da “sombra”. Um corpo lança sua sombra e pode ser reconhecido pela sombra, segundo seu contorno. Porém o essencial não é a sombra, mas o próprio corpo. Assim o mandamento do sábado de Israel também é “apenas uma sombra do que haveria de vir, o verdadeiro corpo é do Cristo”. Os mandamentos e regras dados a Israel eram tão-somente a sombra projetada de uma coisa cuja realidade plena pertence somente a Cristo e chegou nele e com ele. Um dia específico era separado para Deus e considerado “santo”, em um único dia havia “repouso sagrado”. Contudo isso não passava de um prenúncio, um indício em forma de sombra de uma realidade muito mais gloriosa. Para Deus não contam os dias específicos que economizamos para ele; Deus se importa com toda a nossa existência, com cada dia e cada hora. Habita em Deus um repouso sagrado que não apenas interrompe a cada sete dias a atividade intensa e apressada em favor do próprio eu, mas que tranquiliza a vida inteira no meio da inquietação do mundo. Jesus trouxe esse sábado verdadeiro e essencial: em Mt 11.28 ele declara: “Eu vos darei descanso.” Jesus pronunciou essas palavras em aramaico, que nós certamente poderíamos traduzir assim: “Eu vos preparo o sábado.” Não é por acaso que Mateus relata no cap. 12 exatamente as controvérsias de Jesus com os fariseus sobre a questão do sábado. Quem compreendeu o que Paulo recomenda expressamente aos colossenses em Cl 3.17: “Tudo o que fizerdes, seja em palavras seja em ação, fazei tudo em nome do Senhor Jesus”, e o que recomendou encarecidamente aos coríntios em 1Co 10.31: “Quer comais, quer bebais ou façais outra coisa qualquer, fazei tudo para a glória de Deus”, esse já não conhece em sua vida a diferença entre tempos e dias “sagrados” e “seculares”. Portanto mais uma vez, agora nessas questões específicas que representavam o teor da crítica de determinados grupos aos colossenses, envolver-se com as ideias dos críticos não seria ganho, mas perda, não será uma santificação maior e mais profunda, porém uma limitação muito mais pobre e inferior! Quem tem o “corpo” não tentará obter a “sombra”! Deixem os críticos falarem!


Em suas palavras Paulo mantém uma grande sobriedade. Na verdade os colossenses já estão “repletos em Cristo” (v. 10) agora. O que “haveria de vir”, que a lei apenas projetava em forma de sombra, já existe e se tornou atualidade, porque e na medida em que Cristo, o cabeça da igreja, está presente. Mas obviamente seu cumprimento pleno e definitivo será concedido somente quando a igreja tomar posse da herança dos santos na luz. Então será plenamente “sábado”, uma festança eterna no serviço perfeito para Deus. Quem, porém, caminha em direção a esse cumprimento não tenta mais agarrar as sombras.