Estudo sobre Colossenses 2:19-22
Estudo sobre Colossenses 2:19-22
Isso se evidencia caracteristicamente em um ponto: no relacionamento com Jesus. Jesus, afinal, é o “cabeça, a partir do qual todo o corpo cresce seu crescimento divino”. O “cabeça”, pois, precisa continuar sendo sempre o “principal”: unicamente Jesus, unicamente a ligação vital com Jesus, o cabeça, e mais nada. Nos críticos, porém, a questão do cabeça é reprimida por suas próprias peculiaridades: sua própria atitude de humildade, sua veneração de anjos, suas visões. “Não se apegam ao cabeça”. Dessa maneira julgaram a si mesmos. Se os colossenses os seguirem, serão arrastados para longe de Jesus. Da mesma maneira perderão a ligação com o corpo todo. O corpo cresce a partir do cabeça, sendo “suprido e conectado pelos ligamentos e tendões”. Paulo não detalha mais a metáfora do “corpo”. No entanto, alertou os colossenses de que no corpo tudo é interdependente. Retorna aqui a mesma palavra “conectar, manter coeso” que Paulo já empregara no começo do capítulo: “vinculado juntamente em amor” (v. 2). Ele torna a pedir: não se deixem arrastar para a escravidão, permaneçam juntos, continuem na união de todo o corpo, apeguem-se firmemente ao cabeça! Somente assim haverá também para vocês um “crescimento divino”. O “corpo de Cristo” na verdade não é engenho humano, não é organização humana. Seu surgimento acontece misteriosamente a partir do cabeça, Jesus, que é o “começo”, a “origem”, do corpo como o “primogênito dentre os mortos” (cf. Cl 1.18). Por isso o verdadeiro crescimento divino também existe apenas no âmbito desse corpo, a partir do cabeça. Quando os colossenses se separam da ligação com esse corpo exclusivo, perdem a vida e o crescimento divinos, a verdadeira existência espiritual, exibindo então somente aquele “inflar-se” que constitui uma caricatura do crescimentos autêntico e não procede de Deus, mas da carne.
O retrocesso fatal que é apregoado aos colossenses como “progresso” e “perfeição” se mostra mais uma vez de maneira fundamental. Todos esses esforços legalistas de santificação, que se ofereciam à igreja, na verdade deveriam servir, segundo a convicção de seus representantes, para libertar os cristãos sérios das coisas “mundanas”. O máximo cuidado para não pegar isso nem degustar aquilo nem tocar aquela outra coisa, a fim de nos distanciarmos o mais possível do “mundo”! Contudo esses “preceitos” nada fazem além de justamente amarrar ao mundo. Pressupõem pessoas que “ainda têm sua vida no mundo”. Os crentes em Cristo Jesus, porém, estão separados do “mundo” com clareza e nitidez infinitamente maiores, até mesmo quando tocam, experimentam e pegam tranquilamente todas as coisas “que, com o uso, são destinadas à destruição”: “afinal, morreram com Cristo para longe dos elementos do mundo”. Ninguém está tão separado do mundo quanto o morto. Paulo acredita que os colossenses são capazes de testemunhar como ele, com alegria e clareza: “A vida para mim é Cristo” (Fp 1.21). O “mundo” com tudo o que é contrário a Deus e deteriorado, não é mais minha “vida”; não atrai mais meu coração nem preenche mais minha mente e meus anseios. Essa é uma separação do “mundo” bem diferente e muito mais profunda do que permanentemente evitar centenas de coisas com temor, porque a rigor ainda são tentadoras e perigosas para mim. Por isso, “se morrestes com Cristo para longe dos elementos do mundo, por que, como se ainda tivésseis a vida no mundo, vos deixais impor preceitos?” Também nesse caso os colossenses novamente trocariam apenas “corpo” por “sombra”, liberdade real por escravidão. Deixem os críticos falarem! O que vos dizem não vem de Cristo, mas corresponde “a mandamentos e doutrinas dos seres humanos”. Aos cristãos em Colossos, atacados com palavras do AT, Paulo mostra por meio de uma citação de Is 29.13, aduzida também por Jesus, em Mt 15.9, que já nos profetas Deus se voltou contra a “santidade” que, apesar de todo empenho por coisas cultuais, deixava o coração distante de Deus. É esse o recife em que soçobra toda a santificação legalista: Toda obediência temerosa (ou orgulhosa!) de preceitos, enfim, é incapaz de mudar o coração! Em decorrência tudo não passa de mera “sombra” ou acaba até mesmo na mais maligna hipocrisia.
Sendo tudo assim, porém, como é possível, então, que os críticos da igreja pensem de modo tão diferente? Paulo não teme responder: Porque no fundo algo não está em ordem com eles próprios!