Estudo sobre Colossenses 2:11-12

Estudo sobre Colossenses 2:11-12


Paulo leva muito a sério o que move as pessoas daqueles dias. “Pureza?” Ah, sim, o anseio de vocês está certo! O “corpo carnal” [Essa formulação “corpo da carne” é muito importante. Preserva a autêntica visão bíblica contra o “idealismo” grego. Enquanto este já considerava a corporeidade em si como má e perniciosa, sonhando com a “alma” divina em si mesma, para a Bíblia a corporeidade é vontade fundamental de Deus, que também configura o mundo da perfeição cabalmente como corpo. Um novo céu, mas também uma nova terra e um novo corpo - essa é a esperança das pessoas bíblicas. Contudo, ao ser determinado pela “carne”, o corpo atual e seus “membros” constituem a esfera especial de poder do pecado e precisam ser “despidos”, se quisermos chegar à liberdade de uma vida pura e divina.] com suas concupiscências e desejos é algo terrível. O ser humano precisa ser liberto dele. Trata-se de “despir-se do corpo carnal”. No entanto, será que isso se resolve por meio de uma “circuncisão” exterior, uma cerimônia “executada com a mão”? Será mesmo que vocês se livram desse corpo carnal ao retirar um pedacinho externo dele? Afinal, há uma ajuda radical bem diferente, uma “circuncisão” muito mais poderosa e eficaz que a recomendada a vocês neste momento: uma “circuncisão de Cristo”. Ela foi dada a vocês no batismo. Como assim? Não devemos onerar a interpretação de passagens como essa com as aflições e perguntas que surgiram entre nós por causa do batismo indiscriminado de bebês. Aqui se trata de um batismo que, sendo um evento axial, se situava no centro de uma clara história divina na vida das pessoas. Como mostra a continuação na frase seguinte, não é, de forma alguma, um evento mágico que sucede ex opere operato, i. é, pela mera realização do batismo em si. Batismo e fé estão completamente interligados, formando uma unidade inseparável. Quem pretende aplicar a uma pessoa batizada a afirmação “sepultada com Cristo no batismo”, somente pode e tem permissão para fazê-lo quando puder aplicar livre e nitidamente a ela também a segunda afirmação, “ressuscitada com ele mediante a fé”. A fórmula baptizein eis to onoma = “batizar no nome de”, designa a entrega do batizando a Cristo, uma transferência que em última análise só pode ser realizada com o consentimento intencional desta pessoa na fé, na confiança integral ao outro. Consequentemente, no batismo os colossenses se tornaram propriedade de Jesus. Ali o próprio Cristo agiu neles, “podando-os” da forma mais definitiva possível ao levar consigo para a morte e a sepultura todo o seu corpo carnal, toda a sua natureza egocêntrica. Afinal, não é possível livrar-se de maneira mais definitiva e perfeita do corpo carnal do que cobrindo-o na sepultura! É isso que eles podem captar constantemente pela fé, tendo o privilégio de possuir assim de modo perfeito o que a nova filosofia e todas as suas cerimônias de purificação e mesmo a circuncisão adotada em Israel conseguiram no máximo iniciar de forma precária.


Essa é a verdade e ajuda decisiva também para nós. Ainda que nossa visão de mundo tenha aspectos bem diferentes do que naquele tempo – nossa condição interior e o anseio por “pureza” não são diferentes do que no passado. Deparamo-nos de forma idêntica com o “corpo carnal”. E por acaso na nossa vida a pergunta decisiva não é também como “despir-se” dele? Também a nós são oferecidos muitos meios de “santificação”, quer éticos, quer cultuais. Contudo nós também podemos nos tornar propriedade de Jesus, e de forma tão realista que igualmente nos tornamos co-participantes de sua morte e sepultura. O fundamento de toda santificação genuína e de toda vitória concreta na vida aqui e agora é apreender com fé a morte, que nossa cabeça já concretizou em nosso ser egocêntrico perante Deus e por isso com o máximo de realismo. Por isso essa união de voz ativa e passiva, a princípio estranha, também é bem condizente com a questão.

Podemos “nos livrar” ativamente desse corpo determinado pela carne somente pelo fato de assumirmos com fé o que esse nosso corpo experimentou passivamente na morte de Jesus. Nenhuma “santificação” consegue ser ativa diretamente reconhecimento de fato cremos que fomos crucificados e sepultados junto com Cristo.