Estudo sobre Colossenses 2:5-6

Estudo sobre Colossenses 2:5-6


Ao acrescentar ao v. 4 a justificativa: “Pois, embora ausente quanto à carne…”, Paulo talvez tenha em vista uma capacidade de “convencimento” muito específica nas pessoas que tentam obter influência na igreja. Essas pessoas podem ter dito aos colossenses algo como: “Epafras apenas lhes passou ensinamentos de segunda mão: afinal, é apenas um aluno de Paulo. O próprio mestre, porém, não se importa com vocês, deixando-os estagnados em seu cristianismo imperfeito. Por isso nós prestaremos esse serviço a vocês!” Paulo adverte: “Não se deixem envolver por isto. Com ardentes lutas estou empenhado também pelas igrejas em que ainda não pude estar pessoalmente. “Pois, embora ausente quanto à carne, contudo, em espírito, estou junto de vós” e vejo qual é vossa situação. Também por vocês colossenses estou lutando, para que cada pessoa chegue à perfeição em Cristo. Porque considero-me responsável também por vocês na incumbência que tenho de Cristo. Cumpre vermos a ligação de Paulo com os colossenses em toda a sua realidade. O idealismo nos confundiu, involuntariamente compreendemos por “espírito” nossa “espiritualidade”, nosso diáfano mundo intelectual. Em Paulo, porém, trata-se de “Espírito Santo”, ou seja, de uma realidade divina! Ele não diz: estou com vocês “em pensamentos” e tenho uma ideia da vida eclesial que vocês têm. Não, pelo Espírito Santo ele possui, por tudo que Epafras e outros lhe relataram, uma percepção divinamente dada a respeito da condição dela. Assim como o anúncio dirigido pelo Espírito Santo (o propheteuein) faz com que pessoas completamente estranhas se sintam dissecadas até o fundo do coração (1Co 14.24s), assim a vida de uma igreja desconhecida torna-se transparente para o apóstolo por meio do Espírito Santo. No Espírito Santo ele está realmente “junto deles”. Essa dissecação não entristece Paulo. É capaz de afirmar: “Alegro-me”. Pode constatar ali “vossa ordem”, uma situação bem organizada, e “a firmeza da vossa fé dirigida a Cristo”.

No entanto, experiências muito dolorosas ensinaram Paulo que a preservação dessa situação boa e agradável na vida da igreja não é evidente. Constatou, p. ex., com “surpresa” como as igrejas da Galácia rapidamente se afastaram dele, que na verdade os havia chamado à graça de Jesus, dirigindo-se a “outro evangelho” (Gl 1.6). Por isso exorta, pois, também os colossenses. Eles “receberam o Cristo Jesus como o Senhor”. É com “receber”, e não com nosso agir e realizar que começa a condição cristã. Aqui como em outras passagens importantes (1Co 11.23; 15.1; Gl 1.9,12; 1Ts 2.13; 4.1; 2Ts 3.6) Paulo emprega um termo que já lhe era familiar da sinagoga. “”Receber” a “tradição” dos pais e “retransmitir” o que foi recebido, era nisso que consistia a essência da erudição dos escribas. O conjunto de conceitos paradidónai e paralambánein = “transmitir” e “receber” desde cedo fazia parte do contexto de vida de Paulo como judeu e fariseu. Mas a mesma dupla de termos também aparece no mundo dos cultos de mistérios, a fim de designar a transmissão e recepção de misteriosas consagrações, forças e conhecimentos. Novamente nos deparamos, pois, com palavras que podem ser termos técnicos de conotação específica, mas que também são usados no linguajar comum em múltiplos sentidos diferentes. Quer Paulo dê a essas palavras intencionalmente yna conotação semelhante à expressão dos mistérios diante de seus leitores helenistas, quer ele as use naturalmente com base em sua educação como fariseu – não é isso que dá significado ao que o cristão e apóstolo Paulo diz. Temos de verificar no próprio Paulo que sentido ele associa aos termos. Com toda a certeza só Jesus conhecemos no cristianismo pela “tradição”. Não podemos imaginar um Jesus por nossa conta, precisamos “receber” da tradição informações sobre quem e como era esse Jesus Cristo, o que ele disse e fez. Não é à toa que as palavras “Jesus Cristo” venham precedidas pelo artigo definido. É provável que aqui a noção da palavra “Cristo” seja o que ela de fato é: não nome próprio, mas título, o título real de “Messias”. Jesus é o Cristo, o Messias. Mas o artigo no mínimo define toda a determinação da personalidade a que os colossenses se entregaram com todo seu ser. “Essa é a luz da altura, esse é o Jesus cristão”, diz também o poeta E. M. Arndt. Por isso perseveramos até os dias atuais no ensinamento dos apóstolos, para vir a conhecer esse Jesus definido, real, de forma cada vez mais clara. Apesar disso é característico para Paulo que também nesse aspecto ela tenha rompido radicalmente com o farisaísmo de seu passado. “Aceitar um ensinamento”, apropriar-se pelo aprendizado de uma “tradição”, continua sendo “carne”, no sentido de Fp 3. Quando o fariseu Saulo se tornou um cristão ele não trocou uma doutrina deficiente por uma melhor, porém considerou tudo o que vinha antes como perda, a fim de ganhar uma pessoa com toda a sua plenitude de vida, e ser encontrado nela. Diante dos gálatas ele enfatizou frequentemente que nem mesmo se tratava para ele de uma doutrina ou tradição de seres humanos, e que só visitara os apóstolos em Jerusalém bem mais tarde e por pouco tempo, ou seja, que não se encontrava em uma corrente de tradição humana (Gl 1). Também adverte os colossenses no v. 8 contra as “tradições dos seres humanos”. De qualquer modo não receberam “doutrinas”, mas “o Cristo Jesus como Senhor”, a pessoa de Jesus viva e definida, o Mestre irrestrito da vida pessoal, porque ele também é o “Senhor”, i. é, o Juiz e Consumador do mundo.


No entanto, justamente porque não receberam um conhecimento de diversas verdades que pudessem levar tranquilamente para casa na forma de outro “saber”, conservando-o ali, mas por lhes ter sido concedido um Senhor vivo, eles não podem permanecer estagnados no que se chama “crer em Cristo”. Um “senhor” dispõe sobre toda a nossa vida e gera em nós movimento ativo. Por essa razão trata-se de “andar nele”, o que transforma Jesus cada vez mais plenamente em nosso Senhor, “para que já não busquemos outro Mestre”.