Estudo sobre Colossenses 2:8
Estudo sobre Colossenses 2:8
Paulo concedeu pleno valor ao “entendimento” prático por meio das considerações sobre a grandeza de Jesus (Cl 1.15-20) e em termos teóricos por meio de suas exortações à igreja (Cl 2.2s). Contudo ele tinha em vista o conhecimento de Cristo, um perguntar, pesquisar e entender que permanecesse integralmente ligado a Jesus, à sua pessoa e sua obra de redenção. Acontece, porém, que há no mundo uma abundância de reflexões sobre Deus, o mundo e o ser humano, sobre o viver e agir corretos do ser humano, resumidos no conceito de “filosofia”. Quando esse tipo de reflexão é vigoroso no entorno de uma igreja de Jesus, quando ela talvez até apresente traços religiosos e acabe incorporando idéias cristãs, nem mesmo a igreja permanece imune a ela. Porventura esse tipo de filosofia não cria novos acessos para pessoas valiosas? Sim, será que a filosofia não é capaz de, por assim dizer, enriquecer o cristianismo, elevando-o então, talvez, à altura mais nobre? Aparentemente havia em Colossos membros da igreja que também dialogavam com pessoas interessadas em filosofia e que lhes expunham tais pensamentos. Que posição a igreja tomará diante disso?
Faremos bem em não tratar de imediato das diversas opiniões concretas da filosofia específica daquele tempo, que na verdade só pode ser depreendida com dificuldades do presente texto e de precários fragmentos literários daquela época, e que hoje em dia causam uma impressão bastante estranha. Pelo contrário, devemos captar primeiramente a verdade decisiva que vale para todos os tempos e todas as filosofias e que por isso também é importante para nós.
“Filosofia” – essa palavra designa um empreendimento do intelecto humano diante do qual a princípio podemos ter a máxima deferência. O ser humano é a única criatura que não consegue viver sem fazer perguntas. Toda estrela segue sem discutir sua trajetória predeterminada. Toda planta cresce sem questionar a forma que lhe é imposta. Todo animal cumpre sua vida sem indagações. Nenhum cachorro pergunta como poderia tornar-se um cachorro “verdadeiro”. Mas o ser humano precisa perguntar a si mesmo como tornar-se um verdadeiro e correto ser humano. Esse fato depõe inconscientemente em favor da criação do ser humano à imagem de Deus, bem como de sua queda no pecado. O ser humano também tem de perguntar de onde vem e para onde vai. Nele domina a pulsão “faustiana” de “que eu descubra o que mantém o mundo coeso em seu cerne”. Pergunta por origem, sentido e alvo de todo o mundo, pergunta por “Deus”. O fato de que é impelido a perguntar assim constitui sinal de sua grandeza e sublimidade. Nesse sentido, toda pessoa viva é um “filósofo”. É com emoção e reverência que observamos repetidamente que o ser humano, além de seu duro trabalho profissional, reflete e lê e constrói para si uma filosofia. Como cristãos não temos nenhum motivo para olhá-los com desprezo ou hostilidade.
Algumas pessoas investiram o trabalho de sua vida nessas perguntas, buscando por respostas com ardente empenho, dia e noite. São “os filósofos” no sentido específico. A obra de sua vida não pode ser deixada fora da história intelectual da humanidade. Platão, Aristóteles, Descartes, Leibnitz, Kant, Hegel, Heidegger (para citar apenas alguns nomes) – quantas influências partiram deles!
Contudo, o fato arrasador dessa obra da filosofia, na qual os melhores investiram o empenho máximo de seu pensamento, é que essa obra fracassou. Goethe, um não-cristão, porém profundo conhecedor do ser humano, expressou essa dura verdade na forma leve de um versinho que parte de 1Sm 16.11:
“Sim, também me deparei com esse caso,
quando aos sábios ouvi e li.
Perguntei: afinal, são esses aqui,
são eles a turma toda?”
Evidentemente o sentido é: isso é tudo que resultou da filosofia? Enfim, ainda falta aquela pessoa determinante, que de fato tenha algo a dizer, que de fato tenha a resposta! É verdade: vinte respostas para uma pergunta candente não são resposta alguma. Quando cada filósofo refuta seu antecessor e derruba criticamente o edifício de sua visão de mundo, então isso se resume a um sinal de que a verdadeira resposta não foi encontrada. O mesmo Goethe expressou isso na obra Fausto, em tom deprimentemente trágico:
“Que carranca debochada, ó caveira oca,
como se tua mente, igual à minha, outrora confusa,
tivesse buscado a luz e em denso crepúsculo,
ansiando por verdade, ficasse terrivelmente frustrada!”
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Colossenses 2:8