Estudo sobre Colossenses 2:14

Estudo sobre Colossenses 2:14


O que dizer, porém, dos “preceitos” que começavam a parecer tão sedutores aos colossenses? Novamente Paulo não discute com preceitos específicos, como se apenas eles estivessem errados, precisando ser substituídos por outros melhores. Afinal, trata-se do nível em que se desenrola, interminável e sem esperança, a luta das diversas visões de mundo e sistemas de vida. Paulo não tem nada a ver com essa luta. Sua pergunta novamente é muito mais radical: o que, afinal, ganhamos com “preceitos”, sejam eles quais forem, com todo esse “deves – não deves”? Ganhamos – “o escrito de dívida contra nós”! Porque preceitos admitidos valem como dívidas financeiras admitidas. Essa é toda a nossa miséria: os “preceitos” de forma alguma são apenas arbítrio e tolice, o “deves – não deves” possui uma profunda razão que nossa consciência reconhece e precisa reconhecer, e nós de fato permanecemos em débito para com os preceitos. Consequentemente, a “nota promissória” se torna cada vez maior, a cada dia e hora. Por acaso os colossenses não veem o que estão fazendo ao permitir que lhes sejam impostos cada vez mais preceitos? Como é cego todo o entusiasmo com preceitos!


Pelo contrário, está justamente em jogo a ardente pergunta de como livrar-se das dívidas, como colocar de lado o comprovante de dívida que acusa e atormenta de forma cada vez mais terrível. Quem envereda pelo caminho de novos preceitos, age como um endividado que tenta se livrar das dívidas assinando novas notas promissórias, cada vez piores. Esse procedimento absurdo e deplorável está em voga tanto no mundo moral quanto na vida comercial. Acontece que a nota promissória jamais pode ser arbitrariamente rasgada por nós, os culpados. Como todo devedor real somos reféns indefesos de nossa dívida. Foi então que Deus interveio. Ele o fez de maneira divina. Não considerou nosso escrito de dívida uma ninharia. Nesse caso jamais poderíamos ter confiança em Deus! Tampouco o anulou em segredo. Nesse caso, tudo permaneceria incerto para nós! Não, de forma divinamente pública, perante os olhares do mundo inteiro, perante os olhares do céu e do inferno ele cancelou o débito, “pregando-o na cruz”! Tão-somente nos resta considerar isso um fato inconcebível, agradecendo por ele com coração aliviado e consciência liberta. No entanto, quem realmente constatou isso jamais poderá tornar a buscar ajuda e salvação nos “preceitos”.

Novamente a carta fala simplesmente “de nós”. O próprio Paulo já havia indicado isso quando, ao falar do perdão de Deus, substituiu o contínuo “vós” e “vos” por um chamativo “nós”: “perdoando todos os nossos passos em falso” [v. 13]. A pergunta pelo perdão é a pergunta de todo ser humano cuja consciência despertou. “Deus perdoa”, essa é nossa única redenção. Tanto mais candente se torna a pergunta: onde, afinal, vejo o perdão de Deus, como obter certeza dele? Onde posso vê-lo de tal maneira que ele ao mesmo tempo leve a sério o incontornável veredicto de minha consciência e reconheça a gravidade de minha culpa? Para essa pergunta, a mais relevante de todas no mundo, Paulo tem a resposta que nenhuma filosofia daquela época ou de hoje pode fornecer: olhe para a cruz, ali você verá a sua nota promissória publicamente destacada e aniquilada!