Estudo sobre Colossenses 2:13

Estudo sobre Colossenses 2:13


Os colossenses e as pessoas daquela época (e também nós!) têm razão em seu ardente anseio por renovação total da vida. Paulo não tenta dissuadi-los desse anseio nem chamá-lo de exagerado. Novamente sua “apologética” faz plena justiça ao enfoque do “adversário”, até mesmo superando-o, sendo mais claro e radical do que as pessoas que argumentavam com os colossenses. Seus “passos em falso”, sua “carne não-circuncidada”, toda sua forma “gentia”, não-divina e maculada é terrível. Através delas vocês estão – mortos! Mas precisamente porque a aflição é tão grande e a perdição tão radical que todos esses pequenos remédios que são apregoados a vocês em Colossos não servem: dias santos, períodos sagrados, abstinências e conexão com o mundo angelical. Para “mortos” há somente uma ajuda real: “ressurreição”. E vocês na verdade possuem essa ajuda radical! “Nele igualmente fostes ressuscitados mediante a fé no poder de Deus que o ressuscitou dentre os mortos.” Nessa frase encontramos a palavra grega energeia, cuja derivação existe também em nosso idioma: “energia”. No grego ela designa não uma energia “potencial”, mas sempre a energia eficaz, ativa.

Deus utilizou sua força divina de maneira singular quando ressuscitou aquele que morreu por nós e foi baixado à sepultura carregando toda a nossa culpa e aflição. Nós, porém, “cremos” nessa intervenção de Deus, que deu uma guinada decisiva na história universal e também na história de nossa vida. Essa “fé”, no entanto, é nitidamente muito diferente do que concordar intelectualmente com uma doutrina. Aqui não consta, como obviamente temos de formular em nosso idioma, fé “em”, nem mesmo, como em Cl 1.4, fé “dentro de”, mas literalmente “fé do poder atuante de Deus”. Isso poderia ser um genitivo do sujeito, significando que a fé surge por meio da mesma eficácia da força de Deus que também chamou Jesus para fora do mundo dos mortos. Foi isso que Paulo realmente expressou na carta aos Efésios, em Ef 1.19. Nesse caso está claro porque o processo de uma pessoa “tornar-se crente” na realidade e de modo geral é “ser ressuscitado junto com”. Mas também quando recordamos que em outras passagens – p. ex., Mc 11.22; At 14.9; Rm 3.22,26; Gl 2.20; Ef 3.12; Ap 2.13 – a construção do genitivo aparece de forma a designar o objeto da fé, isso não altera em nada o sentido e conteúdo da afirmação. Afinal, a fé continua sendo algo por meio do qual um ser humano “é ressuscitado com”. Na acepção do NT a fé abarca seu objeto não apenas na mente (embora seja óbvio que isso com certeza também acontece!), mas em toda a pessoa, estabelecendo uma conexão real com o objeto e conferindo participação no objeto. Quem realmente “crê” na eficácia do poder de Deus, que ressuscitou Jesus dentre os mortos, coloca-se assim pessoalmente debaixo da eficácia desse poder de Deus, sendo “ressuscitado com” e transladado para uma vida verdadeiramente nova. Nós, que tão facilmente transformamos em “ideias” e “concepções” tudo que cai em nossas mãos, constantemente precisamos nos esforçar para captar todo o realismo do NT. Não se trata de um belo pensamento, de uma opinião teológica, de um discurso edificante, mas de algo “atual”, a partir da “atuação” de Deus: “E a vós que estáveis mortos pelos vossos passos em falso e pela incircuncisão da vossa carne, ele vos deu vida juntamente com ele.” Unicamente assim é possível ganhar a nova vida, pela qual anseiam os seres humanos. Ela foi ganha para os colossenses, já que é verdade que são crentes. Essa “nova vida” evidentemente sempre supera todas as nossas experiências. Não podemos explicitá-la nem a outros nem a nós mesmos como uma posse visível. Mas tampouco é mero conceito dogmático ou mesmo apenas asseveração ilusória. Trata-se de uma realidade palpável em nossa vida, dia a dia. É como Paulo dirá mais tarde: “oculto com Cristo em Deus”. Contudo, assim como é verdade que realmente vivemos “em Cristo”, que participamos dessa vida de forma prática e perceptível, e assim como é real o “Cristo em nós”, essa nova vida desde já interfere realmente em nossa existência. O NT chama de “fé” essa participação factual em uma realidade que por ora ainda é “transcendente”. A fé apropria-se a cada momento daquilo que Deus por princípio já realizou e concedeu. Ao olhar para a “nova vida” obviamente temos de nos livrar do moralismo que obstrui tudo para nós. A nova vida não consiste primordialmente em tornar-se “melhor”, mas em começar a temer e amar a Deus, em ser capaz de orar, em que a Bíblia se torne palavra viva para a pessoa. A realidade da nova vida está presente para cada pessoa que a recebeu, de forma completamente inquestionável. O que mais querem, afinal? Pretendem deixar que os filósofos os arrastem dessa glória e liberdade para a escravidão, onde se busca em vão a renovação da vida com métodos morais ou religiosos “segundo a tradição dos seres humanos”?!


Novamente não cabe simplesmente ler e captar essas exposições de forma “objetiva” como um curioso mundo conceitual “histórico”, que tentamos entender de forma “puramente histórica”. Podemos e precisamos reconhecer que aqui está em jogo a “nossa causa”! Porventura queremos parar no meio do caminho em nossa auto-avaliação, ou concordamos de coração com a sentença aqui proferida: “mortos pelos passos em falso e pela incircuncisão de nossa carne”? Que decisão isso implica acerca de nossa vida! Porque quando temos de nos considerar “mortos” acabam também todas as numerosas tentativas humanas com as quais também nós esperávamos alcançar a verdadeira vida. São suficientemente numerosas também em nossa época! Então está em jogo também para nós aquela renovação radical que se chama “ressurreição”. Então importa também para nós que obtenhamos a “fé” que nos torna participantes do Cristo ressuscitado e nos coloca em uma nova vida como “ressuscitados junto com ele”. No entanto, se tivermos essa fé, a carta aos Colossenses e todas essas frases falam diretamente também de nós, deixando de ser meramente “histórica”.