Estudo sobre Colossenses 2:18

Estudo sobre Colossenses 2:18


Negam à igreja o prêmio da vitória, agem como se eles mesmos fossem os árbitros. Por si só, considerar-se juiz já é uma presunção estranha. Essa presunção contrasta curiosamente com a “humildade”, [Sob “humildade” evidentemente não devemos imaginar apenas a mentalidade interior, mas “práticas de humildade” concretas como especialmente o jejum. A palavra “humildade”, portanto, talvez possa constar simplesmente no lugar de “jejuar”.] tão enfatizada por eles. Para os críticos a igreja não era de forma alguma suficientemente “humilde”. O livre manuseio de comida e bebida, a despreocupação com o sábado e os demais dias festivos, isso não era “orgulho”? Eles, porém, viviam uma vida de humildade, curvavam-se, rebaixavam-se. A igreja ficou insegura: “humildade” – não era esse um dos mais importantes princípios do discipulado, conforme o próprio Mestre? Então Paulo lembra algo que o filósofo da religião católico Max Scheler expressou por meio de uma boa ilustração: existem virtudes que somente se tornam visíveis “nas costas daquele que age”. Isso significa primeiramente: não se pode carregá-las consigo como qualidades estáticas, pois elas somente se evidenciam na ação. Em segundo lugar: não podem ser buscadas de forma imediata, são deturpadas quando tentamos nos apoderar diretamente delas. Não podemos caminhar em direção delas. Somente se tornam visíveis às nossas “costas”, enquanto nos ocupamos, na caminhada rumo ao alvo, com objetivos e tarefas bem diferentes. Dessas virtudes faz parte a humildade. Humildade intencional é forçosamente humildade fabricada, desprezível. É para esse traço depreciativo na “humildade” dos críticos que Paulo chama a atenção dos colossenses. Literalmente é dito aqui: “querendo em humildade” [“pretextando humildade”] A humildade autêntica não “quer” ser “humilde”. A humildade autêntica não tem noção de si mesma e nunca a se aproxima dos outros com a exigência e crítica: “Ora, vocês precisam ser muito mais humildes!” Falsa humildade sempre se trai pelo orgulho, que repentinamente transparece em todos os aspectos. Os “humildes”, que interpelavam os colossenses, estavam ao mesmo tempo ocupando a cátedra de juiz e distribuindo o prêmio de vitória. Os “humildes” faziam com que a igreja sentisse como ela era precária e pobre: eles, porém, teriam “culto dos anjos”, [Essa interpretação da palavra foi contestada. Em nenhuma outra passagem da carta um verdadeiro “culto aos anjos” se mostraria como perigo para a igreja. O genitivo substituiria aqui, como muitas vezes, no grego, o adjetivo. Os críticos da igreja estariam alegando que têm um culto como aquele praticado pelos anjos. Reclamavam que estavam cumprindo a súplica de G. Tersteegen: “Deixa-me como os anjos permanecer sempre diante de ti e ver-te face-a-face”. – Também nessa explicação ficaria explícita a estranha contradição entre pretensa “humildade” e presunção factual.] eles estariam em contato com os espíritos superiores. Provavelmente alegavam que tinham experiências e visões maravilhosas. Aqui o texto obviamente é difícil. O verbo [“basear-se”] que consta aqui na realidade significa “adentrar”, “penetrar, visitar”, e por consequência também algo como “tomar posse de uma propriedade”. Literalmente, portanto, consta: “adentrando aquilo que ele viu”. Na linguagem dos mistérios, a expressão “adentrar” é usada especificamente para a entrada solene do santuário. [Outros comentaristas entendem que os críticos da igreja são de fato membros de um culto de mistérios, razão pela qual traduzem o particípio “adentrando” com “na iniciação”. Nesse caso as palavras teriam de ser conectadas com as subsequentes: “Sem motivo, presunçosos pelo que viram em sua iniciação”. A dificuldade do presente texto na forma como está levou a diversas conjeturas (suposições sobre o teor original) que não precisamos detalhar aqui.] Uma série de manuscritos, porém, acrescenta também um “não” ao presente texto: “adentrando aquilo que ele não viu”. Portanto, das duas, uma: ou Paulo quis dizer que os críticos com seu culto de anjos penetram espaços que não viram, que vivem em auto-sugestões, ou que “tomar posse de uma propriedade” significaria que os críticos se apegam a suas visões, adentrando constantemente esse espaço das visões, que é seu santuário. Pessoalmente Paulo também teve “visões e revelações do Senhor”. Com toda a certeza foram para ele autênticas e sublimes revelações. Mas justamente não se deteve junto delas, não argumentou com elas, nem sequer insinuou às igrejas que dispõe de experiências misteriosas. A esse respeito – ele se calou. Apenas anos mais tarde os coríntios são informados, por força das circunstâncias, a respeito de uma parte desse aspecto na vida de seu apóstolo (2Co 12.1-10).


Na sequência Paulo se torna contundente. Esses “humildes” na verdade são enfatuados, e sem motivo. Esses imponentes devotos, que se situam em um nível espiritual tão elevado, que são amigos dos anjos e vivem no mundo das visões, na verdade apenas sucumbem à “mente de sua carne”. Por que razão os críticos da igreja pensam de forma tão diferente? A causa não é porque estejam “mais adiantados” que a igreja ou sejam “mais espirituais” que ela, muito pelo contrário: neles governa a “mente da carne”. Humildade intencional, veneração de anjos, enchimento com visões, tudo isso é devoção da carne.