Estudo sobre Filipenses 2:9-11

Filipenses 2:9-11


Agora, porém, ele novamente deixa tudo isso de lado. Primeiro acrescenta um “por isso” bem diferente: “Por isso Deus também o exaltou sobremaneira e lhe deu o nome que está acima de todo nome, para que ao nome de Jesus ‘todo joelho se dobre’, dos celestiais, dos terrenos e dos subterrâneos, e ‘toda língua confesse’ que Senhor (é) Jesus Cristo, para glória de Deus, o Pai.” O Filho demonstrou ao Pai todo o amor e consequentemente toda a obediência. Deus aceitou isso, esperando de seu Filho amado o ato extremo. “Aquele que não poupou o seu próprio Filho, antes, por todos nós o entregou”, entregou-o ao ponto de abandoná-lo na cruz. Mas justamente por isso o fim não podia e não foi esse. Ao profundo amor de entrega do Filho corresponde o poderoso e sublimatório amor do Pai. A trajetória de Jesus levou-o à extrema profundeza, agora ela o eleva à maior altura. Jesus, que se tornou vazio e nada, agora recebe a plenitude. Tornou-se escravo, agora passa a ser Senhor. Renunciou a todos os direitos e toda a honra, agora todo joelho terá de curvar-se diante dele e toda língua terá de reconhecer sua honra.

Recordamos: “por isso Deus também o exaltou”. No entanto, Paulo escreveu: “exaltou excessivamente”, elevou à altura máxima. Isso não é somente uma expressão de intensidade, da forma como nós às vezes empregamos as formulações vigorosas, particularmente no linguajar religioso. Paulo quer dizer exatamente o que está dizendo. Torna-o explícito de forma quase assustadora.

Deus concede a Jesus “o nome acima de todo nome”. A princípio isso não diz nada. “Nome é ruído e fumaça”, exclamava o Dr. Fausto, de Goethe, com uma sensibilidade tipicamente moderna. Hoje nomes são questão de moda e não significam mais nada para nós. Qual é a “Renata” que se lembra de que se chama “Renascida”? Até mesmo se entendermos “nome” como “título” – como o mundo moderno abusou de títulos! Hoje “general”, amanhã “delinquente”, depois de amanhã “mártir” e no dia seguinte novamente esquecido – nesse vaivém, o que, afinal, de fato tem validade? Não obstante percebemos ainda aqui e acolá que também para nós o “nome” pode sintetizar toda a essência. Para o velho viúvo solitário, o nome feminino comum de sua esposa descortina um mundo de amor e fidelidade, uma vida inteira rica, plenamente vivida! Um grande nome da História é capaz de desencadear reações significativas até hoje. É óbvio, porém, que todos os nomes humanos são pequenos, tendo um âmbito de vigência limitado no tempo e no espaço. Resta perguntar se também Deus os reconhece e os “anota no céu”, conferindo-lhes perenidade. A Jesus, porém, ele concedeu o “nome acima de todo nome”, ou seja, o nome no qual todo o conteúdo e vigor que sentimos parcialmente em um ou outro nome foi consumado e se tornou presente para o universo e para todas as eras. Paulo não diz que Deus teria atribuído a Jesus um novo título, de nível superior. Assim agem os poderosos deste mundo para honrar os que lhes servem. No caso de Jesus, porém, Deus agiu de forma muito mais gloriosa: exatamente esse “Jesus” é agora o “nome acima de todo nome”! Isso se evidencia pela continuação: “Para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho.”

Por essa razão não temos motivos para acompanhar aqueles na igreja que consideram o nome de Jesus insignificante e acreditam que devem preferir falar de Jesus com títulos litúrgicos ou teológicos. O nome, que o próprio Deus transformou em nome acima de todo o nome, também pode ser tranquilamente o nome maior, mais sublime e mais belo. Afinal, a igreja experimenta repetidamente: justamente quando tudo está em jogo, quando a autoridade da igreja é capaz de libertar pessoas da culpa ou fortalecê-las na enfermidade, quando ela precisa passar pela mais árdua batalha, quando precisa opor-se aos poderes das trevas e libertar seres humanos de laços diabólicos, então caem por terra todas as expressões litúrgicas e títulos dogmáticos, então é no singelo nome de Jesus que reside exclusivamente todo o poder e a vitória. Agora a igreja começa a experimentá-lo. Virá, contudo, o dia em que esse começo será concluído com magnitude imensa. Então esse nome “Jesus” fará com que todo o joelho se dobre. Paulo acrescenta expressamente: “dos celestiais, dos terrenos e dos subterrâneos”. Não haverá exceção. Os habitantes do mundo celestial, a multidão infindável dos anjos, já fazem isso agora com alegria e hão de fazê-lo muito mais quando o mistério que desejam perscrutar (1Pe 1.12), o mistério de toda essa trajetória do Filho, aparecer limpidamente diante deles. Os “subterrâneos”, na medida em que isso se refere a poderes demoníacos, igualmente também já temem o nome de Jesus, como já ficou explicito nos evangelhos (Mc 1.23-26; etc.) e como a igreja de Jesus pôde experimentar em todas as épocas. Com “subterrâneos” Paulo provavelmente deseja referir-se aos moradores do reino dos mortos. De acordo com o testemunho da Escritura, Satanás e seus “anjos” de forma alguma devem ser imaginados “debaixo da terra”! Na verdade estão destinados ao “abismo” (Ap 20.1). Agora, porém, o espaço aéreo é sua esfera real de ação (Ef 2.2; 6.12), a partir da qual agem sobre pessoas ou até mesmo se apoderam totalmente delas. Bilhões de pessoas passaram por esta terra e morreram sem ter conhecido Jesus. Todas elas o conhecerão, todas dobrarão o joelho diante dele. E os “terrenos” são as pessoas sobre esta terra, os grandes, famosos, e os pequenos, desconhecidos. Atualmente milhões ainda não sabem nada a respeito de Jesus, milhões o rejeitam, desprezam, ridicularizam ou odeiam, porém esses milhões hão de se ajoelhar diante dele, todos, sem exceção! Então não será possível evitar que esse curvar dos joelhos seja muito diferente. Com que júbilo e beatitude se ajoelharão diante de Jesus aqueles que se deixaram salvar por ele, que por isso o amaram e viveram para ele! Com que pavor cairão de joelhos aqueles que passaram orgulhosamente por ele ou o combateram!

Que imagem Paulo faz surgir diante de nós: todo o imenso universo, com todos os seus habitantes, em uma única reunião gigantesca de joelhos diante de Jesus! Esse é o verdadeiro alvo da esperança bíblica e de toda esperança de futuro autenticamente cristã. Agora entendemos muito bem com que facilidade ambas as coisas se unificavam para Paulo: a esperança pessoal para sua morte e o apego à grande escatologia de abrangência cósmica. Se já deixou em segundo plano seu desejo pessoal “de partir e estar junto de Cristo”, em vista da perspectiva do “fruto do trabalho”, do serviço a suas igrejas, quanto mais não o consideraria cabalmente ínfimo e desimportante quando está em jogo a glória de seu Senhor Jesus e, por conseguinte, a glória de Deus, o Pai!

Para Paulo, pessoalmente, morrer e estar junto de Cristo certamente é “muito melhor”. Mas na realidade ele não vive para si e sua própria felicidade. Vive para Jesus, o Filho de Deus, que o amou e a si mesmo entregou por ele. Por essa razão seu coração anseia poderosamente, além da felicidade pessoal junto de Cristo, por aquele dia em que Jesus, o Crucificado, o ignorado e desprezado, receberá a adoração de todos os joelhos e lábios do universo. “Partir para o lar, entrar na felicidade eterna – que maravilhosa palavra!” Sim, com toda a certeza. Porém de forma alguma mereceríamos o amor que ele investiu em nós se nos contentássemos egoisticamente com ele e encerrássemos nossa esperança e expectativa nesse ponto! Também o coração da igreja de hoje deve acender-se novamente com tal intensidade que nenhuma bem-aventurança pessoal a satisfaça, pelo contrário, que todo seu anelo vise atingir aquela hora em que o Pai conceder ao Filho a glória mais que suprema diante dos olhares de todos.

Ainda mais poderosa se torna a gravidade desse “Deus o exaltou sobremaneira”. Afinal, a palavra de que todo joelho se dobrará e a sua continuação referente à confissão que toda língua fará, é uma citação do AT. Mas, ao conferirmos a palavra em Is 45.23 descobriremos que ali ela se refere ao próprio Deus! É um juramento de Deus, no qual Deus declara acerca de si mesmo: “Por mim mesmo tenho jurado; da minha boca saiu o que é justo, e a minha palavra não tornará atrás. Diante de mim se dobrará todo joelho, e jurará toda língua.” Aquilo que o Deus eterno e vivo, o Deus da aliança, Javé, [Sabe-se que Deus revelou o nome “Javé” a Moisés, para Israel (Êx 3.13-15). Originalmente a escrita hebraica usava apenas sinais para consoantes. Somente mais tarde foram acrescentados pequenos sinais de vocalização para facilitar a leitura. Para não violar a “santidade” do nome de Deus, os judeus preferiam não pronunciá-lo, dizendo em seu lugar Adonai = “Senhor”. Para que o leitor de um texto hebraico lembrasse disso, os sinais de vocalização de Adonai foram colocados debaixo das consoantes Jhwh. Consequentemente, a igreja, que não conhecia essa circunstância, inicialmente lia “Jehová”. As pessoas acostumaram-se tanto com esse nome de Deus, inclusive em hinos, que deveríamos mantê-lo até que um dia haja uma revisão geral do linguajar bíblico, que fará com que a forma do nome “Javé” de fato se torne familiar na igreja.] reivindicou para si mesmo, ele dedica agora a Jesus! Por isso não há como captar o conteúdo desse “jurar”, dessa exaltação, desse “confessar”, desse Kyrios Iesus Christos de outra maneira que não entendendo kyrios como aquele “Senhor” com a qual a tradução grega da Bíblia [LXX] reproduziu o nome hebraico de Deus “Javé”. Portanto, o que o coro de milhões de vozes e línguas de todo o universo confessa é: “Javé Jesus Cristo”! Tudo o que Deus fez, faz e fará como “Javé”, o Deus da aliança, aquele que institui a comunhão com os humanos, tudo isso foi entregue a Jesus! Agora todos o descobrem e reconhecem: todo o amor de Deus aos seres humanos, toda a graça que Deus jamais demonstrou, toda indulgência, toda paciência com um mundo pecador – tudo repousa exclusivamente em Jesus, no esvaziamento, serviço e obediência de Jesus, e aconteceu unicamente por causa dele.


Será que a glória do próprio Deus não é obscurecida assim? Afinal, é isso que muitos temem na igreja quando a comunidade de Jesus exalta e adora esse único nome. Mas Paulo declara: é assim que a glória de Deus é posicionada na mais clara luz! Porventura algo que o próprio Deus realiza poderia “obscurecer” a Deus?! Sim, se Jesus tivesse lutado pessoalmente por essa posição e honra, ou até mesmo as tivesse usurpado, então Deus evidentemente teria sido “suplantado”. Era isso que o arqui-inimigo queria. Porém o Jesus “exaltado sobremaneira” na verdade é precisamente aquele que por amor ao Pai tornou-se a si mesmo vazio e nada, o Filho que foi obediente ao Pai, obediente até a morte maldita na cruz. Como poderia haver o menor vestígio de “prejuízo” para o Pai em sua exaltação? Tudo o que Jesus possui agora é pura dádiva. Ao descrever a concessão do nome acima de todo nome Paulo propositadamente deixou de usar a palavra “dado”, mas utilizou um termo que destaca toda a característica do presente concedido por soberana graça. O que poderia honrar mais ao Filho do que “não considerar um roubo ser igual a Deus”, mas comparecer perante o Pai em figura de escravo, servindo e obedecendo? O que pode honrar mais ao Pai do que presentear o Filho obediente com todas as honras, com amor e superabundância divinos, elevando-o à sua direita no trono: Javé – Jesus?

Desse modo Deus revela a seus inimigos, a todos os anjos, a toda a humanidade e, logo, também aos filipenses, que ninguém que enveredar para Deus pelo caminho do esvaziamento, da obediência e do serviço será prejudicado. O filipense que prontamente ficava em segundo plano em relação aos irmãos, que gostava de realizar o serviço humilde e inexpressivo, que de bom grado abria mão de seu “direito” e sua “honra”, pode olhar para Jesus e ficar completamente despreocupado: justamente nesse caminho Deus presenteia com graça abundante!