Estudo sobre Filipenses 2:17-18

Filipenses 2:17-18


Ao falar de sua trajetória e seu trabalho Paulo volta a se lembrar de que ele talvez já tenha chegado ao fim. Aquilo que escreveu anteriormente em Fp 1.25s não passa de uma “certeza” pessoal. Seu processo ainda não ultrapassou o ponto crítico, e ainda pode acabar em pena de morte. Então será conduzido pelos soldados para fora do pretório, e um dos soldados o decapitará com a espada, de modo que seu sangue jorrará. Vendo essa possibilidade diante de si, desenvolve-se no coração de Paulo, pela genialidade do amor e do Espírito Santo, uma imagem para esse evento, na qual toda a sua humildade e toda a sua valorização da igreja se tornam claras. Quando lemos os preceitos para os sacrifícios, p. ex., em Êx 29.36-41, constatamos que o sacrifício dos dois cordeiros que deviam ser levados diariamente pela manhã e à noite ao altar vinha acompanhado de uma “libação” de vinho derramado. Também o mundo gentio, do qual vinham os filipenses, conhecia “libações” acrescentadas ao sacrifício principal. A igreja de Jesus não conhece mais nenhum tipo de sacrifício, porque ele, o eterno Filho de Deus, o grande Sumo Sacerdote, cumpriu e encerrou todos os sacrifícios em seu auto-sacrifício. No entanto, também a igreja pode honrar a Deus com uma oferenda: seu “sacrifício” é a fé com a qual ela se rende inteiramente a Deus. Foi assim que Paulo viu a si mesmo como sacerdote que presta sacrifício: “como sacerdote do Cristo Jesus perante os gentios, que exerce o serviço sacerdotal no evangelho de Deus, para que a oferenda dos povos seja agradável, santificada pelo Espírito Santo” (Rm 15.16). A fé dos filipenses, na qual eles desenvolvem com temor e tremor sua salvação e se tornam filhos sem mácula, constitui o verdadeiro grande sacrifício que Paulo pode ofertar. Se for decapitado, o jorrar de seu sangue será como a libação que o acompanha. Paulo não conhece a falsa modéstia – como vimos várias vezes – mas com que autenticidade e humildade diz isso! Não é seu martírio o fato maior, o verdadeiro sacrifício, ao lado do qual a simples fé dos filipenses desaparece, mas pelo contrário: seu sangue de mártir é apenas um acréscimo, uma “libação”.


Se for essa a situação, Paulo não se assustará nem lamentará. Com alegria ele está preparado para esse caminho. Agora a razão já não é apenas porque então estará “junto com Cristo”, o que seria tanto melhor, mas também porque desse modo poderá ofertar ao Senhor uma oferenda completa, um sacrifício pleno. Se os filipenses segurarem firmes a palavra da vida, se ficarem firmes na obediência completa e não-mesclada da fé, o sacrifício de Jesus que, existindo em forma de Deus, não obstante se transformou em nada, assumiu figura de escravo e se tornou obediência até à morte na cruz, passará a ser a resposta verdadeira, de gratidão, à qual o sangue de Paulo acrescenta o Amém. O que haveria a lamentar e prantear nisso? Paulo somente consegue se alegrar, e se alegrar com os filipenses. Por isso ele também pede aos filipenses que não fiquem perturbados e tristes se a notícia de sua execução chegar a Filipos, mas que se alegrem com ele pelo sacrifício consumado que tem o privilégio de glorificar o nome de Jesus.

Evidentemente a frase também pode ser construída como segue: “Não, ainda que seja derramado como libação, no ato e serviço sacrificial de vossa fé, eu me alegrarei com todos vós” (Ewald)! Então, porém, a frase subsequente inevitavelmente seria transformada em solicitação aos filipenses para que se alegrem com Paulo em sua própria fé! Ao mesmo tempo também cairia por terra toda a ilustração tangível por meio da qual Paulo relaciona seu martírio com a fé da igreja.