Estudo sobre Filipenses 2:12

Filipenses 2:12


“Portanto, amados meus” – interpelando afetuosamente os destinatários da carta, Paulo traça as consequências da descrição da trajetória de Jesus, e na verdade de todo o trecho desde Fp 1.27, que também já falava de “salvação” em Fp 1.28. Mas não reitera as exortações para as quais já proporcionara um resumo conclusivo nesse relato, as exortações para a concórdia e humildade cheia de amor, mas agora dá prosseguimento ao que se revestiu de tanta importância para ele na imagem de Jesus: a obediência. A rigor ele não diz nenhuma novidade aos filipenses, não é apenas agora que os convoca a obedecer. “Crer” e “obedecer” eram tão estreitamente ligados para Paulo que ele foi capaz de criar a fórmula “obediência de fé”. A fé dirige sua confiança àquele em quem só é possível confiar por meio da obediência. Foi esse o fundamento das instruções de Paulo para todas as igrejas, foi isso que também os filipenses ouviram desde o começo. Por isso Paulo pode confirmar a eles: “Como sempre obedecestes.”

Evidentemente temos toda a razão para ficar alertas nesse ponto! Aqui se mostra uma linha nítida e forte do NT que se tornou demasiado estranha para nós. Uma proclamação unilateral nos acostumou a pensar que o cristianismo de fato trata apenas de “graça”, de “perdão”, de “ser presenteado”, de “ser bem-aventurado”. Já nos consideramos um tanto condescentes para com Deus quando, ao contrário de tantos outros, nos prontificamos a aceitar essas dádivas dele. A isso se agrega um segundo aspecto. Quando, por volta do ano 1800, se tratou pela primeira vez de assegurar um lugar para o “cristianismo” (e até mesmo para a “religião”), em vista dos olhares críticos de seus “desprezadores”, Schleiermacher acreditou poder situar no “sentimento” o ambiente mais precípuo que não poderia ser tirado da “religião”. Desde então penetrou profundamente no pensamento do ser humano moderno, também na igreja, a opinião de que “religião” e “cristianismo” têm a ver com sentimentos e estados de ânimo. Em seguida essa opinião mesclou-se com resquícios da doutrina da justificação da Reforma, com “graça” e “ser bem-aventurado”, moldando nossa atitude involuntária diante do cristianismo. Em decorrência o ser humano de hoje busca “edificação”, “enlevo”, “consolo” na igreja. Como poderia estar aberto para algo tão sóbrio e duro como a “obediência”?! Nesse ponto a igreja precisa superar um pensamento equivocado profundamente enraizado. Para isso é importante que vejamos e compreendamos de forma completamente nova a obediência na imagem do Redentor e que a “obediência”, inseparavelmente associada à “fé”, perfaz o ser cristão.


Os filipenses foram obedientes em todo o tempo, mas evidentemente não a Paulo, e sim a Deus e ao Senhor Jesus em sua palavra. O próprio Paulo somente tinha uma função nisso por ser o “autorizado do Cristo”. Apresentara-se entre eles em favor do Senhor, confirmando e explicando a palavra dele. Por isso, seria possível que “na presença dele” a obediência fosse mais fácil e zelosa. Com alegria Paulo pode atestar a seus “amados” que a obediência caracterizava a vida eclesial deles mesmo “agora muito mais em sua ausência”. Naturalmente a expressão “muito mais” não deve ser entendida em termos quantitativos. Na ausência de Paulo os filipenses não eram ainda mais obedientes do que antes, mas agora eles eram obedientes “para valer”. Na realidade entendemos todas as palavras desde “não só…” até “…minha ausência” como uma observação intercalada que ainda depende de “sempre fostes obedientes”. No entanto, essas palavras também podem ser ligadas à frase seguinte, definindo seu predicado no “desenvolvei a vossa salvação”. Depois, no enunciado vivo do ditado uma idéia e frase fluíram para dentro da outra.