ESPANTAR-SE, MARAVILHAR-SE — Enciclopédia Bíblica Online

ESPANTAR-SE, MARAVILHAR-SE

A experiência do espanto, da admiração, de maravilhar-se e da estupefação frente ao divino, ao inesperado ou ao trágico é um fenômeno que percorre toda a Bíblia. Em português, termos como “pasmaram-se”, “espantaram-se” ou “maravilharam-se” tentam reproduzir um leque de reações emocionais que, nos idiomas originais, são expressas por vocábulos que carregam matizes semânticas muito distintas. O presente estudo visa analisar de forma exaustiva os termos hebraicos e gregos para essas reações, explorando sua etimologia e seu uso em cada um dos versículos propostos, a fim de conectar o leitor à experiência da fé, do temor e da maravilha como registrada nas Escrituras.

Significado de "espantar-se", "maravilhar-se" dentro da Bíblia. Estudo que explica o significado das palavras gregas e hebraicas.

I. O Espanto no Antigo Testamento: Terror, Impotência e Perplexidade

No hebraico bíblico, o espanto é frequentemente uma reação a uma intervenção divina avassaladora, descrita por um conjunto específico de raízes verbais. A raiz בָּהַל (bahal), por exemplo, exprime uma perturbação súbita, um tremor interior. Essa reação é exemplificada em Êxodo 15:15, onde, após a travessia do Mar Vermelho, o texto relata que “os príncipes de Edom se pasmaram (nibhalu)”. A forma nibhalu é o qal passivo ou nifal do verbo bahal e indica que os líderes edomitas não apenas ficaram alarmados, mas também desorientados, em pânico, frente à magnitude do livramento que Israel havia experimentado — um juízo divino contra o Egito que reverberava nas nações ao redor.

De modo semelhante, em Juízes 20:41, o mesmo verbo descreve o terror da tribo de Benjamim ao perceber uma súbita e desvantajosa reviravolta no combate: “os homens de Benjamim pasmaram-se (nibhal); porque viram que o mal lhes tocaria.” O uso do verbo nibhal aqui aponta para um colapso psicológico e estratégico: a confiança na vitória se desfaz, e a percepção do “mal” que se abate altera imediatamente o curso da ação, gerando paralisia e fuga.

Uma nuance diferente de espanto, ligada ao abatimento e à impotência, é encontrada em Jó 32:15. Diante da força do discurso de Eliú, os amigos de Jó “Pasmaram-se (chattu), não responderam mais, faltaram-lhes as palavras.” O verbo chatat (chattu, qal perfeito 3ª plural) descreve a dissolução da vontade de falar; é um silêncio atônito diante de uma sabedoria ou discurso que ultrapassa a compreensão, implicando não só temor, mas admiração impotente.

A perplexidade diante de um anúncio profético de juízo é capturada pela raiz תָּמַהּ (tamah), que denota um assombro que beira a confusão. Em Isaías 13:8, ao descrever o pânico diante da queda da Babilônia, o profeta diz: “E assombrar-se-ão (yitmahu), e apoderar-se-ão deles dores e ais... cada um se espantará do seu próximo”. O uso do hitpael (yitmahu) reforça que o espanto é mútuo, recíproco, quase contagiado coletivamente. As dores e ais que se seguem revelam que o espanto se converte em pânico corporal, um prelúdio do colapso moral e político.

Outra raiz poderosa é שָׁמֵם (shamem), que evoca a desolação e o terror. Em Ezequiel 32:10, na profecia contra o Faraó, Deus diz: “E farei que muitas nações fiquem espantadas (hashimoti) de ti...”. A forma hashimoti, hifil 1ª pessoa, denota ação causativa: é Deus quem ativa o espanto nas nações. O terror nasce da observação do juízo divino sobre o Egito, servindo de paradigma para o temor dos outros povos. A desolação é, aqui, testemunhal.

II. O Espanto no Novo Testamento: A Reação à Pessoa e Obra de Cristo

No Novo Testamento, a linguagem do espanto é quase inteiramente redirecionada para as reações provocadas por Jesus Cristo e, posteriormente, pela ação do Espírito Santo na igreja primitiva. O verbo grego ἐξίστημι (existēmi), que literalmente significa “colocar fora de si”, é central para descrever um maravilhamento tão intenso que desloca a pessoa de sua estabilidade emocional e racional. Isso é visto em Mateus 12:23, quando, após uma cura, “toda a multidão se admirava existanto e dizia: Não é este o Filho de Davi?”. O uso de existanto (3ª plural, imperfeito médio/passivo) descreve um estado prolongado de assombro que desafia as categorias anteriores dos espectadores — a dúvida messiânica se dissolve momentaneamente diante do milagre.

O mesmo ocorre em Marcos 2:12, onde a cura de um paralítico leva todos a um estado em que “se admiraram existasthai e glorificaram a Deus”. Aqui a forma infinitiva existasthai compõe um predicado de consequência: o milagre tem como fruto imediato uma glorificação, evidenciando que o espanto não é vazio, mas gerador de adoração.

Em Marcos 6:51, a autoridade de Jesus sobre a natureza, ao acalmar a tempestade, leva os discípulos a ficarem “muito assombrados e maravilhados (existanato)”. O aoristo existanato (3ª plural) acentua que foi um evento súbito, avassalador, que rompeu com toda a familiaridade. O espanto é teofânico.

Após a ressurreição, o substantivo relacionado, ἔκστασις (ekstasis), descreve em Marcos 16:8 o estado das mulheres, que estavam “possuídas de temor e assombro (ekstasis)”. Este termo, raiz do nosso "êxtase", indica que o espanto rompe com o espaço ordinário do tempo — há aqui um deslocamento perceptivo diante da ressurreição.

A mesma palavra é usada em Lucas 5:26, quando “espanto (ekstasis) se apoderou de todos” após a pesca milagrosa. Neste contexto, ekstasis é sinônimo de convicção de que o milagre rompe as leis naturais — é o toque do divino que invade o cotidiano.

A experiência de Pentecostes em Atos 2:7,12 provoca uma reação idêntica nos observadores, que “pasmavam e se maravilhavam (existanto)”. Aqui o plural reiterado mostra um fenômeno coletivo de maravilhamento teológico — uma inversão de Babel unificada pelo Espírito.

A conversão e pregação de Saulo também deixam os ouvintes “atônitos existanto” em Atos 9:21. Neste uso, o espanto está vinculado à transformação radical da identidade — o perseguidor é agora proclamador.

Um segundo verbo importante é ἐκπλήσσω (ekplēssō), que significa “ser golpeado para fora de si”, frequentemente usado em resposta à autoridade do ensino de Jesus. Em Mateus 19:25, os discípulos, ao ouvirem sobre a dificuldade da salvação, “admiraram-se (exeplessonto) muito”. A reação é a um escândalo doutrinário — o espanto aqui é intelectual, não apenas emocional. Em Lucas 2:48, seus pais, ao encontrá-lo no templo, “maravilharam-se (exeplagesan)” com suas ações e palavras. Este uso marca a ruptura entre expectativa e revelação — o menino de doze anos é mestre.

O campo semântico de θαμβέω (thambeo) e seu substantivo θάμβος (thambos) expressa um assombro que paralisa, um espanto reverente. Em Marcos 1:27, a reação ao primeiro exorcismo de Jesus é que “todos se admiraram ethambethesan”. A autoridade sobre os demônios é o que mais espanta — o domínio espiritual é reconhecido.

A visão de Jesus transfigurado em Marcos 9:15 deixa a multidão “espantada (exethambethesan)”. O uso intensificado do prefixo ex- aponta para um espanto que beira a perda dos sentidos. A jornada para Jerusalém em Marcos 10:32 provoca nos discípulos um maravilhamento temeroso (ethambounto). A tensão messiânica se mistura ao temor da cruz.

A agonia de Jesus no Getsêmani em Marcos 14:33 é descrita com a forma intensificada ekthambeisthai, um pavor profundo. Trata-se de um horror existencial: o espanto que se volta para dentro. Em Lucas 4:36, a expulsão de um demônio gera um “espanto thambos sobre todos”. Finalmente, o verbo θαυμάζω (thaumazō), mais geral para "maravilhar-se", é usado em Lucas 9:43, onde “todos se maravilharam thaumazonton da majestade de Deus” manifesta em Jesus. Aqui o espanto se converte em louvor silencioso.

III. O Assombro no Antigo Testamento: A Testemunha da Desolação

No Antigo Testamento, a esmagadora maioria das ocorrências de assombro está ligada à raiz hebraica שָׁמֵם (shamem), que descreve a desolação que atordoa e o entorpecimento diante da ruína. Ela é a palavra por excelência para a reação ao juízo divino. Em Levítico 26:32, a terra prometida, se o povo pecar, será tão assolada que até “os vossos inimigos que nela morarem... se espantarão (ve-shamemu)”. A forma ve-shamemu, qal consecutivo 3ª pessoa plural, mostra que até os povos estrangeiros que passarem pela terra destruída reconhecerão seu estado devastado como um espelho do julgamento divino. O assombro não é apenas visual, mas teológico: a ruína de Israel torna-se sinal da santidade violada.

A destruição do Templo de Salomão, em 1 Reis 9:8, provocaria a mesma reação: “todo aquele que por ela passar pasmará (yishom)”. O verbo yishom (qal imperfecto) denota uma ação que ocorre repetidamente com os transeuntes, indicando que o espanto diante da glória perdida do templo será uma constante — a ruína sagrada é um escândalo.

Em Jó 21:5, o assombro é uma resposta à dor inexplicável: “Olhai para mim, e pasmai (hashimu), e ponde a mão sobre a boca.” Aqui, o verbo hashimu (hifil imperativo) é uma ordem para entrar no estado de silêncio atônito. A dor do justo Jó desestrutura as categorias teológicas de seus amigos, e o assombro torna-se uma teologia muda.

Os profetas empregam esta raiz extensivamente. Jeremias a usa para descrever a reação cósmica à infidelidade de Israel em Jeremias 2:12 (“Espantai-vos (shomu) disto, ó céus”), onde o espanto se projeta nas próprias esferas celestes, denunciando a gravidade da apostasia. Shomu (qal imperativo plural) convoca os céus a se perturbarem — é uma teopatia cósmica.

e o colapso da própria liderança em Jeremias 4:9 (“os sacerdotes pasmarão [ve-shamu]”). O verbo ve-shamu novamente conjuga a passividade atônita com um reconhecimento profético: o colapso institucional do sacerdócio se dá como reflexo do juízo espiritual.

A terra se torna um objeto de assombro, um “espanto (lishmah)”, em Jeremias 18:16 e 19:8. A forma lishmah é um substantivo derivado de shamem e indica um estado permanente: a terra devastada de Judá torna-se uma referência de horror, um exemplo visível do que o pecado acarreta.

O juízo sobre as nações vizinhas, como Edom (Jeremias 49:17) e Babilônia (Jeremias 50:13), também é descrito com as formas lishammah e yishom, respectivamente. Em ambos os casos, o termo marca a inversão da glória anterior — o esplendor das nações se converte em ruína universalmente temida.

Ezequiel continua esta tradição. O próprio profeta, em Ezequiel 3:15, fica “pasmado (mashmiym)” por sete dias no meio dos exilados. A forma mashmiym (particípio ativo, plural masculino) sugere uma paralisia duradoura, efeito do peso da revelação recebida. Ezequiel compartilha do mesmo juízo que anuncia.

A queda de Tiro provoca uma reação de pavor nas nações marítimas, que “se espantarão (ve-shamemu)” (Ezequiel 26:16), onde o espanto é ritual e político: os reis descem do trono, cobrem-se de cinzas, como que tomados por um luto coletivo e atônito.

e em todos os seus parceiros comerciais (Ezequiel 27:35, shamemu) e naqueles que testemunharam sua glória e queda (Ezequiel 28:19, shamemu). O espanto aqui é econômico e escatológico: o colapso de Tiro é uma antecipação da queda da Babilônia apocalíptica.

A culminação dessa experiência profética talvez se encontre em Daniel 8:27, onde, após uma visão apocalíptica, o profeta adoece e fica atônito: “espantei-me (mishtomem) acerca da visão”. O verbo mishtomem, hitpael imperfeito, exprime um espanto internalizado e contínuo. O impacto da revelação excede a capacidade de suportá-la — a reação não é apenas emocional, mas física e espiritual.

Em um contexto distinto, a raiz תָּמַהּ (tamah) é usada em Jó 26:11 para descrever um estupor cósmico, onde as próprias “colunas do céu tremem e se espantam (yitmahu)” com a majestade ameaçadora de Deus. O verbo yitmahu (hitpael imperfecto) estende o campo semântico do espanto à estrutura da criação: os céus não apenas testemunham, mas participam do temor ante o poder do Altíssimo.

IV. O Assombro no Novo Testamento: O Impacto da Autoridade Divina

No Novo Testamento, o assombro se concentra na reação à autoridade e poder de Cristo e dos apóstolos. O verbo ἐκπλήσσω (ekplēssō) é predominante, descrevendo o atordoamento do público com a doutrina. Após o Sermão do Monte, em Mateus 7:28, “a multidão se admirou (exeplessonto) da sua doutrina”. O uso do verbo no imperfeito médio passivo indica que a admiração foi um processo contínuo, não instantâneo, implicando que o ensino de Jesus causava um desmantelamento gradual das certezas religiosas herdadas — seu estilo de autoridade era único e contrastava com os escribas, como o versículo seguinte evidencia.

Essa mesma reação ocorre em sua cidade natal, Nazaré (Mateus 13:54, ekplessesthai), em resposta a uma de suas parábolas (Mateus 22:33, exeplessonto), e de forma consistente nos evangelhos sinóticos, onde seu ensino é contrastado com o dos escribas (Marcos 1:22, exeplessonto; Lucas 4:32, exeplessonto). O verbo em todas essas ocorrências reforça que a reação de espanto não se dirigia apenas ao conteúdo das palavras de Jesus, mas ao modo como ele falava: com autoridade própria, não derivada de uma tradição rabínica — isso provocava um colapso das categorias de mediação interpretativa vigentes na época.

Em Marcos 6:2, seus conterrâneos “se admiravam (exeplessonto)” de sua sabedoria e milagres. O verbo novamente está no imperfeito, o que sugere um impacto acumulativo: a sabedoria de Jesus provocava crescente desconforto, especialmente entre os que julgavam conhecê-lo desde a infância.

A perfeição de suas obras em Marcos 7:37 provoca uma admiração extrema (exeplessonto). O espanto aqui está ligado não apenas à ação milagrosa, mas à superação de todos os padrões anteriores: “tudo faz bem”, dizem os presentes, numa confissão de maravilhamento absoluto diante da perfeição messiânica.

Suas palavras difíceis sobre a salvação em Marcos 10:26 fazem os discípulos se admirarem ainda mais (exeplessonto). Aqui o espanto é teológico: as exigências do Reino de Deus subvertem os valores sociais da época, especialmente a associação entre riqueza e bênção. O espanto é provocado pela inversão dos critérios.

Sua autoridade no templo em Marcos 11:18 deixa a multidão “admirada (exeplesseto)”, provocando o temor dos líderes. A forma reflexiva singular exeplesseto mostra que o impacto da autoridade de Jesus desestabiliza as estruturas de poder religiosas, gerando não apenas assombro, mas pavor político entre os que o ouvem.

Por fim, em Atos 13:12, o procônsul Sérgio Paulo crê, “maravilhado (ekplessomenos)” não apenas com o milagre, mas com o conteúdo da doutrina. A forma ekplessomenos é um particípio presente médio passivo que indica que o impacto sobre ele estava em curso enquanto ouvia Paulo — a maravilha é cognitiva e espiritual, não apenas sensorial.

O verbo ἐξίστημι (existēmi) também descreve este estado de assombro. A ressurreição da filha de Jairo em Marcos 5:42 deixa os presentes atônitos (exestēsan). O aoristo ativo exestēsan transmite a ideia de um colapso imediato de percepção: diante do retorno da vida, os limites da morte são suspendidos e os presentes perdem temporariamente o referencial de realidade.

A inteligência de Jesus aos doze anos em Lucas 2:47 provoca a mesma reação (existanto). O imperfeito médio/passivo indica que o processo de admiração estava em desenvolvimento: a sabedoria precoce de Jesus causava perplexidade duradoura nos mestres e nos ouvintes.

Seus pais em Lucas 8:56 ficaram “maravilhados (exestēsan)” com a cura da filha. Neste uso, o espanto é intimamente pessoal e parental: é a consciência de que seu filho não age apenas como homem, mas como portador de um poder divino.

As mulheres no túmulo vazio em Lucas 24:22 “nos maravilharam (exestēsan)”. Aqui, o espanto é testemunhal e comunitário — a novidade da ressurreição transcende os marcos da experiência possível.

A fé dos gentios em Atos 10:45 e a libertação de Pedro da prisão em Atos 12:16 causam o mesmo espanto (exestēsan) na comunidade judaico-cristã. Em ambos os casos, o espanto acompanha a quebra de paradigmas religiosos e institucionais: gentios recebendo o Espírito, e Deus libertando milagrosamente da prisão. O espanto é um reconhecimento do novo agir de Deus.

Por fim, o campo de θαμβέω (thambeo) descreve o temor reverente. Os discípulos em Marcos 10:24 “se admiraram ethambounto” das palavras de Jesus. O uso no imperfeito mostra que as palavras de Jesus criavam uma reverência contínua, um temor que acompanhava sua pedagogia.

O milagre da pesca em Lucas 5:9 enche Pedro de “espanto (thambos)”. Este substantivo mostra que a reação de Pedro foi tão intensa que imediatamente gerou confissão: “Afasta-te de mim, Senhor, porque sou um homem pecador”. O espanto conduz ao arrependimento.

V. Conclusão

Esta análise detalhada revela que o vocabulário bíblico do espanto e da admiração é um campo semântico rico e multifacetado. Longe de ser um sentimento superficial, o espanto nas Escrituras é uma categoria teológica, antropológica e espiritual. As raízes hebraicas como bahal, shamem e tamah pintam um quadro de reações que vão do terror diante do juízo à perplexidade silenciosa diante do incompreensível. A raiz bahal, como visto, reflete uma perturbação imediata que abala a confiança humana frente ao irromper do divino; shamem, por sua vez, denota uma desolação paralisante, frequentemente associada à devastação territorial ou institucional causada pelo juízo de Deus, e tamah expressa o estupor mental e emocional causado por uma revelação ou ação divina que excede a capacidade de assimilação racional.

No Novo Testamento, os termos gregos como thambos, existēmi e ekplēssō são consistentemente empregados para descrever o impacto avassalador da presença, palavra e poder de Jesus Cristo. Thambos e seus correlatos evocam uma reverência atônita, um estado de pasmo reverente que precede ou acompanha o reconhecimento da santidade; existēmi sugere um deslocamento interior, como se o indivíduo perdesse o centro de si em função do fenômeno presenciado; ekplēssō, por sua vez, traz o sentido de ser violentamente atingido pela admiração — um choque cognitivo que rompe estruturas anteriores de entendimento.

Espantar-se, no contexto bíblico, é entrar em contato com a outra face da realidade — com o milagre, com o juízo, com o invisível que irrompe na história. O espanto, portanto, é a linguagem da liminaridade: uma fronteira onde o humano encontra o divino, onde o natural cede espaço ao sobrenatural, onde o ordinário é invadido pelo extraordinário. É, por isso, mais do que uma emoção: é uma reação teológica.

Compreender a nuance de cada termo é, portanto, um convite para sentir mais profundamente o assombro que marca o encontro entre o humano e o divino. Tais nuances nos alertam para o fato de que o espanto não é apenas uma emoção diante do inexplicável, mas uma postura de abertura e vulnerabilidade diante de um Deus que se revela tanto em juízo quanto em graça, em glória quanto em sofrimento. O espanto bíblico, ao fim, é o traço do coração que reconhece que foi visitado por algo maior do que ele.

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GALVÃO, Eduardo M. Maravilhar-se, Admirar-se. In: ENCICLOPÉDIA BÍBLICA ONLINE. Biblioteca Bíblica, [S. l.]: [s. n.], 2025. Disponível em: [Cole o link aqui entre aspas, sem colchetes]. Acessado em: [Coloque aqui a data que você acessou a página, sem colchetes].

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