Apocalipse 4 — Comentário Literário da Bíblia
Apocalipse 4
Apocalipse 4.2 A seção introdutória de 4.1,2 é uma reprodução das visões semelhantes do conselho angelical nos profetas no AT (e.g., Is 6.1-13; IRs 22.19-23 em 4.2b,8a-b,9a,10a). João tem um vislumbre do conselho celestial de Yahweh e assim é investido de autoridade profética. As teofanias do AT formam o contexto geral de 4.2, embora Ezequiel 1 esteja em primeiro plano, uma vez que são claras as referências a esse livro na continuação da passagem.Apocalipse 4.3 Referências de Ezequiel 1.26,28, 9.2 LXX, 10.1 LXX e 28.13 foram combinadas, embora Êxodo 24.10 e especialmente Êxodo 28.17-20 encontrem reflexos aqui também. Tem-se cogitado que os capítulos posteriores de Ezequiel assim como o Êxodo têm uma relação com Ezequiel 1.26, uma vez que estão associados a um cenário de teofania em que a pedra de “safira” é mencionada. O “arco-íris” implica, como provavelmente também em Ezequiel 1.28, que as ações divinas de juízo retratadas nas visões seguintes serão contrabalançadas por considerações sobre a misericórdia (cf. a mesma implicação do arco-íris em relação à aliança de Noé, v. TDNT 3:342). Acima de tudo, o arco-íris evoca a ideia da glória de Deus, uma vez que Ezequiel 1.28 o iguala metaforicamente ao “aspecto do brilho ao seu redor [...] a aparência da glória do Senhor ” (assim Midr. de Sl 89.18; Midr. Rab. de Nm 14.3; b. Hag. 16a, todos citando Ez 1.28 como suporte; cf. Midr. Rab. de Gn 35.3).
Apocalipse 4.5 Daniel 7.9-28 e Ezequiel 1.26-28 estão no pano de fundo, já que ambos retratam a metáfora do fogo após a menção de um trono e seu ocupante. A própria formulação de 4.5a é influenciada pelas descrições teofânicas do fogo de Ezequiel 1.13 (cf. LXX), embora o cenário semelhante de Êxodo 19.16 seja evidente como uma extensão secundária. A segunda metade de 4.5 sem dúvida é moldada segundo Zacarias 4.2,3,10, em que há uma visão de sete lâmpadas seguida de suas interpretações (cf. Ap 1.12,20) e está associada com o Espírito de Yahweh (Zc 4.6). O vocabulário de Ezequiel 1.13 fundiu-se com a descrição de Zacarias. A primeira referência a Ezequiel 1.13, em 4.5, deu origem ao pensamento de Zacarias 4, já que ambos contêm a visão das “lâmpadas” (cf. LXX).
Apocalipse 4.6a O contexto mais proeminente para a imagem do “mar de vidro, claro como cristal” é Ezequiel 1.22 (o que é confirmado pela formulação “semelhante ao firmamento, como cristal brilhante” (ARA) e pelas já observadas alusões a Ezequiel). O mar de cristal forma o chão diante do trono celestial. Em virtude da presença do “mar” em outras passagens do AT como representação do mal (v. esp. Dn 7; cf. Sl 74.12-15; Is 51.9-11; Ez 32.2), pode ser também um indício de que João vê as forças caóticas do mar apaziguadas pela soberania divina, expressa na ressurreição de Cristo (como mostra o cap. 5).
Apocalipse 4.6b-8a Ao descrever os seres viventes em 4.6b-8a, João continua a extrair elementos do retrato de Ezequiel 1 (v. 5-21), embora provavelmente fundida em seu pensamento com o mesmo retrato dos “seres viventes” de Ezequiel 10.12- 15,20-22. Além disso, as seis asas dos serafins de Isaías 6 foram usadas para complementar aqui o quadro de Ezequiel. As várias visões dos seres viventes, em Apocalipse e no AT (cf. IRs 6.24-28; 2Cr 3.13; Ez 1.6), argumentam contra a interpretação literal desses seres. É provável que sejam anjos celestiais representantes da ordem criada que oferecem louvor contínuo a Deus (cf. Sl 19; 104).
Apocalipse 4.8b A influência de Isaías 6 continua em 4.8b, uma vez que o triságio encontra seu contexto em Isaías 6.3, em que os serafins cantam “Santo, santo, santo é o Senhor dos Exércitos; toda a terra está cheia da sua glória”. Observe que as criaturas viventes aqui substituem “toda a terra está [não há verbo de ligação no hebraico] cheia da sua glória” por “aquele que era, que é e há de vir”. As últimas três palavras incluem um prenúncio da futura vinda de Deus à terra, para enchê-la com sua glória de uma forma sem precedentes
Apocalipse 4.9 Em 4.9a, os seres viventes são retratados como adorando “ao que estava assentado no trono”. Essa cena de louvor oferecido pelos seres celestiais a Deus no seu trono é uma recordação geral bem semelhante a algumas teofanias do AT, especialmente a de Isaías 6.1 (cf. tb. cenários teofânicos em lRs 22.19; 2Cr 18.18; Sl 47.8 [46.9 LXX]; Dn 7.9; Eo. 1.8). Na última sentença de 4.9, a descrição do trono de Deus é expandida por um atributo de eternidade: o louvor é oferecido “ao que vive pelos séculos dos séculos”. Essa expressão ocorre no AT aproximadamente de cinco diferentes formas, exceto em Daniel e nos Apócrifos, mas os paralelos verbais mais próximos são encontrados em Daniel 4.34 Θ e 12.7, em que a forma participial dativa do verbo grego zaõ (“viver”), seguida da expressão temporal com o substantivo aiõti (“eternidade”), é única. As expressões de Daniel constituem a influência coletiva mais provável sobre 4.9b.
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