Significado de Levítico 11

Levítico 11

11:1-47 Alguns animais eram admitidos para alimentação (limpos), mas outros não apropriados para o consumo (imundos). Várias explicações desta divisão foram propostas, contudo a maioria não consegue esclarecer completamente tal questão. O entendimento popular diz respeito à higiene e saúde. Animais imundos eram proibidos como alimento porque carregavam doenças (como por exemplo a carne de porco, triquinose; a lebre e os coelhos, tularemia), ou porque muitos deles comiam carcaças putrefatas, o que podia transmitir outras moléstias ao seres humanos. Isso é verdade, mas tal constatação faz parte das modernas descobertas da medicina. Se a higiene e a saúde fossem a razão para a proibição do consumo de certos animais, seria mais fácil Deus dizer que a carne de porco precisava ser bem cozida, o que previne a infecção humana por trichinella (causadora da triquinose). E o mais importante, alguns dos animais não permitidos para a ingestão não transmitiam necessariamente doenças, e outros, considerados limpos, transmitiam. Talvez a prevenção das moléstias tivesse sido um fator importante na declaração de certos animais como imundos, mas não poderia ser a principal razão para considerar tal coisa.

Outra explicação diz que alguns animais eram usados nos sacrifícios pagãos dos povos que cercavam Israel, e isso os tornava imundos. Entre tanto, tal motivo teria exigido que o carneiro e, acima de tudo, o boi - muito importantes nas religiões egípcias e cananeia - fossem declarados imundos, o que não aconteceu. Alguns estudiosos dizem que o limpo e o imundo foram distinções arbitrárias que Deus usou para testar a fidelidade e a obediência de Israel. Entretanto, o povo tinha muitas outras oportunidades de demonstrar a fé e a obediência, da mesma forma que os fiéis modernos têm. Outros consideram que os animais limpos representavam as pessoas corretas e de fé, e os imundos retratavam os indivíduos perversos e infiéis. Tal aproximação alegórica não tem nenhum fundamento, pois está limitada à imaginação de quem a exprimiu, e por isso não deve ser levada em consideração. Uma melhor explicação é a de que os animais limpos foram determinados como tal porque suas características estavam associadas com a vida e a ordem na antiga cultura de Israel. Os imundos ligavam-se, pelos costumes antigos, com a morte e a desordem por causa de seus hábitos em seu habitat natural. A pureza ritual (limpeza), a santidade, a vida e a ordem eram conceitos associados. A impureza ritual (imundície), os hábitos leigos e profanos, a morte e a desordem formavam ideias agregadas. Esta aproximação transmite unidade a toda a seção no que diz respeito à distinção de limpo e imundo (capítulos 11-15).

11:1 E falou o Senhor a Moisés e a Arão. Sendo agora Arão um sumo sacerdote, ele era responsável pelo ensinamento e pela ministração da Lei. Deus falou com Arão e Moisés juntos quando deu estas informações adicionais (Lv 10.10, 11).

11:2 De todos os animais que há sobre a terra. Esta expressão distingue os animais terrestres dos marinhos e das aves. Um agrupamento similar da vida animal é encontrado na passagem sobre a Criação (Gn 1.20-31).

11:3 Tudo o que [...] remói, isto é, os que remoem os alimentos que voltam do estômago para a boca, como as vacas, as ovelhas, os bodes, os veados e os antílopes. Os ruminantes comem apenas plantas, a maior parte das vezes capim e grãos. Nenhum animal que come carne rumina. Os animais que eram admitidos para alimentação não são mencionados pelo nome (como é feito em Dt 14-4, 5). O gado, os carneiros, as ovelhas e os bodes eram os animais mais consumidos pelos antigos israelitas. Eles comiam muito menos carne do que nós, geralmente só em ocasiões especiais, tais como as celebrações sacrificais ou em honra aos convidados acomodados em suas casas.

11:4-7 Muitas espécies são especificamente citadas como imundas porque possuíam uma das características dos animais limpos, mas não as duas. Ter um traço e não o outro não era o bastante para se considerar um animal como limpo. Mesmo que pareça que somente o fato de se conhecer esta regra tornaria tudo bastante claro, Deus, em Sua graça, deu-lhes exemplos e até mesmo uma base racional. Assim, ninguém precisava preocupar-se com dúvidas acerca da alimentação ou se quebrara ou não a Lei. O fiel de hoje, que busca evitar o pecado manifesto, encontra a mesma graciosidade divina.

11:4 O camelo era um animal consumido pelos vizinhos de Israel, que o consideravam uma iguaria. Entretanto, não seria uma importante fonte de carne para o povo, mesmo se seu consumo fosse permitido, pois ele nunca foi abundante em Israel ou fundamental para a economia israelita como era para as demais nações. Na verdade, o camelo tem uma divisão no casco, mas sua sola ou planta do pé é tão grossa que é como se não houvesse nenhuma separação.

11:5 Este tipo de coelho vive em grupos entre as pedras (Pv 30.26). Embora às vezes seja chamado de texugo das rochas, não é um texugo. Ele tem o mesmo tamanho que um coelho normal. Tais coelhos aparentam ruminar constantemente fora de suas tocas, quando se banham ao sol.

11:6 A lebre não é um animal que rumina, embora aparente fazê-lo constantemente. Ela não tem casco.

11:7 O porco é o mais conhecido dos animais imundos e continua a ser evitado pelos judeus e muçulmanos. Sua carne foi muito consumida pelos vizinhos de Israel nos períodos do Antigo e do Novo Testamento. Todas as razões para qualificar um animal como imundo se enquadram para o porco: (1) a carne do porco inadequadamente cozida pode transmitir muitas doenças aos seres humanos; (2) porcos eram sacrificados em adoração a divindades pagãs; (3) a carne do porco é saborosa; assim, recusá-la era um teste de fidelidade e obediência a Deus.

11:8 No caso dos animais imundos, o ato de comer a sua carne ou tocar suas carcaças mortas fazia com que o israelita também ficasse imundo. Entretanto, pôr a mão ou encostar no animal vivo não convertia o indivíduo nesta situação. Desta forma, um israelita podia criar ou usar um jumento ou camelo como um animal de carga sem tornar-se imundo.

11:9 Das criaturas que viviam no mar e nos rios, os israelitas podiam comer as que tinham barbatanas e escamas. A maioria dos peixes se encaixava nesta descrição. Ostras, mexilhões, caranguejos, lagostas e enguias eram imundos. Nos mares e nos rios indica que estas instruções serviam tanto para as águas salgadas quanto para as doces.

11:10-12 A fraseologia é cuidadosa, deliberada e repetitiva, a fim de eliminar qualquer possibilidade de achar exceções, em outro lugar, às regras estipuladas. Além disso, ao dizer que tais animais não deveriam ser ingeridos, o Senhor os classificou como abominação. Este é um termo de conotação mais forte do que imundo. A palavra implica não apenas evitar o que não é limpo, mas repudiá-lo feroz e ativamente. Barbatanas e escamas são características “apropriadas” para os seres marinhos. Os peixes que as possuíam eram limpos. As criaturas aquáticas que apresentavam uma mistura de categorias - o que sugere desordem - não eram somente consideradas imundas; elas eram uma abominação. Há bons motivos concernentes à saúde para se evitar a ingestão de algumas dessas criaturas, porém estes não eram a razão principal para a classificação de tais animais como imundos.

11:13-19 A listagem aqui apresentada difere das outras duas anteriores, pois não estabelece critérios de diferenciação dos animais ditos imundos. Assim, são listadas as aves que representavam as abominações. Seguindo este raciocínio, entendemos que os outros pássaros eram limpos e podiam ser comidos. Os pássaros aqui citados foram proibidos provavelmente porque consistiam em aves de rapina ou naqueles que se alimentavam de cadáveres putrefatos. Muitos deles também habitavam as áreas desérticas ou ruínas. A associação com a morte e a desordem fez com que fossem classificados como imundos, da mesma forma que aconteceu com os mamíferos que se alimentam de carne. Muitos nomes nesta lista não são específicos, e alguns termos não se referem a um único animal, mas a várias espécies similares, tais como os falcões e os abutres, ou o gavião, ou a família dos corvos. Outras espécies não puderam ser identificadas hoje com absoluta certeza, e muitas sugestões conflitantes foram feitas. A consequência desta falta de precisão na nomeação das aves foi considerar todas as espécies similares como sendo proibidas. Este foi, de fato, o propósito da lista, e desta forma nenhuma ave de rapina ou aquelas que se alimentavam de carcaça seriam comidas em Israel. A expressão segundo a sua espécie é repetida quatro vezes e sugere que muitos dos nomes citados fazem referência à sua própria espécie e a espécies similares, que talvez nem fossem reconhecidas como diferentes naquela época, quando não havia a classificação científica tão importante para os seres humanos hoje em dia.

11:19 A poupa é um pássaro migratório. Esta ave, no inverno, voa para a África tropical, e no verão migra para Israel e para lugares mais ao norte. O morcego, obviamente, não é um pássaro. Entretanto, na era pré-científica, foi agrupado com os pássaros porque possuía asas e podia voar.

11:20 Este versículo fala das pequenas criaturas (como os insetos), e todo réptil que voa, que anda sobre quatro pés é uma expressão idiomática que dá a ideia de voar e mover-se sobre o chão, como os invertebrados fazem com as suas seis pernas. Muitos insetos gostam da imundice e da sujeira e comem refugo. Sua associação com a morte, a impureza e a desordem fez com que fossem considerados imundos.

11:21 Insetos com pernas sobre os seus pés, para saltar com elas sobre a terra eram liberados para o consumo. Os gafanhotos possuem as per nas posteriores grandes, fortes e articuladas, o que permite que eles saltem. Tais insetos não vivem no lixo e não consomem restos. Eles comem apenas plantas.

11:22, 23 No texto original apenas o último nome é certo (o gafanhoto). Os outros são tipos diferentes de gafanhotos. A primeira e a segunda denominações só ocorrem aqui no Antigo Testa mento. Diversos tipos indica a possibilidade de haver espécies similares, como foi explicado em Levítico 11:13-19.

11:24 A expressão por estes faz referência aos insetos voadores do versículo anterior, ou provavelmente a todos os animais imundos cita dos até agora. O simples toque em um cadáver fazia com que a pessoa ficasse imunda até à tarde, quando o novo dia começava para os israelitas.

11:25 Se uma pessoa levasse ou tocasse um cadáver, ou parte dele, a impureza deste indivíduo era maior. Desta forma, a limpeza tinha de ser mais completa.

11:26 A palavra cadáver não está no texto em hebraico, mas é claro que há esse sentido aqui. Um animal considerado imundo que estivesse vivo, tal como um jumento ou um camelo, não podia fazer com que a pessoa se contaminasse com a sua impureza apenas tocando-o. Caso contrário, os indivíduos ficariam imundos todo tempo.

11:27, 28 Todos os animais que andam sobre as suas patas eram imundos porque não tinham o casco fendido. Exatamente como descrito anteriormente, tocar as carcaças de tais criaturas fazia com que a pessoa ficasse imunda, e carregar o cadáver tornava o indivíduo ainda mais imundo, o que exigia uma purificação mais profunda.

11:29, 30 Outro grupo de animais é apresentado aqui. Muitas destas criaturas podiam ser encontradas nas cercanias ou dentro das habitações humanas. Por serem imundas, era muito importante saber como lidar com elas e com os objetos e utensílios que porventura tocassem. Eram as pequenas criaturas que se arrastam sobre a terra. Esta expressão não alude apenas ao grande número em que se encontravam, mas também à agilidade de movimentos. O grupo incluía pequenos roedores em geral, tais como os ratos, a doninha e a toupeira, bem como alguns tipos de lagartos.

11:31 Estando eles mortos significa literal mente quando morrem ou em sua morte. Havia maior possibilidade de um agricultor israelita matar um destes animais durante o dia do que qualquer outro citado neste capítulo. Era importante relembrar às pessoas que, quando matassem estas pestes, ficariam imundas até à tarde.

11:32-38 Estas são as regras para os utensílios domésticos tocados pelos cadáveres dos animais pequenos e imundos. Isto acontecia quando as criaturas caíam sobre os objetos ou dentro deles. Novamente, a boa higiene era um importante objetivo destas instruções, mas o propósito principal era evitar as coisas associadas com a morte e a desordem. Um corpo, a menos que fosse de um animal limpo e preparado para a alimentação, sempre contaminava qualquer um ou qualquer coisa que tivesse contato com ele.

11:32 Utensílios valiosos de madeira, veste, pele ou saco, ou qualquer material usado para confeccionar objetos deveriam ser metidos na água. Não fica muito claro no texto se eles deve riam ser lavados ou postos de molho até à tarde. Mas, à tarde, no início do novo dia judaico, eles estariam limpos.

11:33 E todo vaso de barro... e o vaso quebrareis. A cerâmica era abundante, barata e facilmente reposta. Utilizavam-se também vasilhas feitas de argila para a preparação dos alimentos. Novamente, um resultado higiênico era alcança do ao evitar-se o imundo.

11:34 O conteúdo de qualquer recipiente imundo também se tornava imundo.

11:35 Os fogões e os fornos eram feitos de barro e também deveriam ser quebrados.

11:36 Era bastante difícil esvaziar uma fonte ou uma cisterna. Apenas a pessoa que re movesse o cadáver do animal de dentro da água ficaria imunda, provavelmente até à tarde.

11:37, 38 Uma semente a ser plantada não ficava imunda.

11:39, 40 A expressão se morrer algum dos animais se refere aos animais que morriam de causas naturais, e não àqueles que eram mortos para a alimentação. O cadáver fazia com que a pessoa que o tocasse ficasse imunda porque o sangue dele não fora drenado. Comer dessa carne ou carregar esse corpo era considerado pior do que apenas tocá-lo, e isso requeria uma purificação maior - lavar as vestes e esperar até à tarde. Comer a carne sem esvair seu sangue aparentemente não era uma ofensa tão séria quanto comer ou beber o sangue em si (Lv 7.26, 27). Carregar a carcaça pode ter sido inevitável em muitas situações - transportar o animal para enterrá-lo, por exemplo. A impureza não era uma questão moral, pelo menos não a maneira como uma pessoa se tornava imunda.

11:41-43 O que anda sobre o ventre e tem mais pés são novas descrições. Essas criaturas não foram mencionadas nas proibições anteriores.

11:44 Eu sou o Senhor, vosso Deus. O termo Senhor corresponde no original a Yahweh, o nome pelo qual Deus se revelou a Moisés (Ex 3.14, 15; 6.2, 3). Logo, vós vos santificareis e sereis santos porque eu sou santo era uma ordem vinda diretamente do Todo-poderoso, e o princípio fundamental do chamado código de santidade dos capítulos 17-26. Ser santo quer dizer estar separado. Deus é santo como o transcendente Criador, que está acima da criação e separado dela. Estar separa do para Deus é mais importante do que estar separado das outras coisas. Visto que nós, como povo de Deus, estamos separados para Ele, ficamos cada vez mais parecidos com Sua imagem, a fim de que nos tornemos as pessoas que Ele tinha a intenção de que fôssemos quando criou o primeiro homem e a primeira mulher, conforme Sua imagem (Gn 1.26, 27). A santidade no povo de Deus envolve graça, retidão, integridade, paz e misericórdia, pois estas são as características daquele que nos resgatou e a quem servimos.

11:45 Deus reafirma Sua identidade com objetivo enfático. Depois, Ele fala do magnífico compromisso com os israelitas. Seu propósito ao fazê-los subir da terra do Egito foi para que se tornasse seu Deus. O povo deveria ser santo porque a natureza do Senhor é santa.

11:46, 47 Essa declaração resume o conteúdo e o objetivo do capítulo ao listar, novamente, os quatro principais grupos de animais: para fazer diferença entre o imundo e o limpo. Estas eram normas tanto para os sacerdotes quanto para o povo. Os sacerdotes tinham a responsabilidade de ensiná-las aos israelitas.

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