Interpretação de Levítico 19

Levítico 19

19:1 E o Senhor falou a Moisés. As proibições do capítulo anterior, destinadas a regular a conduta moral das relações e conexões mútuas em seus círculos familiares, agora são seguidas por preceitos que afetam a vida do israelita em todos os seus aspectos, tanto para Deus como para o homem. Daí as autoridades durante o segundo Templo o considerarem como “incorporando o Decálogo”, razão pela qual, bem como pelo fato de que “contém a soma e a substância dos preceitos da Lei, é lido em público”. Os preceitos neste capítulo são divididos em dezesseis grupos, oito dos quais terminam com a reiteração enfática: “Eu sou o Senhor teu Deus” (19:2-4; 19:10; 19:25; 19:31; 19:34; 19:36), e oito com a fórmula mais curta, “Eu sou o Senhor” (19:12; 19:14; 19:16; 19:18; 19:28; 19:30; 19:32; 19: 37).

19:2 Fale a toda a congregação dos filhos de Israel. A importância que o próprio Legislador atribui a este epítome de toda a Lei, como esta seção é chamada, pode ser vista pelo fato de que Deus ordena a Moisés que aborde esses preceitos “a toda a congregação dos filhos de Israel - uma frase que não ocorre em nenhum outro lugar em Levítico nesta fórmula, e que só pode ser encontrada mais uma vez em todo o Pentateuco (Êxodo 12:3), na instituição da Páscoa, a grande festival nacional que comemora a redenção dos israelitas do Egito. Eu, o Senhor, teu Deus. Em torno desta declaração solene, que é repetida nada menos que dezesseis vezes, tanto na forma completa quanto na forma abreviada (ver Lv 19:1), agrupam-se os diferentes preceitos desta seção. É esta fórmula solene que une as várias injunções no capítulo diante de nós. Como o Senhor, que é o Deus deles, é Ele mesmo santo, aqueles que são Seu povo também devem ser santos, ou como o ditado que prevaleceu durante o segundo Templo o expressa, “o ambiente do rei deve levar a marca moral do soberano”; ou, em outras palavras, sua proximidade com Deus não apenas exige. que sua conduta não esteja em contradição com Sua natureza santa, mas que sua vida tenha a marca e reflita a imagem de Deus. (Ver Lv 11:44; Mt 5:48; 1Pe 1:15.)

19:1, 2 Este é um dos maiores capítulos do V.T. É uma antecipação mosaica do próprio espírito do Sermão da Montanha. O conteúdo se relaciona intimamente com os Dez Mandamentos na afirmação, Eu sou o Senhor vosso Deus, que se repete frequentemente como um refrão. O Livro da Aliança (Êx. 21.23) revela do mesmo modo alguns dos mandamentos que se encontram aqui. Santos sereis. O motivo e a inspiração para obediência aos mandamentos que se seguem devia ser a santidade de Deus. O povo hebreu devia medir a sua própria santidade pela de Deus. Obediência aos mandamentos divinos garantiria que permanecessem uru povo de Deus separado e peculiar.

19:3 Cada um respeitará a sua mãe e a seu pai. Este mandamento deve ter sido colocado em primeiro lugar reconhecendo a verdade que, se uma criança aprende a respeitar seus pais e o Dia do Senhor, mais prontamente respeitará os mandamentos do seu Senhor.

19:4 Não vos virareis para os ídolos. A ordem para não se achegarem aos ídolos ('elilim, “vaidade”, “vacuidade”, “nada”) certamente os separava de seus vizinhos idólatras.

19:9-18 Mandamentos Referentes ao Relacionamento de um Homem com o Seu Próximo. O amor e a generosidade deviam motivar o curso da ação a ser seguido.

19:9, 10. Não rebuscarás a tua vinha. Provisão para o pobre e o forasteiro devia ser feita deixando que um pouco da colheita ficasse nos campos para eles. (Cons. Dt. 24:19-21, onde as azeitonas estão incluídas no mandamento.)

19:12. Nem jurareis falso pelo meu nome. Jurar falsamente pelo nome de Deus seria fazê-lo com o intuito de enganar ou defraudar alguém, ato esse que profanada (heileil, “desacreditar, tomar comum”) o Seu Santo Nome.

19:13. A paga do jornaleiro. Ordena-se o pronto pagamento do salário devido.

19:14. Não amaldiçoarás ao surdo. Ridicularizar o surdo e o cego é proibido. Uma vez que Deus sabe de tudo, o temor do castigo devia impedi-lo.

19:15. Não farás injustiça... nem favorecendo o pobre. Não devia haver dois padrões de justiça: um para os ricos e outro para os pobres (cons. Dt. 25:13 e segs., onde dois tipos de peso e medida são mencionados). A administração da justiça devia ser igual a todas as classes sociais. Isto aparece com o tributo de Amós (veja 2:6, 7; 4:1; 5:11, 12, 24).

19:16. Não atentarás contra a vida do teu próximo. Um homem não devia tentar contra a vida do seu próximo, nem pela acusação, nem pelo silêncio.

19:17. Mas repreenderás (de yeikah) envolvia dizer-lhe onde estava o seu erro. Fazê-lo com sinceridade revelaria não apenas ausência de ódio mas também um desejo sincero de progresso. Uma palavra de repreensão que não foi dita poderia encorajá-lo a permanecer no pecado, fazendo o outro participar do seu pecado.

19:18. Não te vingarás, nem guardarás ira. Um homem não devia se vingar (neiqam), nem guardar rancor contra (neitar) seu próximo. Neitar significa literalmente observar e assim alimentar a malícia no coração contra alguém. Antes, o amor devia ser a regra (cons. Mt. 19:19; 22:39; Rm. 13:9; Gl. 5:14).

19:19-25. Orientação para Salvaguardar a ordem Moral. De acordo com Keil e Delitzsch, este grupo de mandamentos dados ao Povo Escolhido tinham o intuito de “manter a ordem física e moral do mundo sagrado” (KD, Pentateuch, II, 421). No versículo 19 o povo é instruído a deixar como estão as coisas separadas pela criação. Diversos tipos de animais não deviam ser cruzados. Como também diversos tipos de sementes não deviam ser semeadas juntas. Não se devia fiar também fazendas com fios de linho e lã juntos.

19:20. Uma mulher, se for escrava. O fato da escrava, embora desposada, não ter sido resgatada nem libertada serviria de proteção para ela contra a sentença de morte pelo pecado mencionado (cons. 20:10). E o homem deveria trazer uma oferta pela culpa ao Tabernáculo para obter o perdão pelo seu pecado (vs. 21, 22).

19:23. Ser-vos-á vedado o seu fruto. Na terra na qual iam entrar, não deveriam comer os frutos das árvores durante os quatro primeiros anos. Os frutos dos três primeiros anos teriam de ser considerados imundos ou proibidos, enquanto os do quarto ano seriam dedicados ao Senhor como oferta de ação de graças.

19:25. No quinto ano. Permitiam comer o fruto no quinto ano, e de acordo com a obediência do povo, as bênçãos do Senhor seriam sobre a futura produção de frutos. O motivo único para a proibição dos quatro anos não estava na dedicação do fruto aos espíritos do campo ou aos espíritos da fertilidade, mas simplesmente, “Eu sou o Senhor vosso Deus”.

19:26 A primeira parte deste versículo é em grande parte uma repetição de 17:10 e segs. Agourar e adivinhar era praticar feitiçaria.

19:27 Não cortareis o cabelo em redondo. Um antigo costume árabe religioso exigia que o cabelo e a barba fossem aparados dessa maneira. A proibição do costume tomou-se necessária para que os judeus fossem distinguidos dos pagãos.

19:28 Não ferireis a vossa carne. Proíbe-se qualquer desfiguramento voluntário da pessoa. Incisões e tatuagens no corpo eram praticadas pelos pagãos.

19:29. Não contaminar a tua filha, fazendo-a prostituir-se. Tal atitude resultaria na dissolução do lar, o centro da sociedade.

19:30. Guardareis os meus sábados. Honrando o Dia do Senhor e a Casa do Senhor, estabelece-se o alicerce para uma nação santa. A maior salvaguarda contra a abominação acima mencionada, e a maneira mais segura de cumprir os mandamentos divinos, é guardando o dia de sábado e seguindo as instruções transmitidas neste dia de descanso. (Ver Lv 19:3.) E reverencie meu santuário. que os israelitas frequentavam no sábado. (Veja Êxodo 35:3.) A maneira de reverenciar o santuário, de acordo com a definição dos canonistas judeus, era que um israelita não entrasse no santuário quando estivesse legalmente contaminado, não subisse a montanha da casa de Deus com seu cajado na mão, com os sapatos nos pés, com a roupa de trabalho, com a poeira nos pés, ou carregando sacos de dinheiro consigo, para não cuspir nos recintos sagrados ou fazer deles uma via pública. É em referência à última regra mencionada que nos é dito que Cristo “não permitiria que alguém carregasse qualquer vaso pelo Templo” (Mc 11:16). Ele não permitiria que eles usassem os recintos sagrados como um atalho.

19:31. Necromantes... adivinhos. Procurar médiuns e feiticeiros indicaria falta de confiança e dedicação ao Senhor.

19:32. Cãs. Respeito pela autoridade e sabedoria terrenas é um pré-requisito do respeito pelo julgamento e mandamentos do Senhor.

19:33. Se o estrangeiro peregrinar. Por causa do tratamento divino dos judeus no Egito, eles também deviam ser gentis e bondosos com o estrangeiro que viesse morar entre eles, amando-o como se fosse um deles (v. 34).

19:35. Não cometereis injustiça. Justiça e honestidade escrupulosa deviam constituir a regra em todos os negócios com o próximo.

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