Provérbios 1: Significado, Teologia e Exegese
Provérbios 1
Provérbios 1 serve como a porta de entrada para o livro da sabedoria, estabelecendo seu propósito principal: ensinar discernimento, disciplina e a arte de viver bem. O capítulo ressalta a importância de temer ao Senhor como o início de todo conhecimento e adverte severamente contra os perigos de se associar com os ímpios e de ignorar os apelos da sabedoria. É um convite urgente aos jovens para abraçarem a instrução e evitarem o caminho da insensatez.
📝Resumo de Provérbios 1
(vv. 1-6) Apresenta o propósito do livro: dar sabedoria, instrução, discernimento e entendimento para todos. (v. 7) Afirma que o temor do Senhor é o princípio do conhecimento, e os tolos desprezam a sabedoria. (vv. 8-9) Exorta os jovens a ouvirem a instrução dos pais, pois ela é um ornamento. (vv. 10-19) Alerta sobre a atração de pecadores e sua violência, mostrando que seu caminho leva à ruína e à morte. (vv. 20-33) A Sabedoria personificada clama nas ruas, advertindo aqueles que a desprezam. Ela promete bênçãos a quem a escuta, mas juízo e desgraça a quem a rejeita, pois colherão os frutos de sua própria tolice.
📖 Comentário de Provérbios 1
Provérbios 1.1 O prólogo do livro de Provérbios (Pv 1.1-7) tem três partes: (1) título (v. 1), (2) objetivo (v. 2-6) e (3) tema (v. 7). O título, Provérbios de Salomão, filho de Davi, rei de Israel (v. 1), pode sugerir três coisas: (1) Salomão é autor do livro, (2) Salomão foi autor das principais contribuições ao livro, ou (3) Salomão é o patrono da sabedoria em Israel, então seu nome esta neste título como honorífico.
Como há outros autores (ex.: Agur [cap. 30] e Lemuel [Pv 31.1-10]), e algum material de Salomão foi editado muitíssimo depois de sua morte (Pv 25.1), parece mais sensato interpretar as palavras de abertura do livro como uma combinação da segunda e terceira opções. Salomão não pode ser o autor de todo o livro, mas é seu contribuinte mais notável e o modelo do ideal de sabedoria de Israel. A palavra usada aqui para “sabedoria” difere daquela mencionada no versículo 1. Trata-se de um termo que expressa habilidade prática, semelhante à destreza de um artesão ou músico.
Assim, a sabedoria exerce impacto sobre a vida de maneira concreta, moldando atitudes e ações, da mesma forma que as competências dos artistas se manifestam em suas obras. Além disso, os termos “justiça”, “julgamento” e “equidade” inserem a sabedoria, a disciplina e o discernimento num contexto essencialmente moral. A sabedoria bíblica, portanto, abrange todas as dimensões da existência, promovendo não apenas mudança de comportamento, mas também um compromisso ético com a justiça.
Provérbios 1.2, 3 Os versículos 2 a 6 explicam o objetivo do livro de Provérbios. Os verbos “conhecer”, “entenderem” e “receber” referem-se as formas de adquirir sabedoria. A palavra sabedoria se refere à capacidade, o que pode ser adquirida em sua vida quando se põe em pratica os ensinamentos dados por Deus. O termo instrução também pode ser traduzido como “disciplina” [NVI]; refere-se ao processo de recepção de conhecimento e posterior aplicação a sua vida diária.
Provérbios 1.3 A expressão traduzida como “instrução do entendimento”, assim como a sabedoria, denota uma habilidade em prática, tal como a de um artesão ou músico. Ou seja, a sabedoria afeta a vida como a habilidade dos artistas afeta a prática de sua arte. As palavras justiça, juízo e equidade dão um contexto moral a sabedoria, instrução e palavras que dão entendimento. A sabedoria bíblica permeia a vida inteira; exige uma mudança de comportamento e comprometimento com a justiça.
O texto hebraico traz: lāqāḥat mûsar haśkēl ṣedeq ûmišpāṭ ûmêšārîm — “para receber a instrução do entendimento, a justiça, o juízo e a equidade”. O verbo lāqāḥat (“tomar, receber”) indica não apenas uma posse passiva, mas uma apropriação ativa da mûsar (“instrução”, “disciplina”), termo que, em Provérbios, frequentemente expressa correção moral e aprendizado através da experiência (cf. Provérbios 3:11). O complemento haśkēl (“prudência”, “entendimento prático”) vem da raiz śākal, que denota sabedoria aplicada. Em seguida, aparecem três valores centrais: ṣedeq (“justiça”), mišpāṭ (“juízo”) e mêšārîm (“equidade”), formando uma tríade ética que orienta a vida comunitária, sendo amplamente desenvolvida nos livros proféticos (cf. Miquéias 6:8).
Na Septuaginta (LXX), o versículo é traduzido como: τοῦ δῆλαι σε παιδείαν φρονήσεως, δικαιοσύνην καὶ κρίσιν καὶ εὐθύτητα — “para mostrar-te a disciplina da prudência, a justiça, o julgamento e a retidão”. O termo παιδεία traduz mûsar, enfatizando seu caráter educativo e corretivo, sendo o mesmo termo que aparece em Hebreus 12:5-11 para descrever a disciplina de Deus aos seus filhos. Já φρόνησις corresponde a haśkēl, indicando discernimento prático, virtude essencial para a conduta cristã, como se vê em Efésios 1:8 onde Paulo fala da “sabedoria e prudência” (σοφία καὶ φρόνησις) concedidas aos crentes. A tríade ética é mantida: δικαιοσύνη (“justiça”), κρίσις (“julgamento”) e εὐθύτης (“retidão”), todas recorrentes no Novo Testamento, especialmente em Mateus 23:23, onde Jesus critica os fariseus por negligenciarem “a justiça, a misericórdia e a fé”. Assim, este versículo já antecipa a preocupação ética fundamental que perpassa toda a Escritura.
Provérbios 1.4 Os simples ou ingênuos são os jovens inexperientes, com tendência ao erro. Os termos “prudência” e “bom senso” incluem os fatos mais duros da vida. O sábio já aprendeu com a experiência a distinguir o que e verdadeiro, louvável e bom do que e falso, vergonhoso e ruim (Rm 12.1, 2).
Provérbios 1.5, 6 A expressão “crescer em sabedoria” vem destacar que o homem que adquiriu alguma compreensão deve continuar desenvolvendo-se em discernimento; sempre há mais o que aprender. O versículo 6 fala das lições que a pessoa mais madura obtém por meio do estudo de provérbios, interpretação, palavras dos sábios e adivinhações.
Provérbios 1.7 O temor do Senhor é o ingrediente mais básico da sabedoria, uma virtude que só pode ser alcançada quando se conhece Deus e submete-se a Sua vontade. Ter conhecimento sobre algo e nenhum de Deus aniquila o valor de possuir esse conhecimento. Só os loucos rejeitaram o temor ao Senhor. O verbo “desprezar” tem uma forte carga negativa e dá mais peso ao fato de que não temer a Deus equivale a rejeitar toda sabedoria. O verdadeiro ponto de partida para a sabedoria é o temor do Senhor — uma atitude de reverência, submissão e dependência diante de Deus.
Toda busca por sabedoria só faz sentido quando está enraizada no conhecimento de quem Deus é e na disposição de obedecer à Sua vontade. Conhecer muitas coisas, mas permanecer afastado de Deus, esvazia completamente o valor desse conhecimento. A Escritura é clara ao afirmar que aqueles que rejeitam o temor do Senhor — os tolos — se afastam automaticamente da possibilidade de serem sábios.
O verbo usado para “desprezar” comunica uma rejeição ativa e deliberada, mais do que simples indiferença: desprezar a Deus é recusar a própria essência da sabedoria. Isso encontra paralelo, por exemplo, em Daniel 11:32, que contrasta os que conhecem a Deus com os que O rejeitam, e em João 17:3, onde Jesus define a vida eterna como conhecer o único Deus verdadeiro. Assim, temer e conhecer a Deus não são apenas opções religiosas, mas condições indispensáveis para uma vida realmente sábia e plena.
Provérbios 1.8, 9 As palavras de abertura deste trecho bíblico soam como o apelo de um pai ao seu filho, um tema que esta presente em todo o resto do livro. Este versículo destaca a importância fundamental da família como meio de transmissão da sabedoria divina. O chamado para “ouvir” não é meramente uma orientação humana, mas reflete o modo como Deus comunica Sua vontade por meio das relações familiares. O pai e a mãe, aqui, são apresentados como agentes da instrução de Deus, transmitindo valores, disciplina e discernimento. O termo “instrução” (hebr.: musar) carrega a ideia de correção e formação moral, e aparece frequentemente como um atributo do ensino divino (ver Provérbios 3:11-12). Assim, ouvir aos pais é, de modo implícito, um ato de reverência a Deus, que os colocou como representantes de Sua autoridade formadora.
Além disso, o ensino materno é explicitamente valorizado, contrariando qualquer visão que restrinja a formação espiritual apenas ao pai. A mãe, na tradição bíblica, é igualmente participante da comunicação da sabedoria divina (cf. Provérbios 31). Portanto, conhecer a Deus passa também por valorizar os meios ordinários pelos quais Ele escolhe transmitir Sua instrução, especialmente no seio da família.
Aqui são descritas as consequências da obediência à instrução parental: ela se tornará uma “grinalda” e “colares”, imagens de honra, beleza e dignidade. Estes adornos eram símbolos públicos de status e virtude no mundo antigo, indicando que a sabedoria recebida e obedecida se manifesta exteriormente, conferindo honra visível ao filho. A grinalda de graça (hebr.: livyat chen) sugere que a vida conduzida segundo a sabedoria divina não apenas agrada a Deus, mas também é esteticamente bela, atraente e socialmente reconhecida.
Teologicamente, este versículo reforça que Deus não apenas instrui, mas também exalta aqueles que acolhem Sua sabedoria, adornando-os com graça e honra. Assim, aceitar a disciplina divina — frequentemente transmitida pelos pais — conduz a uma vida de dignidade espiritual e testemunho visível. A sabedoria não é apenas uma virtude interior, mas uma marca que distingue quem pertence a Deus e vive de acordo com Sua vontade.
Provérbios 1.10-14 Aqui está a primeira passagem de advertência. Neste trecho bíblico, o autor alerta que não devemos misturar-nos com os criminosos. Isto espelha uma situação desregrada da sociedade atual em que é comum ver jovens fracos se deixarem envolver pela rede de violência. Este versículo introduz uma exortação direta contra a sedução do pecado. O termo “pecadores” (hebr.: ḥaṭṭā’îm) refere-se àqueles que vivem habitualmente na prática do mal, não apenas como quem comete deslizes, mas como quem trilha uma trajetória de oposição à vontade de Deus. A palavra “seduzir” (hebr.: pattâ), implica uma tentativa de engano, de atrair suavemente para o erro.
Teologicamente, este versículo revela Deus como um Pai que protege seus filhos, advertindo-os contra os perigos das más companhias. Conhecer a Deus significa confiar na Sua orientação e resistir às propostas que, embora pareçam atrativas, desviam do caminho da justiça. O chamado “não consintas” destaca a responsabilidade pessoal: mesmo que haja pressão externa, cada um deve decidir permanecer fiel à instrução divina.
Aqui é descrita a natureza destrutiva das propostas dos ímpios. A expressão “embosquemos o sangue” (hebr.: n’ʾarivâ lidâm) expõe a violência premeditada, enquanto “espreitemos” (hebr.: nitz’pena) revela a astúcia e o caráter oculto do pecado. A ideia de agir “sem razão” (hebr.: ḥinnām — gratuitamente) enfatiza a ausência de qualquer motivação legítima, sendo o mal praticado pura e simplesmente por desejo perverso.
Este versículo evidencia que o pecado é essencialmente irracional e destrutivo, contrário à ordem estabelecida por Deus, que é justa e pacífica. Conhecer a Deus implica reconhecer que toda proposta que ameaça a dignidade e a vida do outro é uma afronta direta ao Criador, que é o autor da vida e da justiça (cf. Gênesis 9:6).
A linguagem aqui é de violência extrema: “tragamos vivos” (hebr.: nivlaʿêm ḥayyîm), evocando a voracidade da sepultura (hebr.: she’ôl). A imagem reforça o desejo de destruição total, comparável à ação inevitável e impiedosa da morte. Esse retrato revela o caráter anticriador do pecado: enquanto Deus é o Deus da vida e da preservação, os ímpios desejam consumir e destruir. Assim, conhecer a Deus é abraçar a vida e resistir a todo convite à violência, percebendo que o mal não apenas prejudica o próximo, mas corrompe e desumaniza quem o pratica.
Aqui aparece a motivação principal dos pecadores: o lucro injusto. A expressão “bens preciosos” (hebr.: ḥāyil yāqār) refere-se a riquezas valiosas, mas obtidas de forma violenta e ilícita. “Despojos” (hebr.: shalāl) é um termo técnico para o saque, aquilo que se toma pela força.
Esse versículo ressalta a oposição entre a ética divina e a cobiça humana. Deus abençoa o trabalho honesto, mas condena a riqueza adquirida pela exploração e violência. Conhecer a Deus é aprender a contentar-se com o que se possui legitimamente, rejeitando a tentação de buscar prosperidade a qualquer custo (cf. Provérbios 10:2).
O convite à participação no crime é disfarçado sob a promessa de “união” e “compartilhamento”. A expressão “uma só bolsa” (hebr.: kis’ eḥād) sugere comunhão econômica, mas baseada na injustiça. Aqui se vê como o pecado tenta legitimar-se através de uma falsa solidariedade.
Teologicamente, este versículo revela a diferença entre a verdadeira comunhão, que é fruto do amor e da justiça segundo Deus, e a aliança perversa que se estabelece entre os que se unem para o mal. Conhecer a Deus é discernir que não basta qualquer tipo de unidade: a verdadeira comunhão só é legítima quando fundamentada na justiça e na retidão (cf. Salmos 133:1; Atos 2:42).
Provérbios 1.15-18 Nestes versículos, o autor aconselha cautela. Ele destaca que cada passo no caminho perigoso é um passo em direção à destruição ao ilustrar com o ato de estender uma rede para capturar uma ave. Neste caso seria uma tarefa inútil, pois a ave, espiando a armadilha sendo preparada, desvia-se dela. Só que existe o louco, que e mais tolo do que o pássaro; ele vê a armadilha ser montada e ainda assim cai nela.
A advertência divina continua, agora com uma instrução clara para manter distância não apenas das intenções, mas também dos caminhos concretos dos pecadores. O termo “veredas” (hebr.: ’orḥôt) sugere trajetos habituais, modos de vida que se tornam padrões repetidos. O chamado “desvia o teu pé” (hebr.: sur raglekha) implica uma escolha ativa e consciente de afastamento.
Teologicamente, este versículo revela que conhecer a Deus envolve não apenas rejeitar proposições pecaminosas, mas também evitar trilhar caminhos que conduzem gradualmente à ruína. Deus chama o seu povo à separação do mal, não por isolamento social, mas por compromisso com a santidade.
O versículo 16 caracteriza os ímpios pela pressa em praticar o mal. A expressão “correm para o mal” (hebr.: ratsîm lera‘) destaca o ímpeto, a ansiedade, quase como uma compulsão destrutiva. Derramar sangue (hebr.: shofekhê damîm) é aqui o ápice da violência, mas também representa toda ação que atenta contra a dignidade e a vida.
Conhecer a Deus é reconhecer que Ele detesta não apenas o mal em si, mas também a disposição interior que se deleita em promovê-lo. A verdadeira sabedoria, portanto, ensina a resistir a toda pressa em fazer o mal, cultivando em lugar disso a paciência e o amor pela justiça.
Aqui, no versículo 17 surge uma metáfora que revela a insensatez dos pecadores. “Debalde” (hebr.: khinnam) significa “em vão”, apontando que até mesmo as aves são espertas o suficiente para evitar uma armadilha visível. Assim, a prática do mal é não apenas imoral, mas também irracional: expõe quem a pratica ao perigo certo.
Teologicamente, esse versículo ensina que Deus, em Sua sabedoria, ordenou o mundo de tal forma que o pecado carrega em si mesmo as sementes da própria destruição. Conhecer a Deus é também conhecer a estrutura moral do universo, que premia a justiça e frustra o caminho dos ímpios.
No v. 18 a ironia trágica se intensifica: os pecadores pensam que prejudicarão outros, mas acabam atentando contra si mesmos. “Armam ciladas contra o próprio sangue” (hebr.: yatsbenû damâm) indica que a violência que projetam retorna contra eles mesmos. A expressão “espreitam às suas próprias vidas” (hebr.: yitzpenû le’nafshotam) reforça que, ao espreitar o próximo, tramam involuntariamente sua própria destruição.
Conhecer a Deus é compreender esta lei moral: o pecado sempre se volta contra quem o pratica. Deus é justo e fiel ao princípio segundo o qual aquilo que o homem semeia, isso também colherá (cf. Gálatas 6:7).
Provérbios 1.19 Prendera a alma. Estas palavras concluem a advertência do autor aos jovens e apresentam um tema que os trechos seguintes abordarão: o estudo da sabedoria é uma questão de vida ou morte. O versículo finaliza a advertência com uma lição universal: quem se entrega à “cobiça” (hebr.: betsa‘) — um desejo desmedido de lucro — coloca a própria vida em risco. A expressão “tira a vida” (hebr.: yiqqakh et-nefesh) sugere não apenas morte física, mas também ruína espiritual e social. Teologicamente, esse versículo revela Deus como um juiz moral que estabeleceu limites para o desejo humano. A cobiça é retratada como uma força autodestrutiva que aliena o ser humano de Deus e da verdadeira vida. Conhecer a Deus é aprender a contentar-se com o que Ele provê, buscando riquezas verdadeiras: justiça, piedade e comunhão com o Senhor (cf. 1 Timóteo 6:6).
Provérbios 1.20, 21 A palavra Sabedoria aqui esta com letra maiúscula porque não foi traduzida da mesma palavra hebraica que deu origem ao termo sabedoria no versículo 2, mas sim do vocábulo hebraico hokhmoth (que também e encontrado em Pv 9.1; 14.1; 24.7; Sl 49.4). Neste caso, a palavra hebraica provavelmente é a forma plural de hokhmah (Pv 1.2), e não um substantivo abstrato separado, apontando para as multiformes excelências da sabedoria.
Neste versículo, a Sabedoria (hebr.: ḥokhmâ) é personificada como alguém que faz um chamado público e urgente. “Clama em voz alta” (hebr.: tarônâ) transmite a ideia de um grito insistente, e “nas ruas” (hebr.: baḥuts) indica que o convite à sabedoria não é reservado a um grupo restrito, mas dirigido a todos, no espaço público.
Teologicamente, este versículo revela Deus como aquele que busca ativamente se comunicar com a humanidade. A sabedoria que provém de Deus não é oculta nem elitista, mas oferecida de modo acessível e universal. Conhecer a Deus, portanto, implica reconhecer que Ele se revela e chama a todos, indiscriminadamente, para que atendam à Sua instrução e vivam.
A descrição prossegue com a Sabedoria clamando “nas esquinas movimentadas” (hebr.: berosh ḥôvôt — “no topo das ruas”), e “nas entradas das portas” (hebr.: biftei sha‘arîm). Estes locais eram, na cultura israelita, centros de decisão, comércio e justiça, onde as pessoas se reuniam e onde os anciãos julgavam as causas do povo.
Este detalhe enfatiza que o chamado divino à sabedoria ocorre nos lugares onde as decisões vitais da vida são tomadas. Deus não apenas se revela, mas também deseja influenciar profundamente as escolhas humanas. Conhecer a Deus significa escutar Sua voz em todos os aspectos da vida pública e privada, e não restringir a espiritualidade a momentos isolados. Assim, a sabedoria divina busca moldar não só o caráter pessoal, mas também as estruturas sociais.
Provérbios 1.22-27 Este trecho bíblico se dirige aos néscios aqueles que pouco sabem sobre o temor do Senhor e ainda não encontraram uma direção certa na vida. São ensinamentos que repreendem o que é mal e apontam para o que é bom, ressaltando que os que rejeitaram a sabedoria serão ridicularizados quando chegar a hora de enfrentarem o juízo inevitável de sua insensatez.
Ainda assim, a Sabedoria da risadas de júbilo diante da obra de Deus e deleita-se por causa do povo de Deus. A sabedoria se volta especialmente aos simples — pessoas “abertas”, ingênuas, ainda moldáveis e indecisas quanto ao rumo que tomarão na vida. Trata-se, muitas vezes, de jovens em formação, diante da necessidade crucial de escolher entre o caminho da retidão ou da insensatez.
Quando rejeitada, a sabedoria expõe o ridículo daqueles que menosprezam sua instrução, especialmente quando enfrentam o juízo inevitável decorrente de sua própria tolice, como também se observa em Salmos 2:4, onde Deus mesmo zomba dos ímpios.
Entretanto, a sabedoria não é apenas um prenúncio de julgamento: ela também se alegra profundamente nas obras de Deus e encontra prazer na comunhão com o Seu povo, como revelado em Provérbios 8:30-31. Assim, a sabedoria expressa tanto a seriedade do chamado divino quanto a alegria do relacionamento com o Criador.
O v. 22 afirma que “lábios mentirosos são abominação ao Senhor, mas os que praticam a fidelidade são o seu deleite”. A expressão hebraica tə‘ăvat YHWH śip̄tê šāqer enfatiza que para Deus a mentira não é apenas um erro, mas uma “abominação” (Hebr.: tə‘ăvat), termo intensamente pejorativo no contexto sapiencial, também usado em Provérbios 6:16-19 para outros pecados repulsivos. A mentira, aqui simbolizada por šāqer (“falsidade, engano”), corrompe a base relacional da comunidade e afasta o ser humano da verdade divina.
Em contraste, o texto louva os ‘ōśê ’ĕmûnāh, ou seja, “os que praticam a fidelidade”. A palavra ’ĕmûnāh expressa uma qualidade de firmeza, constância e integridade (cf. Habacuque 2:4), sendo fundamental para o relacionamento humano e espiritual. A LXX traduz “abominação” por βδέλυγμα (bdélygma), termo grego que reforça o caráter odioso do engano perante Deus, enquanto para “fidelidade” escolhe εὐδοκοῦντες — “os que agradam”, indicando que a fidelidade causa prazer ao Senhor. Esta antítese moral encontra eco em Efésios 4:25: “Deixai a mentira, e falai a verdade cada um com o seu próximo”.
No v. 24 diz que a “mão dos diligentes dominará, mas a remissa será sujeita a trabalhos forçados”. O hebraico yaḏ ḥārûṣîm timšōl descreve a “mão dos diligentes” que “dominará”. O termo ḥārûṣîm sugere não apenas diligência, mas também decisão e firmeza, indicando uma ética ativa de trabalho (cf. Provérbios 10:4: “A mão preguiçosa empobrece, mas a mão diligente enriquece”). O verbo timšōl (“dominará”) lembra o mandato dado ao ser humano em Gênesis 1:28 — ûrḏû (“dominai”), sugerindo que a diligência restaura o propósito original de governo responsável sobre a criação.
Em contrapartida, o preguiçoso é chamado de rimiyyāh (“remisso, negligente”), cuja mão será lammas, ou seja, “tributária, sujeita a trabalhos forçados”. Na LXX, a primeira parte é traduzida por χείρ ἐκλεκτῶν ἐν κραταιότητι — “a mão dos escolhidos [atua] com poder”, destacando o vigor da diligência como caminho para a autoridade. A ideia de sujeição lembra Provérbios 11:29: “O tolo será servo do sábio de coração”, sublinhando que a negligência conduz à servidão, enquanto a diligência, à liderança.
Já no v. 25, quando diz que “a ansiedade no coração abate o homem, mas uma boa palavra o alegra”, o hebraico emprega da’ăgâ bəlēḇ ’îš — “ansiedade no coração do homem” — que yašḥennāh, ou seja, “o abate, o deprime”. O verbo yašḥennāh é da raiz šāḥāh, “curvar-se, abater-se”, evocando a imagem de alguém emocionalmente prostrado. Esse peso interior é reconhecido também no Novo Testamento: cf. Filipenses 4:6 — “Não andeis ansiosos por coisa alguma…”.
Em contraste, dāḇār-ṭōḇ yəśamḥennāh — “uma boa palavra o alegra”. O verbo yəśamḥennāh provém de śāmaḥ, “alegrar-se”, mostrando que a palavra sábia e consoladora é capaz de levantar o ânimo abatido. A LXX traduz: λύπη ἀνδρὸς ταπεινοῖ τὴν καρδίαν, λόγος δὲ καλὸς εὐφραίνει αὐτὴν — “a tristeza do homem humilha o coração, mas uma boa palavra a alegra”. Assim, a “boa palavra” (λόγος καλός) é um antídoto espiritual à opressão emocional, como também atestado em Provérbios 15:23: “Como é boa a palavra dita a seu tempo!”.
Chegando ao v. 26, o texto hebraico apresenta yātēh ṣaddîq lə’rē‘ēhû — literalmente, “o justo investiga/guia o seu amigo”. O verbo yātēh pode significar “guiar, orientar” ou “perscrutar”, sugerindo que o justo não apenas aconselha, mas também avalia cuidadosamente as necessidades de seu próximo. Este aspecto da justiça relacional está em harmonia com Levítico 19:17-18, que ordena: “Não odiarás teu irmão… mas o repreenderás…”.
O contraste está em wəḏereḵ rešā‘îm yaṯi‘ēm — “mas o caminho dos perversos os faz errar”. O verbo yaṯi‘ēm é causativo, da raiz ṭā‘āh, “errar, desviar-se”, indicando que o estilo de vida dos ímpios não só os afasta da verdade, mas também desorienta os que os seguem.
A LXX opta por: οἱ δὲ ἄνομοι πλανῶνται — “os ímpios se desviam”, utilizando πλανῶνται (de πλανάω, “errar, enganar”), palavra frequentemente associada no Novo Testamento à ilusão espiritual, como em 2 Timóteo 3:13: “os homens maus… irão de mal a pior, enganando e sendo enganados”.
No v. 27 somos informados de que o “o preguiçoso não assará a sua caça, mas o bem precioso do homem é ser diligente.” No hebraico, rəmiyyāh lo’ yaḥarōḵ ṣêḏô — “o remisso não assará a sua caça”. O termo yaḥarōḵ é raro, provavelmente relacionado ao verbo “assar, cozinhar”, evocando a imagem de alguém que, mesmo tendo obtido caça (ṣêḏ), falta-lhe a energia ou a disciplina para completá-la, perdendo assim o fruto do seu esforço. Essa imagem ressalta a tragédia da preguiça, que desperdiça oportunidades.
Em contraste, wə’hôn ’ādām yāqār ḥārûṣ — “mas o bem precioso do homem é ser diligente”. O termo ḥārûṣ, novamente, expressa diligência e determinação. A LXX reforça: ἀνὴρ δὲ τίμιος πόνον αὐτοῦ — “o homem honrado valoriza o seu trabalho”, usando πόνος (pónos, “trabalho, esforço”), expressão que aparece em 2 Tessalonicenses 3:10: “se alguém não quer trabalhar, também não coma”. Assim, este provérbio ensina que não basta iniciar tarefas, é preciso a diligência perseverante para completá-las e fruir seus resultados, algo reiterado em Eclesiastes 9:10: “Tudo quanto te vier à mão para fazer, faze-o conforme as tuas forças”.
Provérbios 1.28-33 Eu não responderei. Esta e a consequência que enfrentara aquele que escolheu desprezar a sabedoria; o Senhor não atendera as orações. O louco costuma rejeitar os sábios conselhos do Senhor porque se recusa a temer a Deus (v. 29). Os versículos 31 e 32 retomam o tema do versículo 19 sobre a orientação dos pais: os loucos atraem sua própria destruição. Rejeitar a sabedoria os destruirá. Este tenebroso alerta termina com a promessa de vida aos poucos que derem ouvidos as palavras de sabedoria; estes encontrarão segurança e paz.
No. v. 28, nós lemo que no “caminho da justiça está a vida, e no seu caminho não há morte”. O hebraico expressa: bə’ōraḥ ṣədāqāh ḥayyîm — “no caminho da justiça, [há] vida”. A expressão ’ōraḥ sugere uma trilha ou senda bem estabelecida, enquanto ṣədāqāh designa uma justiça relacional e ética, base da sabedoria bíblica (cf. Provérbios 11:19). A antítese entre vida e morte aqui não se refere apenas à sobrevivência física, mas a uma dimensão existencial e espiritual: seguir a justiça conduz à plenitude de vida.
Na LXX, lê-se: ἐν τρίβῳ δικαιοσύνης ζωὴ, ὁδὸς δὲ ἀμνημονεύσεως οὐκ ἔστιν θάνατος — “no caminho da justiça, [há] vida; caminho de lembrança, não há morte”. A adição de ἀμνημονεύσεως (amnēmonéuseōs, “de lembrança”) sugere que o caminho da justiça gera uma memória duradoura, uma herança espiritual. O termo δικαιοσύνη (dikaiosýnē, “justiça”) é central na teologia paulina, especialmente em Romanos 1:17, onde “o justo viverá pela fé”. Assim, a conexão entre justiça e vida é profundamente reforçada na ética neotestamentária, como também em João 5:24: “quem ouve a minha palavra… tem a vida eterna… e passou da morte para a vida”.
Mais adiante, no v. 29-30 (, lemos que “o justo nunca vacilará, mas os ímpios não habitarão a terra”. O hebraico afirma: ṣaddîq lə‘ōlām bal yimmōṭ — “o justo para sempre não será abalado”. O verbo yimmōṭ (de môṭ, “vacilar, cair”) transmite a ideia de estabilidade perene. O justo, ancorado na justiça divina, é como o “Monte Sião, que não se abala” (Salmo 125:1). Já os ímpios, ršā‘îm, “não habitarão a terra” (wûršā‘îm lō’ yiškənû ’āreṣ), evocando o julgamento divino que expulsa o mal da herança prometida (cf. Salmo 37:9: “os que esperam no Senhor herdarão a terra”).
Na LXX, lê-se: οὐ σαλευθήσεται εἰς τὸν αἰῶνα δίκαιος, οἱ δὲ ἀσεβεῖς οὐ κατοικήσουσι γῆν — “não será abalado para sempre o justo, mas os ímpios não habitarão a terra”. O verbo σαλευθήσεται (saleuthḗsetai) ocorre também em Hebreus 12:27, referindo-se ao abalo cósmico que precede o reino inabalável de Deus. Assim, a segurança do justo é um tema escatológico no NT, especialmente em passagens como Mateus 5:5: “Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a terra”. A estabilidade existencial e espiritual do justo se contrapõe à transitoriedade dos ímpios.
Já no final, vv. 30-31, temos: “A boca do justo produz sabedoria, mas a língua perversa será cortada”. O hebr.: pî ṣaddîq yanbîaḥ ḥoḵmāh — “a boca do justo faz brotar sabedoria”, usando yanbîaḥ (de nāba‘, “jorrar, fazer brotar”), que sugere espontaneidade e abundância na fala sábia (cf. João 7:38: “do seu interior fluirão rios de água viva”). A contrapartida é wəlāš tāpûḵōṯ tiḵārēṯ — “a língua perversa será cortada”, com o verbo tiḵārēṯ (cortar, destruir), evocando julgamento e cessação definitiva do mal.
Na LXX: ἐκ στόματος δικαίου ἐκπορεύεται σοφία, γλῶσσα δὲ ἀδίκων ἐξολεθρευθήσεται — “da boca do justo sai sabedoria, mas a língua dos injustos será destruída”. O verbo ἐκπορεύεται (ekporeúetai, “sai, procede”) também aparece em Mateus 15:18: “o que sai da boca procede do coração”. Aqui, a conexão é clara: a fala expressa o caráter. O termo ἐξολεθρευθήσεται (exolethreuthḗsetai, “será exterminada”) aparece em Atos 3:23, citando Deuteronômio, como punição divina: “será exterminado do meio do povo”. Assim, o destino das palavras revela o destino final do próprio ser humano.
🙏 Devocional de Provérbios 1
Provérbios 1:1-6 — O Propósito da Sabedoria e Seus BenefíciosOs versículos iniciais de Provérbios deixam claro o objetivo do livro: “para conhecer a sabedoria e a instrução; para entender as palavras de prudência; para receber a instrução do bom siso, a justiça, o juízo e a equidade; para dar aos simples prudência, e aos jovens conhecimento e bom senso”. O autor, identificado como Salomão, o rei de Israel, convida o leitor a uma jornada de aprendizado contínuo. Não se trata apenas de adquirir informações, mas de desenvolver discernimento, justiça e capacidade de tomar decisões acertadas. É um guia para a vida que transforma o “simples” em prudente e o jovem em alguém com conhecimento e bom senso.
Aplicação Pessoal: Este bloco é um lembrete poderoso de que a busca por sabedoria não é um passatempo, mas uma necessidade vital para qualquer área da nossa vida. Para um cristão, entender que a sabedoria bíblica oferece mais do que regras, mas um caminho para a vida plena, é transformador. Ela nos capacita a julgar com justiça e a agir com retidão.
Em seu ambiente familiar, um filho que busca a sabedoria aprenderá a respeitar e honrar seus pais, compreendendo o valor da instrução. Para aqueles na paternidade, é essencial não só buscar sabedoria para si, mas também transmiti-la aos filhos, ensinando-lhes os princípios da justiça e da equidade. Isso significa orientá-los a fazer escolhas prudentes e a entender as consequências de suas ações.
No local de trabalho, o profissional que internaliza esses versículos não apenas busca conhecimento técnico, mas também desenvolve discernimento para lidar com dilemas éticos, tomar decisões justas e trabalhar com integridade. Na igreja, um membro que anseia por sabedoria será capaz de discernir entre o certo e o errado, contribuindo para um ambiente de maturidade espiritual e harmonia. E como cidadãos, a sabedoria nos capacita a entender as complexidades sociais, a defender a justiça e a equidade, e a votar e agir de forma consciente, promovendo o bem-estar coletivo. É um convite à humildade de reconhecer que sempre há algo a aprender, como nos lembra Tiago 1:5: “Se alguém de vocês tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente, de boa vontade, e lhe será concedida.”
Provérbios 1:7 — O Fundamento de Toda Sabedoria: O Temor do Senhor
Este versículo é o cerne de todo o livro e talvez de toda a literatura de sabedoria bíblica: “O temor do Senhor é o princípio do conhecimento; os loucos desprezam a sabedoria e a instrução.” A verdadeira sabedoria não começa com a inteligência humana ou a acumulação de fatos, mas com uma reverência profunda e respeitosa a Deus. Desprezar essa verdade fundamental é a marca do “louco” – alguém que não tem sabedoria prática e que, por sua teimosia, caminha para a ruína.
Aplicação Pessoal: Este é o ponto de partida para qualquer um que deseja viver uma vida com propósito e significado. Para um seguidor de Cristo, o temor do Senhor não é medo de um carrasco, mas um profundo respeito, amor e reconhecimento da Sua soberania e santidade. É a fonte de toda a verdadeira sabedoria, levando a uma vida de obediência e confiança.
No contexto familiar, um filho que teme ao Senhor naturalmente honrará seus pais e agirá com integridade, pois entende que suas ações refletem sua fé. Para quem exerce a paternidade, inculcar o temor do Senhor nos filhos é a maior herança, pois isso os guiará em todas as decisões da vida, ensinando-lhes a buscar a vontade de Deus em primeiro lugar.
No ambiente de trabalho, um profissional que teme ao Senhor se destacará pela honestidade, dedicação e ética, realizando suas tarefas como se estivesse servindo a Deus (Colossenses 3:23). No corpo de Cristo, o temor do Senhor nos motiva a servir com humildade, a amar o próximo e a buscar a santidade, contribuindo para uma comunidade que reflete o caráter de Deus. E como cidadãos responsáveis, o temor do Senhor nos leva a ser pessoas justas, que pagam seus impostos, respeitam as leis e buscam a paz na cidade, porque compreendem que toda autoridade é estabelecida por Deus (Romanos 13:1). Ignorar este princípio é como construir uma casa na areia; cedo ou tarde, a estrutura desmoronará.
Provérbios 1:8-19 — Alerta Contra Más Companhias e Caminhos Perigosos
A partir do fundamento do temor do Senhor, o livro avança para advertências práticas. Este bloco adverte enfaticamente contra as más companhias e os caminhos da perversidade. O “filho” é instruído a ouvir o conselho de seus pais e a não ser seduzido por convites para a violência e o ganho fácil e desonesto. A mensagem é clara: o caminho dos ímpios é uma armadilha, que os levará à própria destruição. Aqueles que buscam o mal, no fim, “armam ciladas contra si mesmos”.
Aplicação Pessoal: A influência de nossas companhias molda significativamente quem nos tornamos. Para um discípulo de Jesus, escolher amigos e ambientes que o edifiquem e o encorajem na fé é crucial. Evitar “panelinhas” ou grupos que promovem valores contrários aos ensinamentos bíblicos é um ato de sabedoria e autoproteção.
No lar, um filho que compreende esses versículos será mais resistente à pressão de colegas para fazer coisas erradas, valorizando o conselho dos pais como um escudo. Para quem exerce a paternidade, a responsabilidade de monitorar as amizades dos filhos e orientá-los sobre os perigos das más influências se torna evidente. Isso envolve conversas francas sobre as consequências das más escolhas.
No ambiente de trabalho, um profissional sábio não se envolverá em esquemas antiéticos ou em fofocas que podem prejudicar a equipe ou a reputação da empresa. Ele entende que atalhos desonestos levam a problemas maiores. Na comunidade de fé, somos chamados a ser sal e luz, mas também a sermos vigilantes para não sermos corrompidos por práticas ou doutrinas que se afastam da verdade. Paulo nos adverte em 1 Coríntios 15:33: “Não se deixem enganar: 'Más companhias corrompem bons costumes'.” Como cidadãos, resistir à tentação de se associar com grupos que promovem a corrupção, a violência ou a injustiça é um dever moral, optando sempre por contribuir para uma sociedade mais justa e segura.
Provérbios 1:20-33 — O Grito da Sabedoria e as Consequências da Rejeição
A Sabedoria é personificada neste bloco, clamando nas ruas e nas praças, convidando a todos para que a ouçam. Ela não é um segredo, mas uma voz disponível publicamente. Contudo, ela também emite um aviso severo: aqueles que persistentemente ignoram e zombam de seus conselhos enfrentarão as consequências de suas escolhas. Quando o desastre vier, a Sabedoria não atenderá ao seu clamor. Haverá punição para os “ingênuos” que amam a sua simplicidade e para os “tolos” que odeiam o conhecimento. A segurança e a tranquilidade vêm para aqueles que a ouvem e a abraçam.
Aplicação Pessoal: Este é um chamado urgente para abraçar a sabedoria enquanto há tempo. Para um seguidor de Jesus, a Palavra de Deus (a Sabedoria personificada em Cristo, conforme João 1:1) está disponível e clama a todo tempo. A rejeição persistente à verdade e aos princípios divinos leva inevitavelmente à ruína espiritual e pessoal.
No seio familiar, um filho que ignora os conselhos dos pais e a voz da prudência em sua consciência inevitavelmente colherá os frutos de suas escolhas insensatas. Para quem exerce a paternidade, é essencial não apenas oferecer conselhos, mas também alertar sobre as consequências da desobediência e da teimosia, incentivando a uma atitude de receptividade à instrução.
No ambiente profissional, um profissional que se recusa a aprender, que ignora as advertências sobre práticas arriscadas ou antiéticas, ou que zomba da sabedoria de colegas mais experientes, provavelmente enfrentará fracassos e perdas. Na comunidade de fé, a negligência da Palavra de Deus e a recusa em aceitar a correção fraterna podem levar à apostasia e a uma fé superficial, sem raízes. Hebreus 12:5-6 nos lembra da importância da disciplina para nosso crescimento. Como cidadãos, a rejeição coletiva da sabedoria, da justiça e da equidade leva ao caos social e à decadência. Aqueles que escolhem ouvir a voz da sabedoria, no entanto, encontrarão segurança e viverão em paz (Pv 1:33), contribuindo para um mundo mais justo e harmonioso. É uma escolha diária: ouvir e prosperar, ou rejeitar e colher o amargo fruto da insensatez.
✝️ Teologia de Provérbios 1
Provérbios 1 revela que Deus é a fonte suprema da sabedoria e do conhecimento verdadeiro. O livro enfatiza que a sabedoria não é um atributo meramente humano, mas um dom divino, acessível àqueles que vivem em reverência a Deus. Ele se revela como um Deus que deseja instruir e orientar a humanidade, oferecendo princípios que moldam não apenas o comportamento externo, mas também a formação moral e espiritual do ser humano. Assim, o caráter de Deus é apresentado como justo, comunicativo e zeloso em transmitir aos seus filhos as diretrizes para uma vida virtuosa.Além disso, Provérbios 1 destaca que o relacionamento correto com Deus, fundamentado no temor do Senhor, é a base indispensável para toda sabedoria. Esse temor implica reverência, submissão e reconhecimento da soberania divina sobre todas as áreas da vida. Ao mesmo tempo, Deus se mostra como Aquele que adverte sobre as consequências do desprezo à Sua sabedoria: a rejeição de Deus resulta em destruição e morte, mas a obediência leva à vida, segurança e paz. Assim, este capítulo revela o caráter de Deus como aquele que é gracioso ao oferecer sabedoria, mas também justo ao permitir que aqueles que O rejeitam sofram as consequências de suas escolhas.
No versículo 23, nós lemos: “O homem prudente oculta o conhecimento, mas o coração dos insensatos proclama a estultícia”. O termo hebraico ‘ārûm aqui traduzido como “prudente”, denota uma astúcia sábia, que sabe quando calar-se. Ele kosem da‘at, isto é, “oculta o conhecimento”, agindo com discrição e evitando a ostentação de sua sabedoria. A prudência não se exibe, mas é seletiva na exposição do saber, conforme recomenda Eclesiastes 3:7: “há tempo de calar e tempo de falar”.
Por outro lado, o lēḇ ’ĕwîlîm — “o coração dos insensatos” — yiqra’ ’iwwelet, ou seja, “proclama a tolice”. O verbo yiqra’ sugere aqui não apenas dizer, mas “clamar, gritar”, como quem ostenta sua insensatez. A palavra ’iwwelet (estultícia) frequentemente em Provérbios expressa um comportamento rebelde e desregrado, mais do que uma mera falta de inteligência.
Na LXX, a ideia é reforçada: ἄνθρωπος φρόνιμος κρύπτει ἐπίγνωσιν — “o homem prudente esconde o conhecimento” — usando ἐπίγνωσιν (epígnōsin), que significa conhecimento pleno e discernido, sublinhando o valor da moderação. Isso se conecta com Mateus 7:6: “Não deis aos cães o que é santo…”, destacando o perigo de lançar a sabedoria a quem não pode recebê-la.
📜 Contexto Histórico de Provérbios 1
Os provérbios de Salomão (1:1). A investidura divina do rei Salomão, a demonstração judicial, a produção literária e a reputação generalizada de “sabedoria” são descritos em detalhes em 1 Reis 3:5–15; 4:29–34; 5:12; 10:1–9; 11:41 (parcialmente paralelo em 2 Crônicas 1:1–12; 9:1–8, 22–33; cf. Mat. 12:42; Lucas 11:31). Se Salomão é o “Mestre” no livro de Eclesiastes, também aprendemos sobre suas atividades como sábio em Eclesiastes. 12:9–10 (veja a introdução no comentário sobre Eclesiastes).Para aprender sabedoria e disciplina (1:2). Vários textos egípcios, mais notavelmente “A Instrução de Amenemope” (composto provavelmente durante o século XII aC), começam com uma série de declarações de propósito semelhantes em forma a Prov. 1:1-7, mas um pouco diferente em ênfase. Por exemplo:
Para endireitar os caminhos da vida,“Sabedoria” (hebr.: hokmah) é o mais amplo de vários termos relacionados usados nesses versículos introdutórios. No AT, “sabedoria” pode designar várias habilidades intelectuais e práticas, até mesmo artísticas, mas em Prov. 1–9 sempre tem uma dimensão moral.
E faça-o prosperar na terra;
Para deixar seu coração se estabelecer em sua capela,
Como alguém que o afasta do mal;
Para salvá-lo da conversa dos outros,
Como alguém que é respeitado na fala dos homens.
(“The Instruction of Amenemope,” trans. W. K. Simpson (LAE 224).
O temor do Senhor é o princípio do conhecimento (1:7). Os textos instrutivos não-israelitas em todo o antigo Oriente Próximo também frequentemente observam o valor de reverenciar os deuses, mas apenas a sabedoria israelita atribui ao “temor do Senhor” um papel central para adquirir sabedoria e alcançar um comportamento agradável a Deus.
Com base em alguns modelos literários egípcios, alguns estudiosos sugerem que o longo prólogo de 1:8–9:18 deve ser dividido em dez ou mais “palestras” originalmente independentes. No entanto, essa teoria composicional exige que os estudiosos rotulem alguns versos como “interlúdios” entre as “lições” individuais. Como está agora, o prólogo de Provérbios (1:8–9:18) apresenta uma introdução teológica cuidadosamente composta e unificada à sabedoria proverbial.
Ouça, meu filho... não rejeite o ensinamento de sua mãe (1:8). Os textos de sabedoria no antigo Oriente Próximo geralmente apresentam um pai se dirigindo a seu filho, embora, como as escolas de escribas eram comuns fora de Israel, alguns intérpretes consideram isso apenas uma designação metafórica para uma relação professor-aluno. A única menção em 1:8 e 6:20 (cf. 31:1) do envolvimento de uma mãe na instrução de seu filho, entretanto, aponta para um contexto familiar. Assim como com os vizinhos de Israel, isso pode ter envolvido o treinamento de filhos para seguir a profissão de seu pai, mas Provérbios dá menos ênfase às habilidades profissionais e mais à formação moral do que outros textos instrutivos não-israelitas em todo o antigo Oriente Próximo.
Vamos engoli-los vivos, como o Sheol (1:12). Esse versículo pode ser uma alusão ao apetite voraz da Morte retratado na mitologia cananéia (cf. 27:20; 30:16).3 Sobre o Sheol, veja os comentários sobre o Sl. 6:5.
A sabedoria clama (1:20). Nesta seção de Provérbios, a “sabedoria” é personificada como uma mulher, referida pelos estudiosos como “Senhora Sabedoria”. Alguns intérpretes sugeriram que a Senhora Sabedoria foi modelada a partir de uma antiga deusa do Oriente Próximo, mais frequentemente a deusa egípcia Ma’at. A palavra egípcia ma’at designa o conceito de verdade e justiça, e a deusa Ma’at personifica essas características (sobre Ma’at, ver comentários em Êxodo 5:2; ver a seção sobre religião egípcia no artigo “Os egípcios”). No entanto, a Senhora Sabedoria em Provérbios não exibe claramente características ou ações divinas, e a palavra hebraica hokmah (“sabedoria”) não é sinônimo da palavra egípcia ma’at.
Provérbios 4 ocupa uma posição central na primeira seção do livro de Provérbios (caps. 1–9), onde o foco é a instrução sapiencial transmitida de pai para filho. A estrutura desse capítulo é marcada por apelos reiterados à busca pela sabedoria e à rejeição dos caminhos do ímpio. O contexto histórico e cultural dessa instrução se insere no ambiente mais amplo da tradição sapiencial do antigo Oriente Médio, particularmente em textos sumério-acadianos, babilônicos e egípcios.
A instrução do pai em Provérbios 4 ecoa, de forma notável, as instruções paternas que permeiam obras sapienciais egípcias como “A Instrução de Ptahhotep” (c. 2300 a.C.) e “A Instrução de Amenemope” (séculos XIII-XII a.C.). Esses textos funcionam como compêndios ético-práticos transmitidos em forma de conselhos familiares, enfatizando a busca pela moderação, justiça e sabedoria. Por exemplo, na “Instrução de Amenemope”, capítulo 1, lemos: “Dá ouvidos às palavras sábias, fixa-as em teu coração; que elas dirijam a tua língua, para que possas responder ao que fala, ao que consulta, segundo o tempo e a necessidade.” (tradução baseada em Lichtheim, Ancient Egyptian Literature, vol. 2).
Esse tipo de exortação à escuta atenta e ao armazenamento da sabedoria no coração encontra paralelos claros com Provérbios 4:4: “Ele me ensinava e me dizia: ‘Retenha o teu coração as minhas palavras; guarda os meus mandamentos e vive.’”
Ambos os textos enfatizam a necessidade de a sabedoria ser interiorizada, não apenas conhecida externamente. Além disso, Provérbios 4:7 afirma: “O princípio da sabedoria é: adquire a sabedoria; sim, com tudo o que possuis, adquire o entendimento.”
Esta insistência na aquisição da sabedoria como o bem mais precioso remete diretamente a uma concepção amplamente difundida nas culturas vizinhas, onde a sabedoria é mais valiosa que riquezas materiais. Por exemplo, na “Instrução de Shuruppak” (um dos textos sumérios mais antigos, c. 2600 a.C.), encontramos exortações semelhantes: “Meu filho, não negligencies a palavra que te digo! […] O temor dos deuses é o fundamento da sabedoria.”
Embora a formulação seja diferente, nota-se a função ética da instrução, que, como em Provérbios, visa estabelecer um padrão de vida orientado pela ordem e pela piedade.
Outra tradição relevante para o contexto de Provérbios 4 são as máximas acadianas, como aquelas do “Conselho de um Sábio” (período médio-assírio, c. 1300–1000 a.C.). Lá lemos: “Busca sabedoria, e ela te guardará; busca entendimento, e ele te protegerá.”
Essa formulação é quase paralela a Provérbios 4:6: “Não desampares a sabedoria, e ela te guardará; ama-a, e ela te protegerá.”
Esse paralelismo não é acidental, mas revela um fundo comum no pensamento sapiencial mesopotâmico e hebr.: a sabedoria é apresentada como uma força ativa que protege e orienta quem a possui. Em ambos os contextos, a sabedoria não é apenas um atributo intelectual, mas uma realidade quase personificada, dotada de eficácia prática.
No que concerne à antítese entre os caminhos da sabedoria e os caminhos dos ímpios, tão marcante em Provérbios 4:14-19, podemos traçar conexões com textos como o “Hymn to Shamash” (hino a Šamaš, o deus-juiz da Mesopotâmia, datado do século XVIII a.C.), que celebra a justiça e condena a via da iniqüidade: “Šamaš, juiz dos céus e da terra, guia os justos por caminhos seguros; mas aquele que trilha o caminho do mal, sua senda será obscurecida e cheia de tropeços.”
Essa imagem ressoa claramente em Provérbios 4:18-19: “Mas a vereda dos justos é como a luz da aurora, que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito. O caminho dos ímpios é como a escuridão; nem sabem eles em que tropeçam.”
A oposição entre luz e trevas como metáfora dos caminhos éticos é, portanto, um tropo comum no antigo Oriente Médio, não sendo exclusivo da tradição israelita.
Por fim, a insistência de Provérbios 4:23: “Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o teu coração, porque dele procedem as fontes da vida.”
Esse verso apresenta uma concepção holística da vida humana, que encontra ressonância, ainda que de modo menos explícito, em vários textos egípcios. A “Instrução de Kagemni” (c. 2300 a.C.), por exemplo, exorta: “O homem equilibrado é aquele cujo coração é obediente e cuja língua é moderada.”
Embora a metáfora das “fontes da vida” seja distintivamente hebraica, a centralidade do “coração” (lev, לב) como sede do caráter, das decisões e da vida moral é uma ideia compartilhada no mundo antigo.
Em conclusão, Provérbios 4 não deve ser lido isoladamente, mas como parte de um complexo e multifacetado patrimônio sapiencial do antigo Oriente Médio, onde instruções paternas, exortações éticas e imagens da vida como caminho eram largamente difundidas e apreciadas. O livro de Provérbios incorpora criativamente essas tradições, conferindo-lhes um tom teológico específico: a sabedoria não é apenas uma qualidade prática, mas também um reflexo da ordem criada por YHWH e um caminho de vida sob sua orientação. O monoteísmo ético de Israel reformula, assim, tradições pan-orientais, conferindo-lhes uma profundidade espiritual singular.
✡️✝️ Comentário dos Rabinos e Pais Apostólicos
✡️ Rashi (Rabbi Shlomo Yitzchaki, séc. XI)
Rashi é conhecido por seu foco no "pshat" (significado simples e direto) do texto bíblico. Em Provérbios 1:7, ele comenta: "O temor do Senhor é o princípio do conhecimento." (Biblioteca Virtual Judaica)
Rashi compara o "temor do Senhor" à "terumá", a porção dos melhores produtos dada ao sacerdote, destacando que o temor a Deus é a melhor parte do conhecimento. Ele enfatiza que, antes de adquirir sabedoria, é essencial ter reverência a Deus, pois os tolos que desprezam o temor divino não podem internalizar a verdadeira sabedoria. (OUTorah)
✡️ Midrash Mishlei
O Midrash Mishlei é um comentário aggádico sobre o Livro de Provérbios. Em Provérbios 1:4, o Midrash relata: "Para dar aos simples prudência..." – Disse Salomão: Eu era simples, e o Santo, bendito seja, me deu prudência; eu era jovem, e Ele me concedeu discernimento.
Essa interpretação destaca que mesmo os simples e jovens podem receber sabedoria e discernimento através do estudo e da orientação divina.
✝️ Clemente de Alexandria sobre Provérbios 1:1-2
O provérbio, segundo a filosofia bárbara, é chamado de modo de profecia, assim como a parábola, e o enigma, adicionalmente. Além disso, são chamados de sabedoria; e, novamente, como algo diferente, "instrução e palavras de prudência", "convergência de palavras" e "verdadeira justiça"; e, ainda, "ensino para dirigir o julgamento" e "sutileza aos simples", que é o resultado do treinamento, e da "percepção e pensamento", com os quais o jovem catecúmeno é imbuído.
Fonte: STROMATEIS 6:15
✝️ Hipólito de Roma sobre Provérbios 1:1
Os provérbios, portanto, são palavras de exortação úteis para todo o caminho da vida; pois, para aqueles que buscam o caminho para Deus, servem como guias e sinais para reanimá-los quando cansados com a extensão da estrada. Estes, além disso, são os provérbios de "Salomão", isto é, o "pacificador", que, em verdade, é Cristo, o Salvador. E como entendemos as palavras do Senhor sem ofensa, como sendo as palavras do Senhor, para que ninguém nos engane pela semelhança de nome, ele nos diz quem escreveu essas coisas e de que povo ele era rei, a fim de que o crédito do orador torne o discurso aceitável e os ouvintes atentos; pois são as palavras daquele Salomão a quem o Senhor disse: "Eu te darei um coração sábio e compreensivo, de modo que ninguém jamais houve semelhante a ti na terra, e depois de ti não se levantará outro igual a ti", e como se segue no que está escrito sobre ele. Ora, ele era o filho sábio de um pai sábio; por isso é acrescentado o nome de Davi, de quem Salomão foi gerado. Desde criança, ele foi instruído nas Sagradas Escrituras e obteve seu domínio não por sorteio, nem pela força, mas pelo julgamento do Espírito e pelo decreto de Deus.
Fonte: Fragmentos Exegéticos de Hipólito
✝️ Orígenes de Alexandria sobre Provérbios 1:1-2
Ele demonstra, de imediato, no início de seus Provérbios, que está estabelecendo esses fundamentos da verdadeira filosofia e uma ordem de disciplinas e instituições, porque o lugar da razão não permaneceu oculto nem foi rejeitado por ele. Em primeiro lugar, ele demonstra isso pelo próprio fato de ter intitulado seu livro "Provérbios", nome que indica que algo está sendo dito abertamente, mas algo mais está sendo indicado internamente. O uso comum de provérbios ensina esse fato. João também escreve no Evangelho que o Salvador diz: "Eu vos disse estas coisas por meio de provérbios; chegará a hora em que não vos falarei mais por meio de provérbios, mas vos proclamarei abertamente acerca do Pai". Entretanto, essas coisas foram ditas na própria inscrição do livro.
Fonte: COMENTÁRIO SOBRE O CÂNTICO DOS CÂNTICOS, PRÓLOGO
✝️ Agostinho de Hipona sobre Provérbios 1:3-4
Como você sabe, existem certos vícios que se opõem às virtudes por uma clara distinção, como a imprudência à prudência. Há também alguns que são contrários apenas por serem vícios, mas que têm uma espécie de semelhança enganosa com as virtudes, como quando opomos à prudência não a imprudência, mas a astúcia. Estou falando agora daquela astúcia que é mais comumente entendida e expressa em um sentido maligno, não como nossas Escrituras comumente a usam, o que frequentemente lhe dá um bom significado; daí temos “sábios como serpentes” e “dar sutileza aos pequenos”. ... Da mesma forma, a injustiça é contrária à justiça por uma antítese evidente, enquanto o desejo de vingança se apresenta como justiça, mas é um vício.
Fonte: CARTA 167:6
✝️ Dídimo, o Cego, sobre Provérbios 1:8-9
Deus é Pai dos justos. Todo aquele que pratica a justiça nasceu de Deus. Nossa mãe é a Igreja, cujo noivo é nosso Senhor Jesus Cristo. Nossas leis são as constituições apostólicas. Embora os conceitos expressos acima tenham um significado sublime, eles também se aplicam aos pais terrenos quando educam seus filhos em como viver piedosamente diante de Deus. Visto que aquele mestre, que gera seus filhos por meio do evangelho, é um homem, sua esposa e mãe de seus filhos é a Igreja, ou melhor, a doutrina e o modo de vida eclesiásticos. Se você, diz ele, me ouvir como o autor dos Provérbios — primeiro em meu papel como narrador do pai e, em seguida, como narrador da sabedoria e da virtude (isto é, da mãe) — você será cercado por uma coroa de graça e seu pescoço será adornado com um colar feito de ouro intelectual e joias. O material da coroa, com o qual a cabeça do homem interior é circundada, é o círculo das virtudes, que são chamadas de graças. Consequentemente, o colar de ouro colocado em volta do pescoço da alma (isto é, em torno da obediência) deve ser entendido como parte da coroa intelectual.
Fonte: COMENTÁRIO SOBRE OS PROVÉRBIOS DE SALOMÃO, FRAGMENTO 1:8
📚 Comentários Clássicos Teológicos
📖 Matthew Henry (1662–1714)
Matthew Henry vê Provérbios 1 como a introdução solene de todo o livro da sabedoria, apresentando tanto o propósito dos provérbios quanto o chamado urgente da sabedoria àqueles que ainda não se firmaram no caminho da justiça.
Logo nos primeiros versículos (vv.1–6), ele explica que Salomão declara sua intenção: ensinar sabedoria prática, promover justiça, equidade e discernimento, especialmente aos jovens inexperientes. Henry observa que o livro tem valor tanto para iniciantes quanto para os mais sábios, pois todos podem crescer em discernimento.
Quando chega ao versículo 7 — “O temor do Senhor é o princípio do saber” — Henry identifica este como o alicerce da verdadeira sabedoria. A sabedoria humana sem reverência a Deus é incompleta e, por vezes, destrutiva.
A exortação paterna dos versículos 8–19 é destacada como uma advertência urgente contra a sedução dos pecadores. Para Henry, o pai representa Deus, e o filho representa o ser humano em sua juventude espiritual. Ele ressalta que os pecadores prometem comunhão e ganho fácil, mas o fim é destruição.
A partir do versículo 20, onde a Sabedoria passa a clamar nas ruas, Henry interpreta a figura como uma personificação da Palavra de Deus e da revelação divina, clamando ao coração humano. Ele vê a rejeição desse chamado como um ato que traz julgamento inevitável.
Sobre os últimos versículos (vv.28–33), Henry enfatiza a justiça da retribuição: os que desprezam a sabedoria colherão as consequências. Mas termina com esperança: “o que me der ouvidos habitará seguro”, mostrando que ainda há um caminho de refúgio para os que se voltam à sabedoria.
Fonte: Matthew Henry Commentary on Proverbs 1
📖 John Gill (1697–1771)
John Gill trata Provérbios 1 como um capítulo fundamental, onde se apresenta o escopo do livro: oferecer direção moral e espiritual tanto aos simples quanto aos sábios.
Na introdução (vv.1–6), Gill destaca que os termos “conhecimento” e “prudência” possuem conotações práticas — não se trata de sabedoria abstrata, mas de instrução voltada à vida real. Ele observa que até o sábio pode crescer ao ouvir os provérbios, o que demonstra sua profundidade.
Comentando o versículo 7, Gill define o “temor do Senhor” como reverência, submissão e confiança no caráter de Deus — o ponto de partida de toda sabedoria legítima. Já os “loucos” são descritos como aqueles que se rebelam contra esse princípio fundamental, desprezando a disciplina.
Na seção exortativa (vv.8–19), ele interpreta o pai e a mãe como figuras dos instrutores divinos — seja Deus, seja os pastores e pais espirituais — e os pecadores como companhias perigosas que seduzem para o mal com promessas falsas.
A sabedoria clamando nas praças (vv.20–23) é, para Gill, uma figura da pregação da Palavra e do ministério profético. Quando os tolos ignoram esse clamor, é como rejeitar o próprio Deus.
Nos juízos descritos nos versículos finais (vv.24–33), Gill vê a manifestação do justo castigo divino. Aqueles que ignoram o chamado colherão pavor e ruína. Contudo, há consolo para os obedientes: segurança e paz estão prometidas aos que atendem à sabedoria.
Fonte: John Gill's Exposition of the Bible on Proverbs 1
📖 Albert Barnes (1798–1870)
Albert Barnes considera Provérbios 1 um capítulo introdutório que define não só o conteúdo, mas também a finalidade do livro: formar o caráter moral e espiritual por meio do temor do Senhor.
Ao refletir sobre os versículos iniciais (vv.1–6), Barnes aponta que a estrutura dos provérbios visa à formação de um coração sensato, ensinando a “sabedoria” como o conhecimento que se aplica à conduta. Ele observa que o livro é especialmente útil para os jovens, mas também tem riqueza para os experientes.
O versículo 7, em sua opinião, é o centro teológico do livro. Para Barnes, “o temor do Senhor” é mais do que reverência — é o compromisso com o bem e a rejeição do mal. Aqueles que o desprezam estão rejeitando o fundamento da realidade moral.
A advertência paternal (vv.8–19) é vista como uma descrição vívida das tentações que envolvem a juventude — principalmente o apelo à violência e à cobiça disfarçada de fraternidade criminosa. Barnes enfatiza que o texto mostra as consequências do mal como armadilhas que se voltam contra os próprios ímpios.
Sobre a personificação da Sabedoria (vv.20–33), ele observa que a figura é usada para enfatizar a urgência do apelo divino. O clamor da Sabedoria é público, acessível e insistente, e a recusa a ouvi-la resulta em calamidade — não por arbitrariedade, mas porque rejeitar a verdade tem consequências inevitáveis.
Barnes conclui com a promessa final do versículo 33: há segurança para o que ouve e segue a sabedoria — uma segurança que nasce não da ausência de dificuldades, mas da comunhão com Deus.
Fonte: Albert Barnes' Notes on the Whole Bible on Proverbs 1
📖 Keil (1807–1888) & Delitzsch (1813–1890)
Keil & Delitzsch abordam Provérbios 1 como a fundação filosófico-teológica do livro inteiro, com atenção especial ao estilo poético hebraico e à terminologia sapiencial.
Eles explicam que os primeiros versículos (vv.1–6) apresentam um propósito triplo: לָדַעַת חָכְמָה (lada‘at chokhmah – “para conhecer sabedoria”), לְהָבִין אִמְרֵי בִינָה (lehavin imrei vinah – “compreender palavras de entendimento”) e לָקַחַת מוּסַר הַשְׂכֵּל (lakaḥat musar haskel – “receber a instrução racional”). Eles observam que essas expressões formam uma escada de crescimento espiritual.
O versículo 7 é apontado como a tese principal do livro. O termo hebraico יִרְאַת יְהוָה (yirat YHWH) é tratado como “temor reverente”, a base de toda moralidade. Já אֱוִילִים (ewilim, “tolos”) é um termo pejorativo que implica desprezo ativo pela sabedoria e correção.
Na advertência dos versículos 8–19, Keil & Delitzsch explicam que a palavra עֲוִית (avit) usada para “armadilha” está relacionada à ideia de perversão, e que o vocabulário ali evoca imagens de emboscada e traição moral.
A seção em que a Sabedoria clama (vv.20–33) é interpretada como um discurso profético em forma de poesia. A Sabedoria, segundo eles, é tanto uma personificação do Logos quanto um reflexo da revelação divina. O termo תִּשְׁקֶנָה (tishkenah, “habitará em segurança”) no v.33 é visto como promessa escatológica de paz para os que ouvem.
Para Keil & Delitzsch, Provérbios 1 combina poesia, teologia e ética com um apelo urgente à resposta humana diante do chamado divino.
Fonte: Keil & Delitzsch Commentary on Proverbs 1
📚 Concordância Bíblica
🔹 Provérbios 1:1 – “Provérbios de Salomão, filho de Davi, rei de Israel”
📖 1 Reis 4:32
“Proferiu três mil provérbios, e foram os seus cânticos mil e cinco.”
Comentário: Este versículo introduz a autoria salomônica do livro. 1 Reis 4:32 confirma a vasta produção literária de Salomão, cuja sabedoria foi reconhecida como um dom divino (cf. 1 Reis 3:12). Os provérbios são fruto dessa sabedoria, aplicável à vida prática.
🔹 Provérbios 1:2 – “Para se conhecer a sabedoria e a instrução; para se entenderem as palavras de inteligência”
📖 2 Timóteo 3:15
“Desde a infância sabes as sagradas letras, que podem tornar-te sábio para a salvação pela fé em Cristo Jesus.”
Comentário: A sabedoria bíblica não é apenas intelectual, mas visa a transformação e orientação moral. Paulo reconhece nas Escrituras (incluindo Provérbios) a capacidade de formar o caráter do justo desde cedo, como expressa neste versículo.
🔹 Provérbios 1:3 – “Para receber a instrução do entendimento, a justiça, o juízo e a equidade”
📖 Miqueias 6:8
“Ele te declarou, ó homem, o que é bom; e que é o que o Senhor pede de ti, senão que pratiques a justiça, e ames a misericórdia, e andes humildemente com o teu Deus?”
Comentário: O objetivo da sabedoria aqui é ético: capacitar o ouvinte a praticar a justiça e a equidade. Isso se alinha com o chamado profético de Miquéias, enfatizando que a verdadeira sabedoria se manifesta em uma vida justa diante de Deus e dos homens.
🔹 Provérbios 1:4 – “Para dar aos simples prudência, e aos jovens conhecimento e bom siso”
📖 Salmo 19:7
“A lei do Senhor é perfeita e restaura a alma; o testemunho do Senhor é fiel e dá sabedoria aos simples.”
Comentário: A sabedoria de Deus é acessível até aos mais inexperientes. A intenção dos provérbios é formar moralmente os jovens, assim como a Torá restaura e dá discernimento, como declara o salmista.
🔹 Provérbios 1:5 – “O sábio ouvirá e crescerá em conhecimento, e o entendido adquirirá sábios conselhos”
📖 Mateus 7:24
“Todo aquele, pois, que escuta estas minhas palavras e as pratica, será comparado a um homem prudente que edificou a sua casa sobre a rocha.”
Comentário: Assim como o provérbio enfatiza a importância de ouvir e aprender continuamente, Jesus também exalta aquele que ouve com atenção e coloca em prática seus ensinamentos. A sabedoria, aqui, é dinâmica e relacional.
🔹 Provérbios 1:6 – “Para entender provérbios e suas interpretações, as palavras dos sábios e suas proposições”
📖 Eclesiastes 12:11
“As palavras dos sábios são como aguilhões, e como pregos bem fixados pelos mestres das congregações, dadas por um só Pastor.”
Comentário: A sabedoria bíblica exige interpretação e discernimento. Eclesiastes complementa essa ideia ao mostrar que os provérbios são instrumentos que conduzem o ser humano na vida, sempre remetendo ao “único Pastor” (Deus).
🔹 Provérbios 1:7 – “O temor do Senhor é o princípio do saber, mas os insensatos desprezam a sabedoria e a instrução”
📖 Salmo 111:10
“O temor do Senhor é o princípio da sabedoria; bom entendimento têm todos os que cumprem os seus preceitos.”
📖 Romanos 1:21–22
“...tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças... Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos.”Comentário: O “temor do Senhor” não é terror, mas reverência, base essencial para toda sabedoria bíblica. Paulo demonstra que afastar-se desse temor leva à loucura espiritual, mesmo entre os que se consideram sábios.
🔹 Provérbios 1:8–9 – “Ouve, filho meu, a instrução de teu pai, e não deixes a doutrina de tua mãe...”
📖 Efésios 6:1–4
“Filhos, obedecei a vossos pais no Senhor... E vós, pais, criai-os na disciplina e na admoestação do Senhor.”
Comentário: A sabedoria é transmitida no ambiente familiar. A exortação de Paulo em Efésios reflete a importância da formação ética e espiritual no lar, como já ensinado em Provérbios.
🔹 Provérbios 1:10–14 – O convite dos pecadores
📖 Romanos 12:2
“E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente...”
Comentário: O texto adverte contra más companhias e tentações. A sabedoria bíblica chama à separação do mal. Paulo reforça esse chamado com a exortação a resistir às pressões culturais do pecado.
🔹 Provérbios 1:15–19 – As consequências do caminho dos ímpios
📖 Salmo 1:1,6
“Bem-aventurado o homem que não anda segundo o conselho dos ímpios... O caminho dos ímpios perecerá.”
Comentário: Ambos os textos mostram que seguir o caminho dos perversos leva à ruína. A justiça e o discernimento são uma proteção contra os perigos morais.
🔹 Provérbios 1:20–23 – A Sabedoria clama nas ruas
📖 João 1:9–11
“Ali estava a luz verdadeira... Veio para o que era seu, e os seus não o receberam.”
Comentário: A Sabedoria personificada que clama em público é uma figura que antecipa o próprio Cristo, o Logos rejeitado por muitos. A rejeição da sabedoria é rejeição da vida.
🔹 Provérbios 1:24–27 – Rejeição da sabedoria e suas consequências
📖 Lucas 13:34–35
“Quantas vezes quis eu ajuntar teus filhos... e não quisestes!”
Comentário: Assim como a Sabedoria lamenta ser rejeitada, Jesus também lamenta a rejeição de Jerusalém. Ambos expressam o juízo iminente para aqueles que rejeitam o chamado divino.
🔹 Provérbios 1:28–33 – O juízo contra os que desprezam a sabedoria
📖 Mateus 7:26–27
“Mas todo aquele que ouve estas minhas palavras e não as pratica será comparado a um homem insensato... e grande foi a sua queda.”
Comentário: O final do capítulo reforça que desprezar a sabedoria resulta em destruição. Jesus faz eco dessa ideia ao mostrar que não basta ouvir — é necessário praticar. A sabedoria é escudo contra o caos da vida.
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