Estudo sobre Levítico 11

Levítico 11

Os próximos cinco capítulos tratam de questões de pureza e impureza cerimoniais. Para os judeus, havia atos que não eram moralmente errados, mas mesmo assim os impediam de participar dos rituais do judaísmo. Aqueles que se tornaram impuros eram ritualmente impróprios até que fossem purificados. Um povo santo deve ser santo em todas as áreas da vida. Deus usou até comida para ilustrar a diferença entre o que é puro e o que é impuro.

A. Alimentos limpos e impuros (Cap. 11)

11:1–8 Um animal limpo era aquele que tinha os cascos completamente fendidos e ruminava. A expressão “tudo o que tem o casco fendido, tendo o casco fendido” parece dizer a mesma coisa de duas maneiras diferentes. Mas as palavras significam que o casco deve ser completamente dividido. Animais limpos eram bois, gado, ovelhas, cabras, veados, etc. Animais impuros eram porcos, camelos, texugos (hyraxes), coelhos, etc. A aplicação espiritual é que os cristãos devem meditar na Palavra de Deus (ruminar). e andar separado (o casco fendido).

Mas Deus também estava protegendo a saúde de Seu povo ao proibir a carne que provavelmente transmitiria doenças nos dias em que havia pouca ou nenhuma refrigeração e o uso de antibióticos na pecuária era desconhecido.

11:9–12 Um peixe limpo era aquele que tinha barbatanas e escamas. Peixes como cavala, enguias e mariscos eram impuros. As escamas são frequentemente usadas para retratar a armadura do cristão, protegendo-o em um mundo hostil, enquanto as barbatanas tipificam o poder divino que o capacita a navegar pelo mundo sem ser dominado por ele.

11:13–19 Os pássaros que caçavam outras criaturas eram impuros — por exemplo, águias, falcões, abutres, morcegos. (Morcegos não são pássaros, mas a palavra hebraica traduzida como pássaros é mais ampla do que a palavra portuguesa, significando “coisa voadora”.)

11:20–23 Os versículos 20–23 tratam de certas formas de insetos voadores. Somente aqueles que tinham as pernas articuladas acima dos pés estavam limpos — a saber, gafanhotos, gafanhotos destruidores, grilos e gafanhotos.

11:24–28 Tocar na carcaça de qualquer uma das criaturas impuras mencionadas tornava a pessoa impura até a tarde. Menção especial é feita aos animais que andam sobre patas, como gatos, cachorros, leões, tigres, ursos, etc.

11:29–38 Outros animais rastejantes são descritos a seguir — a toupeira, o rato, o grande lagarto,… a lagartixa, o lagarto-monitor, o réptil da areia, o lagarto da areia e o camaleão. Uma pessoa que tocasse em seus cadáveres ficava impura até a tarde. Se o corpo morto de uma dessas criaturas caísse em qualquer vasilhame, o utensílio tinha que ser lavado em água, e ficava impuro até a tarde, exceto que um vasilhame de barro tinha que ser quebrado. Qualquer alimento comestível no vaso de barro tornava -se impuro e não podia ser comido. Duas exceções são dadas — uma fonte de água corrente não se tornou impura pelo contato com o corpo de um desses animais, nem o plantio de sementes usadas para semear, se não tivesse sido embebido em água.

11:39, 40 O contato humano com a carcaça de um animal limpo que havia morrido (em vez de ser abatido) ou comer tal carne involuntariamente tornava a pessoa impura até a noitinha. Suas roupas tinham que ser lavadas.

11:41–47 Os versículos 41–43 referem-se a vermes, cobras, roedores e insetos. Qualquer um que os comesse tornava-se ritualmente impuro. Ao dar esta lei sobre criaturas limpas e impuras, Deus estava ensinando lições sobre Sua santidade e a necessidade de Seu povo também ser santo (vv. 44–47).

Em Marcos 7:18, 19, o Senhor Jesus declarou que todos os alimentos eram cerimonialmente puros. E Paulo ensinou que nenhum alimento deve ser recusado se for recebido com ação de graças (1 Timóteo 4:1–5). No entanto, mesmo isso não incluiria alimentos contaminados, culturalmente inaceitáveis ou digestivamente desagradáveis para uma pessoa.

Notas Adicionais:
As responsabilidades dos sacerdotes não estavam limitadas ao serviço no altar. Uma de suas tarefas era “fazer separação entre o santo e o profano, entre o puro e o impuro” (10.10), e com respeito a isso há orientações nos cap. 11—16. São tratados diversos aspectos da vida diária, e então o ritual para o Dia da Expiação, a cerimônia anual de purificação para o povo todo, fecha a seção.

11.1-47 Esse capítulo trata de forma mais detalhada do que Dt 14.3-21 a questão da pureza e da impureza dos animais. As divisões primitivas são observadas: animais que vivem na terra (v. 2-8), os peixes (v. 9-12), as aves (13-19) e os insetos que têm asas (v. 20-23). É difícil encontrar um princípio coerente segundo o qual as criaturas foram declaradas puras ou impuras. Hábitos, características físicas, associações cúlticas detestáveis, considerações acerca de doenças crônicas — nenhum desses aspectos explica por Sl só a distinção que se faz. Outra linha de pensamento sugere que somente os representantes perfeitos das espécies eram considerados puros. Qualquer criatura híbrida era imperfeita e impura porque não se adequava a uma espécie. As categorias reconhecidas na criação animal também são consideradas reflexo da divisão tripartite da sociedade humana (impuro — puro — sacerdotal) apresentada em Levítico. V. a bibliografia sob Douglas (M.).

Animais que vivem na terra (11.1-8)

v. 3. Os animais domésticos criados pelos israelitas deveriam satisfazer as exigências estabelecidas aqui. Dt 14.4,5 de fato dá uma lista de animais, domésticos e selvagens, que podiam ser usados na alimentação. O v. 4 apresenta um grupo de animais que não atendem a uma das exigências básicas e que por isso deveriam ser considerados impuros, v. 5. coelho: a ARA diz “arganaz” (cf. SL 104.18; Pv 30.26). v. 7. Comer carne de porco era considerado especialmente detestável (cf. Is 65.4; 66.17).

Criaturas que vivem nas águas (11.9-12)

v. 9. Novamente são citados primeiro os critérios de aceitabilidade; aplicam-se tanto a peixes de água salgada quanto de água doce. v. 10. pequenas criaturas que povoam as águas-, o termo traduzido por que povoam é usado para denotar criaturas pequenas que vivem em grupos, seja no mar, seja na terra, seja no ar; aqui está delimitado por as águas.

Aves (11.13-19)

As consideradas impuras são mencionadas (cf. Dt 14.12-18), mas a identificação segura em alguns casos é impossível; em termos gerais, são aves de rapina ou se alimentam de carne em decomposição. Os v. 13, 14 mencionam diversas aves da ordem dos fal-coniformes. v. 15. corvo: i.e., todas as aves pertencentes à família das corvidae. v. 16ss. Snaith (NCB) agrupa todas as aves desses versículos na família das strigidae, mas isso é bastante precário em vista das grandes diferenças de tradução entre as versões antigas e modernas.

Insetos que têm asas (11.20-23)

v. 20. A proibição geral acerca dos or-tópteros é seguida por uma concessão (v. 21): ortópteros com pernas articuladas para saltar no chão, i.e., os saltadores, podiam ser comidos. v. 22. Esses são especificados como gafanhotos de diversas espécies; cf. Mt 3.4. No total, são usadas nove palavras diferentes para denotar gafanhotos no AT, representando várias espécies e diversos estágios de desenvolvimento (cf. NBD, p. 47). v. 23. A VA e a NVI acrescentam outras para destacar o que sem dúvida é o sentido.

Contato com cadáveres (11.24-28)

v. 24. Cf. v. 8. por meio delas refere-se ao que segue, embora a NVI não deixe isso implícito. A NTLH define claramente quando diz: “nos seguintes animais” (v. NEB). O contato com um cadáver humano tornava alguém impuro por sete dias (Nm 19.11,16); a impureza causada pela carcaça de um animal durava somente até a tarde, quando começava o dia seguinte segundo o cômputo judaico, v. 25. carregar envolve contato mais próximo do que tocar, de forma que nesse caso as roupas dessa pessoa teriam de ser lavadas. O v. 26 provavelmente deve ser lido à luz dos v. 24,25, senão ele significa que o mero toque em um animal impuro, mesmo quando ainda vivo, tornava a pessoa impura (assim Noth). v. 27. de quatro pés podia descrever gatos, cães e ursos (cf. Snaith [NCentB, PCB] e Noth), ou até macacos, de acordo com Porter.

Animais que se movem rente ao chão e cadáveres (11.29-47)

Não somente pessoas (v. 31) mas objetos (v. 32-38) eram passíveis de se tomar impuros por meio do contato com carcaças de uma série de pequenos animais de espécies de roedores e lacertílios. Essas criaturas existem em abundância em Israel, de forma que muitas vezes seria difícil evitar a situação considerada nesses versículos, v. 32. Deverá ser posto em água: cf. v. 25. v. 33. quebrarão a vasilha: cf. 6.28. v. 35. O forno deveria ser feito de argila (cf. comentário de 2.4). v. 36, 37. A água e a semente eram preciosas e estavam em parte isentas das regras gerais, com exceção de que ocorria a impureza (v. 38) se a semente ficasse úmida e, pelo menos teoricamente, se tornava absorvente, v. 39. O contato com o cadáver de um animal puro que morre por Sl só torna uma pessoa impura, ainda mais se comer do animal morto ou carregar o cadáver (v. 40). v. 41ss. os v. 29-38 trataram da impureza transmitida pelo contato com animais — depois de mortos — que quando vivos têm o hábito de viver em grupos (ou, como na NVI, que se movem rente ao chão)-, agora acrescenta-se uma proibição geral acerca do uso desses animais para alimentação. O v. 42 fixa o que se quer dizer com que se move rente ao chão no versículo anterior, quer se arraste sobre o ventre refere-se a animais semelhantes a serpentes (cf. Gn 3.14). v. 44. Será que a ordem de ser santo deve restringir-se à pureza ritual, como se faz às vezes? “Sejam ritualmente puros como eu sou ritualmente puro” não parece adequado. Evitar a profanação por meio do contato com qualquer animal que se move rente ao chão parece apontar para verdades mais elevadas, v. 45. Deveríamos ao menos começar a pensar em conteúdo moral na segunda ocorrência da ordem. Agora ela está associada à libertação relatada do êxodo e à graça e eleição de Deus. Os v. 46, 47 resumem o capítulo.

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