Salmo 55 — Estudo Devocional

Oração de um homem perseguido

Poesia de Davi. Ao regente do coro — para instrumentos de cordas.

Devocional

55.1-23 As minhas aflições. Este é um salmo de lamento, de profunda angústia, um salmo de crise. Davi experimenta perseguição (v. 3), angústia em seu coração, o terror da morte (v. 4), anarquia na cidade (vs. 9-11), e a traição de um amigo íntimo (vs. 13-14). Veja também o quadro “Meditando nos Salmos” (Sl 3).

55.3 Eu tremo quando ouço as ameaças. O salmista não teme falar de seus sentimentos de fraqueza. Expor nossa humanidade e admitir nossas fraquezas não nos torna pessoas piores, pelo contrário: aproxima-nos mais da verdade, e revela nossa maior dependência do cuidado amoroso de Deus. Veja Sl 51, notas.

55.3-6 o pavor da morte cai sobre mim. Alguns estudiosos pensam que neste salmo Davi esteja se referindo à traição por seu filho Absalão, que queria matá-lo e assumir o reinado, como narrado em 2Sm 15 a 18. A descrição destas sensações é bastante parecida com a de pessoas que sofrem da Síndrome do Pânico: sentimento de estar à beira da morte, como sendo perseguido e sem perspectivas de escapar, com palpitações no coração, suor, torpor e um desespero que pode ficar fora de controle. O pavor é tanto que se deseja claramente fugir para longe (vs. 6-8). A diferença é que, enquanto Davi sabia de onde vem o perigo (vs. 12-13), na Síndrome do Pânico não se sabe a causa do medo e não há nenhuma ameaça clara à vista. A origem da Síndrome do Pânico é complexa e inclui fatores biológicos, algumas condições psicológicas e um grau considerável de estresse. Repetidos ataques de pânico podem trazer sentimentos de culpa, vergonha, tendência a não sair de casa, e dificuldades do sono, entre outros sintomas. Trata-se de uma doença, que já é bastante estudada e conhecida, e há tratamentos eficazes que trazem grande melhora ou cura para quase todos os pacientes. Não sofra isolado/a e em silêncio, mas busque ajuda profissional, de um médico psiquiatra ou psicoterapeuta de confiança. Perceba ainda como todos esses sentimentos podem ser expressados para Deus, e podemos pedir sua ajuda e salvação (vs. 8,16).

55.9-11 vejo violência e pancadaria na cidade. O pecado e a maldade não são somente algo individual, mas também têm sua dimensão estrutural na sociedade.

55.12-14,20-23 foi você… meu colega e amigo. Uma das dores mais profundas da alma é a dor da traição por um amigo muito próximo. Jesus também sentiu dor parecida quando foi traído por seu discípulo Judas. Nós sentimos algo semelhante quando nos decepcionamos com um irmão de fé. A conclusão do salmista é que as pessoas que traem os amigos trazem sobre si um peso que lhes rouba o vigor, e acaba os levando à morte precoce (v. 23).

55.15 que eles desçam vivos para o mundo dos mortos. Podemos expressar a Deus toda a nossa raiva em relação a aqueles que nos traem e que desejam o nosso mal. Isso é muito melhor e mais saudável do que atuar com esta raiva com nossas próprias mãos. Se entregarmos nossos sentimentos a Deus e confiarmos que ele faz a justiça por nós (v. 19), ele ouve nosso clamor (v. 17), cuida de nós (v. 18) e nos salva (v. 16). Veja o quadro “Orações vingativas” (Sl 94).

55.17-22 De manhã, ao meio-dia e de noite. Como aguentar tantas dificuldades e sofrimentos? Somente conhecendo ao Senhor que salva (v. 16), sabendo que podemos gemer para Deus em todas as partes do dia e sermos ouvidos. Assim a tempestade interna que o salmista experimenta no início do poema transforma-se e adquire tons de calma, segurança e confiança. Com autoridade, ele pode aconselhar aos que vivem momentos semelhantes: “Entregue os seus problemas ao Senhor, e ele o ajudará” (v. 22).

55.23 Eu, porém, confiarei. Já nos vs. 15-16 Davi afirmava que, ao mesmo tempo em que desejava a morte aos inimigos, sua atitude seria a de buscar a Deus. Aqui ele reforça essa conclusão: enquanto ao Senhor cabe cuidar do devido castigo aos traidores, a nós cabe confiar em Deus, o nosso Deus a quem oramos.