Lucas 14 — Estudo Comentado

Estudo Comentado de Lucas 14



Lucas 14:1–6 Outra cura sabática. Pela terceira vez Lucas apresenta uma cena com Jesus na casa de um fariseu (7:36; 11:37). O homem com hidropisia, uma doença em que o corpo incha com excesso de líquido, provavelmente era um dos convidados. A possibilidade da cura de um amigo pode ter levado o anfitrião e seus convidados ao menos a discutir a conveniência dessa cura no sábado, mas todos ficam em silêncio. Jesus então cura o homem. Ele tenta abrir a mente de seus ouvintes mostrando o absurdo de negar a cura com base na lei do sábado, o dia dado como um presente por Deus para refrescar seu povo; o argumento é semelhante ao usado na sinagoga (13:15).

Lucas 14:7–14 Honra e louvor mundanos. Jesus dirige uma parábola aos convidados e dá conselhos ao seu anfitrião. Em ambos os discursos ele apela para o que parecem ser motivos básicos. Recomenda-se aos convidados que não procurem os primeiros lugares à mesa, não porque esse tipo de autopromoção e orgulho seja errado, mas para que possam ser honrados mais tarde. Convidados de honra, é claro, eram notórios pelo truque de chegar atrasado precisamente para serem notados pela assembleia enquanto se dirigiam para seus assentos proeminentes. O ponto poderia ser interpretado como uma sugestão para não buscar honras mundanas abertamente, mas para empregar a falsa humildade como um subterfúgio. O Uriah Heep de Dickens vem à mente. Jesus está usando a imagem mundana, porém, apenas porque é muito familiar. Seu ponto é feito no pronunciamento: “Todo aquele que se exalta será humilhado e aquele que se humilha será exaltado”. A auto-exaltação não deve ser buscada aberta ou secretamente. Anteriormente, Jesus havia repreendido seus discípulos por disputarem posição (9:46-48).

Um motivo indigno semelhante aparece superficialmente nas palavras de Jesus ao anfitrião. A impressão é que um convite para jantar é feito em função de alguma recompensa recíproca, seja apenas um convite de retribuição ou, no caso de servir aos pobres, o prêmio da ressurreição com todos os justos. A questão, porém, é que, ao fazer o bem, devemos servir livremente, sem levar em conta nossas próprias perspectivas, deixando a recompensa para Deus. Foi assim que Jesus fez o bem, esvaziando-se pelos outros sem contar o custo. Há exagero semítico na afirmação de que não se deve convidar amigos, parentes e vizinhos. O reino é para todos, e nossa hospitalidade deve abranger a todos, especialmente aqueles que são negligenciados por pessoas apenas com motivos egoístas.

Lucas 14:15–24 O grande banquete. A menção da ressurreição leva um dos que estão à mesa a repetir uma máxima ou bem-aventurança favorita: Felizes os que compartilham o grande banquete no reino de Deus. Isso normalmente não evocaria uma resposta, mas Jesus discerne uma atitude complacente entre os fariseus e os advogados em relação à sua participação na salvação. Eles se sentem protegidos pela observância das regras religiosas, até mesmo permitindo que as observâncias excluam novas possibilidades de bem (vv. 1-6). Ele conta uma parábola sobre aqueles que não aceitam um convite para um banquete e, por causa de sua atitude casual, perdem seu próprio direito a uma parte da mesa e são substituídos por outros. O significado original de judeus observadores preocupados e complacentes em sua religião que poderiam ser superados por aqueles que eles consideravam párias; a igreja primitiva fez a comparação óbvia com a rejeição de Israel e a aceitação do evangelho pelos gentios.

O anfitrião nesta história normalmente convida seus amigos e parentes primeiro (ver v. 12), antes de se voltar para os pobres e deficientes. Era costume nos círculos sociais da época enviar uma convocação pessoal na hora do jantar, ainda que um convite tivesse sido enviado antes. Também era típico dos semitas recusar educadamente a convocação para que os mensageiros do anfitrião pudessem insistir mais fortemente no convite. Este é o sentido de “fazê-los entrar” no versículo 23. Quando chega a convocação, esses convidados tiveram uma mudança de planos. Talvez as desculpas fossem legítimas. Um homem pode ser dispensado do serviço militar para cuidar de uma nova casa ou vinha, ou se estiver noivo ou casado recentemente (Dt 20:5-7; 24:5). Mas os convidados foram muito imprudentes ou descuidados para informar o anfitrião sobre sua mudança de planos. Eles não levaram a sério sua hospitalidade, e isso o deixa furioso.

Um convite para o banquete da salvação não é algo para ser encarado com leviandade. Jesus dá a entender que alguns à mesa com ele não reconhecem a urgência da situação. O anfitrião enviou seu servo “rapidamente” para preencher os lugares. O desejo de Deus de encher sua casa é urgente; ele quer que o maior número possível participe do banquete messiânico. A declaração final (v. 24) é direcionada para a reunião na casa do fariseu (“você” é plural): Se você considera a felicidade de compartilhar a mesa de Deus no reino como algo garantido (v. 15), você pode perder as oportunidades urgentes de responder ao seu chamado fazendo o bem que ele apresenta.

Lucas 14:25–35 O custo do discipulado. Jesus se dirige a Jerusalém. A história do descuido dos convidados para o banquete foi ligada pelo evangelista a outros ditos que explicitam a seriedade do discipulado. O chamado para seguir a Cristo não pode ser aceito sem entusiasmo (v. 35); tal atitude é um trágico erro de cálculo. Esses versículos restabelecem o tom estabelecido no início da jornada em direção a Jerusalém (9:57-62).

Jesus volta ao tema da divisão familiar que pode ocorrer por causa do evangelho (ver 12:51–53). Jesus diz que seus discípulos devem odiar pai, mãe e família. Este é outro exagero semítico para enfatizar que qualquer um que se interponha no caminho de um compromisso completo com Jesus, mesmo os parentes mais próximos, deve ser renunciado. “Odiar” nesse sentido significa “preferir menos”. Esta é a mensagem radical da cruz (veja 9:23).

O discipulado é, portanto, uma vocação que tudo consome. Deve ser aceito com deliberação madura. Jesus usa dois exemplos: um construtor sábio não começaria um projeto sem avaliar sua capacidade de completá-lo; apenas um louco entraria em uma batalha sem considerar as probabilidades. A piada para o discípulo cristão é que a renúncia é o sal do discipulado. Quando um seguidor de Jesus começa a esconder alguma coisa, o discipulado se torna uma farsa. A parábola do sal tem várias aplicações. No Evangelho de Mateus está relacionado com a imagem da luz e usado em termos de bom exemplo (Mt 5:13); em Marcos, o sal é a fonte de paz na comunidade (Marcos 9:50).