Significado de Salmos 119
Salmos 119
O Salmo 119 é o salmo mais longo do Livro dos Salmos e também o capítulo mais longo da Bíblia. É um poema acróstico, com cada seção do salmo correspondendo a uma letra diferente do alfabeto hebraico. O salmo é um hino à beleza e ao poder da Palavra de Deus, celebrando as muitas virtudes da Lei e as alegrias de viver uma vida de acordo com ela. É um salmo de devoção e obediência, convidando o leitor a amar e seguir os mandamentos de Deus.
Uma das características mais marcantes do Salmo 119 é o uso extensivo de imagens e metáforas para descrever a Lei. O salmista usa uma variedade de termos diferentes para descrever a Palavra de Deus, como “estatutos”, “preceitos”, “mandamentos” e “juízos”. Cada um desses termos é usado para destacar um aspecto diferente da Lei e seu papel na vida dos fiéis. Por exemplo, o termo “preceitos” é usado para descrever a Lei como um conjunto de diretrizes para uma vida correta, enquanto o termo “juízos” enfatiza o papel da Lei como um padrão de justiça e equidade.
Outro tema-chave do Salmo 119 é a ideia de meditação na Lei. O salmista enfatiza repetidamente a importância de refletir sobre a Palavra de Deus e contemplar seu significado. No versículo 97, por exemplo, o salmista declara: “Oh, quanto amo a tua lei! É a minha meditação o dia inteiro.” Este tema da meditação está intimamente ligado à ideia de obediência, pois o salmista reconhece que a Lei não deve ser apenas compreendida intelectualmente, mas também abraçada e vivida na vida diária.
Resumo de Salmos 119
Em resumo, o Salmo 119 é um salmo profundamente devocional e celebrativo que exalta as virtudes da Palavra de Deus. Seu uso de imagens e metáforas para descrever a Lei é belo e poderoso, e sua ênfase na meditação e obediência lembra o leitor da importância de uma vida vivida de acordo com os mandamentos de Deus. Apesar de sua extensão, o salmo continua sendo o favorito de muitos leitores e continua a inspirar e encorajar aqueles que buscam seguir a Palavra de Deus.
Significado de Salmos 119
O salmo emprega o sentido integral dessas palavras, ao mesmo tempo que se aprofunda na aplicação da lei de Deus tanto para a vida cotidiana como para o destino de Israel. A lei é específica e genérica, diretiva e restritiva, libertadora e generosa, bondosa e solene é tão complexa quanto o Senhor que a criou.
A lei nunca é considerada uma maldição; é sempre vista como dádiva de Deus. O efeito cumulativo dessa extensa celebração à Palavra de Deus é impressionante: o salmista não consegue parar de louvar a Deus por Sua misericórdia e benignidade em prover Seu povo com instruções para viver.
Comentário ao Salmos 119
Salmos 119:1-8 Então não ficaria confundido. Depois da transgressão, a pessoa sempre se sente confusa. Para escapar disso, temos de obedecer de maneira vigilante e rigorosamente à Palavra de Deus.Salmos 119:9 Como purificará o mancebo o seu caminho? A palavra traduzida por caminho (hb. orach) significa uma trilha, um sulco, tais como os que são deixados pelas rodas de uma carroça. O pecador jovem não trilhou caminhos usados, mas transgrediu várias vezes da mesma maneira, criando um sulco de pecados. Como limpará seu caminho? Observando conforme a tua palavra. Observar a Palavra de Deus leva a uma vida reta. Ignorar a Palavra de Deus leva a um caminho pervertido.
Salmos 119:10, 11 De todo o meu coração. Como o salmista buscou a bênção de Deus sincera e verdadeiramente, obedecendo à Sua Palavra, ele ora para que Deus não permita que se desvie acidental ou deliberadamente de Seus mandamentos.
Salmos 119:12-16 Alegrar-me-ei nos teus estatutos. O salmista tem tomado mais prazer nas doutrinas da Palavra de Deus que ele tem nas riquezas do mundo. Vou meditar sobre seus preceitos. O que nós colocamos em nossos corações e em que temos meditar incessantemente nunca será esquecido.
Salmos 119:17-20 Sou peregrino na terra. Já que não é nativo desta terra, ele está só de passagem; precisa então do mapa dos mandamentos de Deus para encontrar o caminho de volta ao seu lar, junto a Deus.
Salmos 119:21-24 A medida que trilhava seu caminho na vida, o salmista foi difamado até pelos reis e chefes deste mundo. Mas não deu atenção às calúnias e farpas direcionadas a ele. Encontrou consolo e alívio ao meditar na Palavra de Deus. Também os teus testemunhos são o meu prazer. Quando o mundo ia para determinada direção, o salmista tomava outro rumo, consolado pela Palavra.
Salmos 119:25-29 A minha alma está pegada ao pó. Deprimido, o salmista reconhece que sua alma entrou em estado de angústia, como se já estivesse morto e enterrado. Ler, meditar e obedecer à Palavra de Deus lhe devolveria vida e saúde de novo.
Salmos 119:30-32 Escolhi o caminho da verdade. O salmista se compara com os que escolheram o caminho da mentira (v. 29). Tendo escolhido o caminho da verdade, teve de se agarrar e aderir fortemente aos testemunhos de Deus. Assim, ele ora ó Senhor, não me confundas.
Salmos 119:30-32 Escolhi o caminho da verdade. O salmista se compara com os que escolheram o caminho da mentira (v. 29). Tendo escolhido o caminho da verdade, teve de se agarrar e aderir fortemente aos testemunhos de Deus. Assim, ele ora ó Senhor, não me confundas.
Salmos 119:49-52 Lembra-te da palavra dada ao teu servo. Assim, pede que Yahweh lembre de Suas promessas de fidelidade, bem como dos princípios originais do governo de Deus. É a Palavra de Deus, enfim, que lhe dá consolação para a angústia. Embora os soberbos tenham rido dele zombeteiramente, não se desviou da lei de Deus. Tendo nela encontrado consolo, sabia o salmista não haver motivo algum para abandonar a lei mesmo se ridicularizado.
Salmos 119:53-69 A palavra indignação significa uma tempestade cáustica ou tempestade do deserto. Aqui, significa a angústia mental que acometeu o salmista ao constatar o destino dos ímpios que renegam a lei. De noite, me lembrei do teu nome, ó Senhor. Aquele que se deleita em seguir a lei de Deus, Deus dará mais virtude para segui-la. Toda época é propícia a voltar-se para Deus e meditar em Seu nome. Somente Deus poderá acalmar a angústia provocada pela visão dos horrores que aguardam os que abandonam a lei de Deus.
Salmos 119:53-69 A palavra indignação significa uma tempestade cáustica ou tempestade do deserto. Aqui, significa a angústia mental que acometeu o salmista ao constatar o destino dos ímpios que renegam a lei. De noite, me lembrei do teu nome, ó Senhor. Aquele que se deleita em seguir a lei de Deus, Deus dará mais virtude para segui-la. Toda época é propícia a voltar-se para Deus e meditar em Seu nome. Somente Deus poderá acalmar a angústia provocada pela visão dos horrores que aguardam os que abandonam a lei de Deus.
Salmos 119:70-72 Engrossa-se-lhes o coração como gordura. Se assim querem, que o Senhor então mantenha seus adversários insensíveis às coisas espirituais. O salmista está convicto de que melhor é para mim a lei de tua boca do que [...] ouro ou prata.
Salmos 119:75-80 Perfeitamente consciente de que os juízos de Deus são justos, o salmista reconhece que é com estes mesmos juízos que em tua fidelidade me afligiste. Após tanta tribulação que sofreu, sente necessidade da consolação divina. Sirva, pois, a tua benignidade para consolar.
Salmos 119:82, 83 Como odre na fumaça. Esta imagem é extremamente vívida. No antigo Oriente Médio, os odres eram geralmente feitos de peles de animais e cobertos de poeira e fumaça. Eram feios. Eis uma imagem pungente do estado espiritual em que se sente o salmista. Esperou pelo socorro do Senhor e, espiritualmente, ficou seco por causa da pressão que lhe foi aplicada.
Salmos 119:84-89 A tua palavra permanece no céu. Por ter Autor perfeito, inscrição precisa e morada celestial permanente, a Palavra de Deus é insuperável, inegável e imutável.
Salmos 119:123-130 E a exposição (literalmente, abertura), ou seja, a revelação ou descoberta, das palavras de Deus o que ilumina a alma sem luz. O que a mente humana não pode compreender por si só é compreendido com a ajuda do Espírito de Deus.
Salmos 119:134-144 Embora a aflição e a angústia tenham se apoderado do salmista, ele ainda assim tinha prazer em cumprir as ordens de Deus, porque a justiça dos teus testemunhos é eterna. Sua oração simples a Deus é que Yahweh lhe possa conceder a total compreensão, assim como a profundidade, a amplitude e a absoluta excelência de Seus mandamentos.
Salmos 119:150-162 O salmista era capaz de se alegrar na Palavra de Deus como aquele que acha um grande despojo. As riquezas da Palavra de Deus só chegam àqueles que se disciplinam para lutar contra os inimigos da leitura da Palavra de Deus tempo apressado, apatia, irregularidade.
Salmos 119:1-8
/aleph/ O Começo
O livro dos Salmos é o coração da Bíblia. O Salmo 119 é o coração do quinto livro dos Salmos. Ouvimos neste salmo a pulsação do remanescente fiel de Israel. Este salmo aponta para a Palavra e profeticamente aponta para o tempo em que o remanescente retornará ao SENHOR e à Sua Palavra.
A marca registrada do salmo é que, por meio do ministério do Espírito, a lei é escrita no coração do remanescente (2Co 3:8; cf. Sl 40:8; Ez 36:27). Isso é em virtude do sangue da nova aliança (Jr 31:31-34). A lei é mencionada em quase todos os versículos, usando outros nomes além de ‘lei’ também. Somente no Salmo 119:84, 121, 122, 132 não há referência à lei.
Sinônimos também são usados para o termo ‘lei’. Os judeus falam de oito sinônimos diferentes para ‘lei’, o que mostra a riqueza da lei e da Palavra de Deus como um todo. Isso permite que o salmista discorre sobre a versatilidade da Palavra e nos ajuda a ver e apreciar mais a natureza multicolorida da Palavra de Deus. Cinco desses oito sinônimos já são usados na descrição da Palavra de Deus no Salmo 19 (Sl 19:7-10).
As oito palavras usadas pelo salmista são:
1. Lei (Torá, 25 vezes) = ensinamento, instrução – a lei como o ensinamento da vontade do SENHOR, Yahweh: “Aquele que guarda a lei (ensino) é filho que discerne” (Pv 28:7). Além disso, a lei também significa:
- ‘todo o Antigo Testamento’,
- ‘os cinco livros de Moisés’
- ‘os requisitos da antiga aliança necessários para receber a vida’ (ver, por exemplo, a carta aos Romanos e a carta aos Gálatas).
2. Palavra (Dabar, 24 vezes) = exposição ordenada em um discurso – a forma ou meio pelo qual Yahweh comunica Sua vontade. É cada palavra que sai pela boca de Deus.
3. Promessa (Imrah, 19 vezes) = provérbio, ditado, declaração – expressão da vontade de Yahweh naquilo que Ele diz.
4. Mandamento (Mitzvah, 22 vezes) – preceito que exige obediência; dever ou responsabilidade imposta. Enfatiza o direito de Deus de determinar a base de nosso relacionamento com Ele.
5. Estatuto, instituição (Chukkim, 21 vezes) = gravação, cinzelamento – o testemunho permanente da vontade de Javé, como que gravada em pedra e, portanto, indelével. Representa o poder obrigatório e contínuo da lei de Deus.
6. Preceitos (Piqqudim, 21 vezes) = encomendar – regulamentos meticulosos que examinam de perto nossas vidas e as definem ou descrevem com precisão.
7. Julgamento (Mishpat, 22 vezes) = lei, tribunal, administrar justiça – a vontade de Javé como Juiz em questões legais. Eles também são as regras que Deus deu para governar as relações entre as pessoas.
8. Testemunho (Edut, 23 vezes) – atesta a relação (aliança) com Javé e a responsabilidade a ela ligada; a palavra é derivada de repetir, testemunhar ou dizer algo enfaticamente; a lei também é chamada de ‘o testemunho’ (Êxodo 25:16; Êxodo 25:21). Estes são princípios práticos que regem o comportamento. A Palavra de Deus dá ‘testemunho’ da justiça e contra a nossa pecaminosidade.
O número ‘oito’ também se relaciona bem com todo o Salmo 119, no qual cada letra do alfabeto hebraico aparece oito vezes no início de um versículo. O número ‘oito’ em hebraico é shmoneh, que é derivado de xamã, significando tornar gordo, abundante. Sete em o suficiente, oito é ‘mais do que suficiente’. Sete é um todo completo, oito é um novo começo. ‘Oito’ neste salmo aponta para a nova aliança, através da qual a lei é escrita nos corações dos crentes remanescentes nascidos de novo (Hb 8:8-10).
Esse salmo é um acróstico, ou seja, cada versículo começa com uma letra consecutiva do alfabeto hebraico, como é o caso dos salmos 9, 10, 34, 37, 111, 112, 145. A diferença é que esses salmos apresentam uma acróstico – e nem sempre estão completos, pois às vezes falta uma letra – enquanto no Salmo 119 temos um acróstico óctuplo.
O Salmo 119 tem vinte e duas estrofes de oito versos cada. Cada versículo começa com uma letra consecutiva do alfabeto hebraico. Cada um dos oito versos da estrofe começa com a letra do verso. Por exemplo, cada verso da primeira estrofe começa com a primeira letra do alfabeto hebraico, a letra alef; cada verso da segunda estrofe começa com a segunda letra do alfabeto hebraico, a letra beth; e assim por diante.
Um acróstico funciona como um dispositivo mnemônico; é uma ferramenta para lembrar um texto. O Salmo 119 tem um acróstico e um ritmo para recordar o texto, na cabeça e no coração (cf. Sl 119,11).
Cada letra do aleph-beth hebraico – para nós: alfabeto – é um pictograma com um significado. Cada letra também tem um nome com uma história de fundo. [Os interessados nos referimos, por exemplo, Gesenius, Lexicon of Hebrew.] Ambos os aspectos estão entretecidos na mensagem da Palavra de Deus. A mensagem e as cartas como portadoras da mensagem estão intimamente ligadas. A palavra alephbeth é um composto da primeira e segunda letras do alfabeto hebraico – aleph e beth – que representam a palavra ‘pai’. Isso ressalta a importância do conceito de ‘pai’ na Bíblia.
O Senhor Jesus é chamado de “o Alfa e o Ômega” (Ap 1:8; Ap 1:11; Ap 21:6; Ap 22:13), a primeira e a última letras do alfabeto grego. Em hebraico, estes são o alef e o tav. Fala do Senhor Jesus como a Palavra, o falar de Deus aos homens (Hb 1:1).
Este salmo é o mais longo de todos os salmos e de todos os capítulos da Bíblia. É uma canção de louvor sobre a Palavra de Deus. Uma porção da Palavra de Deus que usa todas as letras da linguagem humana para nos apresentar um tópico, nos determina pelo valor do tópico daquela porção. Aqui se trata da Palavra de Deus que tem um valor imensurável. Ao utilizar todas as letras do alfabeto, ele nos é apresentado de forma completa.
Isso não significa que conheçamos o valor inesgotável da Palavra de Deus se tivermos entendido o salmo corretamente. Usando uma variante do que Spurgeon disse uma vez, depois de anos estudando a Palavra, queremos colocar desta forma: Uma vida longa é apenas o suficiente para ficar na praia com os pés na água do oceano sem fim da Palavra, que , à medida que avançamos cada vez mais na água, torna-se cada vez mais interminável.
Este salmo é sobre a Palavra de Deus como o único meio de conhecer melhor o próprio Deus. O salmista valoriza a Palavra porque vem Dele. Com exceção do Salmo 119:1; Salmo 119:2; Salmos 119:3; Salmo 119:9 ele fala em todos os versículos ao “SENHOR”, o Deus da aliança com Seu povo. Ele fala com Ele sobre “Seus preceitos”, “Suas ordenanças”, “Seus estatutos”, e assim por diante. O salmista não está glorificando o Livro, mas o Deus que se revela neste e através deste Livro e com quem ele tem um relacionamento pessoal.
O salmo mostra a riqueza da Palavra de Deus. É impossível descrever sua riqueza em uma única frase ou em algumas frases. Mesmo o alfabeto não é longo o suficiente. O salmista percorre o alfabeto oito vezes sem repetir uma única coisa. Cada vez vemos um novo aspecto da riqueza da Palavra de Deus. Como mencionado, o número oito indica um novo começo. A Palavra de Deus opera um novo começo.
Estar ocupado com a Palavra de Deus é uma atividade que dá verdadeira felicidade, verdadeira bênção. A primeira palavra do salmo é “bem-aventurado” (Sl 119:1). Ele realmente abençoa a pessoa no sentido de que dá um coração pacífico e um espírito alegre. Ouvimos algo semelhante da boca do Senhor Jesus nas ‘bem-aventuranças’ do Sermão da Montanha (Mateus 5:3-12). O verdadeiro servo de Deus não ficará satisfeito com uma leitura superficial da Palavra de Deus. Seu desejo é que governe toda a sua vida.
Uma divisão do salmo, que descreve a Palavra de Deus como escrita no coração (Jr 31:33), é a seguinte:
1. 1ª a 7ª estrofe – as letras aleph-zayin: focado em si mesmo;
2. 8ª a 14ª estrofe – as letras heth-nun: focada em seu próximo;
3. 15ª-21ª estrofe – as letras samekh-shin: focadas em Deus;
4. 22ª estrofe – a letra tav: resumo.
O alef é a primeira letra. Podemos dizer que esta carta fala de Deus como origem de todas as coisas. Esta carta foi originalmente descrita como (a cabeça de) um touro ou um boi, o maior animal de sacrifício para o holocausto (Lv 1:1-5). O holocausto fala da oferta de Cristo para glorificar a Deus como a base do falar de Deus ao homem.
Um touro também fala de força, poder e serviço. Isso também se aplica a Cristo, que “não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos” (Marcos 10:45). Sua vida de serviço e Sua morte são imediatamente reveladas por esta primeira letra do alfabeto hebraico, que também representa o valor numérico um.
Nesta estrofe aleph sobre a Palavra de Deus, fica claro que o centro da Palavra é a própria Pessoa de Deus (Sl 119:2). A Palavra é sobre Ele. A Palavra é sobre Aquele que se revelou em Jesus: “Porque o testemunho de Jesus é o espírito de profecia” (Ap 19:10).
Uma divisão desta estrofe é:
Sl 119:1-3 o ensino: terceira pessoa do plural.
Sl 119:4 o Mestre: segunda pessoa do singular.
Sl 119:5-8 o estudante, o remanescente: primeira pessoa do singular.
Esta divisão deixa claro que a verdade geral do Salmo 119:1-4 deve ser aplicada pessoalmente no Salmo 119:5-8.
Salmo 119:1, e de fato toda a estrofe de oito versículos é uma introdução a todo o Salmo 119. O salmo começa dizendo “bem-aventurado”. O livro dos Salmos começa com um “bem-aventurado” ao justo e ao seu caminho (Sl 1:1). O ‘caminho’ significa não apenas que um crente encontrou o caminho, mas que, como Enoque, ele caminha e vive naquele caminho. No Salmo 1, esse caminho é caracterizado por três coisas negativas nas quais o justo não anda. Aqui no Salmo 119, encontramos um “bem-aventurado” positivo para os retos em seu caminho. O caminho deles é caracterizado por andar na lei do SENHOR. Isso é enfatizado no Salmo 119:2 com outro “bem-aventurado” positivo.
‘Bem-aventurado’ não é um desejo ou uma ordem, mas um fato. É a nomeação de um fato, uma lei espiritual, transmitida a nós como ensinamento. Sua primeira condição é ‘irresponsável’, literalmente ‘perfeita’. A caminhada dos justos não é um comportamento aprendido e superficial, mas uma caminhada com todo o coração.
O ensino não é uma disciplina, como a teologia, por exemplo, mas literalmente “um caminho” a percorrer, um caminho de vida. É andar na lei do SENHOR (Sl 119:1). Tal caminhada é possível para o remanescente crente por meio da nova aliança, pela qual a lei está escrita em seus corações (Jr 31:33; Ez 36:26; Ez 36:27).
Há apenas um caminho através do mundo para o judeu temente a Deus e esse é o caminho da lei. Não são as riquezas e as posses que levam à felicidade, mas seguir o caminho da obediência à lei. Aqueles que seguem esse caminho com um coração sincero estão no relacionamento correto com Deus. O resultado é uma bênção (Lucas 11:28).
Em seguida, outro “bem-aventurado” é adicionado. Isso é para “aqueles que observam os seus testemunhos” (Sl 119:2). A lei de Deus aqui é chamada de “Seus testemunhos” porque a lei contém os testemunhos de quem Ele é e o que Ele quer. Isso conecta o remanescente diretamente a Ele mesmo. Seus testemunhos são observados por aqueles “que O buscam de todo o coração”. ‘Observar’ é literalmente ‘guardar’. Implica primeiro ‘aceitar’ e depois ‘obedecer’. Isso fala de um relacionamento vivo com Ele, o que é evidente pelo fato de que todo o coração O busca (cf. Sl 119:10; Sl 119:34; Sl 119:58; Sl 119:69; Sl 119:145; Jer 29:13).
Quando as coisas que acabamos de mencionar estão presentes, “eles também não cometem injustiça” (Sl 119:3). Cometer injustiça significa continuar cometendo maldade, falsidade. Isso é completamente estranho para Quem é Deus (cf. Sf 3,5) e, portanto, também para aqueles que são nascidos de Deus (cfr. 1 Jo 3,9). No coração que sai para Ele estão as estradas (Sl 84:5). Tal pessoa irá “andar nos Seus caminhos”, isto é, nos caminhos de Deus.
Então o salmista – e nele o remanescente – se volta para o SENHOR e diz enfaticamente a Ele: “Tu estabeleceste os Teus preceitos, para que os guardemos diligentemente” (Sl 119:4). Guardar os preceitos de Deus não é opcional; não é uma questão de polidez, mas de obediência. É também mais do que obediência formal. Trata-se da sua qualidade: é a obediência de um coração dedicado que só pode existir se houver um coração renovado.
A obediência aqui é o resultado do ensino sobre a lei como base para uma vida verdadeiramente feliz. O remanescente aprende a vontade do Senhor e está ansioso para viver de acordo com ela. A lei está escrita em seus corações. Portanto, é uma alegria para o coração deles serem obedientes ao que o SENHOR pede.
No Salmo 119:1-4 recebemos ensino espiritual. Nos próximos quatro versículos, lemos sobre a sabedoria de aplicar esse ensinamento à prática da vida. O salmista espera, para colocá-lo com o apóstolo Paulo, que o Senhor não só fará a vontade, mas também fará a obra em sua vida (cf. Fp 2:12-13).
No que se refere à prática agora, temos um vislumbre do coração e do estado de espírito do salmista. Ele sente que está aquém. Um suspiro, que é uma oração, vem de seus lábios: “Oh, que meus caminhos sejam estabelecidos para guardar Teus estatutos!” (Sl 119:5). Ele vê que seus caminhos não são estabelecidos quando se trata de observar os estatutos do SENHOR. Não se trata apenas de reconhecer interiormente o que Deus ordenou, mas também de agir de acordo com a prática da vida. Reconhecemos aqui o suspiro: “Eu creio; ajuda a minha incredulidade” (9:24).
Ele sabe que não se envergonhará enquanto “observar todos os teus mandamentos” (Sl 119:6). Se ele vigiar constantemente “todos os teus mandamentos”, isto é, toda a vontade de Deus (cf. Col 4,12), será preservado de expectativas ou ações erradas e, portanto, da vergonha (cf. 1 Pe 2: 6). Olhar para todos os mandamentos, sem exceção, significa olhar para o Senhor. Através da Palavra, nossos olhos se voltam para Ele.
O salmista resolve que dará graças ao Senhor “com retidão de coração” quando tiver aprendido todos os Seus “juízos justos” (Sl 119:7). Ele está pronto para aprender os julgamentos de Deus, que ele chama de justos. Ele também percebe que esses julgamentos tornam seu coração reto, isto é, sem voltas e reviravoltas. Ele pode e dará graças a Deus de uma maneira que Lhe agrade, não com mera linguagem labial, mas com um coração reto.
O salmista agora aprende uma nova lição. Ele aprende que o julgamento do Senhor é justo. Aprende a ver-se à luz de Deus. Somente isso o capacita a louvar o Senhor com um coração reto, um coração purificado pelo autojulgamento.
Podemos aplicar isso a nós mesmos. Um dia estaremos diante do tribunal de Cristo. Então aprenderemos Seu justo julgamento sobre toda a nossa vida. Como resultado, seremos capazes de dar graças a Ele e adorá-Lo na eternidade com um coração perfeitamente reto.
Quando o remanescente é ensinado por Deus, eles decidem guardar os estatutos de Deus (Sl 119:8). Ao lidar com Ele e com Sua Palavra, eles passaram a amar o SENHOR (cf. Jo 14:15). Ao mesmo tempo, há a oração a Deus para não “abandoná-lo” “totalmente” – esta expressão significa: de modo algum (cf. Sl 119,43). Esta não é uma oração que o crente do Novo Testamento faz, assim como ele não ora para que Deus não tire Seu Espírito Santo dele, como Davi orou (Sl 51:11).
Salmos 119:9-16
/beth/ Habitando com o Senhor
A segunda letra, beth, significa “casa”. Associada a isso está a ideia de que Deus tem membros da família. Esses membros da casa são aqueles que se caracterizam por buscar, apegar-se, ansiar pelo SENHOR de todo o coração (Sl 119:10), e como resultado louvar o SENHOR (Sl 119:12).
Esta estrofe beth começa com a questão de como um jovem pode manter puro o seu caminho (Sl 119:9). A pergunta é feita ao SENHOR e vem da consciência de um jovem que anseia andar com o SENHOR (Sl 119:7-8) em um mundo cheio de impureza, ou impureza. O salmista está ensinando aqui. O jovem é o aluno que escuta. Ele representa o remanescente fiel (cf. Pro 1:4). Ele quer ensinar-lhes o temor do SENHOR, conhecimento e consideração (cf. Sl 34:11).
O jovem corre grande perigo de ser sugado pela sedução do pecado. Quem não conhece esta questão não percebe e certamente não manterá seu caminho puro.
O próprio salmista dá a resposta Àquele a quem fez a pergunta. Ele diz a Ele: “Cumprindo [o] segundo a Tua palavra”, que é a Palavra de Deus em seu sentido mais abrangente. ‘Guardar’ significa que a Palavra de Deus não é apenas um dogma que precisamos conhecer, mas que ela permeia cada fibra de nosso ser, governa cada aspecto de nossa vida, preenchendo todo o nosso coração, toda a nossa mente e todos os nossos sentimentos.
Então ele experimentará o efeito da Palavra de Deus em seu coração, ou seja, seu efeito purificador (cf. Ef 5:25; Ef 5:26). Também é enfaticamente “sua” palavra. Isso inclui o reconhecimento de que recebemos o ensino da Palavra não de um homem, mas do próprio Deus (cf. 1 Tessalonicenses 2:13).
Toda a Palavra tem um efeito purificador. A obediência à Palavra em todos os seus aspectos e sua aplicação a todas as áreas da vida preservam da impureza. A Palavra que comanda é também a Palavra que permite fazer o que ela manda.
O salmista, e com ele o remanescente, pode dizer ao Senhor: “Com todo o meu coração te busquei” (Sl 119:10; cf. Sl 119:2). Contemplar e alimentar-se da Palavra de Deus fez com que o salmista buscasse o Senhor de todo o coração. O efeito da Palavra em nossas vidas é que nosso coração é fortalecido para sermos dedicados ao Senhor de coração resoluto e de todo o coração.
Buscar o Senhor para conhecê-lo e a sua vontade é um modo de vida. O coração do salmista dirige-se totalmente a Ele, à Sua Pessoa. Não há outro objeto para o qual seu coração esteja. Não é possível contrair um casamento a tempo parcial e com o coração dividido. Da mesma forma, não é possível buscar o SENHOR com o coração dividido.
Ele não se vangloria disso. Só porque todo o seu coração está voltado para o Senhor – o que significa que ele reserva tempo para estar ocupado com a Palavra – ele vê que depende dEle para não se desviar de Seus mandamentos. Portanto, ele pede a Ele que não o deixe se desviar de Seus mandamentos, mas que seja guiado por eles em seu caminho. Aqui vemos que a Palavra e a oração caminham juntas. Um não pode prescindir do outro.
Na estrofe aleph, vimos no Salmo 119:5 o reconhecimento do salmista de que ele é fraco e anseia por permanecer firme. Encontramos a mesma coisa aqui nesta estrofe beth. Aqui temos o reconhecimento de que seu coração é capaz de divagar e seu desejo de que o Senhor o impeça de fazê-lo.
A Palavra é um telescópio através do qual vemos quem é Deus; a Palavra é também um espelho no qual vemos quem somos. A Palavra nos ensina que possuímos esse tesouro em um vaso de barro, que retrata nossa fraqueza, “para que a suprema grandeza do poder seja de Deus e não de nós” (2Co 4:7). Na prática, significa que dedicamos conscientemente tempo suficiente a cada dia para que a Palavra por meio da qual nosso coração seja purificado (Sl 119:9) e fortalecido (Sl 119:10) seja devotado a Ele.
Mais uma vez o salmista diz ao SENHOR que seu coração está com Ele. Pois ele entesourou Sua palavra em seu coração (Sl 119:11). Agora que o salmista conhece a operação da Palavra, ele resolve entesourá-la no mais profundo de seu ser interior, ou seja, em seu coração.
Isso vai muito além e mais fundo do que conhecer a Palavra com a mente. É útil estudar e memorizar a Palavra. No entanto, não deve parar por aí. A Palavra deve ser ruminada, por assim dizer; deve descer mais fundo no eu interior, no coração, e ser guardado lá como um tesouro precioso que você ama.
O propósito de valorizar a Palavra é, ele diz ao Senhor “para que eu não peque contra ti”. Enquanto o crente viver na terra, a possibilidade de pecar permanece aberta. Deus dá a Sua Palavra, então não há desculpa para pecar. Quem guarda no coração a Palavra de Deus é capaz de responder às flechas inflamadas do inimigo com “está escrito” (cf. Mt 4,1-11).
O salmista está ciente de que o homem foi criado para a glória de Deus e que, portanto, qualquer pecado em sua vida é pecar contra Deus. A palavra “pecado” significa “errar o alvo”, ou seja, errar o propósito do Criador para nossa vida, que é glorificar a Deus (Rm 3:23).
Se a Palavra de Deus está no coração, para governar a vida a partir daí, ela abstém o justo do pecado. Se o pecado está presente no coração, acontece o contrário, o pecado afasta o justo da Palavra de Deus.
Uma pessoa, incluindo um crente, peca mais rápida e facilmente com palavras (Tg 3:1-2). Com uma palavra salgada com as palavras de Deus que repelem a deterioração (Cl 4:6), podemos dar a cada um a resposta certa e falar palavras de graça sem errar o alvo. Graças à Palavra de Deus que está no crente, ele também pode ser um sal que repele a deterioração neste mundo (Mateus 5:13).
Quando a Palavra de Deus está no coração, quando está abundantemente presente ali, os tementes a Deus, em vez de pecar, bendirão ao SENHOR (Sl 119:12; Cl 3:16). Para isso, dirige-se diretamente a Ele e diz: “Bendito és Tu, Senhor” (cf. 1Pe 1,3). Mesmo para os autores deste comentário, não é possível meditar na Palavra e fazer comentários sem que o nosso coração se encha de louvor ao nosso bendito Senhor.
Tais expressões são especialmente agradáveis a Ele. Dessa atitude de louvor, soa a pergunta ao SENHOR: “Ensina-me os teus estatutos”. O salmista anseia por aprender os estatutos de Deus de tal forma que Sua vontade seja gravada em seu coração, para que ele não se desvie deles.
O amor do salmista e do remanescente pela Palavra de Deus é evidente nas ordenanças que ele pronunciou com seus lábios (Sl 119:13). O que ouviu não guardou para si mesmo, mas transmitiu a outros em testemunho público. Aquilo de que está cheio o coração, a boca transborda (cf. Sl 116, 10).
Para ele, a Palavra de Deus não consiste apenas em palavras, verdades que aprendeu de cor. Para ele, a Palavra de Deus é “todas as ordenanças da tua boca”. Cada ordenança tocou seu coração porque a boca de Deus a pronunciou. A voz do Amado ressoa em seu coração e seus lábios falam dela.
Este versículo começa com “meus lábios” e termina com “tua boca”. O salmista fala apenas o que ouviu de Deus. Assim, o Senhor Jesus pode testificar: “As coisas que dEle ouvi, essas digo ao mundo” (João 8:26) e: “As coisas que falo, falo como o Pai Me disse” (João 12 :50). Pedro diz algo semelhante a nós em sua primeira carta (1Pe 4:11).
A alegria que ele tem pela Palavra de Deus é muito maior do que “todas as riquezas” (Sl 119:14) [de acordo com a tradução holandesa]. Ele diz ao SENHOR que a alegria que todas as riquezas do mundo podem dar não compensa para ele ir “no caminho dos teus testemunhos”. A alegria das riquezas é, por definição, temporária e limitada e nunca dá plena satisfação ao coração (cf. Sl 4,7). Quem anda no caminho dos testemunhos de Deus, quem se deixa conduzir por eles no caminho da sua vida, experimenta o seu valor imperecível.
O crente que está de olho nisso está meditando nos “preceitos” de Deus (Sl 119:15; cf. Sl 1:2). Meditar na Palavra de Deus, examiná-la, dá profunda satisfação. Como resultado, o crente ganha um olho para os caminhos de Deus. Meditar na Palavra de Deus nunca é apenas atividade intelectual, mas abre os olhos para a prática da vida. Leva a fazer o que a Palavra diz.
Estar envolvido com a Palavra de Deus desta forma dá prazer nos “estatutos” de Deus, que são as palavras indeléveis de Deus (Sl 119:16; cf. Jr 15:16). Dá estabilidade à vida de fé, pois nada nela é incerto. Os que se alegram com os decretos de Deus podem dizer com ousadia: “Não me esquecerei da tua palavra.” Afinal, é cinzelado no coração.
Salmos 119:17-24
/gimel/ Andando como um Estranho
A sigla para gimel é derivada de ‘pé em movimento’. É uma indicação da caminhada do crente na vida, vivendo como um estrangeiro na terra (Sl 119:19), no meio de pessoas hostis (Sl 119:21-23).
A palavra gimel também está relacionada com a palavra gamal, que significa camelo, animal que é o meio de transporte preferido para a jornada do peregrino pelo deserto. Também significa transportar mercadorias ou coisas boas. ‘Fazer o bem’ também é um significado (Sl 119:17). A Palavra de Deus é o conselheiro (Sl 119:24) para o crente em sua caminhada no deserto deste mundo. A caminhada do crente no mundo é ilustrada na vida de Abraão (Hb 11:8).
O salmista não está pedindo ao SENHOR para ajudá-lo a lidar generosamente, mas se o SENHOR tratará generosamente com ele (Sl 119:17). Ele não espera abundância de si mesmo, mas do SENHOR. Assim, aquele que carece de sabedoria em seu caminho pelo mundo pode pedi-la ao SENHOR. Em Sua abundância Ele dará, generosamente e sem censura (Tg 1:5). Não se trata de alguém que quer se beneficiar da abundância de Deus e depois seguir seu próprio caminho. O salmista pede como “servo” do SENHOR, reconhecendo-O como seu Senhor e Mestre.
O salmista chama a si mesmo de servo do SENHOR. Este título também é usado no livro de Isaías para o remanescente fiel, seguindo o perfeito Servo do SENHOR, o Senhor Jesus. A palavra hebraica ebed é traduzida aqui e em Isaías como “servo”.
O salmista apela para a abundância do SENHOR porque é a única maneira pela qual ele poderá viver. Trata-se de viver em comunhão com Deus em um mundo hostil. A frase “Enoque andou com Deus” (Gn 5:24), é traduzida em Hebreus 11 como “Enoque agradou a Deus” (Hb 11:5). O verbo “andar” tem uma forma que significa “andar por prazer” e é sinônimo de ter comunhão com Deus.
Esta é a vida que o salmista deseja, em meio a um mundo corrupto e cheio de violência: viver em comunhão com Deus, como Enoque viveu pouco antes do dilúvio. Esse é o assunto desta estrofe de gimel. Caminhar assim também pode ser o nosso desejo (cf. Fp 2,15-16).
Isso não significa que o salmista deseja apenas obter coisas agradáveis de Deus. Ele motiva a sua exigência de vida: é, para que depois “guarde a tua palavra”. Esta é a verdadeira vida. Nem só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus.
Para guardar a Palavra de Deus, os olhos devem ser abertos para ela (Sl 119:18; cf. 2Co 3:14). É algo que deve vir de Deus (cf. Lucas 24:45; Ef 1:18). O salmista anseia por “observar as maravilhas da tua lei”. A Palavra de Deus está cheia de coisas maravilhosas que não são perceptíveis para nós à primeira vista. Todos os que amam a Bíblia desejam ver cada vez mais dessas coisas maravilhosas.
A este respeito, os crentes assemelham-se ao cego do Evangelho segundo Marcos, cujos olhos o Senhor abriu, mas que a princípio ainda vê as pessoas andando como árvores, isto é, como figuras impressionantes (8,24). O Senhor deve continuar a trabalhar com ele para que ele possa ver nitidamente. Assim também é aqui com o salmista. Para conhecer as coisas maravilhosas e profundas da Palavra de Deus, Deus deve abrir nossos olhos (Ef 1:18).
“As maravilhas da tua lei” começam com as coisas maravilhosas da criação em toda a sua variedade. Quando o pecado entrou na criação, a coisa maravilhosa do sacrifício pelo pecado é mostrada. Isto é seguido por inúmeras coisas maravilhosas, primeiro apenas para pessoas individuais, depois também para todo um povo, o povo de Deus. A criação por si só é uma coisa maravilhosa sem paralelo. E assim continua ao longo da história do povo de Deus. Está tudo registrado no Antigo Testamento.
O caminho do crente na terra é o de um “estrangeiro” (Sl 119:19; cf. 1Pe 2:11; Hb 11:13). Para saber o que isso significa, o crente deve primeiro entender quem ele é e o que está fazendo na terra. Primeiro éramos como pecadores, estranhos às alianças da promessa (Ef 2:12). Agora que pertencemos ao Senhor Jesus, não pertencemos mais ao mundo e somos estranhos nele. “Nossa pátria está nos céus” (Filipenses 3:20).
Para conhecer seu caminho na terra para sua pátria, o céu, o crente precisa de placas de sinalização. Ele os encontra nos mandamentos da Palavra de Deus. Para descobrir esses mandamentos, esses sinais, ele depende de Deus. Ele não pede a Deus que os mostre a ele, mas que não os esconda dele. Às vezes parece isso para ele. Ele então não tem senso de direção, ele não sabe que caminho seguir.
O peregrino se volta para o SENHOR e diz a Ele: “Minha alma está ansiosa por Teus preceitos em todos os tempos” (Sl 119:20). Ele tem um desejo intenso pelo que o SENHOR determinou, o que Ele registrou em Sua Palavra para a vida dos Seus. Este desejo ele não tem apenas ocasionalmente, mas “em todos os momentos”. Ele constantemente deseja conhecer a vontade de Deus para sua vida e para o caminho que deve seguir.
A mente que anseia pela Palavra dá uma visão correta da pessoa mundana. Em frente a essa mente estão “os arrogantes, os malditos” (Sl 119:21), as pessoas que agem por si mesmas e estão focadas em si mesmas. Frequentemente, eles parecem ser bem-sucedidos e capazes de se exaltar com orgulho contra Deus impunemente.
O justo sabe que o SENHOR os repreende. Ele diz isso ao Senhor. A maldição cai sobre os arrogantes porque, diz ele ao Senhor, eles “se desviam dos teus mandamentos”. Eles conhecem os mandamentos de Deus, mas se desviam deles. Eles deliberadamente escolhem seu próprio caminho. Este agir contra o seu melhor julgamento, isto é, contra a vontade expressa de Deus, é arrogância. É o pecado de satanás (Ez 28:17; cf. Is 14:13-14).
Este também é o maior inimigo de um crente que deseja trilhar o caminho com o Senhor. A arrogância é a aberração mais grave do caminho com o Senhor. É por isso que o Senhor nos diz para aprender dEle, pois Ele é “manso e humilde de coração” (Mateus 11:28-29). Grande conhecimento da Bíblia não é isento de perigos, pois pode levar ao orgulho (1Co 8:1). Somente a comunhão com o Senhor Jesus e sentar e aprender a Seus pés pode nos afastar disso.
A maldição vem sobre os arrogantes de acordo com a aliança do Senhor com Israel. Um israelita que viola a aliança fica sob a maldição (cf. Deu 28:15; Deu 28:45). O fim dos malditos é “o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos” (Mateus 25:41).
O justo é coberto com “opróbrio e desprezo” porque ele observa os testemunhos de Deus (Sl 119:22; cf. 2Tm 3:12). Ao contrário do anticristo e seus seguidores, o salmista – e o remanescente – querem observar os testemunhos de Deus. Afinal, os testemunhos, por exemplo, as duas tábuas da lei, são uma fonte de alegria para ele (Sl 119:24).
Ele observou os “testemunhos” de Deus e, com base nisso, pede que Deus afaste a reprovação e o desprezo lançados sobre ele. Aqueles que atendem à Palavra de Deus devem contar com o desprezo do mundo. Mas ele pode ir a Deus com isso e pedir que a difamação seja rejeitada. A avaliação de Deus sobre sua vida é a única coisa que importa para ele.
Ele até encontra a contradição de “príncipes” (Sl 119:23). Ele foi indiciado pelos arrogantes amaldiçoados e, em vez de absolver os justos, os senhores de alto escalão justificam os acusadores. Ele não se incomoda com isso, no entanto, pois, ele diz ao Senhor, quando eles falam assim: “Teu servo medita em Teus estatutos”.
Como no primeiro verso desta estrofe (Sl 119:17), aqui, diante dos “príncipes”, ele se autodenomina “teu servo”, um servo do SENHOR. Servo do SENHOR é um título honorário do Senhor Jesus. Portanto, também é um privilégio para o salmista, e para nós, sermos chamados servos do Senhor. Os príncipes podem ser nobres, mas ser um servo do Senhor é muito preferível à nobreza de um príncipe.
A vida do salmista é uma vida de serviço ao SENHOR. Isso é o que lhe trouxe esta oposição. Sua proteção contra as falsas acusações e condenações reside na meditação dos estatutos de Deus. Isso o mantém de pé no meio de toda a inimizade. Vemos o cumprimento deste versículo na vida do Senhor Jesus, que durante toda a Sua vida e especialmente no ‘julgamento’ contra Ele “tem suportado tão grande contradição dos pecadores contra Si mesmo” (Hb 12:3, Tradução Darby).
Para o salmista, e para o remanescente crente, e especialmente para o Senhor Jesus, os testemunhos de Deus são seu pessoal, “meu”, “deleite” (Sl 119:24). “[Eles são] meus conselheiros”, diz o salmista ao SENHOR. Esta é uma personificação maravilhosa da Palavra de Deus. Tudo o que Deus diz em Sua Palavra é um bom conselho para quem quiser ouvi-lo.
Isso se aplica ao crente como servo e como estrangeiro, e a situações em que se experimentam difamação, desprezo e oposição. Então o crente sabe o que fazer, que caminho tomar e como responder a qualquer coisa que surja em seu caminho ou seja feito a ele.
Esta estrofe começa e termina com o salmista como servo do SENHOR. Servir é a marca do caminho, gimel, deste justo no meio de um mundo corrupto (o anticristo) e cheio de violência (o rei do Norte) (cf. Gn 6, 11).
Salmos 119:25-32
/daleth/ A Porta e Modo de Vida
A letra ou a palavra daleth tem dois significados: ‘porta’ e ‘humilde’, ‘pobre’, ‘oprimido’. Esses dois pensamentos se unem no Sermão da Montanha do Senhor Jesus em Mateus 5-7, onde Ele diz: “Entrai pela porta estreita; … Porque estreita é a porta e estreito o caminho que conduz à vida, e poucos são os que a encontram” (Mt 7,13-14).
O caminho para a vida só pode ser percorrido por aquele que primeiro entrou pela porta estreita. Somente aquele que é humilde e pobre pode entrar por aquela porta estreita. Assim, ele, o salmista, atravessa a porta para o caminho da vida. Encontramos cinco versos nesta estrofe daleth com a expressão “o caminho”.
Uma porta também é o limite entre duas áreas, por exemplo, entre o exterior e o interior. Assim, a Palavra como porta, pela qual só podemos entrar na humildade, nos leva ao caminho da vida, que é o Senhor Jesus, em um campo de convivência com o Pai (Jo 10:9; Jo 14: 6).
O salmista está abatido (Sl 119:25). A sua “alma apega-se ao pó”, pois está à beira da morte (cf. Sl 104, 29). Ele experimenta o quão vazio e mortal ele é. Encontramos aqui “pó” (Sl 119:25) e “choro” (Sl 119:28), que fala de pesar e tristeza. O portão ou porta nos leva do caminho da morte para o caminho da vida. Esse caminho termina na salvação, mas ao longo do caminho o justo encontra problemas e tristezas (cf. Mar 10,30). Nesse caminho o SENHOR está com ele. Assim, o Senhor não guarda Daniel da cova dos leões, mas o guarda na cova dos leões; o Senhor não guarda os três amigos de Daniel da fornalha de fogo ardente, mas os mantém nessa mesma fornalha de fogo ardente.
Se no caminho da nossa vida houver uma pedra que nos estorve, o Senhor não a removerá, mas enviará os seus anjos para nos carregar, para que não tropecemos em alguma pedra (Sl 91,11-12; cf. . Mateus 4:6). Ou seja, o Senhor não tira as dificuldades, mas nos ajuda a superá-las.
O salmista vê apenas uma maneira de reviver e é para o Senhor revivê-lo “segundo a tua palavra”. Ele sabe que a Palavra de Deus contém vida e é poderosa para livrá-lo do poder da morte e dar-lhe vida. Trata-se de libertação da morte física. A bênção da nova aliança indica que o remanescente viverá e assim herdará o reino. Isso caracteriza os fiéis. Ele não busca um caminho de fé mais fácil, mas se volta para o SENHOR para viver a vida como Ele deseja.
Muitas vezes no passado o salmista experimentou a fidelidade do SENHOR. Isso lhe dá confiança para continuar confiando Nele no futuro. Ele contou seus caminhos ao Senhor, o que pode incluir uma confissão de seguir seus próprios caminhos, “meus caminhos” (Sl 119:26).
Se tivermos que confessar pecados, é importante contar ao Senhor tudo sobre o caminho da nossa vida e não esconder nada. Confessar significa ver e nomear tudo, como o Senhor vê e nomeia. Em hebraico, confessar significa ‘enumerar’, ou seja, contar todas as coisas uma a uma. Em grego, confessar significa ‘dizer a mesma coisa’, ou seja, dizer a mesma coisa sobre esse sujeito como Deus.
Com base no que o salmista disse a Deus, Deus respondeu à sua oração do versículo anterior e o reviveu. O crente aprende aqui a importante verdade de que ele deve aprender os estatutos de Deus se quiser ser glorificado com Cristo. Isso o capacitará a seguir os caminhos de Deus e não cairá no erro de seguir seus próprios caminhos novamente.
Ele imediatamente segue pedindo a Deus que o faça “entender o caminho dos teus preceitos” (Sl 119:27). No Salmo 119:26, o salmista reconheceu que é ignorante e, portanto, necessita de ensino. Mas ensinar não é suficiente. Por isso, o salmista pergunta agora se o SENHOR lhe dará entendimento, capacitando-o a aplicar na sua vida o ensinamento que recebeu e também a transmiti-lo aos outros (cf. 2 Tm 3, 14).
Ele quer seguir o caminho dos preceitos de Deus porque dessa forma ele experimenta a comunhão com Deus. Essa é uma maneira de maravilhas. Aqueles que vivem em comunhão com Deus veem cada vez mais as maravilhas de Sua orientação e preservação. Vale a pena meditar nessas maravilhas porque mostram quem é Deus e do que Ele é capaz. Podem ser pequenas maravilhas, bem como grandes.
Há também circunstâncias em que a alma “chora de tristeza” (Sl 119:28). Isso acontece, por exemplo, quando ele se olha muito. Isso sempre deprime um crente (cf. 1Rs 19:13-14; Sl 73:13-16). ‘Chorar por causa da dor’ é literalmente ‘derreter’. Pelo peso de sua tristeza, o salmista se derrete, ele se torna líquido, por assim dizer, ele se transforma em lágrimas.
Então fica escuro na vida e as maravilhas parecem tão distantes. A causa das lágrimas de tristeza pode ser muito diversa. Pode ser doença ou decepção ou engano ou calúnia ou injustiça, mas também pecados. Então, com uma única palavra de Sua Palavra, Deus é capaz de fortalecer novamente a vida que foi deprimida pela tristeza. Pode ser uma palavra de conforto ou uma palavra de exortação, dependendo da ocasião da dor. O salmista percebe que só pode ser ajudado por uma Pessoa. Sabemos que Deus conforta apontando para Cristo (cf. Rm 7,24; Hb 12,2-3).
O que o salmista não quer é seguir “o caminho falso”, isto é, o caminho dos pecadores (Sl 119:29; Sl 1:1). Quando vemos este versículo no contexto do versículo anterior e do versículo seguinte, trata-se da mentira sobre a própria situação espiritual. Quão fácil é para um crente parecer externamente como ‘mente espiritual’ enquanto por dentro, em seu coração, as coisas não estão certas. Por fora, uma pessoa pode ter a aparência de um irmão ou irmã de mentalidade espiritual, mas por dentro, as coisas não estão moralmente corretas, pode até haver corrupção.
O caminho falso, o caminho da mentira, é o caminho da infidelidade ao SENHOR e à Sua aliança. Ele não pode evitar esse caminho em sua própria força. Por isso, ele pede ao SENHOR: “Afaste de mim o falso caminho”. Em vez disso, ele pede: “Graciosamente, conceda-me a sua lei”. A lei, dada na graça como guia para a vida, coloca diante do falso caminho o sinal: beco sem saída. O caminho da mentira termina em morte.
Sob a nova aliança, a lei será dada ou escrita no coração dos israelitas crentes (Jr 31:33). Que graça! Em nossos corações não estão escritas as tábuas de pedra da lei, mas Cristo está escrito nas tábuas de carne de nossos corações (2Co 3:3). Que graça infinita!
Oposto ao falso caminho (Sl 119:29) é “o caminho fiel” ou “o caminho da fidelidade” (Sl 119:30). É o caminho da fidelidade ao Senhor e à Sua aliança. O salmista “escolheu” esse caminho. Deus quer que sigamos esse caminho, mas não nos obriga a ir por esse caminho. Ele nos apresenta como pessoas responsáveis com uma escolha. Tem sido assim desde o paraíso.
Escolhemos o caminho certo quando colocamos as ordenanças de Deus diante de nós. Isso é sobre sinceridade, sobre retidão, sobre a verdade em nosso ser mais íntimo (Sl 51:6). Por Eva não ter colocado as ordenanças de Deus diante de seus olhos, ela escolheu o caminho falso, o caminho da infidelidade a Deus. E Davi andou no caminho falso por algum tempo quando, apesar de seu pecado com Urias e Bate-Seba, ele continuou com sua vida como se nada tivesse acontecido.
O salmista disse no primeiro verso desta estrofe que sua alma se apega ao pó (Sl 119:25). Pelos exercícios de sua alma nos versículos seguintes, ele agora chegou ao ponto em que pode dizer ao SENHOR: “Apego-me aos teus testemunhos” (Sl 119:31). Com isso ele se apega ao próprio SENHOR, de modo que não pode ser arrancado dele. É um compromisso renovado, veja Salmo 119:32, para permanecer perto do Senhor com coração resoluto (Atos 11:23). Em Salmos 119:25 ele se apega ao pó; agora ele se apega – o mesmo verbo – ao SENHOR.
A palavra “apego” é usada pela primeira vez na Bíblia para a conexão firme entre Adão e Eva, onde é traduzida como “unido” (Gn 2:24). Da mesma forma, o salmista tem uma ligação firme com os testemunhos do SENHOR. O salmista também sente quão frágil ainda é esse apego ou união. Por isso, ele apela ao SENHOR para que não o envergonhe nisto (cf. Rm 9,33).
A palavra “pois” no Salmo 119:32 é melhor traduzida como “porque”. O significado é que o Senhor ampliou o coração do salmista. Ele correrá no caminho dos mandamentos do SENHOR com um coração aliviado e confiança renovada e intenções renovadas (Sl 119:32).
Não há mais obstáculos internos. Ele abandonou o caminho falso (Sl 119:29) e escolheu o caminho fiel (Sl 119:30). Agora o Senhor pode trabalhar em seu coração. Seu coração está dilatado para os mandamentos, então ele sabe que caminho seguir. “Correr” em hebraico é “apressar-se”. Enquanto a princípio ele se agarra ao pó e não pode ser movido para frente (Sl 119:25) e está em processo de derretimento (Sl 119:28), ele agora é capaz de andar com força renovada (Is 40:31) em o caminho estreito do SENHOR com passos firmes.
Salmos 119:33-40
/he/ Entendimento
O pictograma da letra é uma janela, que fala de ver e compreender uma revelação ou observação. Ele como uma palavra significa ‘ver’ em hebraico. Mais tarde é hinné (Sl 119:40). Através de uma janela a luz entra, permitindo que você veja algo. Através de uma revelação a luz entra, fazendo você entender.
“Ali [o Verbo] estava a verdadeira Luz que, vindo ao mundo [a encarnação do Verbo], ilumina todo homem” (João 1:9). O homem é iluminado pela exclamação de João Batista: “Eis o Cordeiro de Deus” (Jo 1,29). Em hebraico, “eis” seria he ou hinné. A revelação é a respeito da Pessoa de Cristo, o Cordeiro de Deus.
Em Sl 119:33-34 ouvimos o pedido do salmista para entender o caminho do SENHOR por meio do ensino. Salmo 119:37 fala dos olhos do salmista. Seus olhos devem estar focados em uma Pessoa, não distraídos pelo engano das riquezas. Através do ensino da Palavra de Deus ele deve adquirir entendimento para andar alegremente no caminho do Senhor.
Cada verso desta estrofe é uma oração e indica a relação entre a Palavra e a oração. Seu tom é humildade e dependência. A Palavra é a Palavra de Deus. Então, também, somente Ele pode dar a explicação do que Ele diz. O justo percebe isso e, portanto, ora por isso. Ele percebe que o Senhor deve abrir a janela de seu coração e que a luz de Sua revelação e Pessoa deve brilhar nela. Ele é totalmente dependente do Senhor e de Sua Palavra.
A Palavra de Deus não é apenas um material didático, um assunto, como a teologia, ou uma série de doutrinas e princípios. A Palavra de Deus é a Palavra que nos conecta com Deus. Portanto, se desejamos compreender a Palavra, só podemos abordá-la com oração, para que Deus abra a janela do nosso coração (cf. Lc 24,45). O salmista entendeu isso. Ele começa sua oração com “ensina-me” (Sl 119:33). “Ensinar” em hebraico é moré. Abraão também começou sua permanência na terra prometida no carvalho de Moré, que é ‘mestre’ (Gn 12:6).
Ele não sujeita a Palavra ao seu próprio raciocínio lógico, mas se lança aos pés do SENHOR para receber dEle as Suas palavras (cf. Dt 33,3; Lc 10,39). Assim, teremos que ler a Palavra de Deus com oração se quisermos ser ensinados e transformados à imagem de Cristo. Só então obteremos sabedoria e discernimento espiritual.
Os estatutos do SENHOR permanecem de valor imutável para o crente enquanto ele viver. Aprender a conhecê-los nunca cessa. Enquanto um crente viver, ele nunca poderá dizer que pode parar de aprender porque deve saber tudo. Para permanecer fiel até o fim da vida na observância dos estatutos, é necessário o desejo de ser ensinado e instruído pelo SENHOR. É por isso que o justo ora.
O problema de muitas pessoas, mas também de muitos crentes que querem ser biblicamente fiéis, é que muitas vezes estão tão convencidos de sua própria retidão que não podem mais ser corrigidos pelos outros e, portanto, nem pelo Senhor. Quão necessário é que levemos a sério a lição da letra he: que estejamos preparados com humildade para abrir a janela de nossos corações e aprender com os outros. Tomemos um exemplo dos judeus em Bereia em Atos 17 (Atos 17:11).
O entendimento – veja o significado da letra he – é necessário para guardar a lei de Deus (Sl 119:34). Sem entendimento, os justos não entendem o que Deus requer deles. Eles obtêm esse entendimento se estiverem dispostos a obedecê-lo de todo o coração. Não se trata de um bom intelecto, mas de um coração renovado e disposto (cf. Jo 7, 17).
O SENHOR mudou e moldou o coração do salmista, fazendo-o desejar trilhar o caminho dos mandamentos de Deus. Isso o faz perceber que para colocar em prática os mandamentos de Deus ele precisa de Sua ajuda e orientação. Nas palavras de Paulo, Deus não deve apenas operar nele o querer, mas também o realizar (Fp 2:13).
É isso que o salmista está pedindo quando pede ao SENHOR: “Faz-me andar no caminho dos teus mandamentos” (Sl 119:35). Traduzido livremente, ele pede: ‘Deixe-me viver assim, deixe-me trilhar o caminho da vida com Deus’. O Senhor pede fé obediência. Ele nos dá instruções que queremos seguir com alegria por amor.
O salmista anseia por trilhar esse caminho, “porque deleito-me nele”, diz ele. O sabor da Palavra é doce, alegra o nosso coração. Então, alegremente, seguimos o caminho que o Senhor quer que sigamos. Quando fazemos algo com prazer, gostamos de fazê-lo.
Existe uma tendência especial, isto é, “inclinação” ou “direção do coração” na vida, da qual nem mesmo o crente pode escapar, mesmo que siga o caminho dos mandamentos de Deus. Essa tendência é o “ganho [desonesto]”, tentando ganhar o máximo possível, por exemplo, roubando os outros (Sl 119:36). “Ganho [desonesto]” significa “vantagem injusta”. Isso pode ser no sentido material, como riqueza, mas também pode ser imaterial, como fama, nome, popularidade.
Como crente, muitas vezes você sente que o desejo de riqueza não é bom – pense na esposa de Ló. A ânsia de honra e prestígio também é um grande perigo, até para nós. Pense em Ananias e Safira. Na escola de Deus podemos aprender a guardar as inclinações de nosso coração e as obras de nossa carne na morte (Cl 3:5).
A inclinação errada não tem espaço quando pedimos ao SENHOR com o salmista: “Inclina meu coração para os teus testemunhos”. Se o coração dele e nosso estiver determinado a lidar com o Senhor, ele e nós não estaremos abertos à busca da prosperidade mundana.
O engano das riquezas é como o joio sufocando a semente da Palavra (Mateus 13:22). As ervas daninhas em Israel têm raízes profundas, de meio metro a um metro, com raízes crescendo entre as rochas, tornando quase impossível removê-las. Essas ervas daninhas, graças a essas raízes, também crescem na velocidade da luz. Isso mostra como o efeito da riqueza pode ser sufocante para a semente da Palavra e como é difícil se livrar desse efeito sufocante. Rezemos, pois, com ele a oração do salmista.
Depois de falar de seu coração no versículo anterior, o temente a Deus fala de seus olhos em Sl 119:37. Ele pede a Deus que desvie seus olhos, para que não fiquem “olhando para a vaidade”. “Vaidade” é o que não tem valor para o momento nem para o futuro. Esta é uma oração bastante atual para o tempo em que vivemos, com ondas de material visual através da televisão e da Internet que são completamente inúteis e muitas vezes pecaminosos, mas que as pessoas assistem por muitas horas (cf. Is 55, 2).
Às vezes, trata-se de imagens impuras que você encontra sem intenção e sem procura, por exemplo, publicidade. Aqui se aplica o ditado: o segundo olhar é pecaminoso. Ou seja, na primeira vez que você vê, aconteceu com você, mas a segunda olhada é uma escolha consciente. Disso, o salmista pergunta se o SENHOR desviará os olhos disso. A esse respeito, Jó nos deu um exemplo ao fazer uma aliança com seus olhos para não seguir (luxuriosamente) uma garota atraente com eles (Jó 31:1). Davi é um grande sinal de alerta para cada um de nós (2Sm 11:1-5)!
“Vaidade”, vazia, sem sentido é aquilo que espiritualmente não é alimento, é pedra e não pão. Paulo chama todos os privilégios desta vida de lixo em comparação com a excelência do conhecimento de Cristo Jesus, seu Senhor (Fp 3:8). A questão da consciência para nós é quais são nossas prioridades nesta vida. O perigo da tentação é grande. Até mesmo um dos associados do apóstolo Paulo, chamado Demas, deixou o apóstolo por amor ao presente século (2Tm 4:10). Demas também é um sinal de alerta para cada um de nós. Façamos também esta oração com o salmista.
Olhar para o que é vaidade é olhar para algo que, como um assassino furtivo, sufoca a vida de fé. Isso fica evidente na segunda linha deste versículo. O temente a Deus quer desfrutar a verdadeira vida, que é a vida em comunhão com Deus. Essa vida é vivida seguindo os caminhos de Deus. Os “teus caminhos”, que são os caminhos de Deus, são caminhos de vida. Quando vamos a eles, estamos realmente vivendo.
O justo sabe que há vida nos caminhos do SENHOR. Em seguida, ele pede uma confirmação ou cumprimento da promessa de vida (Sl 119:38). Isso é para a glória do SENHOR (Ez 36:26-27). Ele faz essa pergunta como “Teu servo” (cf. Sl 119:17; Sl 119:23). A isso ele acrescenta “como aquilo que produz reverência por Ti”. Ele não é apenas aquele que serve ao Senhor, mas também aquele que O teme, que vive em temor e reverência a Ele. O SENHOR não rejeitará tal pessoa.
O que ele não quer é a reprovação das pessoas que o caluniam por não ter recebido a promessa do SENHOR (Sl 119:38), apesar de ele permanecer fiel ao SENHOR (Sl 119:39). Ele “teme” essa reprovação e pede ao Senhor que a afaste dele, mantendo-o fiel à Sua Palavra e cumprindo Suas promessas. Ele também quer ser fiel porque as “ordenanças de Deus são boas”. Ele também quer ser fiel porque a sua infidelidade seria uma difamação ao Nome do SENHOR (cf. Rm 2,24).
Ele expressa seu desejo pelos preceitos do Senhor (Sl 119:40). Este versículo começa com “eis”. A letra que ele quer dizer ‘ver’, aqui é hinné. Muitas vezes pensamos que só as promessas do SENHOR são importantes, mas o salmista anseia pelos preceitos, pelos mandamentos do SENHOR. Neles está a vida.
O salmista anseia por reviver, não como uma recompensa por seu desejo, mas “pela Tua justiça”. A vida pela justiça de Deus significa vida por toda a eternidade. A vida que Deus dá em virtude da justiça é a vida onde o santo requisito da justiça de Deus foi cumprido. Essa justiça foi cumprida pelo Senhor Jesus na cruz.
A justiça de Deus significa que Deus sempre age de acordo com Seu padrão, que neste caso é Sua aliança. O salmista pergunta se o SENHOR agirá de acordo com Sua aliança e Sua promessa. Em Sua promessa, Ele quer dar uma janela para que a luz possa vir de cima – uma janela, uma luz que se abre de cima (Gn 6:16) – para afugentar as trevas.
Salmos 119:41-48
/vav/ Céu e Terra Conectados
O pictograma da letra vav é um ser humano, um prego, uma estaca ou um gancho (de conexão) (cf. Êxodo 26:32; Êxodo 26:37; Êxodo 27:10). A função da letra em hebraico é conectar palavras; significa ‘e’. Cada verso nesta estrofe vav começa com a conjunção ‘e’, uma palavra que conecta duas partes de uma frase. Vemos uma ilustração disso na escada de Jacó ligando o céu e a terra (Gn 28:12-13).
O vav é a sexta letra do alfabeto hebraico e tem o valor numérico seis. Este é o número do homem, que foi criado por Deus no sexto dia para ser a ligação entre o céu e a terra. Porque o primeiro homem, Adão, falhou, seu lugar é ocupado pelo segundo Homem, Cristo, que estabeleceu a ligação entre o céu e a terra, entre Deus e os homens (1Tm 2:5).
Nesta vav estrofe vemos a Palavra de Deus como o elo entre o céu e a terra, entre o Eterno e o insignificante. A Palavra é como o gancho de conexão no relacionamento entre Deus e os homens.
Primeiro, no Salmo 119:41-43 encontramos a oração do salmista, uma oração de ajuda baseada em sua confiança na Palavra. Então, em Sl 119:44-48, encontramos a atitude de devoção e os propósitos do salmista em relação à Palavra.
Os fiéis precisam continuamente da consciência da “bondade” e da “salvação” do Senhor (Sl 119:41). Primeiro, o fiel recebeu uma nova vida com base na benignidade do Senhor, e então ele continua a precisar da benignidade do Senhor em sua vida. Também para nós é “graça sobre graça” (Jo 1,16). Recebemos a graça quando nos arrependemos e também recebemos a graça necessária durante nossa estada na terra.
O SENHOR, de acordo com Sua aliança – benignidade, chesed – prometeu que Ele dará aos Seus em virtude de Sua aliança a salvação, isto é, a bênção do reino da paz. Ele não precisa ser lembrado disso, mas os crentes podem se lembrar disso e dizer a Ele. Sua benignidade se manifesta na salvação dos fiéis dos perigos que os cercam para depois apresentá-los às bênçãos da nova aliança.
Sempre haverá quem repreenda o crente (Sl 119:42). Estes são os israelitas infiéis, os seguidores do anticristo, que rejeitaram a aliança e estão reprovando o remanescente fiel. O remanescente está sendo repreendido porque parece que o SENHOR não os está ajudando. Quando Ele cumpre Sua promessa, o remanescente pode assim responder àqueles que os insultam.
De si mesmo, o salmista não pode falar a verdade. O mesmo é verdade para o remanescente e para nós. Um crente pode falar “a palavra da verdade” somente se Deus a colocar em sua boca (Sl 119:43; cf. Mt 10:19-20). Além disso, o crente tem que esperar pelas “ordenanças” de Deus. Isso fala da expectativa que ele tem de que Deus lhe dará a conhecer Suas ordenanças.
Com isso, o salmista pode responder àquele que o repreende. Nós também devemos estar sempre prontos para prestar contas a qualquer um que nos pedir para dar conta da esperança que há em nós (1Pe 3:15). Para tanto, o salmista pergunta se o SENHOR não tirará totalmente de sua boca a palavra da verdade. Isso acontece conosco quando nos desviamos de Seu caminho por não estarmos dispostos a confessar nossos pecados ou quando deliberadamente escolhemos um caminho diferente daquele que o Senhor nos mostrou.
Quando o Senhor o livrar das pessoas que o odeiam (Sl 119:42), ele guardará continuamente a Sua lei e o fará “para todo o sempre” (Sl 119:44). Ele então poderá confessar a fidelidade do Senhor. Esta resolução do coração vale a pena seguir para nós. É uma decisão baseada na experiência de amor e fidelidade do SENHOR, cuja revelação plena vemos na obra de Cristo. Em troca, só podemos oferecer obediência total.
Quando a lei de Deus é mantida continuamente, o crente “anda em liberdade” (Sl 119:45). A obstinação e o pecado levam à escravidão e impedimento na vida de oração e compreensão da Palavra de Deus (Sl 66:18; Tg 4:3; 1Pe 3:7). Buscar os preceitos de Deus liberta a pessoa de qualquer escravidão que a impeça de fazer a vontade de Deus e seguir o caminho de Deus. O Senhor Jesus sempre andou em liberdade. Ele nunca fez nada além de buscar os preceitos de Deus para cumpri-los. Ele viveu na terra em verdadeira liberdade. Ele torna os escravos do pecado verdadeiramente livres (João 8:36).
Um incrédulo não é livre, pois está preso ao pecado. Ele não pode fazer a vontade de Deus, nem pode andar no caminho de Deus. Um crente, que foi liberto pelo Filho de Deus, é capaz de fazer o que agora deseja fazer, ou seja, a vontade de Deus. O Senhor Jesus é sua nova vida, e essa nova vida quer fazer nele apenas o que Deus quer, assim como o Senhor Jesus sempre fez apenas o que Deus quer.
Se uma pessoa anda em liberdade, pode até ter que comparecer perante reis (Sl 119:46). Ele “falará dos Teus testemunhos” diante deles sem se envergonhar. Não há medo do homem, mas um desejo de testemunhar quem é Deus, mesmo nos círculos mais elevados. Paulo o fez (Atos 25:23-24; Atos 26:1-2; Atos 26:27-29; cf. Romanos 1:16). Vemos a mesma coisa com os amigos de Daniel (Dan 3:17-19) e João Batista (Mateus 14:4).
Onde há amor pelos mandamentos de Deus, há deleite neles (Sl 119:47). Este tema corre como um fio de ouro em todo o salmo (Salmos 119:16; Salmos 119:70; Salmos 119:97; Salmos 119:113; Salmos 119:119; Salmos 119:127; Salmos 119:140; Salmos 119:159; Salmos 119:163). Experimentamos esse deleite quando lemos e examinamos a Palavra de Deus. É uma característica que alguém tem a vida de Deus quando tem amor pela ‘carta de amor’ de Deus, a Bíblia. Alguém que diz que ama a Deus, mas não lê Sua Palavra com amor, é um mentiroso. Quando há amor pelos mandamentos de Deus, esses mandamentos não pesam na consciência como um fardo, mas são uma alegria para o coração.
O levantar das mãos aos mandamentos do SENHOR é uma atitude de louvor e oração (Sl 119:48; Sl 28:2; Sl 63:4; Sl 141:2; Sl 134:2; cf. 1Ti 2: 8). Nesta atitude, o justo meditará nos estatutos do Senhor para que possa entendê-los e vivê-los para Sua glória. Essa atitude vem do amor que o temente a Deus tem em seu coração por aqueles estatutos. Isso é evidenciado pelo fato de que ele medita nos estatutos do SENHOR. Ao meditar, o fiel não se concentra em si mesmo, mas naquele a quem pertencem os estatutos. Ele se preocupa em conhecer melhor o SENHOR.
Salmos 119:49-56
/zayin/ Lembre-se
A letra zayin é a sétima letra e tem a forma de um cetro ou de uma espada. A Palavra é a espada do Espírito (Ef 6:17). É a sexta letra, vav, com uma coroa. A estrofe zayin começa com “lembrar” do Senhor (Sl 119:49) e termina com “lembrar” do salmista (Sl 119:55). Quando o SENHOR se lembra de Sua Palavra, significa que Ele vai cumprir a Palavra a respeito de Sua promessa do futuro, quando Cristo reinará. Então Ele será coroado com muitos diademas (Ap 19:12) e não mais com uma coroa de espinhos.
A esperança de que seremos glorificados com Cristo nos dá força para sofrer com Ele no mundo (Rm 8:17). Esse é o tema deste versículo. Temos uma viva esperança (1Pe 1:3). A alegria que nos é apresentada nela nos ajuda a correr a carreira do sofrimento com perseverança (Hb 12:1-3).
É impossível que o SENHOR se esqueça da palavra que falou ao seu servo. O fato de o servo Lhe pedir para se lembrar significa que ele está aflito e parece que o SENHOR se esqueceu do que disse (Sl 119:49). Ele o fez esperar em Sua Palavra. Com certeza essa esperança não será em vão.
A palavra hebraica para lembrar, zakar, é uma lembrança ativa, ou seja, é uma ação. Vemos o significado das palavras e nomes hebraicos, por exemplo, em Lucas 1 com Zacarias, que é “o SENHOR se lembra”, com Isabel, que é “[o que] Deus jurou”, e com seu filho João, que é “ [cumpriu] a graça do Senhor. Portanto, seu nome deveria ser João e nenhum outro nome (Lucas 1:5; Lucas 1:13; Lucas 1:59-63).
Quando Deus se lembra de Sua Palavra, significa que Ele salva os Seus de acordo com Sua fidelidade à Sua aliança (Hb 6:17-18). Para o salmista, a Palavra é para ele pessoalmente, o SENHOR falou com ele por meio dessa Palavra.
No versículo seguinte, ele mesmo dá a resposta (Sl 119:50). Seu consolo em sua aflição é que o SENHOR o “ressuscitou” por Sua palavra. Isto é, ele se apropriou da promessa de Deus. Os crentes sabem que a palavra de Deus revive. Ousamos nos apropriar do que Deus disse?
A palavra implica que Cristo será glorificado e coroado e se assentará em Seu próprio trono. Então o salmista experimentará a bênção: ele poderá sentar-se com Cristo em Seu trono (Ap 3:21). Ele experimentou o poder vivificante da Palavra de Deus. As pessoas podem falar palavras para confortar. Às vezes são palavras sem sentido, geralmente são bem-intencionadas, mas muitas vezes não fornecem alívio real. Com as palavras de Deus, é diferente. As palavras de Deus são palavras vivas; eles têm vida em si mesmos.
Os justos devem contar com o escárnio mordaz e doloroso dos ímpios arrogantes (Sl 119:51; cf. Sl 119:21). Esta é uma poderosa arma de incredulidade. Vemos isso expresso, entre outras coisas, em cartuns questionáveis. Não deve nos surpreender. A rejeição é normal. O Senhor Jesus também experimentou isso, e particularmente em Sua condenação à morte na cruz. Assim como Ele não se desviou da Palavra de Deus, o remanescente sofredor também não (cf. Hb 12:2).
O crente se consola quando se lembra das ordenanças do SENHOR desde os tempos antigos (Sl 119:52). Ele então vê que o Senhor interveio em momentos em que os ímpios encurralaram particularmente Seu povo. Por exemplo, vemos como o SENHOR interveio por Moisés e Arão contra o bando perverso de Coré (Nm 16:1-3; Nm 16:28-35).
Esquecemo-nos rápida e facilmente, como o copeiro se esqueceu de José (Gn 40:14; Gn 40:23). É por isso que o Senhor nos deu Sua refeição memorial para lembrar Dele e de Seus sofrimentos. Quando instituiu a Ceia, disse: “Fazei isto em memória de mim” (1Co 11:23-26).
O temente a Deus é tomado por uma indignação ardente quando vê a lei do Senhor sendo abandonada e pisoteada pelos ímpios (Sl 119:53). Ele sente que isso é uma afronta ao Senhor e compartilha Seus sentimentos nisso (cf. Rm 15:3). Abandonar a lei do SENHOR equivale a abandoná-lo. Isso será feito totalmente pelo anticristo, que abertamente abandonará a lei.
Acostumamo-nos, às vezes sem perceber, a situações pecaminosas. Ainda somos tomados por uma indignação ardente sobre práticas pecaminosas como aborto, eutanásia, homossexualidade, ou nos acostumamos a isso? Também nós ainda nos comovemos com o destino das pessoas no mundo, que estão a caminho de perecer para sempre porque vivem sem Deus e sem esperança?
O remanescente fiel odeia abandonar a lei de Deus. Em contraste, os estatutos de Deus são suas canções (Sl 119:54). Assim fará o remanescente durante a grande tribulação, quando estiver na casa de sua peregrinação, ou seja, quando vagar pela terra como estrangeiro (cf. Hb 11,13). Eles foram expulsos e fugiram de sua terra para as montanhas (Mateus 24:16). Em seus corações eles carregam os estatutos de Deus. Estas foram suas canções.
Cantar significa que a Palavra era reconfortante para o salmista, que soava como música aos seus ouvidos no meio de pessoas fanáticas e hostis que o cercavam. Também podemos cantar a Palavra de Deus quando necessitamos. É uma característica dos pecadores redimidos que eles cantem. Dos anjos, não lemos em nenhum lugar da Palavra de Deus que eles cantem. Também quando estivermos com o Senhor, cantaremos. Se estivermos engajados com o Senhor e Sua Palavra na terra, uma canção de louvor surgirá em nossos corações na prática de cada dia, não importa em que situação estejamos. Então cantaremos uma canção como “Amazing grace”.
Na noite da grande tribulação, eles são determinados pelo Nome de Deus pelos estatutos sobre os quais cantaram (Sl 119:55). Assim, uma noite de aflição torna-se noite de louvor e, assim, testemunho para a glória do Nome de Deus (cf. At 16, 25). As pessoas do mundo aconselham a contar ovelhas quando você não consegue dormir. O salmista diz que é melhor falar com o Pastor. A lei de Deus é inseparável do Nome de Deus. Quem pensa em Seu Nome, pensa em Sua Palavra, na qual tanto está escrito sobre esse Nome.
Em Sl 119:56, o temente a Deus diz por que ele foi capaz de cantar em terra estrangeira (Sl 119:54) e pensar no Nome de Deus à noite (Sl 119:55): é porque ele observou os preceitos de Deus. Seu pensamento não é ponderar, mas fazer. O caminho da obediência resulta em um cântico em que se louva o Nome de Deus.
Salmos 119:57-64
/heth/ Novo
A oitava letra, heth, originalmente significa “parede”, “cercado”, “limite”. Assim, o SENHOR cerca o justo com favor como com um escudo (Sl 5:12). Nosso escudo é a fé (Ef 6:16), ou seja, a plena confiança em Deus e em Sua Palavra.
O número oito correspondente fala de ir além do limite de sete. Sete é um todo completo – sete dias completam uma semana, completam uma semana – depois do qual algo novo vem. Podemos aplicar isso, por exemplo, à nova vida, à ressurreição, à nova aliança. A nova vida, em oposição à velha, pode ser dedicada à Palavra, porque a nossa nova vida é Cristo.
Em cada um dos oito versos desta estrofe encontramos um sinônimo para a Palavra. Sublinha o fato de que a nova vida da nova aliança é caracterizada pelo amor e dedicação à Palavra (Sl 119,57-60; cf. 2Co 3,6-18; Hb 8,6-13), embora haja são inimigos por toda parte (Sl 119:61).
O salmista pode dizer com alegria que o Senhor é a sua porção (Sl 119:57; Sl 16:5; Sl 73:26; Sl 142:5; cf. Nm 18:20). Ele escolheu o SENHOR. O que Ele possui não pode ser medido. O salmista não diz que a sua porção consiste em grandes riquezas e bênçãos, não, ele diz que o próprio SENHOR é a sua porção (cf. Gn 15,1). O salmista fica tão impressionado com isso que prometeu guardar as palavras de Deus. Quando vemos o que nos foi dado, ou seja, que o próprio Deus é nossa porção, isso nos levará à máxima obediência.
O temente a Deus “buscou” o “favor de Deus com todo” seu “coração” (Sl 119:58). Essa “procura”, esse esforço, o fez perceber que não há nada que ele possa fazer para agradar ao SENHOR. A única base pela qual o Senhor aceita um homem em Seu favor é a Sua graça. Portanto, ele pede que o SENHOR tenha misericórdia dele, pois isso está de acordo com a Sua palavra.
Literalmente, diz: “Com todo o meu coração, estou doente [isto é, doente de desejo] diante de Sua face”. Ele confessou no Salmo 119:57 que o SENHOR é a sua porção, mas agora ele diz que anseia de todo o coração pela presença do SENHOR. Essa, de acordo com o significado da letra heth, é a área seguramente cercada pela qual o salmista tanto anseia, ou seja, a comunhão viva e diária com o Senhor.
O salmista indica a base de seu pedido, ou seja, a graça com base na palavra de Deus, Sua promessa. Para nós, a graça não é mais uma promessa, pois a graça e a verdade são realizadas por meio de Jesus Cristo (João 1:17), por meio do qual recebemos graça sobre graça de Sua plenitude (João 1:16).
Em Salmos 119:58, o salmista perguntou se o SENHOR teria misericórdia dele. Agora ele aprende as condições, como o Senhor pode ser misericordioso com ele: considerando seus caminhos (Sl 119:59). Ele pode considerar os caminhos de Deus, mas também é necessário que ele considere seus próprios caminhos. Considerar os próprios caminhos significa que a pessoa se examina na presença de Deus e à luz da Sua Palavra. Quando uma pessoa lê a Palavra de Deus, ela age como um espelho através do qual ela passa a conhecer a si mesma e seus caminhos à luz de Deus (Tg 1:23-24).
Os caminhos de Deus estão sempre certos; aqueles dos justos podem muito bem ser tortuosos. Parece aqui que o justo, ao refletir sobre seus caminhos, chegou à conclusão de que algo não estava certo. De fato, ele diz que “voltou” seus “pés” para os testemunhos de Deus.
“virado” é literalmente ‘convertido’, ‘virado’. Aqui vemos o processo de purificação que ocorre quando um crente considera a Palavra. Alguns crentes se demoram em considerar e não chegam ao ponto de ‘virar’. Tiago fala de tais pessoas como ouvintes, mas não praticantes da Palavra (Tg 1:23-24).
Depois de considerar seus caminhos à luz da Palavra de Deus, o temente a Deus toma uma decisão deliberada de guardar a Palavra de Deus (Sl 119:60). Ele resolve obedecer à Palavra imediatamente com plena consciência e confiança, sem hesitação e sem vacilar.
Há um novo zelo para fazer a vontade de Deus sem demora. ‘Não demorou’ significa não querer perder um segundo. O salmista não quer apenas ser um ouvinte da Palavra, ele quer ser um praticante da Palavra. Ele mostra de que maneira ele quer ser um fazedor. Ele não quer ser um fazedor hesitante, um fazedor que tem que dormir antes, não, ele quer ser alguém que faz imediatamente o que Deus deixa claro para ele. A palavra “apressar” significa “imediatamente”, uma palavra que é característica do Evangelho segundo Marcos, onde o Senhor Jesus é retratado como o perfeito Servo do SENHOR, que “imediatamente” faz o que o Pai Lhe diz.
O ditado ‘A pressa desperdiça’ não se aplica quando se trata de fazer a vontade de Deus. O crente não pode ser tão rápido em obedecer sem demora quando algo se torna claro para ele na Palavra de Deus (cf. Mt 4:19-22; Lc 19:5-6). Muitas vezes há muito raciocínio primeiro sobre a utilidade de algo. Quando se trata dos mandamentos da Palavra de Deus, tal raciocínio está fora de questão.
Aqueles que voltam a caminhar com o Senhor também devem contar com nova oposição (Sl 119:61). O inimigo se torna ativo quando há dedicação (renovada) ao Senhor. O propósito de sua oposição é tornar o crente novamente infiel à lei do SENHOR, à Palavra de Deus.
O engano da riqueza, as concupiscências do mundo, como fama, entretenimento, sexo, podem tirar nossa alegria no Senhor. Pecados não confessados e desobediência entristecem o Espírito e tiram a paz do Senhor. Essas coisas causam uma brecha na cerca de nossa comunhão com o Senhor. Portanto, o Senhor nos lembra de reter o que temos, para que ninguém nos tire a coroa (Ap 3:11).
O justo pode dizer que não se esqueceu da lei de Deus, que impede o inimigo de abrir uma brecha na cerca e torná-lo novamente infiel. Afinal, ele tomou a decisão com o coração resoluto de permanecer sempre perto do Senhor (Atos 11:23).
Sua gratidão é tão grande que ele se levanta à meia-noite, quando está escuro, para dar graças ao Senhor por suas “justas ordenanças” (Sl 119:62). Essas ordenanças são como uma luz na noite. Ele não é governado pelas trevas, por imagens de fantasmas, mas pela Palavra de Deus. Isso, além de luz, dá descanso e paz e produz um cântico de louvor.
O subconsciente do salmista está cheio de gratidão ao SENHOR. Enquanto alguns acordam à meia-noite e se deitam para cochilar, o salmista acorda e continua com o que foi dormir, que é dar graças ao SENHOR.
Ele também sabe que não está sozinho (Sl 119:63). Ele tem companheiros, ou melhor, ele mesmo é “companheiro” de todos aqueles que temem ao Senhor, como evidenciado por eles guardarem Seus preceitos. Ele pertence àqueles que temem ao SENHOR, àquela companhia em que se sente em casa. Com eles ele tem comunhão. Eles podem se encorajar mutuamente (Ml 3:16). Aqueles que amam a Deus e à Sua Palavra também amam seus irmãos, independentemente de raça, nacionalidade ou condição social (1Jo 5:1-3).
Muitos crentes, inclusive jovens crentes, erram na escolha de seus amigos ou até mesmo entram em jugo desigual com um incrédulo. Essa escolha errada pode ser feita por causa do desapontamento dos crentes. Às vezes, essa escolha é justificada com a desculpa de ajudar espiritualmente a outra pessoa. O resultado é previsível: o incrédulo não é ajudado, mas o crente cai. Paulo adverte: “Não vos enganeis: “As más companhias corrompem os bons costumes”“ (1Co 15:33).
O salmista busca sua companhia no meio daqueles que amam a Palavra. Nós também, como crentes, temos um chamado, a saber, ser uma comunhão marcada por Jesus Cristo, nosso Senhor (1Co 1:9).
Quando o SENHOR abençoa, Ele também faz Sua uma bênção para os outros (Gn 12:2). É assim que a bênção está transbordando. Esta é a experiência do salmista. O círculo de seu interesse está se ampliando (Sl 119:64). Ele vê que a terra está cheia da bondade de Deus, embora o mal ainda esteja presente. As bênçãos da nova aliança fluem através da plenitude de Israel para as nações (Rm 11:12). Isso é o que acontece quando Deus governa. Ele o faz por meio de Seus estatutos. O salmista quer saber isso e pede ao SENHOR que o ensine.
Salmos 119:65-72
/teth/ O bem depois do sofrimento
A nona letra, teth, é originalmente um ‘útero’, um vaso contendo algo bom, apontando para a vinda do bem após o sofrimento, por exemplo, das contrações. Encontramos neste versículo o sofrimento da tribulação – alguns relacionam esta carta com a serpente – como um ventre que produz algo de bom (cf. Hb 12,11).
Esta estrofe começa no Salmo 119:65 com a palavra “bom” e termina com ela no Salmo 119:72 como melhor=bom. A letra teth aparece pela primeira vez na Bíblia em Gênesis 1, onde diz que Deus viu que a luz era boa (Gn 1:4). Cinco dos oito versos desta estrofe começam com a palavra bom.
Todo servo do Senhor será capaz de testificar que os tratos do Senhor foram bons e são bons (Sl 119:65). Essa bondade é “segundo a tua palavra” e em resposta à oração do salmista em Sl 119:17. Seu trato com a bondade é como Ele se dá a conhecer em Sua Palavra. Se experimentamos essa bondade, também é bom dizê-lo a Deus, como faz aqui o salmista. Podemos dizer como o poeta de uma canção: ‘Conte suas bênçãos, nomeie-as uma a uma.’
Suas ações em bondade neste versículo são evidentes não tanto em Suas bênçãos diretas, mas sim nas aflições. Isso pode soar estranho para alguns crentes, mas a Palavra de Deus é clara: “Exultamos na esperança da glória de Deus. E não somente isto, mas também exultamos nas nossas tribulações, sabendo que…” (Rm 5:2-3). Deus em Sua bondade usa as tribulações para nos manter no caminho certo ou para nos trazer de volta a ele (cf. Sl 23:4; 2Co 12:7-9). Portanto, a perseguição é uma das bênçãos daquele que deixa tudo para seguir o Senhor (Mar 10:29-30).
Não é difícil aceitar a prosperidade e a saúde como boas. Qualquer um pode fazer isso, sejam eles crentes ou não crentes. Outra coisa é aceitar a adversidade, a tribulação e o sofrimento como algo bom. É por isso que o salmista, assim como o remanescente crente, e também nós, precisamos de ensino. A lição é experimentar e perceber que Deus é sempre bom e faz o bem, seja qual for a circunstância em que nos encontremos. Podemos muito bem fazer a pergunta, que é ao mesmo tempo uma certeza: “Aquele que não poupou o seu próprio Filho, mas o entregou por todos nós, como não nos dará também com ele todas as coisas?” (Rm 8:32).
Quando experimentamos a bondade de Deus, desperta o desejo de aprender a discernir bem e ter o conhecimento adequado para esse fim (Sl 119:66). Este ensinamento podemos pedir a Deus. Há no justo a condição de coração adequada para pedir isso, pois ele crê e confia nos mandamentos do SENHOR. Esta é a condição de se beneficiar do ensino. Não deve haver dúvidas sobre os mandamentos de Deus. Não devemos submetê-los a nós, mas devemos nos submeter a eles. Então não buscaremos outras fontes para aprender discernimento e conhecimento.
Como resultado de seu crescimento espiritual, o crente se tornará maduro na fé. Os crentes espiritualmente maduros são aqueles “que, pela prática, têm os sentidos exercitados para discernir o bem e o mal” (Hb 5:14). Por isso, o salmista expressa o desejo: “Ensina-me”. Estamos ansiosos para aprender e dispostos a sentar aos pés do Senhor?
Quando o crente questiona a bondade de Deus, ele se desvia (Sl 119:67). Então Deus traz aflição em sua vida, contratempos e dificuldades que o fazem voltar para Deus. Essa disciplina é a educação de Deus para nos ensinar Quem Ele é, que Ele é bom e que podemos sempre confiar Nele, mesmo e principalmente em tempos difíceis. Abraão também mostrou que havia aprendido a lição (Gn 22:1-19). No meio da mais dolorosa prova, continua a confiar na bondade e onipotência de Deus. O justo é impedido de se desviar quando guarda a Palavra de Deus.
Deus é bom por completo e sempre, e somente Ele é bom (Sl 119:68; Lc 18:19). Portanto, tudo o que Ele faz também é bom, mesmo que traga aflição e sofrimento para a vida do crente. Jó teve, e nós também temos, dificuldade em discernir isso. Somente após seu teste, Jó pode testemunhar que seu conhecimento de Deus era falho e insuficiente: “Tenho ouvido falar de ti com o ouvido; mas agora meus olhos te veem; por isso me retraio e me arrependo no pó e na cinza” (Jó 42:5-6). O crente deseja conhecer e confiar melhor na bondade de Deus. Portanto, ele pede que Deus lhe ensine Seus estatutos.
O justo vive em um mundo cheio de mentiras sobre quem é Deus (Sl 119:69). As pessoas que propagam essas mentiras são aqui chamadas de “arrogantes”. Um exemplo dessa mentira é o popular livro do rabino conservador Harold S. Kushner, intitulado When Evil Afflicts Good People. Nele, ele acredita que deve escolher entre a bondade de Deus e o poder de Deus. Os arrogantes difamam os justos com esse tipo de raciocínio mentiroso, com essa deformação e dano à imagem de Deus.
Porém, isso não é motivo para o justo se desviar dos preceitos de Deus e abandonar o caminho da obediência. Pelo contrário, ele observa esses preceitos de todo o coração. Ele se recusa a acreditar nessas mentiras. Não reconhece neles a voz do bom Pastor e foge deles (Jo 10,5), apegando-se ainda mais à Palavra de Deus.
O coração do arrogante está em grande contraste com isso. Pois aquele “coração está coberto de gordura”, é insensível porque eles se apegam ao pecado de todo o coração (Sl 119:70). Isso é evidente pelo fato de que eles tentam espalhar suas mentiras sobre os justos sem nenhum sentimento de vergonha. Um coração gordo implica que não é mais receptivo à Palavra de Deus (cf. Is 6,10). O justo tem alegria em seu coração porque tem prazer na lei do Senhor. Isso o mantém insensível às mentiras com que os arrogantes o mancham.
Ele reconhece o benefício da aflição em que esteve por um tempo (Sl 119:71). Ele agora entende que a aflição foi necessária para que ele tomasse consciência de que Deus é sempre bom e que sempre se pode confiar nele, não só na prosperidade, mas também e principalmente na adversidade.
A aflição foi temporária, pois cessou uma vez, mas é bom para ele ter estado nela, diz ele. Um crente não chega simplesmente ao ponto em que pode dizer isso. Ele pode dizer com fé que “todas as coisas... cooperam para o bem daqueles que amam a Deus” (Romanos 8:28), mas confiar no SENHOR na grande adversidade é outra coisa. Nesse caso, os justos aprenderam os estatutos do SENHOR por meio deles e passaram a apreciá-los.
Isso também o leva a apreciar “a lei que sai da tua boca” (Sl 119:72). Ele diz que é “melhor” para ele “do que milhares de ouro e prata [peças]”. O que sai da boca de Deus vem do Seu coração. É isso que torna Sua Palavra tão valiosa. “Da Tua boca” significa que o ensino da Palavra para o salmista vem direta e muito pessoalmente da boca de Deus. É um falar de boca em boca, ou seja, bem de perto. Fala de companheirismo.
Ouro ou prata perderam seu apelo para aqueles que aprenderam a valorizar a Palavra de Deus. O ouro e a prata, apesar de todo o seu valor aos olhos dos homens, têm valor apenas temporário, enquanto o valor da Palavra de Deus permanece por toda a eternidade.
Muitas pessoas, infelizmente às vezes até crentes, estão com o coração cheio de coisas materiais. Como resultado, eles pensam e falam muito sobre coisas materiais. O coração do salmista está cheio da Palavra de Deus e por isso ele pensa e fala muito sobre a Palavra. Isso testifica que seu coração está cheio da excelência do conhecimento de Cristo Jesus, seu Senhor, de modo que todos os privilégios do mundo são considerados por ele não apenas como inúteis, mas também prejudiciais (Fp 3:7-8).
Salmos 119:73-80
/yodh/ Feito pelas mãos de Deus
A décima letra, yodh, com o valor numérico dez, originalmente tinha a forma de uma mão. O nome da letra está relacionado com jad, a palavra hebraica para mão. Conhecemos esta palavra no verbo holandês (iídiche) ‘jatten’, que significa ‘roubar - à mão’. A palavra jad também representa o bastão (apontador) usado para ler um pergaminho hebraico. A letra yodh tem a ver com: trabalho, poder (mão direita), responsabilidade (o número dez: dez mandamentos, dez dedos, dez virgens sábias e tolas e assim por diante).
A letra yodh é a menor letra do alfabeto hebraico. Sobre isso o Senhor Jesus diz: “Porque em verdade vos digo que, até que o céu e a terra passem, nem a menor letra ou traço [Literalmente um iota (hebraico: yodh) ou uma projeção de uma letra (serif)] passará de a Lei até que tudo se cumpra” (Mateus 5:18). O iota é a contraparte grega do hebraico yodh.
O justo reconhece que é feito pelas mãos de Deus (Sl 119:73; Sl 139:13-16), assim como as mãos de Deus também fizeram o universo (Is 45:12). Ele assim reconhece que é totalmente dependente de seu Criador (cf. 1Pe 4:19). Deus fez tudo com o propósito de servi-lo.
A pergunta do salmista é se o SENHOR, que o fez e formou, completará Sua obra nele. “Feito” refere-se à sua formação, “formado” significa colocado no lugar onde ele está agora. Ele então olha para o futuro e pede compreensão para cumprir o propósito de Deus com sua vida.
Ele aprendeu a lição: Ele aceita o problema e a aflição da mão do SENHOR sabendo que Ele quer usá-la para formá-lo. O sofrimento é como arar a terra dura para a preparar para a semente da Palavra (cf. Is 28, 23-29).
Ele também depende de seu Criador para entender os mandamentos de Deus, porque sua mente foi obscurecida pelo pecado. Deus pode dar a ele esse entendimento e é isso que ele pede. Ele diz a Deus, por assim dizer: ‘Eu vim à existência por meio de Tua obra; agora você completará sua obra em mim. Agora entendi que a aflição é necessária para esse propósito’ (Sl 119:75; cf. Jo 15:2). Os mandamentos de Deus são o manual para sua vida, para a conclusão da obra de Deus nele.
Nem todos se regozijam com o salmista, mas sim os que temem a Deus (Sl 119:74). Eles veem o justo e se alegram porque veem em sua vida que ele, como eles, esperou a Palavra de Deus e que ele, como eles, experimentou que essa espera não foi em vão. Essa vida é contagiosa. Faz os outros felizes e lhes dá coragem (cf. Mal 3:16; Fp 1:14). Vemos isso no encontro entre Isabel e Maria (Lc 1,39-45).
Os juízos do SENHOR são justos, tanto para os ímpios como para o salmista (Sl 119:75). Para os ímpios, eles significam ruína. O salmista sabe que os julgamentos de Deus são sempre justos, de acordo com Sua Palavra e Sua aliança. Ao mesmo tempo, esses julgamentos também fazem parte da fidelidade de Deus, ou seja, para purificar o salmista e restaurar Israel. Através da tribulação, Deus faz com que os justos coloquem toda a esperança de salvação nEle e condenem toda infidelidade em si mesmos (cf. Rm 8:28).
Os aflitos precisam de consolo (Sl 119:76). Portanto, o salmista pede a Deus que o console por meio de Sua benignidade. A palavra “consolo” em hebraico significa ‘suspirar profundamente de alívio’. Experimentar essa benignidade – isto é, a bênção e o amor de Deus com base em Sua aliança, que inclui a salvação – faz com que o salmista fique aliviado. Com isso ele apela para a palavra que Deus lhe falou, a promessa que Ele fez a ele, Seu servo. Ele se apropria pessoalmente da aliança, que se tornou uma promessa em virtude do sangue da nova aliança.
O salmista claramente ainda não se sente totalmente recuperado da aflição. Isso pode ser visto em seu pedido ao Senhor para que Sua compaixão se apodere dele (Sl 119:77). Ele precisa disso. Todo mundo que está em circunstâncias miseráveis precisa disso. Se ele receber compaixão, ele viverá, isto é, reviverá porque ele tem novas forças, porque ele tem uma nova vida em virtude da aliança. Isso é evidente pelo fato de que a lei do Senhor é seu deleite, sua fonte de alegria. Para o incrédulo, a lei não é fonte de alegria, porque o condena.
Então o salmista pergunta se o SENHOR estenderá a mão contra os ímpios arrogantes (Sl 119:78), sobre os tementes a Deus (Sl 119:79) e sobre o próprio salmista (Sl 119:80). Os arrogantes afligiram os justos com mentiras (Sl 119:78; cf. Jo 15:25). Eles foram capazes de fazê-lo com a permissão de Deus, que tem Seu propósito ao fazê-lo. Isso não significa que os arrogantes ouviram a Deus. Pelo contrário, eles não levam Deus em consideração, mas seguem sua própria agenda.
O justo sabe disso e, portanto, pede a Deus que Ele os envergonhe. Ele pode fazer essa pergunta porque medita nos preceitos de Deus. Como resultado, ele sabe como Deus pensa sobre esses opressores. Os arrogantes com suas bocas grandes e mentirosas serão julgados por Deus. Como resultado, o justo também sabe como responder a esses opressores com suas mentiras (1Pe 2:23). A inimizade deles não pode impedi-lo de perseverar em sua confiança no SENHOR.
O salmista precisa de comunhão com aqueles que temem a Deus e conhecem Seus testemunhos (Sl 119:79). Ele se sente sozinho e agora pergunta ao Senhor se aqueles que o temem voltarão para ele. Ele quer compartilhar com eles suas experiências. Este é um desejo notável dos crentes em todas as épocas. Aqueles que conhecem os testemunhos de Deus querem compartilhá-los com aqueles que também os conhecem. Podemos pegar o exemplo do salmista e orar para que Deus nos permita encontrar essas pessoas.
No Novo Testamento aprendemos que o amor entre o Pai e o Filho também está em nós. O amor não pode ser praticado por ninguém sozinho. Um crente sempre precisa de comunhão com outros crentes. O amor de Deus só é aperfeiçoado em nós quando nós, como crentes, amamos uns aos outros (1Jo 4:12).
O salmista ora para que o SENHOR deixe seu coração ser íntegro nos estatutos de Deus (Sl 119:80), pois ele está cercado por arrogantes e hostis mentirosos. Ele reconhece a falsidade de seu coração e sabe que somente o SENHOR o conhece (Jr 17:9-10; 1Rs 8:39; Sl 139:1; Sl 139:23).
Um coração irrepreensível – literalmente, um coração completo, isto é, indiviso – é essencial ao lidar com Deus. Deus procura a verdade no mais íntimo do ser. Se isso estiver presente, o crente não ficará envergonhado porque não dá chance ao pecado de entrar em sua vida. Então não será envergonhado nesta vida nem mais tarde, perante o tribunal de Cristo (2Co 5:9-10).
Salmos 119:81-88
/kaph/ Coberto pela Mão de Deus
A décima primeira letra, kaph, representa uma cobertura. O significado do nome da letra é ‘uma mão aberta (palma)’, uma mão em conexão com a ação, por exemplo, imposição de mãos, proteção. Quando o SENHOR diz a Moisés “e te cubra com a minha mão até que eu tenha passado” (Êxodo 33:21-22), isso é a Sua ‘mão aberta’.
A primeira vez que encontramos a palavra kaph na Bíblia, define o significado da palavra: “Estenda sua mão [jad] e segure [ela] [que é a serpente] por sua cauda” - então ele estendeu sua mão e pegou, e tornou-se um cajado em sua mão [kaph]” (Êxodo 4:4). O perigo da serpente foi evitado pela mão aberta cobrindo o perigo.
A estrofe kaph nos mostra o salmista em tristeza e aflição. Ele está em perigo e em grande perigo. De acordo com a aliança e a promessa do SENHOR, ele busca refúgio atrás da mão protetora do SENHOR. Lá ele está seguro, como Moisés estava na fenda da rocha, e como Sião está com o Senhor: “Eis que te inscrevi nas palmas [das Minhas mãos]; os teus muros estão sempre diante de mim” (Is 49:16). A estrofe inteira fala do perigo que cerca o salmista e como ele lida com isso.
O justo espera ansiosamente pela salvação do Senhor, pelo Seu resgate da angústia e para que seja conduzido à paz (Sl 119:81). Ele definha por isso tão intensamente que sua alma – isto é, sua pessoa, alma e corpo – sucumbiu a isso.
Mas ele esperou pelo que o Senhor disse. Ele se agarrou a isso e se agarrou a ele. Ele não buscou sua salvação, seu resgate, de si mesmo ou de qualquer outra pessoa. O salmista corre o risco de sucumbir à angústia profética da perseguição sob o anticristo. Ele anseia profundamente pela libertação desse perigo. Em perigo, ele se apega à Sua Palavra confiando na promessa de Deus (cf. Fp 4,6-7).
A sua alma sucumbiu, sim, sobretudo os seus olhos desfaleceram, por ansiar pelas promessas do SENHOR (Sl 119:82). Ele Lhe perguntou: “Quando me consolarás?” Ele precisa de conforto, é isso que ele deseja. O temente a Deus não tem dúvidas de que o SENHOR o consolará. Ele também deseja saber quando o fará. Ao fazer isso, ele indica que deseja que o cumprimento ocorra o mais rápido possível.
Ele está completamente no fim de suas forças, ele está exausto (Sl 119:83). Ele se compara a um odre pendurado na fumaça. A fumaça tira a flexibilidade do odre e o torna preto. Simboliza a opressão prolongada que queima e sufoca, impedindo-o de respirar. Pode ser comparada à paciência que desaparece quando uma criança continua choramingando. Assim vemos com Sansão: “Aconteceu que ela o pressionava diariamente com suas palavras e o instava, que sua alma se irritou até a morte” [isso é por causa da reclamação de Dalila] (Jz 16:16; cf. Lc 18:4-5)
A palavra “consolo” no versículo anterior, em hebraico tem o significado de respirar profundamente, neste caso de alívio porque a redenção chegou. A causa de sua grande angústia é que ele se alimenta dos estatutos do Senhor. Esses estatutos ele não esqueceu. É por isso que ele é perseguido pelos ímpios.
Quanto tempo ele poderá viver, contando em dias (Sl 119:84)? Quando se trata do sofrimento do remanescente crente, a Bíblia geralmente fala em dias (Mateus 24:22). Quando se trata do domínio do inimigo a Bíblia costuma contar em tempos ou anos, por exemplo, um tempo, que é um ano, tempos, que são dois anos, e meio tempo, que é meio ano, juntos três e anos e meio.
A vida é curta, mas os dias podem ser longos para quem é oprimido quando é perseguido dia a dia por perseguidores (cf. Ap 11,7; Ap 13,7). Ele novamente chama a si mesmo de “Seu servo”, indicando que ele está em necessidade por servir ao Senhor. Ele pergunta a Ele quando trará julgamento sobre seus perseguidores para que ele seja libertado da ameaça de morte. Ele não faz justiça com as próprias mãos, mas deixa a vingança nas mãos de Deus (cf. Rm 12,19; 2Ts 1,6; Ap 6,10; Sl 94,1-2).
Ele sabe que seus perseguidores, a quem chama de “arrogantes”, “cavaram covas” para prendê-lo nelas e depois matá-lo (Sl 119:85). A imagem deixa claro que o salmista se sente como uma presa em meio a caçadores que tentam capturá-lo por meio de armadilhas. Eles fizeram várias armadilhas, tanto que estão fora de sua morte. As armadilhas são um perigo não reconhecido. Se você reconhece o perigo, está vigilante, mas se não reconhece o perigo, é extremamente perigoso.
Eles cavaram covas, embora Deus tenha proibido isso. Em nenhum lugar existe um mandamento explícito ‘você não deve cavar covas’, mas diz que uma pessoa deve amar seu próximo como a si mesmo. Cavar buracos para pegar alguém neles e depois matá-lo é claramente contra isso. Mas essas pessoas não têm ouvidos para o ensino de Deus por meio da lei.
O fiel perseguido confessa que todos os mandamentos do SENHOR, isto é, sem exceção, são dignos de confiança (Sl 119:86). Seus inimigos o assaltam com mentiras e calúnias, armadilhas, que quase o destroem. Ele clama pela ajuda do SENHOR para livrá-lo. Por meio da fidelidade da aliança do SENHOR, ele é levado à segurança pela mão protetora e aberta, kaph, do SENHOR. O Senhor Jesus foi perseguido com falsidade porque testificou da confiabilidade dos mandamentos de Deus. Isso será experimentado por todo crente que testificar disso.
A perseguição é feroz. Vai até a beira de uma ravina (Sl 119:87). Quase os perseguidores destruíram os justos na terra. Se os dias de perseguição (Sl 119:84) não fossem abreviados – para 1.260 dias – todo o restante teria sido morto (Mateus 24:22; cf. Lucas 18:8).
Porém, essa ameaça de morte não os fez abandonar os preceitos do SENHOR. Eles se apegaram a isso, o que significa que se apegaram à vida. Eles se apegaram à aliança e permaneceram vivos de acordo com ela.
O remanescente perseguido pede a Deus para revivê-los, apelando para a bondade de Deus (Sl 119:88). Se Deus o fizer, eles darão ouvidos ao testemunho da boca de Deus. O remanescente vê sua vida em conexão com a vida na terra. Pode ser que Deus ouça sua oração e permita que eles vivam na terra.
Mesmo que sejam mortos, suas orações serão atendidas. Pois eles serão vivificados na ressurreição. Então eles guardarão perfeitamente o testemunho da boca de Deus, pois estará escrito em seus corações. Assim, para colocá-lo de uma forma do Novo Testamento, eles são mais do que vencedores por meio daquele que os amou (Rm 8:37).
Salmos 119:89-96
/lamedh/ Ensinamento do Pastor
A letra lamedh é uma imagem de um cajado (de pastor). Para o pastor, é uma vara com ponta curva; para um pastor de bois, é uma vara com ponta afiada, uma aguilhada (cf. At 26,14). Ambos são usados para dirigir os animais. Lamedh está relacionado com lamad, que significa ‘instruir’, ‘ensinar’.
O lamedh é a única letra que excede o limite superior das outras letras. Isso fala do ensino do alto. O pastor ensina suas ovelhas com a ajuda de seu cajado. Nosso Pastor é o Pastor celestial. O ensinamento de nosso Pastor celestial dá nova vida (Sl 119:93; cf. 1Pe 1:23; Tg 1:18; Jo 3:3; Jo 3:5; Ez 36:26-27). Também dá firmeza. Os três primeiros versos desta estrofe (Sl 119:89-91) são uma ação de graças e falam três vezes sobre permanecer firme. Isso também se aplica a nós (1Co 15:58).
A Palavra de Deus não é uma palavra passageira. É eterno (Sl 119:89). Pois a Palavra está “assentada no céu”, isto é, está assentada lá. É de caráter celestial. Jamais o homem e o diabo conseguirão atacá-la, pois a Palavra está firmemente estabelecida no céu. Tentativas de fazer isso foram e são feitas com frequência, mas nunca tiveram sucesso e nunca terão sucesso. Cada promessa será cumprida ao pé da letra (Lucas 21:33).
O diabo tentou lançar dúvidas sobre a Palavra na Queda (Gn 3:1) e sobre a tentação no deserto (Mt 4:1-11). O homem também tentou isso tirando da Palavra de Deus – como os saduceus – ou acrescentando a ela – como os fariseus. Em nossos dias, vemos as tentativas de tirar algo da Palavra na teologia moderna e na doutrina da evolução – os saduceus modernos – ou acrescentar algo à Palavra nos ensinamentos dos homens – os fariseus modernos.
A fidelidade de Deus também nunca acaba, mas continua “através das gerações” (Sl 119,90; cf. Sl 90,1-2). A questão aqui é a fidelidade de Deus para com a criação. Ele prova esta fidelidade a cada geração enquanto a terra, que foi estabelecida por Ele, existir. Este é um grande encorajamento para cada nova geração. Isso é o que cada geração pode passar para a próxima.
A fidelidade de Deus é visível na inabalabilidade da terra, que foi estabelecida pelo Senhor Jesus. A mesma fidelidade é visível com a Palavra de Deus. O céu e a terra passarão, mas a Palavra sempre se cumprirá (Mt 5:18; Mt 24:35). Nossa firmeza está no Senhor Jesus, nossa Rocha, pois Ele é “o mesmo ontem, hoje e eternamente” (Hb 13:8).
O crente pode ver isso pelos céus e pela terra, que foram criados por Deus (Sl 119:91). Eles foram criados de acordo com Sua vontade (Ap 4:11), e de acordo com Suas ordenanças eles permanecem onde Ele os colocou até hoje. E eles estão lá como Seus servos, servindo-O no propósito para o qual Ele os criou no lugar onde os colocou. Isso nos encoraja como membros do corpo de Cristo, Sua igreja. Podemos servir a Ele e uns aos outros, pois foi para isso que Ele nos criou com os talentos que nos deu.
No meio de toda a miséria, a lei do SENHOR tem sido o deleite do crente provado (Sl 119:92). Isso é ilustrado pelo Senhor na parábola do semeador. A tribulação e a perseguição revelam que o coração de uma pessoa pode ser um solo raso, no qual a semente não pode criar raízes (Mateus 13:20-21). É alguém que não se alegra na Palavra e não consegue suportar a aflição da tribulação e perseguição.
Porque a lei tem sido o deleite do justo, ele não pereceu, mas permaneceu firme na tribulação. A lei, a torá, aqui tem o significado de ‘ensino da Palavra de Deus’. Uma vez que Cristo é o centro das Escrituras, do ensino (João 5:39), Ele é na verdade a fonte da alegria. O justo que pode ser alegre na aflição experimenta a verdade da palavra: “A alegria do Senhor é a vossa força” (Ne 8:10).
Os justos “nunca se esquecerão” (Sl 119:93) dos preceitos do SENHOR, que estão eternamente estabelecidos no céu, como ele disse no início desta estrofe (Sl 119:89). A razão é que ele deve sua vida a isso. O SENHOR o vivificou por Seus preceitos (1Pe 1:23). As palavras de Cristo, o eterno Filho de Deus, “são espírito e são vida” (João 6:63; João 6:68). O crente jamais esquecerá a origem de sua nova vida. São palavras que lhe deram vida e ao mesmo tempo o mantêm constantemente vivo.
O justo sabe que é propriedade do SENHOR (Sl 119:94). Portanto, Ele pede a salvação. Ele diz a Ele: “Eu sou Teu”. Tal declaração íntima é única nos Salmos. Nós o encontramos especialmente em uma situação de maior angústia. Essa angústia parece ter sido causada por pessoas perversas, a saber, o anticristo e seus seguidores (Sl 119:95; cf. Ap 13:7).
Davi também atesta sua intimidade com o SENHOR ao dizer: “Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal algum, porque tu estás comigo; A tua vara e o teu cajado me consolam” (Sl 23:4). É precisamente nos momentos difíceis que David vive os momentos mais íntimos.
O salmista lembra ao Senhor, por assim dizer, que Ele também cuidou dele. Somos responsáveis por cuidar bem do que nos pertence. Nós vemos isso com Deus. Portanto, o justo apela a Ele para libertá-lo. Como razão adicional, ele diz que buscou os preceitos de Deus. Isso mostra que ele é verdadeiramente propriedade de Deus e não apenas um descendente natural de Abraão.
Na aflição, a Palavra continua sendo o deleite do salmista (Sl 119:92). Pela mesma Palavra seu coração foi reavivado, ele nasceu do alto (João 3:3) e recebeu uma nova vida (Salmo 119:93). Ele se tornou propriedade do SENHOR e, portanto, Seu servo (Sl 119:94). Esta é a base de seu clamor por ajuda, se o Senhor o livrará em sua grande necessidade.
Ele pede a intervenção de Deus porque os ímpios se lançaram sobre ele para matá-lo (Sl 119:95). A razão de sua matança é que ele considera diligentemente os testemunhos do Senhor e os mostra em sua vida. É por isso que os ímpios perseguem os justos. Isso começou com Caim matando Abel. Atingiu seu nadir absoluto na massa do povo judeu que clamava pela morte do Senhor Jesus, clamor que foi atendido por Pilatos. Num futuro próximo, isso se repetirá na perseguição ao remanescente fiel de Israel (Ap 12:17).
Tudo o que é feito na terra tem prazo de validade (Sl 119:96). Pode ser tão perfeito, mas chegará ao fim (2Pe 3:10; 2Pe 3:12). O salmista viu esse fim. Seus olhos espirituais foram abertos para esta realidade. Ele também viu que só o mandamento de Deus é “extremamente amplo”, que não tem limites, nunca termina. A Palavra de Deus permanece para sempre, assim como aquele que faz a vontade de Deus (1Pe 1:25; 1Jo 2:17).
Salmos 119:97-104
/mem/ Desejo da Palavra
A letra mem tem tanto o pictograma quanto o significado de água (ondas). Visto que a água é essencial à vida, a água como imagem da Palavra de Deus na Bíblia está sempre associada à pureza e à vida (Ef 5:26; cf. Ap 22:17). O desejo de Deus é também o desejo da Palavra de Deus. É por isso que lemos sobre uma “sede de Deus” (Sl 42:1-2). Esta estrofe sobre a água como uma imagem da Palavra é, portanto, novamente uma canção de louvor sobre o amor do salmista pela Palavra.
Quem ama o SENHOR também ama a Sua lei (Sl 119:97). Alguém que diz que ama a Deus, mas nunca lê a Sua Palavra, é um mentiroso (cf. Jo 14:23). O que o justo diz aqui não é uma confissão labial hipócrita. “Como eu amo a tua lei”, é a exclamação de quem de todo o coração presta atenção ao ensino da Palavra de Deus.
Ele também não está meramente envolvido com a Palavra de Deus de vez em quando, mas é “todo o dia” sua meditação (cf. Salmo 1:3). Assim como a ovelha come a erva e fica ruminando sobre ela o resto do dia, assim Maria ouve o que lhe foi dito e guarda e medita sobre isso em seu coração (Lucas 2:19). É assim que devemos ler a Palavra e meditar na Palavra o resto do dia. Nisso, o próprio Senhor Jesus é o exemplo perfeito.
Aquele que ama a Palavra de Deus tão intensamente e pensa nela o dia todo é mais sábio do que seus inimigos (Sl 119:98). O mundo rejeitou a Cristo e, por causa disso, todo aquele que deseja seguir o Senhor sabe que o preço de seguir o Senhor é a rejeição do mundo. Um crente deve estar ciente de que ele tem inimigos no mundo.
A Palavra de Deus torna o crente mais simples, aquele que segundo os padrões do mundo não está entre os sábios, um sábio (cf. 2Tm 3,15). Ele se destaca em sabedoria muito acima das pessoas mais inteligentes que são inimigas de Deus. O mundo submete a Palavra de Deus à sua sabedoria e pensamento, rejeitando assim a Palavra como fonte de sabedoria (Jr 8:9). O crente submete sua sabedoria e pensamento à Palavra de Deus e recebe a sabedoria que vem do alto (cf. Tg 1:5; Tg 3:13-17; 1Co 2:14). A sabedoria do mundo perece, mas aqueles que possuem sabedoria baseada nos mandamentos de Deus têm consigo uma fonte eterna de sabedoria. O que os justos dizem é perfeitamente verdadeiro para os justos.
Todos os Salmos 119:98-100 começam em hebraico com “mais. O salmista é mais sábio (mais sábio), tem mais perspicácia e entende mais que seus inimigos, seus mestres e os idosos. A partir disso, fica claro que não se trata de inteligência ou experiência de vida, mas da orientação de Deus por meio de Sua Palavra. A Palavra de Deus nos dá a orientação do Espírito Santo, que é o segredo da sabedoria, compreensão e perspicácia do salmista.
Aquele que é sábio pelos mandamentos de Deus pode dizer sem um pingo de orgulho: “Tenho mais perspicácia do que todos os meus mestres” (Sl 119:99). Sua mente foi iluminada pela Palavra de Deus e pelo Espírito de Deus porque ele fez dos testemunhos de Deus sua meditação. Aqui não se trata de professores dados por Deus, mas de professores que possuem sabedoria mundana. Ao meditar na Palavra, o salmista recebe a sabedoria que vem do alto (Tg 3,13-17). Ele pode falar com compreensão sobre as coisas da vida com as quais os outros lutam. Assim como os dois versículos anteriores, isso se aplica perfeitamente ao Senhor Jesus.
O justo, mesmo quando jovem, também pode dizer sem um pingo de orgulho que ele “entende mais do que os velhos” (Sl 119:100). Os idosos aqui não são os anciãos reconhecidos do povo de Deus, mas pessoas mais velhas em geral com experiência de vida. Essa experiência de vida, no entanto, produz apenas sabedoria humana e não a sabedoria que vem de cima.
O justo não diz isso porque de repente ele mesmo é tão sábio e compreensivo, mas porque se deixa conduzir pelo SENHOR, pela Sua Palavra. Não se trata apenas de ouvir ou conhecer a Palavra, mas de guardá-la e obedecê-la, deixando-se guiar por ela. Um tolo é aquele que não é guiado pelo SENHOR e Sua Palavra, como o anticristo e seus seguidores (Sl 14:1; Sl 53:1).
Ele não apenas meditou na Palavra de Deus, mas também a observou, ou seja, viveu por ela. Como resultado, sua compreensão de todas as coisas desta vida torna-se como uma luz que mostra cada coisa em sua verdadeira natureza e em sua relação adequada com todas as outras coisas. O Senhor Jesus, como um menino de doze anos, tem mais entendimento do que os mestres e anciãos que surgirão como Seus inimigos (Lucas 2:46-47).
O amor pela Palavra de Deus, meditando nela, dá sabedoria, dá discernimento e dá entendimento (Sl 119:97-100). Salmos 119:101-104 são sobre a caminhada do salmista na vida sob a orientação da Palavra. Guardar a Palavra significa orientação na vida, evitando todo mau caminho.
Vemos isso com o justo, que refreou seus pés “de todo mau caminho” (Sl 119:101; cf. Sl 1:1). Ao fazer isso, ele demonstra sua adesão à Palavra de Deus. Existem incontáveis caminhos ruins, mas só existe um caminho bom, que é o caminho que a Palavra de Deus mostra. Todos os maus caminhos levam à morte; o único bom caminho conduz à vida.
O fato de ele obedecer à Palavra de Deus não é conquista sua. Ele não se desvia das ordenanças de Deus porque o próprio Deus o ensinou (Sl 119:102). Não há mestre como Ele (Jó 36:22). Ele dá o ensino perfeito que é exatamente adaptado ao aluno. O efeito geral deste ensino são na Palavra é que ele tem um efeito preservador e santificador e desenvolve o desejo de uma vida de santidade para a glória de Deus (cf. 2 Timóteo 3:16-17).
O ensino da Palavra de Deus é doce ao seu paladar (Sl 119:103). É agradável de ingerir. A sua doçura excede a doçura do mel (cf. Sl 19,10; Ap 10,9). Aquele que provou a doçura disso, provou que o Senhor é bom (1Pe 2:3; Sl 34:8). Portanto, ele quer ter mais disso.
Os preceitos do SENHOR são a verdade e dão entendimento no caminho da verdade (Sl 119:104). O crente que obedece a esses preceitos ganha entendimento sobre a vontade de Deus. Como resultado, ele odiará “todo caminho falso”, pois assim os preceitos do SENHOR não são permitidos. O mau caminho do Salmo 119:101 é aqui chamado de “caminho falso”, pois vai contra o caminho da verdade, o caminho da Palavra de Deus. O falso caminho do pecado é um caminho de erro que leva à morte. O justo sabe disso porque ouve os preceitos.
Salmos 119:105-112
/nun/ Do sofrimento à glória
A letra freira tem o pictograma de ‘uma semente crescendo’ ou de ‘um peixe’, que fala de ‘continuação’ ou ‘nadar contra a corrente’. A carta tem duas formas, uma forma normal e uma carta de encerramento. A forma normal é uma linha curva, enquanto a letra final é uma linha longa e vertical. Juntas, essas formas falam da continuação do sofrimento à glorificação (Lc 24:26; Fp 2:5-11). Nós também podemos andar assim, pois seremos glorificados com Cristo, pelo menos, se também sofrermos com Ele (Rm 8:17).
O valor numérico da freira é cinquenta, o que fala da restauração perfeita, por exemplo, o ano do jubileu é o quinquagésimo ano e o Pentecostes é o quinquagésimo dia após a ressurreição do Senhor.
A palavra freira está relacionada com a palavra hebraica para lâmpada que espalha a luz. Essa luz é necessária para seguir em frente. Assim, esta estrofe da freira começa com “uma lâmpada para os meus pés” (Sl 119:105). A luz da Palavra de Deus nesta estrofe da monja deixa claro que o caminho do salmista para a glória deve sempre passar pelo caminho do sofrimento. Esse é o caminho no qual é podado para dar mais fruto para a glória de Deus (João 15:2). Da mesma forma, o caminho para Deus no santuário só é possível através da luz do candelabro. Assim, precisamos da luz da Palavra para entrar no santuário pelo novo e vivo Caminho (Hb 10:19).
A Palavra de Deus não espalha trevas, mas luz (Pv 6:23). É uma lâmpada que brilha diante dos pés do crente, permitindo-lhe saber onde dar o próximo passo em um mundo que está completamente escuro. Uma ilustração disso é a coluna de fogo à noite durante a jornada de Israel no deserto a caminho da terra prometida. Essa escuridão pode se tornar a causa do salmista se perder ou cair em sua caminhada no mundo que é espiritualmente um deserto.
Porque a Palavra de Deus dá luz, o justo tem a determinação de guardar as “justas ordenanças” de Deus (Sl 119:106). Ele percebe que em um momento de fraqueza, por causa das aflições persistentes (Sl 119:107-110), ele pode ser tentado a ceder à pressão e abrir mão da Palavra. Portanto, ele declara solenemente, jurando que colocará sua vontade em ação. Esta convicção é expressa por uma pessoa somente se ela conhece e aceita o valor da Palavra de Deus como guia para sua vida.
Ter a determinação de obedecer à Palavra de Deus pode trazer tanta aflição que a pessoa perde a esperança em sua vida. No entanto, o salmista recebeu uma palavra, uma promessa do SENHOR de que ele permaneceria vivo e, portanto, ainda poderia viver em paz (Sl 119:107; cf. 1Co 10:13; Rm 8:35-39).
O crente vive em um mundo que quer silenciá-lo. Sua vida dá testemunho de quem é Deus, e desse Deus os ímpios querem se livrar. O crente, portanto, dirige-se a Deus e pede-Lhe que faça dele uma testemunha viva que não cede à pressão do silêncio.
O crente é um ofertante e um discípulo (Sl 119:108). Ele aprende que, mesmo e especialmente em situações difíceis, ele virá a Deus como ofertante ou sacerdote com “ofertas voluntárias” de sua boca, que são as ofertas espontâneas de louvor e agradecimento (Os 14,3; cf. 1Pe 2: 5; Hb 13:15). De acordo com o ensinamento do SENHOR no Salmo 50, ele deseja que Deus os aceite (Sl 50:23). Ele quer oferecer esses sacrifícios de uma maneira agradável a Ele.
A questão não é apenas de que maneira os sacrifícios de ação de graças são oferecidos, mas em que circunstâncias. O salmista está em grande angústia. Em tal situação, é mais provável que uma pessoa vá ao Senhor em busca de ajuda do que para dar graças a Ele. Mas o Senhor quer ensinar o salmista por meio de suas ordenanças a louvá-lo em circunstâncias difíceis (cf. Atos 16:19-25). Portanto, o salmista pede ao SENHOR que lhe ensine Suas ordenanças. Nós, cristãos, sabemos que o Pai busca adoradores e que Ele também nos diz como fazer isso (Jo 4:23-24).
A vida do justo está em constante perigo (Sl 119:109). Os ímpios querem silenciá-lo. Eles não querem que o crente honre a Deus nem querem ser lembrados de Deus por sua vida. O justo não vai deixá-los intimidá-lo para que ele se esqueça da Palavra de Deus. Essa mesma Palavra é sua proteção contra o perigo de parar de louvar ao Senhor.
Que a vida dos justos está em perigo, de acordo com Salmos 119:7, não é imaginário. Pois os ímpios armaram uma cilada para ele (Sl 119:110). Essa armadilha é que ele para de louvar o SENHOR quando está em perigo (cf. 2Cr 20:15; 2Cr 20:19-21). Porém, não o induziu à tentação de se desviar dos preceitos do SENHOR. Pelo contrário, esses preceitos o mantiveram no caminho do SENHOR, para que ele não caísse na armadilha do inimigo. Assim, as tentativas do inimigo de enredá-lo não o separaram do SENHOR, mas o lançaram em Seus braços.
Na verdade, o salmista herdou os testemunhos do SENHOR para sempre (Sl 119:111). Ele conhece o seu valor e nunca o renunciará (cf. 1Rs 21,1-3). Ou seja, independente das circunstâncias, mesmo em tempos de perigo, a Palavra continua sendo a sua porção e ele continuará louvando ao SENHOR com alegria no coração.
Esta é uma herança que é propriedade do Senhor, mas atribuída por Ele a um israelita. O israelita não pode vender a herança, exceto em caso de extrema necessidade, mas então o direito de comprá-la de volta permanece para ele ou seu redentor. Esta herança inalienável é aqui a Palavra de Deus.
Aquele que valoriza e preserva a herança inclinará seu coração a aproveitá-la ao máximo (Sl 119:112). Ele vai querer saber tudo o que a herança implica. Junto com isso vem seu propósito de dar a tudo o que ele descobre um lugar em sua vida pelo resto de sua vida, “para sempre, [mesmo] até o fim” (cf. Atos 11:23).
Salmos 119:113-120
/samekh/ Protegido
A letra samekh tem o pictograma de um círculo completo e tem o valor numérico sessenta. Isso dá à letra o significado de ‘circulado’, ‘protegido’. No hebraico antigo, a letra samekh tem o pictograma de um ‘espinho’. Um rebanho é protegido por um espinheiro ao redor, daí o significado da letra: proteção, circulado, apoio. A ideia é que o crente esteja completamente rodeado pela Palavra e protegido pelo SENHOR. Em conexão com o valor numérico, vemos isso retratado nos sessenta guarda-costas que cercavam o rei Salomão (Filho 3:7).
O justo “odeia os que são de mente dúbia” (Sl 119:113). São pessoas de coração dividido ou de coração duplo (cf. Tg 1,8). Eles são, por assim dizer, pessoas de um semicírculo ao invés de um círculo inteiro, samekh. Um semicírculo não fornece proteção suficiente. Pessoas medíocres não podem contar com a proteção do SENHOR. Para isso, uma pessoa deve ser totalmente dedicada, retratada em um círculo inteiro.
A diferença entre com um coração inteiro e com meio coração (ou mente dupla) é a diferença entre amor e ódio. Pessoas de mente dupla não podem fazer uma escolha (cf. Jos 24:15). Essas pessoas dizem que amam a Deus, mas na realidade O desprezam. Isso é evidente em sua atitude para com o ensino da Palavra de Deus. O justo, por outro lado, ama a lei do Senhor de todo o coração. Ele anseia pelo ensino da Palavra de Deus. Seu ódio pelos medíocres, portanto, decorre desse ensinamento. É o ódio do próprio Deus (Sl 139:21-22).
O temente a Deus é perseguido por causa de sua dedicação ao SENHOR. Isso o leva a uma nova experiência, que é que o Senhor é seu “esconderijo” e seu “escudo” (Sl 119:114). Essas duas palavras em hebraico começam com a letra samekh. Juntos, eles significam “proteção completa”. Vemos no Salmo 121 que o SENHOR nos guarda durante o dia (o sol) e durante a noite (a lua), ou seja, contínua e completamente (Sl 121:6).
Esperar pela palavra do SENHOR traz segurança e proteção ao salmista. Ao mesmo tempo, a Palavra de Deus também é um esconderijo e um escudo de todas as palavras odiosas que são disparadas contra ele como flechas inflamadas, pois a esperança e a confiança nela deterão as flechas inflamadas (Ef 6:16).
O temente a Deus vive no meio dos malfeitores (Sl 119:115). Em vez de falar com o SENHOR, ele fala com eles excepcionalmente uma vez. Agora que ele está seguro, seguro porque o SENHOR é o seu esconderijo, seguro porque vestiu toda a armadura de Deus, ele pode resistir aos malfeitores e expulsá-los. A promessa também se aplica a nós: “Resisti ao diabo e ele fugirá de vós” (Tg 4,7).
Ele ordena que se afastem dele, pois não quer ter nada a ver com eles (cf. Sl 6,8). Se lhes permite exercer a sua influência na sua vida, será à custa da observância dos mandamentos de Deus (cf. 1Co 15,33). Ele não quer isso. Nenhum crente deveria querer isso. Portanto, ele ordenará aos malfeitores que o deixem imediatamente (2Jo 1:10; Tit 3:10; cf. Rom 16:17) e resistam a um falso evangelho (Gl 2:4-5).
A ação contundente do versículo anterior só é possível se ao mesmo tempo for feito um apelo à palavra de Deus de que Ele ampara aqueles que Nele confiam (Sl 119:116). A decisão do salmista é certa. Mas ele conhece a força dos adversários e também conhece sua própria fraqueza. Por isso, ele recorre à palavra do SENHOR para sustentá-lo. Então ele sobreviverá em um momento de necessidade. Ele pede o apoio de Deus porque não quer se envergonhar de sua esperança.
O apoio que ele pede é em vista daqueles que o perseguem, pois deles ele quer estar seguro (Sl 119:117). Quando o SENHOR o apóia, ele está focado nEle e seguro. Então ele continuamente tem consideração ou deleita-se nos estatutos do Senhor. Ele os guarda e se alegra neles. Estes então determinam o conteúdo de sua vida e não aqueles que estão atrás dele.
Ele deixa o julgamento de seus perseguidores para o Senhor (Sl 119:118). Ele sabe o que o Senhor vai fazer, isto é, rejeitar todos aqueles que se desviam dos Seus estatutos. Eles enganam os outros com sua linguagem de mentiras. Esta dupla descrição de sua maldade – “sua falsidade é inútil [literalmente: falsidade]” – ressalta a falsidade de sua linguagem. Isso é profeticamente sobre pessoas que seguem o anticristo em seus enganos mentirosos.
Todas essas pessoas perversas são removidas da terra pelo Senhor como escória (Sl 119:119). A escória é removida para purificar, para refinar a prata. Os ímpios são expurgados para tornar Israel puro (cf. Pro 25:4; Mal 4:1; Lucas 3:9; Lucas 3:17). Com isso, o justo se refere ao processo de fusão no qual um fundidor remove a escória que flutua no metal precioso fundido (cf. Is 1:25-26; Ez 22:19-22; Mal 3:2-3; 1Pe 1 :7). Ele sabe que Deus lidará com justiça com os ímpios. É um motivo adicional para ele amar os testemunhos de Deus.
O julgamento dos ímpios (Sl 119:119) é para os tementes a Deus, além de ser motivo para amar os testemunhos do SENHOR, também motivo para temê-Lo (Sl 119:120). Ele está, portanto, em grande temor por Ele (cf. Ap 1:17; Is 6:5). Que sua “carne treme” é literalmente “arrepia-se”, o que significa em nossa língua que ele fica arrepiado. Em si mesmo, ele não é melhor do que os ímpios e fica impressionado com os julgamentos de Deus sobre eles. Essa também é a grande diferença com os ímpios, porque eles não mostram nenhum medo dAquele que tanto deve ser temido.
Salmos 119:121-128
/ayin/ Ver na fonte
A letra ayin tem o pictograma e o significado de ‘olho’ ou ‘fonte’. ‘Olho’ não tem apenas o significado de ‘ser capaz de ver’, mas especialmente o significado de ‘ter insight’, ‘compreensão’. Em hebraico, os termos ‘olho bom’ e ‘olho mau’ estão associados respectivamente com generosidade e mesquinhez (Mateus 6:22-24). Deus tem um bom olho, porque Ele é generoso. Ele deu Seu Filho unigênito (João 3:16).
O fato de o olho ser a lâmpada do corpo significa que nossa compreensão das coisas espirituais depende parcialmente de nossa mente. A mesquinhez, por exemplo, obscurecerá nosso entendimento espiritual. Essa percepção também é necessária para ser um bom servo do SENHOR (Sl 119:122; Sl 119:124; Sl 119:125).
A palavra ayin também significa ‘fonte’, que fala da vida. A primeira vez que encontramos uma fonte na Bíblia é Beer-lahai-roi [Cerveja=fonte], que significa ‘o Vivo que me vê’. Naquele lugar o SENHOR encontra Hagar (Gn 16:7-14).
O justo pode dizer ao SENHOR que ele “praticou justiça e retidão” (Sl 119:121). Justiça e retidão são o fundamento do trono de Deus (Sl 97:2). Isso significa que o salmista está se apegando à aliança do Senhor. Essa aliança significa que o Senhor nunca desistirá dele.
O que ele diz não significa que ele está sem pecado, mas que ele serviu ao Senhor de acordo com sua retidão. O mal que ele fez, ele confessou, de modo que não há nada entre ele e o Senhor. Com base nisso, ele pede ao SENHOR que não o deixe nas mãos de seus opressores – isto é, o anticristo e seus seguidores (cf. Zc 11,15-17). Para sua preservação de seus opressores, ele não conta com sua própria força, mas com o Senhor.
No Salmo 119:122 ele vai um passo além. Pede ao SENHOR que se assegure do seu bem-estar (cf. Is 38,14) e não permita que os arrogantes o oprimam e assim destruam o seu bem-estar. Assim, ele novamente se apresenta a Ele como “Teu servo”. O fiador não é apenas um protetor, mas também e principalmente um substituto, aquele que assume a causa de outro e a torna sua.
A palavra ‘fiança’ também ocorre em Gênesis 43, onde Judá fica como fiador de Benjamim (Gn 43:9; cf. Fm 1:18). O Senhor Jesus é, em um sentido perfeito, uma garantia para os Seus porque Ele levou os pecados deles sobre Si na cruz. E também agora que Ele está no céu, Ele é a garantia dos Seus (Rm 8:34; Hb 7:22; Hb 7:25).
Os olhos dos justos desfaleceram de desejo pela salvação do SENHOR (Sl 119:123), isto é, pela Sua salvação e paz (cf. Sl 69:3). Ele tem um fundamento para isso e essa é a palavra justa do SENHOR. Essa palavra justa significa que o SENHOR agirá com base na aliança. Significa que Ele julgará o mal e recompensará o bem. Ele fará as duas coisas quando vier à terra em Cristo pela segunda vez.
O salmista, como servo do Senhor, pede-Lhe que faça com ele segundo a Sua benignidade ou fidelidade à aliança (Sl 119:124). Essa benignidade inclui proteção contra seus perseguidores, mas também ensinar os estatutos ou caminhos do SENHOR. Coisas e eventos nunca estão sozinhos. Eles estão sempre ligados de alguma forma à Palavra de Deus. Nela podemos aprender como Deus vê as coisas e eventos, por meio do qual obtemos Sua visão deles.
Isso é seguido por sua próxima pergunta ao SENHOR, na qual ele pede compreensão (Sl 119:125). Enfaticamente, ele faz essa pergunta como Seu servo. Um servo - mencionado pela terceira vez neste versículo, após Sl 119:122; Sl 119:124 – pede e cumpre a vontade de seu senhor. Se o SENHOR lhe der entendimento, abrir sua mente, ele conhecerá Seus testemunhos com entendimento espiritual. Aqui vemos que receber compreensão depende de nossa disposição de servi-lo. Quando Sansão perdeu o cabelo (= dedicação), perdeu os olhos (= entendimento) (Jz 16:19-21).
Pelo entendimento recebido, fica claro para o justo que “chegou a hora de o Senhor agir” (Sl 119:126). É importante saber os tempos (cf. 1Cr 12,32) e não agir antes do tempo (2Rs 5,26). A questão para o SENHOR agir não é uma questão de impaciência, mas a questão de agir agora porque Sua lei foi quebrada. A lei foi quebrada inúmeras vezes, mas no final dos tempos ela será quebrada da maneira mais flagrante, não deixando mais nenhum atraso no julgamento. Então a medida da iniquidade será completa (cf. Gn 15:16) e o SENHOR agirá em juízo.
Isso acontecerá quando o nadir da idolatria for atingido, ou seja, quando um homem vier em seu próprio nome (João 5:43) que tomará o lugar de Deus, ou seja, o anticristo (2 Tessalonicenses 2:4). Esta é a resposta do homem ao amor de Deus. Deus em Seu amor enviou Seu Filho para tomar o lugar do homem no julgamento. A isto o homem responde assumindo o lugar de Deus na soberba (cf. Gn 3,5).
Porque a Palavra de Deus dá entendimento sobre o tempo das ações do SENHOR, o temente a Deus ama os mandamentos do SENHOR (Sl 119:127; Sl 119:72). Seu amor por esses mandamentos excede em muito o amor pelo ouro, sim, ouro fino. O ouro pode valer muito, mas sua posse é frágil e temporária, pois pode desaparecer em um momento e seu gozo cessa com a morte.
O Salmo 119:128 começa com “portanto”, significando que este versículo é a conclusão da estrofe. A conclusão do salmista é que todos os preceitos de Deus são a verdade (Jo 17:17). Que sua apreciação da Palavra de Deus excede em muito sua apreciação do ouro é evidente em sua obediência a ela. Ele considera corretos todos os preceitos de Deus a respeito de tudo. Eles são a verdade. Em contraste, ele “odeia todo caminho falso”. A medida absoluta da diferença entre o certo e o errado é a Palavra.
Amar a Palavra de Deus significa automaticamente odiar a mentira e todo falso caminho, isto é, todo caminho em que a mentira reina suprema. Os dois não podem andar juntos (cf. Mateus 6:24). O contraste do Salmo 1 entre o justo e o ímpio é aqui o contraste entre o salmista que ama a Palavra de Deus e aqueles que trilham o caminho da falsidade e odeiam a Palavra de Deus.
Salmos 119:129-136
/pe/ A Boca Aberta
A letra pe tem o pictograma e o significado da boca (aberta). Esta letra segue a letra ayin, o olho. A letra ayin fala de compreensão. Isso deve estar presente antes que a boca possa ser aberta – da qual fala a letra pe – para falar a verdade. A boca também deve ser aberta para se alimentar da Palavra de Deus (Sl 119:131).
Quem conhece a Palavra de Deus até certo ponto, ficará impressionado repetidamente com as maravilhas dos testemunhos de Deus (Sl 119:129). Quem estuda a criação de Deus, ficará maravilhado com sua perfeição. Ele eleva-se acima do que o homem fez. A Palavra de Deus também nos surpreende: é verdade, sua abertura espalha luz (Sl 119:130), gera vida, é cheia de sabedoria, perfeita e supera todos os livros já escritos pelos homens.
Quando o Senhor abre a boca e profere seus testemunhos, suas palavras produzem admiração no coração dos crentes. Não pode ser de outra forma, pois um dos nomes do Autor é “Maravilhoso” (Is 9:6). Ele também é o Deus que opera maravilhas (Sl 72:18). Fortalece o desejo da alma de atender aos testemunhos de tal Deus.
A vida é complicada e há muitas perguntas. Que dom precioso é a Palavra então. Quando a Palavra é aberta – figurativamente, ou também literalmente, quando um rolo é aberto – sua luz brilha sobre todas as situações em que o justo pode estar (Sl 119:130). Também ilumina a mente e o coração do homem. Ele se vê na luz de Deus e também vê a Luz na luz da Palavra.
Então “os simples” obtêm “entendimento”. Os “simples” são crentes que carecem de entendimento e se voltam para a Palavra de Deus para entender as circunstâncias. A Palavra está escondida dos religiosos, mas não dos sábios e inteligentes nascidos de novo, como os teólogos modernos, enquanto o Pai a revela aos filhos simples (cf. Mt 11,25).
A letra pe significa, como mencionado, ‘boca aberta’. No Salmo 119:130 encontramos a Palavra aberta e no Salmo 119:131 encontramos uma boca aberta de admiração (Salmo 119:129). O resultado é que a luz da Palavra ilumina e dá entendimento ao salmista.
O salmista é tão simples. Ele tem intensa fome pela Palavra de Deus (Sl 119:131). Isso ressalta o significado da letra pe. Ele não apenas abre a boca, mas a abre bem como os pássaros jovens fazem quando a mãe vem com comida. Ele também ofegou, pois ansiava por aprender os mandamentos. Que grande é o seu desejo por eles (cf. Salmo 42:1-2; 1Pe 2:2). Ofegante também pode ser traduzido como ‘anseio’. Ele anseia pelos mandamentos de Deus.
O salmista ainda não tomou a Palavra para si. Ele deseja fortemente essa Palavra (Sl 119:131), mas entende que a compreensão da Palavra só é possível por meio da oração. No Salmo 119:132-135 ele ora. Ele ora por graça “à tua maneira” para entender a Palavra (Sl 119:132); ele ora por uma caminhada de acordo com a Palavra (Sl 119:133-134); ele ora especialmente pela presença do SENHOR (Sl 119:135) para ensiná-lo.
O justo leu na Palavra de Deus que está de acordo com a justiça de Deus quando se pede a Deus que se volte para aquele que ora e a oração é feita por aquele que ama o Seu Nome. O direito de Deus foi satisfeito por meio de Seu Filho na cruz para todos os que crêem Nele.
Existem dois lados na vida do amante do Nome de Deus. Um lado é que seus passos são estabelecidos na Palavra de Deus (Sl 119:133). Ele pede que assim seja, que ele viva de acordo com a vontade de Deus revelada em Sua Palavra. Por outro lado, ele percebe que está vivendo em meio a um mundo cheio de iniquidade, que pode facilmente aderir a ele. Portanto, ele pede que Deus o guarde disso e que “nenhuma iniquidade” tenha domínio sobre ele. Se Deus se voltar para ele, o último também acontecerá.
Há pressão das pessoas sobre ele para fazê-lo se curvar à iniquidade. Ele sente sua fraqueza e pede a Deus que o redima dessa opressão (Sl 119:134). Por causa dessa opressão, ele se sente impedido de obedecer aos preceitos de Deus. Quando Deus o livra disso, ele fica livre para observar Seus preceitos.
Juntamente com o desejo pela Palavra de Deus, há também o desejo pela luz da face de Deus sobre ele (Sl 119:135), isto é, que Deus seja misericordioso com ele (Nm 6:25). Sabemos que nos tornamos agradáveis a Deus em Cristo porque Ele olha para nós em Cristo. Portanto, Deus pode ser misericordioso conosco.
Ao exprimir o desejo da luz do rosto de Deus, pede a luz da presença de Deus, a sua presença na sua vida de servo de Deus. A luz da presença de Deus é a única boa luz na qual Deus pode ensinar Seus estatutos.
Enquanto ele está na luz de Deus, ele sente mais do que em qualquer outro lugar que a lei de Deus não é mantida (Sl 119:136) por seus opressores, dos quais ele falou em Sl 119:134, ou seja, o anticristo e seus seguidores. Ao desprezar o dom da lei, o próprio Legislador é desprezado. Quando ele está na presença de Deus, ele é particularmente sensível a isso. Isso faz com que uma corrente de água escorra de seus olhos, tão profundamente triste ele está com o desrespeito à lei. Como resultado, o povo perece (cf. Lm 3:48; Rm 9:1-5). Também vemos essa tristeza em Cristo (Lucas 19:41-44).
Salmos 119:137-144
/tsadhe/ O Justo
A letra tsadhe tem o pictograma que pode ser interpretado como ‘um servo sofredor’ e está relacionado com a palavra tsadik que significa justo. A carta tem duas formas: a carta regular que fala de um servo sofredor e a carta final que fala de um servo glorificado. Esta carta final é longa e reta, e tem a forma de uma palmeira (cf. Sl 92,12-13).
A letra tsadhe indubitavelmente se refere a Cristo, o Justo ou Justo (1Pe 3:18). Quando o Filho de Davi aparecer como o justo Ramo ou Rebento, Ele fará justiça e retidão como Rei. Seu nome será: “O SENHOR, justiça nossa” (Jr 23:5-6).
Esta estrofe tsadhe é sobre o significado das glórias da Palavra para o salmista pessoalmente, como a Palavra de Deus o traz para a proximidade de Deus. A estrofe começa com a declaração e louvor de que o SENHOR é justo, tanto em Sua Pessoa quanto em Suas ações (Sl 119:137). A estrofe termina com a declaração e louvor de que a Palavra do SENHOR é justa (Sl 119:144).
O salmista expressa a profunda convicção ao SENHOR: “Justo és Tu” (Sl 119:137; cf. Ap 16:5; Ap 16:7). O SENHOR é justo quando declara justo aquele que tem fé em Jesus (Rm 3:26). Ele também é justo quando revela Sua ira (Lm 1:18; Rm 1:18). Justo significa que Ele age de acordo com Seu padrão, que é Sua aliança e Sua promessa.
Porque o SENHOR é justo, todos os Seus julgamentos são “retos” (cf. Ap 15:3-4). Seus julgamentos e Sua Pessoa estão em perfeito acordo um com o outro (Dt 32:4). Esta observação é de grande importância. Aquele que vê e considera isso se alegrará com isso (Sl 19:8).
A evidência da observação do Salmo 119:137 é dada no Salmo 119:138. O SENHOR ordenou Seus testemunhos “em justiça” bem como em “excessiva fidelidade”. Tudo o que Ele diz e faz prova que Ele é justo e excelente em fidelidade. Não há injustiça presente com Ele. Portanto, Ele também não pode ser infiel (2Tm 2:13).
O salmista é consumido pelo zelo pela Palavra do SENHOR (Sl 119:139). No Salmo 69 lemos que ele foi consumido pelo zelo pela casa do SENHOR (Salmo 69:9). Em João 2, o Espírito Santo cita este versículo do Salmo 69 e o aplica ao Senhor Jesus porque Ele é o seu cumprimento (João 2:14-17).
Esse zelo consumidor é necessário porque os membros apóstatas do povo de Deus, que são Seus oponentes, esqueceram-se das palavras de Deus. O zelo do justo vem de seu amor pelas palavras de Deus. Os adversários dos fiéis não dão ouvidos ao que Ele disse, mas vão contra com grande vigor. Isso consome o justo que é movido pelo amor pelas palavras de Deus.
O temente a Deus não esqueceu a Palavra de Deus, mas pelo contrário a valoriza muito. Ele diz a Deus que Sua “palavra é mui pura”, sem defeito (Sl 119:140; Sl 18:30). Inúmeros ataques foram feitos para invalidá-lo ou erradicá-lo. Todos esses ataques demonstraram ainda mais sua pureza. O inimigo conseguiu o oposto de suas intenções. O servo de Deus não esqueceu ou rejeitou a puríssima Palavra de Deus, mas a ama. Para ele, a Palavra não é apenas pura, mas tem um efeito purificador em sua vida (Jo 15:3).
Uma característica importante de um servo do SENHOR é que ele ama a Sua Palavra (Sl 119:97). Uma característica importante de quem ama o Senhor Jesus é que ele guarda a Sua Palavra (Jo 14:21; Jo 14:23).
No Salmo 119:141, ouvimos o remanescente fiel falando no salmista. Eles reconhecem que são “pequenos e desprezados” em comparação com a massa de seus pares apóstatas e hostis. Enquanto seus oponentes se esqueceram da Palavra de Deus (Sl 119:139), eles podem dizer que não se esqueceram dos preceitos do SENHOR. Pelo contrário, por serem pequenos e desprezados, são totalmente dependentes desses preceitos. Neles encontram sua força para permanecer firmes contra a inimizade da multidão ímpia.
No exato momento em que o salmista é insultado e oprimido – e isso inclui o remanescente crente – ele se apega aos poderosos preceitos do SENHOR. Mais do que nunca ele precisa conhecer Sua vontade em uma situação tão difícil.
No Salmo 119:140 o salmista – e nele o remanescente – chama a si mesmo de “Teu servo”. Em Sl 119:141 vemos o crente como um servo que sofre à imitação do sofredor Servo do SENHOR, isto é, o Senhor Jesus. Estamos falando aqui do sofrimento do Servo por causa da justiça (cf. 1Pe 4,13) e não de seus sofrimentos expiatórios. Neste último sofrimento Ele é único e não pode ser imitado por ninguém.
A justiça de Deus “é uma justiça eterna” (Sl 119:142). Justiça é a ação justa de Deus, uma ação que está de acordo com Sua Palavra, Sua aliança, Sua promessa. Seu fundamento é o sangue da nova aliança (Mt 26:28; Lc 22:20), que é o sangue da aliança eterna (Hb 13:20).
Portanto, não tem apenas um efeito temporário, mas a justiça é absoluta e eterna. Diretamente relacionada a isso está a observação de que a lei do SENHOR “é a verdade”, perfeitamente verdadeira e confiável, sem o menor indício de falsidade.
O fiel é afligido por “tribulação e angústia” (Sl 119:143). Este versículo é paralelo ao Salmo 119:141. Há uma diferença, no entanto. No Salmo 119:141 a ênfase está na pequenez e vulnerabilidade da pessoa do salmista, enquanto aqui no Salmo 119:143 está na magnitude do problema. Em ambos os casos, a Palavra dá suporte adequado.
Problemas e angústias apontam para o tempo da grande tribulação em que todos os fiéis, isto é, o remanescente fiel, se encontrarão no fim dos tempos. Nesse tempo de grande angústia, eles têm um “deleite” que os ajudará nesse tempo. Esse deleite são os mandamentos do Senhor. Durante a grande tribulação, o homem perderá todo o controle, mas o SENHOR nunca fica fora de controle. Ele fará com que os Seus cheguem em segurança ao porto de seus desejos (Sl 107:30).
A tribulação pode durar muito tempo, mas chegará ao fim, pois Ele estabeleceu um limite para a grande tribulação (Mateus 24:21-22). É diferente com os justos testemunhos do SENHOR, pois eles são “para sempre” (Sl 119:144). O justo pede compreensão desses testemunhos, pois neles está a verdadeira vida. Esta vida é a vida com Deus e se aplica tanto agora como no futuro, pois Seus testemunhos são para sempre.
Os testemunhos de Deus são completos; não serão adicionados novos testemunhos. O que precisamos como cristãos não são novos testemunhos ou revelações, mas uma compreensão mais profunda da revelação dada por Deus em Sua Palavra. Sem uma compreensão dessa revelação bíblica de Deus, o homem, o crente, não pode viver a verdadeira vida, pois nas Escrituras o homem, o crente, aprende quem é Deus e quem ele mesmo é. Não se trata de receber a vida (João 6:53), mas do gozo prático dela (João 6:56).
Salmos 119:145-152
/qoph/ Chamando em perigo
O antigo pictograma hebraico da letra qoph é o horizonte com o nascer do sol; em aramaico é o buraco de uma agulha (conectar). A letra qoph nesta estrofe tem a ver com os conceitos de chamar, aproximar-se e ser santificado (cf. Lv 20,26). Todos os três verbos começam com a letra qoph. O objetivo é fazer uma conexão entre o céu e a terra. O crente está ligado ao céu e, portanto, é santificado, separado neste mundo.
O justo clamou ao SENHOR de todo o coração (Sl 119:145; cf. Jl 2:32). Isso significa que ele tem um coração puro, caso contrário, ele não pode clamar ao Senhor de todo o coração. Ele O invoca porque vive em um mundo que odeia a Deus e passa necessidade. Não é que Deus desconheça sua angústia, mas Ele usa a angústia para formá-lo espiritualmente e aproximá-lo de Si mesmo (Rm 5:3-5). O justo clama por uma resposta. A isso ele atribui a promessa de observar os estatutos do Senhor.
Todos os Salmos 119:145-147 começam com “chorar” e Salmos 119:150-151 com “perto”. No Salmo 119:146 o salmista repete seu clamor por libertação, mas mais especificamente “salva-me”. Não se trata da salvação da penalidade do pecado, mas da salvação da presente aflição. Isso aponta para a gravidade da aflição. Mais uma vez, ele atribui à sua salvação a promessa de guardar os testemunhos de Deus após a sua salvação.
No Salmo 119:147, ele continua falando de seu grito de socorro e diz que gritou antes que a manhã começasse a raiar. Mesmo antes do raiar do dia, ele clamou a Deus por ajuda. Ele fez isso porque esperou pelas palavras de Deus (Sl 136:6). Mesmo durante a noite ele abriu os olhos para meditar na Palavra de Deus (Sl 119:148).
Os judeus dividem a noite em três vigílias noturnas. A vigília da última noite termina com o nascer do sol, a hora da oração. Antes de terminar a vigília da última noite, o salmista já se levantou para meditar na Palavra de Deus, para ter o seu ‘tempo de silêncio’. Esses versículos mostram como é importante reservar horários para oração e meditação na Palavra e começar o dia com eles.
O salmista pede ao Senhor que ouça a sua voz e o faça “segundo a tua benignidade” (Sl 119:149). Ele está reivindicando o direito de ser ouvido porque está apelando para a benignidade de Deus, isto é, a fidelidade de Deus à Sua aliança. O que ele está pedindo é para reanimá-lo. Ele reconhece que Deus tem pleno direito sobre sua vida. Ele quer viver como é correto diante de Deus, para desfrutar a vida de acordo com as ordenanças de Deus. De acordo com a aliança, ele permanecerá vivo apesar dos inimigos do próximo versículo.
Ele se sente ameaçado em sua vida por aqueles que “seguem a maldade” (Sl 119:150). Eles “se aproximam” para mantê-lo longe da oração e da Palavra (Sl 119:147; Sl 119:148). Eles se comportam assim porque estão longe da lei de Deus. Eles não dão ouvidos à autoridade de Deus em nenhum aspecto.
O justo ameaçado, vendo o ímpio se aproximando, diz ao SENHOR que Ele está “perto” (Sl 119:151). Quando Ele está perto (cf. Fp 4:5), o ímpio pode chegar o quanto quiser, mas o SENHOR o protegerá. Os malfeitores estão longe da lei de Deus, mas o justo diz com convicção que os mandamentos de Deus são a verdade.
Esta não é uma confissão espontânea diante de um perigo iminente, mas ele sabe “antigamente” pelos testemunhos de Deus (Sl 119:152). Os testemunhos de Deus significam o testemunho da Palavra de Deus sobre quem Ele é e sobre quem devemos ser. Desde a antiguidade aqui significa antes do tempo. Ele não olha para trás com a sabedoria do presente; ele olha para o futuro com a sabedoria do alto. Ele também sabe que Deus os “fundou para sempre”, ou seja, sobre o fundamento inabalável do sangue da aliança eterna de Cristo. Deus é eterno, portanto Seus testemunhos também permanecem para sempre em um alicerce firme e inabalável.
Salmos 119:153-160
/resh/ O ponto principal
A letra resh tem o pictograma de uma cabeça inclinada e está relacionada com a palavra ‘ver’ (Sl 119:153; Sl 119:158; Sl 119:159) e a palavra ‘cabeça’ (a soma ou o começo, Sl 119 :160). Nesta estrofe resh, um processo judicial, por assim dizer, é mantido (Sl 119:154) e ouvimos:
1. a oração do salmista em sua aflição (Sl 119:153),
2. com seu pedido para viver (Sl 119:154),
3. a descrição de seus inimigos (Sl 119:155-158),
4. com outro pedido para viver (Sl 119:159),
5. e como conclusão final sua confiança de que as palavras e a aliança do SENHOR são verdadeiras (Sl 119:160).
Como razão para olhar para sua aflição ou tribulação e ser resgatado dela, o salmista argumenta que ele não se esquece da lei de Deus (Sl 119:153). O salmista precisava de um consolador, alguém que o apoiasse em sua provação, alguém que mostrasse compaixão em sua aflição. O Senhor Jesus diz: “E procurei simpatia, mas não houve, e consoladores, mas não encontrei” (Salmos 69:20).
O salmista mostra por sua pergunta que ele está contando com Deus para olhar para sua aflição e resgatá-lo. Ele obtém essa certeza da promessa do Senhor em Sua aliança. Lá ele o conheceu como um Deus atencioso, que cuida dos seus com misericórdia, mesmo quando estão em aflição.
O justo está sendo processado, há acusações sérias, todas falsas (Sl 119:154). Ele pode corajosamente pedir a Deus que aceite seu julgamento e o defenda. Então ele será redimido e sairá livre (cf. Hb 7,25). Ele terá sua vida de volta, o que é consistente com a promessa de Deus de que Ele dá vida na terra àqueles que se voltam para Ele. Ele faz isso com base em Sua aliança.
“A salvação está longe dos ímpios” (Sl 119:155). A causa disso não é com Deus, mas com eles mesmos. Pois eles não buscam os estatutos de Deus. Este é um grande contraste com o salmista e o remanescente fiel, que o faz. Aqueles que ignoram a Palavra de Deus nunca entrarão no reino da paz. ‘Não buscar’ significa não ter desejo por isso. Eles não querem se envolver na Palavra de Deus. Os ímpios aqui são os israelitas que rejeitaram a aliança do Senhor e se tornaram seguidores do anticristo. Eles são os perseguidores do remanescente crente.
O justo, por outro lado, vê que as misericórdias do SENHOR são grandes (Sl 119:156). Ele experimentou isso em sua vida (Lm 3:22-23). Agora que ele está em aflição, ele apela novamente. Ele quer viver para a glória de Deus. Portanto, ele pede que Deus o reviva de acordo com Suas ordenanças. Ele sabe que a vida com Deus está firmemente ligada ao que a Palavra de Deus diz. Sem a Palavra não há vida. A Palavra é vida (Dt 32:47).
A pressão sobre os justos é grande (Sl 119:157). Ele não é perseguido e combatido por alguns, mas seus “perseguidores e adversários” são “muitos”. É terrível ser perseguido e combatido. Quando isso também acontece em massa, é uma provação muito grande. No fim dos tempos, a massa dos israelitas aceitará e seguirá o anticristo (João 5:43). Portanto, dois terços do povo também serão exterminados pela Assíria (Zc 13:8).
Apesar do fato de que a multidão apóstata está contra ele, o justo diz que não se desvia dos testemunhos de Deus. Ele permanece com o Senhor com um coração resoluto (cf. At 11,23). Ele experimenta: “Muitas são as aflições do justo, mas o SENHOR o livra de todas” (Sl 34:19).
O salmista tem os olhos abertos para o que está acontecendo ao seu redor. Ele também contempla “os traiçoeiros” (Sl 119:158). Eles agem traiçoeiramente – esta palavra também significa: enganosamente, apóstata – para com a aliança do SENHOR. Isso causa ódio nele. Essa aversão vem a ele não por causa da ação traiçoeira contra ele, mas porque eles não guardam a Palavra de Deus. Ser traiçoeiro é abominável, ainda mais quando se conhece a palavra de Deus, mas não se cumpre.
Podemos pensar em traição em um casamento. Em Jeremias 2, a traição no casamento é comparada à infidelidade à aliança com o SENHOR (Jr 2:2). A palavra “amor” em Jeremias 2:2 é a palavra para fidelidade à aliança. O casamento também é visto como uma aliança (Ml 2:14). Lidar com traição na aliança do casamento foi e é – ainda hoje – provavelmente a forma mais hedionda de traição na esfera dos relacionamentos humanos.
O salmista quer viver porque a vida é prometida na aliança se ele ama os preceitos de Deus (Sl 119:159). Ele escolhe a vida (Dt 30:19). Seu desejo de vida vem do amor aos preceitos de Deus. Isso afirma que a vida é prometida àqueles que amam a Palavra de Deus. Ele apela para a bondade de Deus para esse propósito.
O último verso desta estrofe é sobre a soma da Palavra e que ela é eterna (Sl 119:160). O temente a Deus declara que o resumo da Palavra de Deus é a “verdade”. A palavra hebraica “soma” também significa “cabeça”. Significa que o todo e o ponto principal da Palavra é a verdade, a Palavra é confiável (cf. 1Ti 1:15; 1Ti 3:1; 1Ti 4:9; 2Ti 2:11; Tit 3:8). Trata-se de toda a Palavra de Deus. A Palavra, a aliança, com todas as justas ordenanças que contém, não tem fim, é “eterna”.
Salmos 119:161-168
/shin/ Tribulação
A letra shin tem o pictograma e o significado de ‘dentes’ e está associada ao conceito de ‘comer’, ‘fogo’, ‘tribulação’. O significado negativo é tribulação e julgamento, o positivo é comer e encontrar um despojo (Sl 119:162). Sl 119:161 e Sl 119:163 falam da grande tribulação, na qual o remanescente será perseguido por “príncipes”, que são os falsos líderes (Sl 119:161) e os falsos pastores (Zc 11:15-17) de Israel. Em meio a essas severas tribulações, nesta estrofe o salmista e o remanescente permanecem fiéis ao SENHOR e se alegram na salvação e na Palavra do SENHOR.
O salmista não tem medo dos príncipes, os seguidores do anticristo, que espalham mentiras sobre o Senhor e Sua Palavra. Ele tem, no entanto, temido a Palavra de Deus no sentido de que tem estado “temoroso” com ela (Sl 119:161). Isso o impediu de negar o nome de Deus diante dos oficiais do governo que o perseguiram sem motivo, mas testemunharam Dele fielmente diante deles. Exemplos são Daniel diante de Nabucodonosor, Paulo diante do rei Agripa e, sobretudo, o Senhor Jesus diante de Pilatos.
A alegria na palavra ou promessa de Deus, Seu penhor, pode ser comparada a encontrar grande despojo (Sl 119:162). O que é despojo significa que é o que foi conquistado em uma vitória sobre um inimigo (cf. Is 9:2). Não é um achado de sorte, mas o resultado de uma luta. Encontrar um despojo tão grande requer esforço.
Da mesma forma, o conhecimento de Deus por meio de Sua Palavra é o resultado de estudar e meditar fervorosamente na Palavra. Isso exige esforço e tempo. Ao mesmo tempo, a Palavra é uma arma, a espada do Espírito, necessária num tempo de luta espiritual, num tempo de tribulação e angústia.
A falsidade é repreensível, abominável e digna de ódio (Sl 119:163). A lei, a Palavra de Deus, é absolutamente verdadeira e digna de ser amada. Esses sentimentos de ódio e aversão pela falsidade e amor pela Palavra de Deus são trabalhados através da leitura da Palavra de Deus. Através da Palavra de Deus, ganhamos a devida consciência da falsidade e da verdade.
Falsidade aqui é negar que o Senhor é o verdadeiro Deus. Elias perguntou quem é o verdadeiro Deus: o Senhor ou Baal. A confissão do remanescente é o que o nome Elias significa: o SENHOR é meu Deus. No fim dos tempos, a questão é quem é o verdadeiro Deus: o SENHOR ou o homem. O homem quer ser como Deus (Gn 3:4-6) e ergue a imagem de um homem para ser adorado (Dan 3:1-5). O homem toma o lugar de Deus (At 12:21-23; Ap 13:11-12). Vemos isso tomando forma completa no anticristo. Ele tentará os homens com milagres de falsidade de acordo com a operação do próprio Satanás para adorá-lo (2Ts 2:3-4; 2Ts 2:9).
Para nós, falsidade também é viver uma vida hipócrita. Parece espiritualmente saudável e rico por fora, mas por dentro está sujo e endurecido. Vemos um exemplo e advertência na vida de Davi em seu adultério com Bate-Seba e no assassinato do marido dela, Urias.
O salmista louva a Deus sete vezes ao dia, isto é, continuamente, durante todo o dia, por causa das justas ordenanças de Deus (Sl 119:164). A Palavra de Deus também opera sentimentos de gratidão. É bom considerar até onde isso vai. Não é apenas dar graças “em tudo” (1 Tessalonicenses 5:18), mas vai além: “Dando sempre graças por todas as coisas em nome de nosso Senhor Jesus Cristo a Deus, o Pai” (Ef 5:20).
Tudo na Palavra de Deus também tem o objetivo de nos levar a dar graças a Deus. Quanta razão temos para dar graças quando descobrimos na Palavra de Deus Quem é o Senhor Jesus para Deus e para nós e o que Ele fez e ainda faz.
Amar a Palavra de Deus resulta em “grande paz” (Sl 119:165) e isso em um mundo cheio de descontentamento e tentação. Essa paz é a paz de Deus. Quem conhece esta paz descobrirá que o Senhor guarda o seu coração e os seus pensamentos (Fp 4,7; cf. Is 26,3). Ele reconhece cada pedra de tropeço e é carregado pelo Senhor por meio de Sua graça e de Seus anjos, para que não tropece em alguma pedra (Mateus 4:6). Com aquela grande paz, o Senhor Jesus seguiu Seu caminho na terra sem tropeçar.
Quando os justos estão com problemas, de acordo com a aliança, eles podem esperar a salvação do SENHOR, enquanto cumprem os Seus mandamentos (Sl 119:166). Essa esperança de salvação não é uma incerteza, mas significa que eles têm certeza de que o que foi prometido está chegando (Hb 11:1). Além disso, nossa esperança está naquele que virá para cumprir a promessa (Hb 10:37). Esta certeza não torna ninguém frívolo, mas obediente aos mandamentos de Deus.
O amor de Deus e Sua Palavra são expressos em guardar os testemunhos de Deus e amá-los excessivamente (Sl 119:167; cf. Jo 14:21; Jo 14:23). Salmos 119:166-167 são ambos sobre guardar os testemunhos de Deus e formam a conclusão desta estrofe. Nós também recebemos a tarefa de guardar ou guardar o que nos foi confiado pelo Espírito Santo que habita em nós (2Tm 1:14).
Assim como a fé sem obras é morta (Tg 2:17), amar o Senhor Jesus sem guardar Seus mandamentos é mentira. O salmista fala de “minha alma”. Com isso ele está dizendo que todo o seu ser, todo o seu ser interior está envolvido. O amor pelos testemunhos de Deus não é demonstrado por mera declaração verbal. Esse amor é evidenciado pela absorção total dele no coração, a partir do qual se manifesta na prática.
Quando os “preceitos e testemunhos” de Deus são guardados, anexa-se a isso a consciência de que todos os caminhos dos tementes a Deus estão abertos a Deus (Sl 119:168; cf. Hb 4:12-13). Como o salmista sabe que Deus supervisiona todos os seus caminhos, ele deseja ser guiado por Seus preceitos e testemunhos. Para Deus os caminhos que os Seus seguem não têm segredos. Por isso é tão necessário consultar a Sua Palavra, pois nela Ele mostra o caminho que cada um dos Seus deve seguir. Ele também deixa claro para nós o que está em nosso coração, todos os cantos ocultos dos quais são então revelados (Sl 139:23-24).
Salmos 119:169-176
/tav/ O Sinal da Cruz
A letra tav é a última letra do alfabeto hebraico. O pictograma original desta carta é uma ‘cruz’ e tem o significado de ‘sinal’, ‘aliança’. Encontramos esses aspectos no sangue de Cristo. Em Êxodo 12, lemos sobre isso na figura do sangue nas casas dos israelitas: “O sangue vos será por sinal nas casas em que morardes; e quando eu vir o sangue, passarei por cima de vós” (Êxodo 12:13). O sangue que se põe nas ombreiras e vergas destas casas tem a forma de cruz. Compare o sinal ou cruz nas testas do remanescente em Ezequiel 9 (Ezequiel 9:4).
O Senhor Jesus chama a Si mesmo de “o Alfa e o Ômega”, a primeira e a última letra do alfabeto grego (Ap 1:8; Ap 1:11; Ap 21:6; Ap 22:13). Em hebraico, isso seria ‘o Aleph e o Tav’. O alef fala de um boi ou touro, o animal escolhido para o holocausto. O tav fala da cruz, ou o altar no qual o holocausto é trazido. Assim, o Senhor Jesus é simultaneamente o animal sacrificial, o altar e o Sacerdote que traz o sacrifício.
O salmista entende que seu problema não é apenas causado por inimigos externos, mas que ele tem um problema dentro de si mesmo. Ele mesmo pecou, desgarrou-se como uma ovelha perdida (Sl 119:176). O que ele precisa é do pastor que deu a vida na cruz por causa de suas ovelhas. O Pastor teve que descer e procurá-lo em sua condição perdida (Lc 15:4-7). Uma ovelha perdida não pode salvar a si mesma. O homem consciente disso percebe que sua ajuda deve vir de fora (cf. Rm 7,24). Ele também percebe que sua salvação não vem de algo, mas de Alguém.
Esta é a última estrofe cantando o valor da Palavra em todos os seus aspectos relevantes para a nossa vida. O volume de se dirigir a Deus parece ser o mais alto aqui. O salmista clama a Deus (Sl 119:169). Ele fez isso com mais frequência neste salmo, mas aqui ele apresenta seu chamado como uma pessoa por quem ele pede a Deus se essa pessoa pode “vir antes” Dele. Ele é um chamado para a compreensão de acordo com a Sua Palavra. Ele gostaria de obter entendimento em todas as coisas, não do pensamento humano, mas da vontade revelada de Deus em Sua Palavra.
Aquele que anseia pelo entendimento da Palavra de Deus também é alvo especial dos ataques do inimigo (Sl 119:170). Portanto, além de ser alguém que chora, vem como suplicante. Ele pede a Deus que sua súplica chegue “diante” Dele. O temente a Deus implora por livramento dos perigos de acordo com a palavra ou promessa de Deus. Afinal, Deus prometeu que não abandonará nem abandonará os Seus. O inimigo tudo fará para tornar impotente a nossa vida de oração (cf. 1Pe 3,7).
O Salmo 119:169 e o Salmo 119:170 formam os dois temas do Salmo 119. Vemos no Salmo 119:169 uma oração pedindo compreensão e no Salmo 119:170 uma oração por libertação baseada nas promessas da aliança de Deus. Essas orações formam a base de seu louvor (Sl 119:171), seu ensino através das canções (Sl 119:172; cf. Col 3:16), sua luta (Sl 119:173) e seus desejos (Sl 119: 174).
Depois de se apresentar a Deus como quem clama e como suplicante, chega a Deus como quem louva a Deus (Sl 119:171). Na presença de Deus, não saem apenas gritos de socorro, mas também cânticos de louvor (cf. Fp 4,6). Seus lábios até transbordam com isso. Este é o resultado do ensino de Deus em Seus estatutos.
Seu cântico de louvor consiste em cantar as palavras de Deus (Sl 119:172). Do que o coração está cheio, a boca transborda. O ‘instrumento’ para isso é a sua língua. Em muitas ‘canções de louvor’ contemporâneas há declarações que não são baseadas na Palavra de Deus, mas são contrárias a ela. Nossos cânticos de louvor também devem estar de acordo com a Palavra de Deus (Ef 5:19). Então Ele os ouvirá alegremente. O tema da música aqui é a justiça dos mandamentos de Deus.
O Salmo 119:171 e o Salmo 119:172 correm em paralelo. Como resultado, vemos uma duplicação de elogios. O elogio é duplamente enfatizado. O louvor indica que o salmista está totalmente convencido de que o Senhor, em virtude de sua aliança, ouvirá sua oração. Em Salmos 119:171 ele profere louvores ao SENHOR como um santo sacerdote; no Salmo 119:172, ele fala aos companheiros crentes como um sacerdote real (1Pe 2:5; 1Pe 2:9; cf. Sl 66:16).
Há também uma consciência no justo de que ele depende do SENHOR (Sl 119:173). Portanto, ele pede a Ele que Sua mão venha em seu auxílio. Ele escolheu os preceitos de Deus para guardá-los e se engajar neles. Esta escolha todo fiel deve fazer. A ajuda do SENHOR está ligada à Sua Palavra. Ele não pode ajudar quem não se curva diante de Sua Palavra. Recebemos o privilégio de sempre nos aproximarmos do trono da graça com ousadia, para que possamos receber misericórdia e achar graça para socorro oportuno (Hb 4:16).
O temente a Deus anseia pela salvação do SENHOR (Sl 119:174). Com isso ele quer dizer o período das bênçãos da nova aliança sob o governo do Senhor Jesus. Sobre isso ele leu na Palavra de Deus, que para ele é o seu “deleite”. Em relação a nós, somos salvos de uma vez por todas pela fé (Ef 2:8). No entanto, no tempo presente, devemos desenvolver nossa salvação com temor e tremor (Fp 2:12). Num futuro próximo, receberemos a salvação de nossos corpos (Rm 8:23-25; Rm 13:11; Fp 3:20-21).
O salmista pede ao SENHOR que deixe sua alma viver (Sl 119:175). Isso não é para aproveitar a vida, mas para louvar o SENHOR (Sl 6:5). Ele percebe que não pode fazer isso sem a ajuda do Senhor. Essa ajuda, ele sabe, está nas ordenanças de Deus. A Palavra de Deus dá motivos abundantes para louvar ao Senhor.
O último versículo é uma confissão de pecado com o desejo de restaurar o relacionamento rompido pelo pecado (Sl 119:176). O salmista reconhece que “se desgarrou como uma ovelha perdida”. Ele também reconhece que está sendo procurado pelo bom pastor, que deu a vida por suas ovelhas, pois ele mesmo não consegue encontrar o caminho de volta. No entanto, ele sabe a quem está se dirigindo. Ele também sabe que é o “servo” de Deus. Ele pode ter se desviado, mas não esqueceu os mandamentos de Deus.
Assim como o Novo Testamento termina com o convite aos pecadores ao arrependimento, o salmista termina aqui com a necessidade de o povo de Israel ser restaurado pelo Bom Pastor.