Salmo 115 — Estudo Devocional

Louvor ao verdadeiro Deus

Devocional

O exercício de louvor continua (veja Sl 113.1-9, nota), com o louvor à majestade de Deus demonstrada no Êxodo (Sl 114), e o reconhecimento humano de que não merecemos glória alguma (Sl 115). Mesmo assim, somos individualmente atendidos pelo seu amor (Sl 116). O pequeno Sl 117 convida todos os povos a louvarem o amor e a fidelidade de Deus, que são biograficamente ilustrados no Sl 118, com gratidão por vitórias em batalhas. Veja o quadro “Para começar a louvar” (Sl 9).

115.1-18 Onde está o Deus de vocês? Pode parecer uma desvantagem adorar a um Deus invisível. Mas já aqui no Antigo Testamento está presente o convite para vivermos “por fé e não pelo que vemos” (2Co 5.6-7). Quando nos dedicamos a esse caminho (a confiar em Deus em vez de confiar no que vemos e fazemos), percebemos que essa é uma enorme vantagem: essa fé nos aproxima da verdade — pois Deus realmente existe — e nos livra de uma “morte em vida” (onde nada acontece), pois sem ela perderíamos a grande oportunidade de apreciar o amor e a fidelidade do único Deus vivo. A confiança num deus pequeno (o ídolo, feito e nivelado por nós mesmos) tem consequências desastrosas: ela nos apequena, reduzindo nosso potencial de desenvolvimento pessoal, contrariando a vontade do verdadeiro Deus.

115.1 somente a ti. (na tradução tradicional: “Não a nós, mas ao Teu nome”). O salmista começa reconhecendo que Deus (o Nome) merece receber toda a glória e honra, que é devida a ele e não a suas criaturas. O nome é a identificação de alguém, mas para os judeus exprimia mais ainda, pois remetia à identidade. O salmista, como ser criado por Deus, nem poderia expressá-lo plenamente. Somente no tempo determinado por Deus, quando seu Filho encarnou, nasceu de mulher e passou a viver como homem na terra, é que ele recebeu um nome humano: Jesus. A ele cabe todo louvor porque, diferentemente dos outros deuses e ídolos, ele tem amor e é fiel em seu amor por suas criaturas, conforme a autodefinição de Deus em Êx 34.6. O apóstolo João, séculos depois, assim irá definir o Nome que se fez carne, no cap. 1.17 do seu Evangelho, usando o conceito das duas palavras hebraicas Hesed e Emeth, que significam amor (relações de afeto, misericórdia, amizade, graça, ternura, carinho) e verdade (fidelidade, lealdade, veracidade): a solidez do amor de Deus. Veja também Jo 1.14,17, notas.

115.2-4 são feitos por seres humanos. Aqueles que não conhecem o verdadeiro Deus e fabricam ídolos para cultuar, ver e pegar, perguntam ao povo de Deus: onde está o Deus de vocês? O desejo de ver a Deus e ter um encontro com ele pode desvirtuar-se e tornar-se uma busca idólatra, pois leva o ser humano a criar objetos de adoração, ou encontrar formas na natureza, ou ainda eleger ídolos do prazer, do ter, do poder, ou ídolos do não ser, céticos, aniquiladores.

115.3 nosso Deus está no céu. Os fiéis assumem que sua devoção é relacional e não utilitária, ao dizer: nosso Deus está no céu! Ele não é um amuleto para nossos caprichos! Não temos poder sobre ele: ele é que faz tudo o que quer. Ainda assim, é um Deus de amor e fidelidade!

115.4-8 tem olhos, mas não veem. O salmista descreve a evidente restrição dos deuses fabricados por mãos humanas e mostra como este tipo de relação utilitária e mercantilista de comprar ou negociar o favor da divindade deixa igualmente embrutecidos os que assim praticam (veja também Êx 20.4-6). que fiquem iguais… os que confiam neles! Ao criar para si imagens de escultura ou adorar seres mitológicos, da natureza, espíritos, pessoas já falecidas (por mais exemplares que tenham sido), bem como ao dedicar-se a outras formas de idolatria (como a riqueza, o dever ou o prazer), os seres humanos acabam por adorar o próprio ego, cultuando a sua própria sabedoria e competência. O salmo nos ajuda a contestar não apenas as religiões pagãs, mas também sistemas políticos, econômicos, judiciais, sociais, culturais e científicos, que não objetivam a vida e a liberdade. O Deus de amor quer ser amado e não apenas servido e bajulado em troca de favores.

115.9-11 confiem em Deus. O salmista convoca os israelitas, as lideranças espirituais e os sábios, enfim, aqueles que têm reverência a Deus, a que confiem nele, pois Deus tem sido a ajuda e o escudo em tempos difíceis.

115.12-13 O SENHOR lembra de nós. Deus nos tem em sua memória e não se esquece de nós: estamos presentes na sua lembrança, ele nos abençoa, nos dá o bem viver. Deus deseja o melhor para aqueles que ministram sua palavra e seu cuidado, e sofrem o desgaste por isso. Ele abençoa todos/as que o buscam, sem se importar com classe ou condição social.

115.14-15 Deus lhes dê muitos filhos. O salmista relembra a orientação para frutificar e povoar a terra (Gn 1.27-28). A bênção de uma continuidade familiar através de filhos, sejam eles biológicos, sociais ou espirituais é prometida aos que escolhem confiar em Deus em vez de resolver as questões da vida pelo conhecimento humano, força física ou violência. Também podemos incluir nessa filiação as iniciativas e projetos que desenvolvemos junto a grupos sociais e instituições, que reproduzem a dimensão da graça visando o bem comum.

115.16 a terra ele deu aos seres humanos. A responsabilidade ecológica sobre a criação de Deus repousa sobre os ombros humanos, a quem a terra foi dada. A ética do cuidado envolve todo o tipo de vida, bem como toda a natureza.

115.17-18 nós que estamos vivos. O salmista diferencia seres vivos e inanimados. O convite de louvar a Deus é para o presente, para nós que estamos vivos, relembrando o passado e esperando pela eterna vida com Deus. Podemos deduzir que há uma ligação íntima entre vida e louvor a Deus. Assim, onde não há o reconhecimento de Deus, num certo sentido é como se estivessem todos mortos, absolutamente silenciosos. Aleluia significa “louvem a Deus”.