Efésios 3: Significado, Devocional e Exegese

Efésios 3

Efésios 3 funciona como charneira teológico-pastoral entre a doxologia eclesial dos capítulos 1–2 e as exortações práticas dos capítulos 4–6, articulando dois movimentos: primeiro, Paulo explicita a sua vocação como “dispensação” da graça aos gentios e desvela o “mistério” agora manifestado; depois, dobra os joelhos em uma oração que pede que a Igreja experimente, no íntimo, a plenitude do amor de Cristo. A abertura retoma 3:1, onde o prisioneiro “por causa de Cristo Jesus, por vós, gentios”, explica a oikonomía (“administração/dispensação”) que lhe foi confiada: por “revelação” — apokálypsis (“revelação”) —, o “mistério” — mystērion (“mistério”) — tornou-se conhecido, não como enigma esotérico, mas como decreto agora público: em Cristo, os gentios são “co-herdeiros, co-corpo e co-participantes” com Israel, uma tríade de prefixos que concentra o evangelho da reconciliação em linguagem de unidade ontológica: synklēronoma (“co-herdeiros”), syssōma (“um mesmo corpo”) e symmetocha (“co-participantes”) em 3:6. A graça que alcança os gentios tem um ministro “o menor de todos os santos” — elachistoteros (“o menor”) — a quem foi dada a tarefa de anunciar “as riquezas insondáveis de Cristo” — to aneksichniaston ploutos tou Christou (“a riqueza impossível de rastrear de Cristo”) — e de iluminar “qual seja a dispensação do mistério” para que, por meio da Igreja, a “multiforme sabedoria de Deus” — hē polypoikilos sophia tou theou (“a multiforme sabedoria de Deus”) — seja agora dada a conhecer “aos principados e autoridades nas regiões celestiais”. Assim, o capítulo universaliza a vocação de Israel em chave cristológica e, simultaneamente, eleva a eclesiologia: a Igreja torna-se teatro cósmico da sabedoria divina.

Nesse horizonte, 3:12 retoma a linguagem do acesso do capítulo anterior e a aprofunda em chave existencial: em Cristo temos parrēsia (“franqueza/confiança”) e prosagōgē (“acesso”) “com confiança pela fé”, de modo que a tribulação do apóstolo por eles deve ser percebida como glória, não como escândalo. O parêntese autobiográfico de 3:2–13 prepara a grande oração de 3:14–21, onde a teologia se converte em súplica e experiência. Paulo “dobra os joelhos” — kámptō ta gonata (“curvo os joelhos”) — diante do Pai, para que a comunidade seja “fortalecida com poder no homem interior” — krataiothenai… eis ton esō anthrōpon (“ser fortalecidos no homem interior”) — por meio do Espírito, e para que Cristo “habite” nos corações pela fé — katoikēsai ton Christon (“habitar Cristo”) — enraizando e alicerçando os santos no amor. O clímax pede uma apreensão que excede o intelecto: conhecer “a largura, o comprimento, a altura e a profundidade” e conhecer “o amor de Cristo que excede o conhecimento”, para serem “cheios até toda a plenitude de Deus” — plērōthēte eis pan to plērōma tou Theoû (“sejais cheios até toda a plenitude de Deus”). A doxologia final sela o capítulo com a superabundância da potência divina: “Aquele que é poderoso para fazer infinitamente mais” — tō de dynamenō hyper panta poiēsai hyperekperissou (“ao que pode fazer além de tudo, superabundantemente”) — segundo o poder que opera em nós, recebe glória “na Igreja e em Cristo Jesus, por todas as gerações”.

Como introdução, Efésios 3 mostra que o “mistério” cantado em Efésios 1 e encarnado em Efésios 2 se torna missão apostólica, vocação eclesial e experiência orante. A graça que fez de “dois, um” agora revela seu alcance cósmico e seu método: Deus dá ao mundo, por meio de um apóstolo fraco e de uma Igreja reconciliada, a exibição da sua sabedoria; e pede, ao mesmo tempo, que essa Igreja seja interiormente fortalecida para que Cristo habite nela e a conduza à plenitude. O capítulo é, portanto, a ponte entre a teologia do desígnio eterno e a prática da unidade no amor: a Igreja existe para tornar público o mystērion e para viver, no coração, a doxologia que culmina na glória de Deus “na Igreja e em Cristo Jesus”.

I. Estrutura e Estilo Literário

Efésios 3 apresenta uma arquitetura bipartida e marcada por um anacoluto deliberado que conduz o leitor do “mistério” revelado à experiência orante desse mesmo mistério. A primeira metade (3:1–13) inicia com “Por esta causa eu, Paulo, prisioneiro…” e, em seguida, abre um parêntese retórico que suspende a frase para explicar a “dispensação” confiada ao apóstolo: oikonomia (“administração/dispensação”) recebida “por revelação” apokalypsis (“revelação”) do mystērion (“mistério”) agora manifesto. O anacoluto de 3:1 é retomado simetricamente em 3:14 (“Por esta causa dobro os joelhos”), configurando uma inclusio que dá coesão à unidade. Esse bloco autobiográfico-didático estrutura-se por anáforas e tríades, em especial a famosa tríplice de prefixos syn- que condensa a nova realidade eclesial: synklēronoma (“co-herdeiros”), syssōma (“um só corpo”) e symmetocha (“co-participantes”) em 3:6. A progressão é teleológica: o ministério dado ao “menor de todos os santos” — elachistoteros (“o menor”) — existe para anunciar “as riquezas insondáveis de Cristo” — to anexichniaston ploutos tou Christou (“a riqueza impossível de rastrear de Cristo”) — e “iluminar” qual seja a oikonomia tou mystēriou (“administração do mistério”), a fim de que, “por meio da Igreja”, se torne conhecida “a multiforme sabedoria de Deus” — hē polypoikilos sophia tou theou (“a sabedoria multiforme de Deus”) — “aos principados e autoridades nas regiões celestiais”. O estilo aqui combina parataxe de sabor semítico (acúmulo por coordenação) com períodos periódicos, hipérbatos que realçam finalidades e uma rede de preposições programáticas (en–dia–eis–pros, “em/por meio de/para/a”) que costuram origem, meio, fim e direção do plano.

O ritmo do parêntese culmina em 3:12 com um par duplo que traduz em experiência o que fora descrito em tese: parrēsia (“franqueza/confiança”) e prosagōgē (“acesso”) “com confiança pela fé”, de modo que as tribulações apostólicas se leiam como “glória” da comunidade (3:13). A segunda metade (3:14–21) retoma o fio interrompido e o verte em oração. A postura “dobrar os joelhos” — kamptō ta gonata (“curvar os joelhos”) — sinaliza solenidade litúrgica, e o pedido progride por camadas interiores: fortalecimento “no homem interior” — krataiōthēnai… eis ton esō anthrōpon (“ser fortalecidos… no homem interior”) — por meio do Espírito; habitação de Cristo nos corações — katoikēsai ton Christon (“habitar Cristo”) — “pela fé”; enraizamento e alicerce “no amor”, até a apreensão das dimensões do amor de Cristo, desenhadas por uma tétrade retórica (“largura, comprimento, altura e profundidade”) que funciona como merismo hiperbólico: dizer o todo pelo acúmulo de partes. A fórmula “conhecer o amor de Cristo que excede o conhecimento” cria um paradoxo catequético que tensiona intelecto e experiência, preparando o clímax: “serdes cheios até toda a plenitude de Deus” — plērōthēte eis pan to plērōma tou theou (“serdes cheios até toda a plenitude de Deus”). A doxologia final (3:20–21) fecha a peça com amplificação sonora e semântica: tō dynamenō hyper panta poiēsai hyperekperissou (“ao que é poderoso para fazer além de tudo, superabundantemente”) combina duplicações de hyper- e superlativos para imprimir na memória a superabundância da potência divina “que opera em nós”, selando com paralelismo (“na Igreja e em Cristo Jesus”) a finalidade do capítulo.

Literariamente, portanto, Efésios 3 é uma charneira construída por inclusio (3:1 ~ 3:14), parêntese explicativo (3:2–13) e oração-doxologia (3:14–21), tecida por anáforas (touto charin, “por esta causa”), tríades (os três syn- de 3:6; as três camadas de fortalecimento; os três agentes do acesso em 2:18 retomados aqui em chave de parrēsia), e por uma rede de imagens que unem cosmos e coração: a Igreja como teatro da polypoikilos sophia diante de “principados e autoridades”, e o crente como lugar da “habitação” de Cristo. A sintaxe alterna períodos longos, de cadência litúrgica, com incisos intensificadores; o léxico combina termos técnicos da administração do mistério (oikonomia, mystērion, prosagōgē) com vocabulário afetivo-espacial do amor e da habitação (katoikein, rhizousthai, themeliousthai — “habitar, enraizar, alicerçar”). O resultado é um capítulo em que forma e conteúdo se espelham: o mistério proclamado na secção didática encontra sua “forma de habitar” na oração, e a oração explode em doxologia — estrutura e estilo que fazem da teologia um ato de culto e da retórica, catequese.

II. Hebraísmos e o Texto Grego

Efésios 3 é grego saturado de Bíblia, no qual Paulo pensa com cadência hebraica e verte essa cadência em períodos periódicos. O anacoluto inicial — “Por esta causa eu, Paulo…” — não é tropeço, mas respiração de beraká e de profeta: suspende-se a frase para narrar a “dispensação” confiada e só então se retoma a oração em “Por esta causa dobro os joelhos”. Na superfície linguística, surgem genitivos e preposições que funcionam como estado construto semítico, comprimindo pertencimento e finalidade (“sabedoria multiforme de Deus”, “glória na Igreja”), enquanto a parataxe em cadeia imita a justaposição hebraica. A tríade de prefixos syn- — synklēronoma (co-herdeiros), syssōma (um só corpo), symmetocha (co-participantes) — é grega de forma, mas hebraica de alma: traduz em linguagem corporativa a antiga categoria de “herança/porção” (hebraico: naḥălāh, “herança/porção”), agora compartilhada “em Cristo”.

O “mistério” em Efésios 3 não é enigma esotérico: mystērion (“mistério”) reescreve a noção veterotestamentária de סוֹד (sōd, “conselho secreto/assembleia íntima”), o círculo do conselho divino agora tornado público “por revelação” — apokalypsis (“revelação”). A finalidade desse desvelamento é eclesial e cósmica: por meio da Igreja se dá a conhecer a “sabedoria multiforme” de Deus — polypoikilos sophia (“sabedoria multiforme”) —, expressão que dialoga com o campo sapiencial do Antigo Testamento (חָכְמָה, ḥokmāh, “sabedoria”; תְּבוּנָה, tĕbûnāh, “inteligência/prudência”) e com a cena do sōd perante poderes celestes (Daniel 10). Até o léxico de autoridade espiritual — archai e exousiai (“principados” e “autoridades”) — repousa sobre a memória bíblica de “príncipes” angélicos (Daniel 10), enquanto o ritmo “céus/terra” conserva o paralelismo cósmico da criação.

A oração de 3:14–19 trama o culto de Israel com a interioridade cristã. “Dobrar os joelhos” ecoa o gesto veterotestamentário de submissão reverente (כָּרַע, kāraʿ, “ajoelhar”), e o pedido para que Cristo “habite” no coração — katoikēsai ton Christon (“habitar Cristo”) — acende o campo semântico do “habitar” de Deus entre o seu povo (שָׁכַן, šākan, “habitar”; מִשְׁכָּן, miškān, “tabernáculo”): a presença que antes enchia o santuário agora enche o interior do crente. Daí a culminância em “serdes cheios até toda a plenitude de Deus” — plērōthēte eis pan to plērōma tou theou (“ser cheios até toda a plenitude de Deus”) —, que remete ao verbo hebraico de “encher” (מָלֵא, mālēʾ, “encher”) e à “glória” que tomou o tabernáculo (כָּבוֹד, kāvōd, “glória”; Êxodo 40:34). A tétrade “largura, comprimento, altura e profundidade” funciona como merismo hebraico, um todo dito pela acumulação de partes (compare Jó 11:8–9), e afirma que conhecer o amor de Cristo excede, sem desprezar, o conhecimento conceitual.

Por fim, dois hebraísmos decisivos fecham o capítulo. Quando Paulo confessa “de quem toda família no céu e na terra recebe o nome” — ex hou pasa patria… onomazetai (“de quem toda família… é nomeada”) —, ele articula um trocadilho grego (patria/pater) com a teologia hebraica do Nome que confere identidade (קָרָא שֵׁם, qārāʾ šēm, “chamar pelo nome”; Isaías 43:1). E a doxologia final — “a Ele seja a glória… por todas as gerações, pelos séculos dos séculos” — verte-se no molde bíblico de tempo superlativo (לְדֹר וָדֹר, lĕdōr vādor, “de geração em geração”; לְעוֹלָם וָעֶד, lĕʿōlām vāʿed, “para sempre e sempre”), agora em grego: eis pasas tas geneas… tou aiōnos tōn aiōnōn (“por todas as gerações… do século dos séculos”). Entre conselho e culto, entre Nome e habitação, Efésios 3 mostra como o pensamento hebraico de aliança e presença se torna, no texto grego, gramática de missão e de oração: o sōd revelado gera a Igreja que exibe a polypoikilos sophia, e o Deus que “habitava” no santuário passa a habitar, por Cristo no Espírito, o coração que se prostra.

III. Esboço de Efésios 3

A. Ministério e mistério aos gentios (3:1–13)
Abertura e parêntese retórico (3:1–2)
a. Paulo, prisioneiro por amor de Cristo “por vós, gentios” (3:1)
b. Dispensação da graça confiada a Paulo (3:2)

Revelação e conteúdo do mistério (3:3–6)
a. Mistério dado por revelação; conhecimento pela leitura (3:3–4)
b. Agora revelado aos santos apóstolos e profetas no Espírito (3:5)
c. Gentios co-herdeiros, co-corpo e co-participantes da promessa em Cristo (3:6)

Vocação de Paulo e finalidade cósmica (3:7–12)
a. Feito ministro segundo o dom da graça e o poder de Deus (3:7)
b. O menor dos santos anuncia as riquezas insondáveis de Cristo (3:8)
c. Iluminar a administração do mistério oculto em Deus, Criador de tudo (3:9)
d. Pela Igreja, tornar conhecida aos principados e autoridades a multiforme sabedoria de Deus (3:10)
e. Segundo o propósito eterno realizado em Cristo; acesso e ousadia pela fé (3:11–12)

Exortação diante das tribulações (3:13)
a. Não desfalecer nas aflições de Paulo, que são glória dos gentios (3:13)

B. Oração por fortalecimento interior e plenitude (3:14–21)
Postura, paternidade e petições (3:14–17)
a. “Dobro os joelhos” ao Pai, de quem toda família recebe o nome (3:14–15)
b. Fortalecimento com poder no homem interior pelo Espírito (3:16)
c. Cristo habite nos corações pela fé; enraizados e alicerçados no amor (3:17)

Apreensão do amor de Cristo e plenitude de Deus (3:18–19)
a. Compreender largura, comprimento, altura e profundidade (3:18)
b. Conhecer o amor de Cristo que excede o conhecimento; ser cheios de toda a plenitude de Deus (3:19)

Doxologia final (3:20–21)
a. Ao que é poderoso para fazer infinitamente mais, segundo o poder que opera em nós (3:20)
b. Glória a Deus na Igreja e em Cristo Jesus, por todas as gerações, para todo o sempre (3:21)

IV. Versículo-Chave

Efésios 3:6

Que os gentios são co-herdeiros, co-corpo e co-participantes da promessa em Cristo Jesus, por meio do evangelho.

Este versículo condensa o núcleo revelado do mystērion: a inclusão plena dos gentios não como anexos, mas com status idêntico — herança comum, corpo comum, participação comum — e identifica o meio histórico dessa graça: o evangelho. A tríade com o prefixo syn- explicita, de forma lapidar, a unidade ontológica inaugurada por Cristo que Efésios 2 narrou (dos dois fez um) e que Efésios 3 universaliza como “dispensação” confiada a Paulo; por isso 3:6 é a tese que dá sentido tanto à missão do apóstolo (3:7–12: anunciar “as riquezas insondáveis de Cristo” e tornar conhecida, pela Igreja, a “sabedoria multiforme” de Deus) quanto à oração final (3:14–19: que essa unidade se enraíze no amor e conduza à plenitude). Ao resumir conteúdo, agentes e meio da reconciliação — herança, corpo e promessa “em Cristo Jesus” “por meio do evangelho” —, Efésios 3:6 funciona como o eixo programático do capítulo e a janela pela qual vemos a Igreja como teatro cósmico da graça.

V. Lição Teológica Geral

Efésios 3 articula, em chave teológica, que o “mistério” — mystērion (“mistério”) — concebido desde sempre por Deus e cantado em Efésios 1, concretizado em Efésios 2, foi agora revelado “por revelação” — apokalypsis (“revelação”) — como administração eficaz da graça — oikonomia (“administração/dispensação”) — que integra plenamente as nações no povo de Deus “em Cristo”. Não se trata de um adendo étnico ou de uma segunda via de acesso, mas de identidade ontológica compartilhada: “co-herdeiros, um só corpo, co-participantes” — synklēronoma (“co-herdeiros”), syssōma (“um só corpo”), symmetocha (“co-participantes”) — “da promessa em Cristo Jesus, por meio do evangelho”. A teologia do capítulo, portanto, afirma que a Igreja é a forma histórica do desígnio eterno: o povo reconciliado em Efésios 2 é agora o teatro público da “sabedoria multiforme de Deus” — polypoikilos sophia (“sabedoria multiforme”) — “dada a conhecer”, por meio da Igreja, “aos principados e autoridades nas regiões celestiais”. O que Deus realizou em Cristo não permanece segredo cultual: torna-se anuncio, encenação e prova diante do cosmos de que o governo de Cristo já opera reunindo o que estava dividido.

Essa universalidade se exprime por um ministério marcado por graça e fraqueza. Paulo se autodefine “o menor de todos os santos” — elachistoteros (“o menor”) — e exatamente aí a teologia do dom ganha espessura: o evangelho confere vocação onde não havia mérito, para anunciar “as riquezas insondáveis de Cristo” — to anexichniaston ploutos tou Christou (“a riqueza impossível de rastrear de Cristo”) — e “iluminar” a oikonomia do mistério. A existência apostólica, inclusive seu sofrimento, é reinterpretada como parte desse plano: as tribulações do ministro por amor da Igreja são glória da Igreja, porque revelam que o mesmo poder que elevou Cristo age em vasos frágeis. A teologia que emerge é, então, cruciforme e eclesial: Deus torna público o seu desígnio eterno por meio de um apóstolo prisioneiro e de uma comunidade reconciliada, para que o mundo vislumbre, já agora, o regime do Cristo-Cabeça.

O segundo movimento do capítulo mostra que essa vocação só pode ser sustentada por vida interior robusta. Por isso, a teologia de Efésios 3 culmina em oração. Paulo pede fortalecimento “no homem interior” pelo Espírito — krataiōthēnai… eis ton esō anthrōpon (“ser fortalecidos… no homem interior”) — para que Cristo “habite” nos corações — katoikēsai ton Christon (“habitar Cristo”) — e para que a Igreja, “enraizada e alicerçada no amor”, conheça “a largura, o comprimento, a altura e a profundidade” do amor de Cristo, “conhecimento que excede o conhecimento”, até ser “cheia de toda a plenitude de Deus” — plērōthēte eis pan to plērōma tou theou (“serdes cheios até toda a plenitude de Deus”). A teologia aqui é trinitária e dinâmica: o Pai é a fonte, o Filho é o conteúdo e o meio de acesso, o Espírito é o agente que fortalece e faz habitar; e o fim é participação real na plenitude divina. Não é mística evasiva, mas capacitação para a missão: só quem é interiormente habitado pelo Cristo do amor pode exteriormente manifestar a sabedoria multiforme de Deus.

Por fim, a doxologia sela a “Teologia Geral” do capítulo: Deus pode fazer “além de tudo, superabundantemente”, “segundo o poder que opera em nós”, e a glória que lhe é devida se expressa “na Igreja e em Cristo Jesus, por todas as gerações, pelos séculos dos séculos”. Efésios 3 ensina, assim, que o mistério revelado gera missão pública e oração profunda; que a unidade do corpo não é estratégia, mas desdobramento do plano eterno; que a fraqueza apostólica é meio de Deus; e que a vida cristã, para sustentar a vocação cósmica da Igreja, precisa ser continuamente fortalecida pelo Espírito até que Cristo habite de fato, e a comunidade se torne lugar da plenitude de Deus — tudo “por meio do Filho” e “no Espírito”, para a glória do Pai.

Meu comentário sobre Efésios 3, em síntese, mostra que Paulo reinterpreta suas algemas como vocação: sua prisão é serviço ao plano de Deus de incluir as nações, uma “mordomia” (oikonomia) da graça recebida por revelação, não por especulação; o “mistério de Cristo” agora tornado público aos apóstolos e profetas no Espírito tem conteúdo preciso: gentios são co-herdeiros, co-membros do mesmo corpo e co-participantes da promessa em Cristo por meio do evangelho; o ministério é dom imerecido sustentado pelo poder divino para anunciar as insondáveis riquezas do Messias e iluminar como Deus administra, na história, o que ocultara em si desde as eras, a fim de que, por meio da Igreja, sua sabedoria multiforme se torne conhecida até aos poderes celestiais, tudo conforme o propósito eterno realizado em Cristo; por Ele temos ousadia e acesso confiante ao Pai, de modo que as tribulações apostólicas por amor dos gentios se tornam motivo de glória para eles [Efésios 3:1-13; Gênesis 12:3; Isaías 49:6; 56:3-8; Romanos 16:25-26; Colossenses 1:26-27; 2:15]. Na oração (3:14-21), destaquei a teologia do ajoelhar-se diante do Pai de quem toda família recebe nome (origem, identidade e autoridade), o pedido para fortalecimento no “homem interior” pelo Espírito, a habitação estável de Cristo no coração mediante a fé, e o enraizamento/fundamentação no amor como condição para, com todos os santos, apreender as dimensões do amor de Cristo (largura inclusiva judeus-gentios; comprimento da eleição à consumação; altura da entronização com Cristo; profundidade da sua condescendência até a cruz), um conhecimento que excede o mero entendimento e visa sermos tomados da plenitude de Deus; conclui com a doxologia que ancora toda petição no Deus capaz de fazer infinitamente além do que pedimos ou pensamos, conforme o poder que opera na Igreja, para glória dele na Igreja e em Cristo por todas as gerações, para sempre [Efésios 3:14-21; Efésios 1:9-10, 19-23; Filipenses 2:6-8; Colossenses 3:1-3; João 1:16].

A. A Revelação do Mistério de Cristo (Efésios 3:1-13)

Efésios 3:1 Por esta causa eu, Paulo, sou o prisioneiro de Cristo Jesus,... (Paulo interpreta sua prisão não como derrota política, mas como vocação sob o senhorio de Cristo: “prisioneiro de Cristo Jesus” indica que suas algemas estão sob a providência do Messias e a serviço do evangelho [Atos 28:16, 30-31; Filipenses 1:12-14]. Sua autodesignação reafirma a tese do capítulo 2: a unidade em Cristo custa sofrimento apostólico, mas encaminha o plano de Deus para as nações.) ...por amor de vós, gentios,... (O objetivo missionário dá sentido às tribulações: sua prisão ocorre “por amor” dos gentios, porque a inclusão plena deles no povo de Deus provoca oposição, mas também manifesta a fidelidade divina à promessa feita a Abraão de abençoar todas as famílias da terra [Gênesis 12:3; Atos 22:21-22; Gálatas 3:8].)

Efésios 3:2 se é que tendes ouvido a respeito da dispensação da graça de Deus... (oikonomia tēs charitos, “administração/mordomia da graça”): Deus confiou a Paulo uma responsabilidade histórica — gerir a comunicação e implantação concreta da graça entre os gentios [1 Coríntios 9:17; Colossenses 1:25]. Não é “graça” abstrata, mas graça administrada pastoral e missionariamente.) ...a mim confiada para vós outros;... (A confiança é pessoal e teleológica: dada “a mim… para vós” — a autoridade apostólica existe para servir a edificação dos gentios como coerdeiros, e não para exaltar o ministro [Gálatas 2:7-9; 2 Coríntios 4:5].)

Efésios 3:3 pois, segundo uma revelação,... (kata apokalypsin: desvelamento concedido por Deus, não dedução humana; liga-se à experiência e ao comissionamento de Paulo, mas também ao conteúdo que agora rege a missão [Atos 9:15-16; Gálatas 1:11-12].) ...me foi dado conhecer o mistério,... (mystērion = plano outrora oculto e agora tornado público em Cristo; não é enigma esotérico, mas projeto redentivo que integra judeus e gentios em um só povo [Romanos 16:25-26; Colossenses 1:26-27].) ...conforme escrevi há pouco, resumidamente;... (Remissão ao que já expôs sobre reconciliação e novo homem em Cristo no capítulo 2: a carta tem coesão interna e quer ser lida como uma unidade [Efésios 2:11-22].)

Efésios 3:4 pelo que, quando ledes, podeis compreender o meu discernimento do mistério de Cristo,... (A leitura comunitária da carta concede acesso ao synesis — entendimento — que Deus deu ao apóstolo; “mistério de Cristo” designa o próprio Cristo como conteúdo e chave do plano: Nele se interpretam Lei, promessas e profetas [Lucas 24:27; 2 Coríntios 3:14-16; Colossenses 2:2-3]. A inteligibilidade da revelação afasta pretensões gnósticas: o evangelho é público e compreensível na igreja.)

Efésios 3:5 o qual, em outras gerações,... (Há continuidade e novidade: gerações anteriores receberam lampejos da inclusão das nações [Isaías 49:6; 56:3-8], mas) ...não foi dado a conhecer aos filhos dos homens,... (não “assim” nem “nesse grau” — a realização histórica e a forma da unidade eram desconhecidas em sua plenitude.) ...como, agora, foi revelado aos seus santos apóstolos e profetas,... (Revelação “agora” dada ao colégio apostólico-profético do Novo Testamento; “santos” qualifica ofício e vida consagrados ao testemunho normativo [Efésios 2:20; Efésios 4:11].) no Espírito,... (Agente da revelação e da unidade: o mesmo Espírito que inspirou a mensagem é quem cria a comunhão que ela anuncia [João 16:13; 1 Coríntios 12:13].)

Efésios 3:6 a saber, que os gentios são co-herdeiros,... (sunklēronoma, “co-herdeiros” com Israel no Messias: participação conjunta no legado prometido a Abraão e cumprido em Cristo [Gênesis 17:7; Romanos 8:17; Gálatas 3:14, 29].) ...membros do mesmo corpo... (syssōma: não dois povos lado a lado, mas um só corpo orgânico sob uma só Cabeça [Efésios 1:22-23; Efésios 2:15-16].) ...e co-participantes da promessa em Cristo Jesus por meio do evangelho;... (symmetocha tēs epangelias: partilha comum da promessa do Espírito e de todas as bênçãos da nova aliança, recebidas “em Cristo” e mediadas pela proclamação [Joel 2:28-32; Atos 2:39; Efésios 1:13].)

Efésios 3:7 do qual fui constituído ministro conforme o dom da graça de Deus... (diakonos por “dom” — dōrea — e não por mérito; o ministério é graça antes de ser tarefa [1 Coríntios 15:9-10; 2 Coríntios 3:5-6].) ...a mim concedida segundo a força operante do seu poder.... (kata tēn energeian tēs dynameōs autou: a capacitação vem do agir eficaz de Deus, que sustenta o mensageiro na fraqueza e abre portas entre as nações [2 Coríntios 12:9-10; Colossenses 1:29].)

Efésios 3:8 A mim, o menor de todos os santos,... (elachistoterō pantōn hagiōn: superlativo de humildade — “o menor dos menores”; memória de perseguidor torna a graça ainda mais assombrosa [1 Timóteo 1:13-15; 1 Coríntios 15:9].) ...me foi dada esta graça de pregar aos gentios... (A eleição para servir se expressa em pregação missional dirigida aos gentios, alinhada ao propósito de Deus [Atos 13:46-48; Romanos 15:15-21].) ...o evangelho das insondáveis riquezas de Cristo... (to anexichniaston ploutos tou Christou: riquezas que não se esgotam nem se mapeiam — perdão, adoção, herança, Espírito, reconciliação cósmica — todas concentradas no Messias [Romanos 11:33; Colossenses 1:27; Colossenses 2:3].)

Efésios 3:9 e manifestar qual seja a dispensação do mistério,... (phōtisai “iluminar” a respeito da oikonomia do mistério: como Deus administra, no tempo, o que concebeu na eternidade; nota textual: alguns manuscritos trazem koinōnia “comunhão” — ambas as ideias são convergentes no contexto [Colossenses 1:25-27].) ...desde os séculos,... (O plano é anterior à criação e atravessa as eras: não improviso, mas propósito eterno [Efésios 1:4; 2 Timóteo 1:9].) ...oculto em Deus,... (Escondido “em Deus”, não no acaso: o autor do segredo é o próprio Deus, que o guarda para revelá-lo em Cristo [Romanos 16:25].) ...que criou todas as coisas,... (O Criador é o mesmo que redime; a criação inteira é o teatro da graça e o alvo da recapitulação em Cristo [João 1:3; Colossenses 1:16-20; Romanos 8:19-23].)

Efésios 3:10 para que, pela igreja,... (A igreja é o instrumento histórico e comunitário do desígnio: Deus não exibe Sua sabedoria à parte do povo que Ele uniu em Cristo [Efésios 1:22-23; 1 Pedro 2:9-10].) ...a multiforme sabedoria de Deus se torne conhecida,... (polypoikilos sophia: sabedoria “multicolorida”, que se manifesta na reconciliação de povos e na vida santa; a unidade na diversidade é o vitral através do qual a sabedoria divina resplende [Tiago 3:17; Romanos 11:33].) ...agora, dos principados e potestades nos lugares celestiais,... (Até as potências cósmicas observam o teatro da igreja e veem sua derrota na cruz aplicada na história [Efésios 6:12; Colossenses 2:15; 1 Coríntios 2:7-8].)

Efésios 3:11 segundo o eterno propósito... (kata prothesin tōn aiōnōn = propósito “eterno/segundo as eras” que rege todo o enredo bíblico; nada é acidente no drama da redenção [Isaías 46:9-10; Atos 4:27-28].) ...que estabeleceu em Cristo Jesus, nosso Senhor,... (Cristo é o locus e o agente da execução do propósito: no Seu senhorio, o plano é firmado e eficaz [Efésios 1:9-10; 2 Coríntios 1:20].)

Efésios 3:12 pelo qual temos ousadia... (parrēsia: franqueza e liberdade diante de Deus, fruto da obra de Cristo [Hebreus 4:16; Hebreus 10:19-22].) ...e acesso com confiança,... (prosagōgē en pepoithēsei: entrada assegurada na presença do Pai, sem medo servil, com confiança filial [Romanos 5:2; João 14:6].) ...mediante a fé nele. (dia tēs pisteōs autou: pode referir-se à “nossa fé em Cristo” ou à “fidelidade de Cristo”; ambas se complementam: confiamos porque Ele foi fiel até a morte e ressurreição [Romanos 3:22; Gálatas 2:16; Filipenses 2:8].)

Efésios 3:13 Portanto, vos peço que não desfaleçais nas minhas tribulações... (enkakein = perder o ânimo; Paulo transforma suas aflições em pedagogia de esperança: o sofrimento do ministro não invalida o evangelho, antes o autentica e o faz avançar [Colossenses 1:24; 2 Coríntios 4:7-12].) ...por vós, pois nisso está a vossa glória. (As tribulações “por vós” redundam em “glória” para os gentios: porque sinalizam que Deus os considerou dignos de receber o evangelho e de serem integrados ao povo do Messias; a glória prometida a Abraão alcança-os em Cristo [Gálatas 3:13-14; Romanos 5:2-3].)

B. A Oração de Paulo pela Igreja (Efésios 3:14-21)

Efésios 3:14 Por esta causa,... (A “causa” retoma o que Paulo expôs: o mistério agora revelado — judeus e gentios feitos um “novo homem” em Cristo, com acesso comum ao Pai — e o próprio ministério de Paulo a favor dos gentios [Efésios 2:14-18; Efésios 3:1-9]. Diante desse plano eterno que avança na história, a resposta adequada é oração confiante, pois Deus mesmo concebeu e executa tal unidade [Efésios 1:9-10; Atos 4:27-28].) ...me ponho de joelhos diante do Pai,... (A postura de joelhos indica reverência intensa e súplica fervorosa — gesto frequente em momentos de crise ou consagração [1 Reis 8:54; Esdras 9:5; Daniel 6:10; Lucas 22:41; Atos 20:36]. Paulo ora “ao Pai”, fonte de toda doação e acolhimento, a quem já chamou “Pai da glória” [Efésios 1:17], enfatizando a intimidade filial inaugurada pelo Filho no Espírito [Romanos 8:15; Gálatas 4:6].)

Efésios 3:15 de quem toma o nome toda família,... (ex hou pasa patria onomazetai: “daquele de quem toda família recebe nome”). “Nomear” na Escritura implica origem, identidade e autoridade; Deus é a fonte arquétipa de toda paternidade e comunidade legítima [Isaías 43:1; Salmo 68:5]. Paulo não dilui a distinção Criador–criatura: antes, afirma que toda verdadeira família deriva, por criação e redenção, do Pai.) ...tanto no céu como sobre a terra,... (Alcance universal: famílias celestes — anjos e ordens celestiais — e famílias terrenas — povos e igrejas — estão incluídas sob a soberania do Pai, em harmonia com o propósito de “fazer convergir todas as coisas em Cristo” [Efésios 1:10; Colossenses 1:16; Hebreus 12:22-23].)

Efésios 3:16 para que, segundo a riqueza da sua glória,... (ploutos tēs doxēs, “riqueza da glória”): Paulo ancora o pedido na inesgotável generosidade divina — a mesma abundância invocada em 1:18 e 2:7; Deus dá a partir da plenitude do que Ele é [Romanos 11:33].) ...vos conceda que sejais fortalecidos com poder,... (krataioō = “fortalecer, robustecer”; dynamis = “poder eficaz”): não mero ânimo psicológico, mas vigor espiritual real que capacita para santidade, perseverança e serviço [Colossenses 1:11; 2 Timóteo 1:7].) ...mediante o seu Espírito no homem interior;... (O agente é o Espírito; o alvo é o anthrōpos esō (“homem interior”), o núcleo da pessoa regenerada onde a vida divina opera [2 Coríntios 4:16; Romanos 7:22; Romanos 8:9-11]. O fortalecimento interior antecede e sustenta qualquer transformação exterior.)

Efésios 3:17 e, assim, habite Cristo no vosso coração,... (katoikēsai, “habitar de modo estável”): não uma visitação esporádica, mas residência permanente de Cristo no centro afetivo-volitivo do crente; é fruto da união com Cristo aplicada pelo Espírito [João 14:23; Gálatas 2:20].) ...pela fé,... (A fé é o meio de apropriação dessa presença: confiar no Cristo vivo abre espaço para Seu senhorio e comunhão contínua [João 1:12; Efésios 2:8].) ...estando vós arraigados e alicerçados em amor,... (Duas metáforas — agrícola (rhizōmenoi, “enraizados”) e arquitetônica (tethemeliōmenoi, “fundamentados”) — expressam estabilidade crescente: o amor (agapē) é o solo onde crescemos e o fundamento sobre o qual permanecemos [Colossenses 2:7; 1 Coríntios 13; Efésios 5:2]. O amor de Cristo por nós torna-se o padrão do nosso amor mútuo [João 15:9-12].)

Efésios 3:18 a fim de poderdes compreender,... (hina exischysēte katalabesthai: “para que sejais plenamente capazes de apreender”): a capacidade de apreensão é dom fortalecido pelo Espírito — conhecer Deus exige poder espiritual tanto quanto moral.) ...com todos os santos,... (A compreensão é eclesial: ninguém abarca sozinho as dimensões do amor de Cristo; aprendemos juntos, em “todos os santos” [Efésios 4:15-16; Filipenses 1:9].) ...qual é a largura,... (Largura: o alcance inclusivo que envolve judeus e gentios, inimigos reconciliados, “os que estavam longe e os que estavam perto” [Efésios 2:13-17].) ...e o comprimento,... (Comprimento: a extensão histórica do amor que vai da eleição “antes da fundação do mundo” até a consumação [Efésios 1:4; Romanos 8:30].) ...e a altura,... (Altura: elevação que nos faz assentar “nos lugares celestiais” com Cristo [Efésios 2:6; Colossenses 3:1-3].) ...e a profundidade... (Profundidade: descida sacrificial do Filho até a morte e os abismos da vergonha para nos resgatar [Filipenses 2:6-8; Romanos 8:39]; ecoa a incomensurabilidade do agir divino [Jó 11:7-9; Salmo 103:11-12].)

Efésios 3:19 e conhecer o amor de Cristo,... (Conhecer aqui é experiencial e transformador (ginōskō): o amor do Cristo crucificado-ressurreto torna-se realidade interior que conforma caráter e comunidade [Gálatas 2:20; 2 Coríntios 5:14-15].) ...que excede todo entendimento,... (Paradoxo pedagógico: esse amor é cognoscível e, ao mesmo tempo, supera qualquer esquema mental (hyperechousa gnōsei); a experiência sempre ultrapassa a descrição [Filipenses 4:7; Romanos 11:33].) ...para que sejais tomados de toda a plenitude de Deus. (plērōma tou Theou: a meta é ser preenchido até a medida da plenitude que habita em Cristo, de quem recebemos “graça sobre graça” [Efésios 1:23; Efésios 4:13; Colossenses 2:9-10; João 1:16]. Trata-se de maturidade cristã coletiva que manifesta a presença de Deus no mundo.)

Efésios 3:20 Ora, àquele que é poderoso para fazer infinitamente mais do que tudo quanto pedimos... (tō de dynamenō hyper ek perissou poiēsai, ou hyperekperissou: “superabundantemente além”): a doxologia desloca o foco do que pedimos ao Quem pedimos; Deus ultrapassa petições e expectativas [Isaías 55:8-9].) ...ou pensamos,... (Nem imaginação santa atinge os limites do que Deus pode realizar; por isso oramos com ousadia e humildade [1 Coríntios 2:9].) ...conforme o seu poder que opera em nós,... (Medida e meio: o mesmo energeia que ressuscitou Cristo (1:19-20) atua na Igreja frágil, tornando-a instrumento de Sua sabedoria multiforme [Efésios 1:19-23; Efésios 3:10; Colossenses 1:29].)

Efésios 3:21 a ele seja a glória,... (Telos de toda teologia e oração: devolver glória ao Doadores das dádivas — reconhecer, proclamar, viver para Sua honra [Romanos 11:36; Salmo 115:1].) ...na igreja e em Cristo Jesus,... (Dois loci inseparáveis: a glória do Pai resplandece “em Cristo” — o Filho — e “na igreja” — o corpo; a comunidade existe para exibir o louvor da glória da graça [Efésios 1:6, 12, 14; Efésios 1:22-23].) ...por todas as gerações, para todo o sempre. Amém! (Horizonte temporal ilimitado: a doxologia se estende “em todas as gerações” até a eternidade — eco do propósito eterno que Deus firmou em Cristo; “Amém” sela a fé e o compromisso da comunidade com esse louvor [Efésios 3:11; Salmo 145:4; Apocalipse 5:13].)

IX. Devocional de Efésios 3

Efésios 3 é como um santuário silencioso no meio do rumor da vida: ao empurrarmos a porta, tudo se torna oração, espanto e missão. Paulo fala do “mistério” — mystērion (“segredo revelado”) — não como um enigma esotérico, mas como o coração de Deus finalmente exposto em Cristo: povos separados agora reunidos no mesmo corpo, coparticipantes da promessa (Romanos 16:25–27; Colossenses 1:26–27). Esse mistério não é um adorno doutrinário; é a mesa posta do Pai para filhos que antes comiam sozinhos. Onde havia muro, nasce uma ponte; onde havia sombra, abre-se janela. E a Igreja, em toda a sua fragilidade, torna-se o palco onde a multiforme sabedoria divina se exibe aos olhos do mundo e até das potestades (1 Coríntios 4:9; 1 Pedro 1:12). Há uma gravidade santa nisso: viver como Igreja é aceitar ser vitral — não a luz, mas o vidro por onde a luz passa.

Paulo contempla a sua própria vocação com humilde assombro: a ele foi concedida a “administração” — oikonomia (“mordomia, dispensação”) — da graça para levar aos gentios riquezas insondáveis de Cristo (Atos 9:15; 1 Coríntios 15:9–10). É bonito e tremendo pensar que o Evangelho nos confia pessoas, não apenas tarefas; rostos, não apenas relatórios. A oikonomia de Deus não é contabilidade fria: é pão repartido, chagas cicatrizando, corações aprendendo a dizer “nosso”. Quem recebeu Cristo recebe também uma chave: abrir portas para que outros entrem. Por isso, quando a Igreja se fecha em si mesma, o Evangelho fica trêmulo na soleira, como quem deseja ainda entrar nos becos de Samaria e nos pátios de Cesareia (João 4; Atos 10). A mordomia da graça nos chama a gastar o perfume que não é nosso como se fosse, porque o dono dele quer que se derrame (Marcos 14:3–9).

O apóstolo escreve de joelhos. Há uma teologia que só se entende de pé, debatendo; e há outra que só se aprende de joelhos, adorando. “Por esta causa, me ponho de joelhos diante do Pai” — e o universo inteiro parece inclinar-se junto, porque dEle toma nome toda família no céu e na terra (Salmos 103:19; Mateus 6:9). Orar assim é respirar na cadência do Reino: pedir, sim, mas sobretudo alinhar o peito ao compasso da vontade divina. É notável que Paulo não suplique pela troca imediata das circunstâncias, e sim por uma transformação interior: serdes fortalecidos no homem interior — krataiōthēnai (“ser tornados firmes, robustos”) — pelo Espírito (2 Coríntios 4:16). O mundo pede atalhos; o Espírito constrói alicerces.

A partir desse fortalecimento, Paulo roga que Cristo “habite” — katoikēsai (“fazer morada estável”) — no coração pela fé (João 14:23; Gálatas 2:20). Não se trata de uma visita cordial aos domingos, mas de residência permanente, mesa posta, roupas no armário, retratos na parede. Quando o Cristo que habita é também o Cristo que governa, nossos afetos ganham geografia nova: raízes e alicerces “em amor” (João 15:9–12). É nesse solo que se aprende a medir o imensurável.

E então vem um dos suspiros mais belos das Escrituras: que conheçamos “a largura, o comprimento, a altura e a profundidade” do amor de Cristo, e conhecer o amor que excede o conhecimento (Romanos 8:31–39). Há aqui um paradoxo que só a experiência devocional resolve: conhecer o que ultrapassa o conhecer. É como tentar abraçar o mar — os braços não alcançam, mas saem banhados. Cada medida responde a uma angústia humana: a largura alcança quem está à margem; o comprimento atravessa o tempo das promessas até o hoje da graça; a altura ergue o olhar acima da culpa; a profundidade desce até onde ninguém mais quis descer. Quem se deixa envolver por esse amor começa a desaprender o medo. E onde o medo desaprende, a esperança declina verbos no presente.

Paulo pede, por fim, que sejamos “cheios de toda a plenitude de Deus” — plērōthēte (“serdes preenchidos até a borda”) (Colossenses 2:9–10). Plenitude não é excesso vaidoso; é ausência de vazios que devoram. A alma cheia de Deus não sobra em si; transborda para o outro. Torna-se hospital de campanha, mesa de pobres, pouso de cansaços. E quando o texto nos deixa diante da doxologia, a oração se converte em canto: Aquele que é poderoso para fazer infinitamente mais do que tudo quanto pedimos ou pensamos, segundo o poder que opera em nós (Isaías 40:28–31). Eis o milagre discreto: o “infinitamente mais” não chega como espetáculo, mas como poder que já trabalha dentro — o Espírito, carpinteiro paciente, endireitando vigas, ampliando janelas, acendendo luzes.

Devocionalmente, Efésios 3 nos educa para três posturas. A primeira é contemplativa: aprender a ver o mundo desde o mistério revelado em Cristo, para que os velhos antagonismos não determinem nosso horizonte (Gálatas 3:28). A segunda é intercessora: dobrar os joelhos não para escapar do mundo, mas para que o mundo caiba, redimido, em nossos joelhos (1 Timóteo 2:1). A terceira é missionária: administrar a graça como quem distribui pão quente numa madrugada fria, certos de que a mesa é grande e o forno não se apaga (Lucas 14:16–23). Quando a Igreja vive assim, o céu encontra uma linguagem inteligível na terra; e a terra descobre que suas feridas têm, no amor de Cristo, uma medida que as excede.

Talvez hoje você precise exatamente dessas três coisas: lembrar que pertence, pedir força por dentro e abrir a porta para alguém. Então faça disso a sua oração: “Pai, fortalece-me no homem interior; faz de meu coração morada do Teu Filho; ensina-me a respirar as medidas do Teu amor; e enche-me com a Tua plenitude para que eu seja resposta de oração na vida de alguém.” E, ao dizer “amém”, deixe a alma repousar no Deus que “é poderoso”. No santuário de Efésios 3, a graça não apenas nos visita; ela muda de endereço e passa a receber nossas cartas.

A. O teatro da graça: quando a Igreja catequiza os anjos (Efésios 3:10)

“Para que, pela Igreja, a multiforme sabedoria de Deus seja agora conhecida dos principados e potestades nos lugares celestiais.” Paulo nos lembra que o evangelho não é só boas-novas para pecadores — é também uma aula para o céu: anjos aprendem mais de Deus olhando para o que Ele faz em nós (1Pe 1:12; 1Co 4:9). A sabedoria multiforme brilha onde ninguém esperava: Deus salva sem desonrar sua lei, satisfazendo justiça e exaltando misericórdia quando “Cristo… foi traspassado pelas nossas transgressões” e “feito pecado por nós” para que fôssemos feitos justiça de Deus nele (Is 53:5–6; 2Co 5:21; Rm 3:24–26); assim “misericórdia e verdade se encontraram; justiça e paz se beijaram” (Sl 85:10). Essa sabedoria se vê na reconciliação improvável de judeus e gentios num só corpo (Ef 2:14–16; 3:6), na liberdade de acesso ao Pai “pelo Filho, no Espírito” (Ef 2:18; Hb 10:19–22), e na vitória de Cristo que expôs os poderes ao desprezo público (Cl 2:15), enquanto a Igreja, como “pedras vivas”, cresce em santidade para ser morada de Deus (1Pe 2:5; Ef 2:21–22). Devocionalmente, isso nos chama a três respostas: adoração humilde — “Ó profundidade da riqueza, tanto da sabedoria como do conhecimento de Deus!” (Rm 11:33; 1Tm 3:16); unidade prática — perdoando, servindo e guardando “a unidade do Espírito pelo vínculo da paz”, porque a nossa comunhão é a vitrine da sabedoria divina (Ef 4:1–6; Jo 13:34–35); e missão perseverante — como “embaixadores” da reconciliação, vivendo de modo que “vejam as vossas boas obras e glorifiquem ao Pai” (2Co 5:18–20; Mt 5:16). Se o céu observa, que encontre em nós o reflexo do Cordeiro: um povo que crê e descansa na sua obra (Jo 3:14–16), que ora como casa de oração para todos os povos (Is 56:7), e que, no meio da luta espiritual (Ef 6:12–18), evidencia a beleza do Deus que “fez resplandecer em nossos corações a luz do conhecimento da glória de Deus na face de Cristo” (2Co 4:6).

B. Quando a oração alarga o coração: habitar, amar e transbordar (Efésios 3:14–19)

Paulo se ajoelha — gesto raro para um judeu — e nos puxa de joelhos com ele diante “do Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, de quem toma o nome toda família, no céu e na terra”. Ele ora porque sabe que, no Reino, as maiores mudanças começam de portas fechadas (Mt 6:6) e porque o Pai “é misericordioso e compassivo” (Êx 34:6). O pano de fundo é a tribulação (Ef 3:1,13), mas a via é a oração, e o destino são as riquezas de Deus. Primeiro pedido: sermos “fortalecidos com poder, pelo seu Espírito, no homem interior”. Sem esse sopro, o melhor esforço é vela sem vento (Zc 4:6; Is 40:29–31); com Ele, o desânimo cede e a vontade se reaquece (Rm 8:26–27). É poder “segundo as riquezas da sua glória” — medida não é a nossa fraqueza, é a plenitude dEle (Sl 63:2; Ef 1:19).

Segundo pedido: “que Cristo habite, pela fé, nos vossos corações”. Não uma visita, mas morada (Jo 14:23). A fé abre a porta, retém o Hóspede e dá-nos consciência da sua presença (Cl 2:6–7; Gl 2:20). Essa habitação se alimenta de Palavra e obediência (Cl 3:16; Jo 14:21), e floresce na comunhão: “com todos os santos” aprendemos a respirar o mesmo ar do céu (Hb 10:24–25). Terceiro pedido: “radicados e alicerçados em amor”. A imagem é dupla: árvore com raízes profundas (Jr 17:7–8; Sl 1:3) e edifício em rocha firme (Sl 18:2). O amor de Deus, derramado pelo Espírito (Rm 5:5), nos estabiliza quando ventos contrários batem e perseguições ameaçam.

Então vem o cume: “compreender… a largura, o comprimento, a altura e a profundidade, e conhecer o amor de Cristo, que excede todo entendimento”. Largura que alcança judeus e gentios, amigos e inimigos (Ef 2:14–16; Lc 23:34); comprimento que vem “de eternidade a eternidade” (Sl 103:17; Jo 13:1); profundidade que desce até a cruz e ao “inferno” da nossa culpa (Sl 130:1; Fp 2:6–8); altura que nos assenta “nos lugares celestiais em Cristo” (Ef 2:6; Cl 3:1–4). Conhecer o que excede conhecimento não é paradoxo vazio; é experiência: quanto mais olhamos para a cruz (Is 53:5–6; 2Co 5:21), mais o coração se dilata (1Jo 4:9–10,19). E isso nos leva ao pedido-final: “serdes tomados de toda a plenitude de Deus”. Não a plenitude essencial (que é só dEle; Cl 2:9), mas a comunicada: caráter que reflete o Pai (2Pe 1:3–4; Mt 5:48), fruto do Espírito em maturidade (Gl 5:22–23), vida saturada de Cristo (Jo 1:16; 2Co 3:18). O caminho? Mais vislumbre do amor gera mais semelhança (2Co 5:14): contemplação que transforma.

Pastoralmente, Efésios 3:14–19 nos chama a pedir grande e a viver alto. Curvados, pedimos o impossível: força no interior, Cristo em casa, raízes profundas, percepção ampla do seu amor, plenitude que transborda. Respondemos com práticas simples e fiéis: entrar com ousadia ao trono da graça (Hb 4:16); meditar na Palavra até que o Cristo da Palavra aqueça o coração (Lc 24:32); obedecer no pequeno (Jo 14:21); permanecer na Videira (Jo 15:4–5); andar em amor (Ef 5:1–2); e fazê-lo “com todos os santos”, porque a largura do amor se aprende junto. E, quando nos sentirmos aquém, lembramos o que vem a seguir: “Àquele que é poderoso para fazer infinitamente mais do que tudo quanto pedimos ou pensamos…” (Ef 3:20–21). O Pai ouve, o Filho habita, o Espírito fortalece — e a oração abre caminho para as mais ricas bênçãos.

C. Muito além do que pedimos ou pensamos: orar grande, crer fundo, glorificar sempre (Efésios 3:20–21)

Paulo encerra sua oração com um “agora” que vira doxologia: “Àquele que é poderoso para fazer infinitamente mais do que tudo quanto pedimos ou pensamos, conforme o poder que opera em nós, a ele seja a glória na Igreja e em Cristo Jesus, por todas as gerações, pelos séculos dos séculos. Amém.” O coração do texto é este: Deus não só pode — Ele quer, e já está agindo. Seu “poder que opera em nós” é o mesmo que ressuscitou Jesus dentre os mortos (Ef 1:19–20), vivifica nosso interior (Ef 3:16; Rm 8:11), sustenta-nos na fraqueza (2Co 12:9) e realiza em nós “tanto o querer como o efetuar” (Fp 2:13). Quando oramos, não conversamos com um ídolo impotente; falamos com Aquele para quem “não haverá impossíveis” (Lc 1:37), cujos pensamentos e caminhos são mais altos (Is 55:8–9), e que já provou sua generosidade não poupando o próprio Filho (Rm 8:32).

“Infinitamente mais do que pedimos ou pensamos” corrige nossas orações acanhadas. Deus perdoa além da culpa que confessamos (Is 1:18; 1Jo 1:9), supre além do que calculamos (Fp 4:19), e conduz além do que imaginamos (1Co 2:9–10). Abraão creu e “não duvidou… dando glória a Deus”, certo de que Deus era poderoso para cumprir (Rm 4:19–21). Ana pediu um filho e recebeu mais do que uma resposta: recebeu um profeta que abençoaria a nação (1Sm 1:27–28; 3:19–21). Os cinco pães e dois peixes se multiplicaram com cestos sobrando (Jo 6:11–13). O padrão é este: Deus excede. Por isso Ele nos convida: “Abre bem a tua boca, e eu a encherei” (Sl 81:10); “Clama a mim… anunciar-te-ei coisas grandes e ocultas” (Jr 33:3); “Se permanecerdes em mim… pedireis o que quiserdes, e vos será feito” (Jo 15:7; 16:23–24). Pedimos “segundo a sua vontade” (1Jo 5:14–15), mas a vontade revelada é ampla para nossa santificação, perseverança e missão (1Ts 4:3; Mt 28:18–20).

Esse poder que excede não é só para fora (portas que se abrem, mares que se dividem), é também — e primeiro — para dentro: desejos realinhados, pecados vencidos, amor aceso. É milagre ver um coração deixar a velha vida e tornar-se “nova criação” (2Co 5:17); é milagre manter uma “brasa” acesa em meio a um “oceano” de tentações (Gl 5:16–17); é milagre perseverar “firmes e inabaláveis” (1Co 15:58). O fato de você crer, perdoar, servir e levantar de novo após cair já é sinal de que a onipotência está em operação em você (Cl 1:29). Por isso, não “limitem a Deus” (Sl 78:41) com incredulidade que travou Nazaré (Mc 6:5–6); alinhem pedidos e imaginações com as promessas e o caráter de Deus (Sl 119:49–50; 2Pe 1:4).

O alvo final é glória, e o palco é a Igreja “por Cristo Jesus”. Toda boa dádiva desce por meio do Filho (Jo 1:16; Tg 1:17) e toda nossa resposta sobe por Ele: “ofereçamos sempre… sacrifício de louvor… por meio de Jesus Cristo” (Hb 13:15; 1Pe 2:5). Glorificamos a Deus confiando (como Abraão; Rm 4:20), obedecendo (Jo 15:8), agradecendo (Sl 103:1–5) e permanecendo unidos, porque a unidade exibe a multiforme sabedoria de Deus aos céus e à terra (Ef 3:10; 4:1–6; Jo 13:34–35). E essa glória é geracional: “uma geração louvará as tuas obras à outra geração” (Sl 145:4); “seremos teu povo… de geração em geração” (Sl 79:13). Ensinar filhos, discipular novos crentes, contar os feitos do Senhor é cumprir Efésios 3:21 na prática (Dt 6:6–9; 2Tm 2:2).

Aplicações pastorais: (1) Ore grande. Leve a Deus pecados concretos para perdão, áreas específicas para transformação, causas do Reino para avanço — e espere mais do que pediu (Ef 3:20; 2Co 9:8). (2) Agradeça muito. A doxologia acompanha a súplica (Fp 4:6–7; Sl 50:23). Transforme respostas em memória e louvor (Sl 116:1–2,12–14). (3) Espere o “acima do que pensamos” também no meio da dor: ainda que a figueira não floresça, “todavia” (Hc 3:17–19); Ele é “poderoso para vos guardar de tropeçar” (Jd 24–25). (4) Faça disso um projeto comunitário: como igreja, peçam coisas dignas de Deus — santidade, avivamento, reconciliação, justiça e paz na cidade (Is 62:6–7; At 4:29–31) — e devolvam a Ele a glória “pelos séculos dos séculos” (Ap 5:13; Rm 11:33–36).

No fim, só cabe o Amém: “Tua, SENHOR, é a grandeza, e o poder, e a glória, e a vitória, e a majestade” (1Cr 29:11). Se Ele é capaz de fazer infinitamente mais e já está operando em nós, então pedimos com ousadia, pensamos com imaginação santificada, trabalhamos com esperança — e adoramos sem cessar. A Ele, na Igreja e em Cristo Jesus, toda glória, agora e sempre. Amém.

X. Concordância Bíblica Comentada

Em Efésios 3:1 Paulo se apresenta e localiza o seu sofrimento dentro do plano de Deus: “Por esta causa eu, Paulo, o prisioneiro de Cristo Jesus por amor de vós, gentios…”. O “eu, Paulo” não é vaidade; é assinatura pastoral e responsabilidade apostólica. Quando ele escreve “eu, Paulo, vos rogo” na linguagem mansa de Cristo (2 Coríntios 10:1) e diz “eu, Paulo, vos digo” ao corrigir a confiança na carne (Gálatas 5:2), ele está fazendo aqui o mesmo: assumindo pessoalmente o encargo de falar como enviado. “Prisioneiro de Cristo Jesus” não é metáfora. Ele volta a essa identidade em Efésios 4:1 (“eu, prisioneiro no Senhor”) e Efésios 6:20 (“embaixador em cadeias”), e o próprio Senhor havia avisado que seus servos seriam entregues a prisões por causa do nome (Lucas 21:12). O livro de Atos dos Apóstolos registra a cadeia concreta: a prisão em Jerusalém (Atos 21:33), o testemunho dado “nestas cadeias” desejando que todos fossem como ele “exceto por estas cadeias” (Atos 26:29), a defesa em Roma onde ele explica estar algemado “pela esperança de Israel” (Atos 28:17–20). Ele próprio lista “prisões” entre seus sofrimentos (2 Coríntios 11:23). Em Filipos, suas algemas se tornaram plataforma: “minhas cadeias se tornaram conhecidas em Cristo em todo o pretório” e até motivaram outros a pregar — alguns por amor, outros por inveja (Filipenses 1:7; 1:13–16). Em Colossos, ele interpreta as dores: “completo na minha carne o que resta das aflições de Cristo… em favor do seu corpo” (Colossenses 1:24); pede oração “para que Deus nos abra porta à palavra” embora esteja preso (Colossenses 4:3) e encerra com a marca d’água: “lembrai-vos das minhas algemas” (Colossenses 4:18). A Timóteo ele diz: “não te envergonhes… nem de mim, que sou prisioneiro dele” (2 Timóteo 1:8); agradece a Onesíforo por não se envergonhar de suas cadeias (2 Timóteo 1:16); confessa “sofro algemas como malfeitor; mas a palavra de Deus não está presa” (2 Timóteo 2:9). A Filemom ele escreve como “Paulo, prisioneiro de Cristo Jesus” (Filemom 1:1) e, “já velho, e agora também prisioneiro” (Filemom 1:9). A igreja toda sabe que a prisão é parte da rota do testemunho: “o diabo lançará alguns de vós na prisão” (Apocalipse 2:10). Tudo isto explica a frase “por amor de vós, gentios”: ele sofre por causa do evangelho que os inclui. Se ainda pregasse circuncisão, “por que seria perseguido?” (Gálatas 5:11); mas, porque anuncia Cristo para as nações, apanha. Mesmo assim, ele se alegra em sofrer “por vós” (Colossenses 1:24), enquanto outros tentam impedi-lo de “falar aos gentios para que se salvem”, enchendo “a medida de seus pecados” (1 Tessalonicenses 2:15–16); e ele persevera “por amor dos eleitos” para que alcancem a salvação (2 Timóteo 2:10). As referências bíblicas ampliam esse pano de fundo: Micaías foi lançado no cárcere por falar a verdade (1 Reis 22:27); o SENHOR “ouve os necessitados e não despreza os seus cativos” (Salmos 69:33); Jeremias experimentou restrição (Jeremias 36:5). Jesus chama seus discípulos à perfeição do amor do Pai (Mateus 5:48), e é justamente para apresentar os gentios perfeitos em Cristo que Paulo se gasta. Em Filipos ele e Silas foram açoitados e presos (Atos 16:23); na guarda romana, recados circulam de cela em cela (Atos 23:18); em Roma ele repete: “por causa desta esperança estou com esta cadeia” (Atos 28:20). Teologicamente, Cristo “foi ministro da circuncisão por causa da verdade de Deus” e Paulo, “ministro de Cristo Jesus entre os gentios, exercendo o sacerdócio do evangelho… para que a oferta dos gentios seja agradável” (Romanos 15:8; 15:16). A sua vida confirma “em prisões” o que ele já dissera (2 Coríntios 6:5): Deus revelou o Filho para que ele o anunciasse “entre os gentios” (Gálatas 1:16); por isso pede que os efésios não desanimem “das minhas tribulações por vós” (Efésios 3:13). “Por esta causa também sofro”, mas não me envergonho (2 Timóteo 1:12); ele até desejou manter Onésimo consigo “para me servir nas cadeias do evangelho” (Filemom 1:13). A comunidade, por sua vez, “se compadeceu dos que estavam presos” e sabe que “uns experimentaram escárnios e açoites, e até cadeias e prisões” (Hebreus 10:34; 11:36). Assim, cada referência ajuda a ler Efésios 3:1: Paulo está preso porque Cristo o enviou aos gentios; e está preso “de Cristo” — suas correntes servem ao Rei e ao bem da igreja.

Em Efésios 3:2 Paulo passa do fato (prisão) ao encargo (mordomia): “se é que tendes ouvido da dispensação da graça de Deus, que para convosco me foi dada”. O “se é que ouvistes” lembra que a fé dos efésios tem um conteúdo já conhecido: “se é que o ouvistes e nele fostes instruídos” (Efésios 4:21); “ouvistes qual foi, outrora, o meu procedimento no judaísmo” (Gálatas 1:13) e como Deus o transformou; Paulo já “ouviu da fé” e do amor deles (Colossenses 1:4), e o evangelho “chegou até vós, assim como em todo o mundo… desde o dia em que ouvistes” (Colossenses 1:6). Ele foi constituído “pregador, apóstolo e mestre dos gentios” (2 Timóteo 1:11), por isso os efésios de fato “ouviram” essa história e esse evangelho. “Dispensação” aqui é mordomia, administração de um tesouro que não é dele. O próprio contexto explica: “a mim, o mínimo de todos os santos, me foi dada esta graça de anunciar entre os gentios as insondáveis riquezas de Cristo” (Efésios 3:8), e “a cada um de nós foi dada a graça conforme a medida do dom de Cristo” (Efésios 4:7). No caminho de Damasco, o Senhor definiu essa mordomia: Paulo seria “vaso escolhido para levar o meu nome perante gentios” (Atos 9:15); depois, o Espírito disse: “separai-me Barnabé e Saulo para a obra” (Atos 13:2); quando os judeus rejeitam, os apóstolos afirmam: “voltamo-nos para os gentios” (Atos 13:46); e o Ressuscitado lhe disse: “eu te enviarei para longe, aos gentios… livrar-te-ei… para lhes abrires os olhos” (Atos 22:21; 26:17–18). Paulo entende sua tarefa como dom e ofício: “por meio dele recebemos graça e apostolado para a obediência da fé entre todas as nações” (Romanos 1:5); “falo convosco, gentios: pois que eu sou apóstolo dos gentios, glorifico o meu ministério” (Romanos 11:13); e, “pela graça que me foi dada”, exorta e edifica (Romanos 12:3). Ele descreve sua mordomia como serviço sacerdotal: “pela graça que me foi dada por Deus, que eu seja ministro de Cristo Jesus entre os gentios, ministrando como sacerdote o evangelho de Deus, para que a oferta dos gentios seja aceitável, santificada pelo Espírito Santo” (Romanos 15:15–16). Aos coríntios, ele se define “ministro de Cristo e despenseiro dos mistérios de Deus” (1 Coríntios 4:1); confessa que, “se administro de boa vontade, tenho recompensa; se de má vontade, apenas uma dispensação me é confiada” (1 Coríntios 9:17) — e, por isso, “faço-me tudo para com todos, para por todos os meios chegar a salvar alguns” (1 Coríntios 9:22). Em Gálatas, ele diz que Deus o separou desde o ventre e “aprouve revelar seu Filho em mim, para que eu o pregasse entre os gentios” (Gálatas 1:15–16); e os apóstolos reconheceram: “aquele que operou em Pedro para o apostolado da circuncisão, operou também em mim para com os gentios”, dando-lhe “a destra de comunhão” (Gálatas 2:8–9). Em Colossenses, Paulo fala explicitamente em “dispensação”: “da qual fui feito ministro, segundo a dispensação de Deus, que me foi concedida para convosco, para cumprir a palavra de Deus, o mistério… agora manifestado… que é Cristo em vós, a esperança da glória” (Colossenses 1:25–27). Em linguagem pastoral, ele diz a Timóteo que lhe foi confiado “o evangelho da glória do Deus bendito” (1 Timóteo 1:11) e que foi “posto como pregador e apóstolo… mestre dos gentios” (1 Timóteo 2:7; repetir em Segunda a Timóteo 1:11 confirma a mesma comissão). As recíprocas amarram tudo: Jesus ora ao Pai dizendo “as palavras que me deste eu lhes dei” (João 17:8) — o Filho recebeu e entregou; Paulo, “segundo a graça de Deus que me foi dada, como sábio arquiteto, lancei o fundamento” (1 Coríntios 3:10); e o próprio versículo seguinte em Efésios dirá: “do qual fui feito ministro, conforme o dom da graça de Deus” (Efésios 3:7). Assim, cada referência esclarece Efésios 3:2: a igreja de Éfeso já ouvira que a graça não é só o conteúdo da mensagem, mas também a outorga de um encargo; Deus confiou a Paulo a administração de um tesouro — o evangelho para os gentios — e ele o está distribuindo, mesmo algemado, “para convosco”.

Em Efésios 3:3 Paulo afirma: “como por revelação me foi manifestado o mistério (conforme acima em poucas palavras vos escrevi)”. O eixo é “por revelação”. Ele já havia orado para que Deus lhes desse “espírito de sabedoria e de revelação” (Efésios 1:17), e a sua própria vocação veio assim: no templo, “caí em êxtase” (Atos 22:17) e ouvi do Senhor: “eu te enviarei para longe, aos gentios” (Atos 22:21); até os seus acusadores, sem o perceber, resumiram o caso: “quem sabe, lhe falou um espírito ou um anjo” (Atos 23:9). Diante de Agripa, Paulo narra o encontro: “Eu sou Jesus… para isto te apareci… não fui desobediente à visão celestial” (Atos 26:15–19). Essa revelação não é psicológica, é obra do Espírito: “o que olho não viu… Deus no-lo revelou pelo Espírito” (1 Coríntios 2:9–10). Por isso ele insiste que “o evangelho por mim anunciado não é segundo homem… mas por revelação de Jesus Cristo” (Gálatas 1:12); Deus “aprouve revelar o seu Filho em mim, para que eu o pregasse entre os gentios… depois, três anos, subi a Jerusalém para ver a Cefas… e vi também a Tiago” (Gálatas 1:16–19): primeiro revelação, depois confirmação fraterna. O conteúdo dessa revelação é “o mistério”: Paulo retomará em Efésios 3:9; em Romanos 11:25 chama de “mistério” o endurecimento parcial de Israel “até que entre a plenitude dos gentios”; em Romanos 16:25 fala do “mistério guardado em silêncio desde tempos eternos, mas agora manifestado”; em Colossenses 1:26–27 identifica-o: “o mistério… agora manifesto aos seus santos… Cristo em vós, a esperança da glória”, explicitamente entre os gentios. Quando acrescenta “como acima, em poucas palavras, vos escrevi”, ele aponta ao que já dissera: em Efésios 1:9–11 revelou “o mistério da sua vontade”, recapitular tudo em Cristo; em Efésios 2:11–22 mostrou, na prática, esse mistério: gentios e judeus feitos “um novo homem” e “um só corpo”, casa de Deus. Assim, o “afore” (“pouco antes”) é uma chamada para reler o já escrito e reconhecer a coerência do tema.

As referências bíblicas cercam a mesma ideia de conhecimento dado por Deus e não inventado. Jesus diz: “a vós é dado conhecer os mistérios do Reino” (Mateus 13:11) e, ao citar o Salmo da pedra rejeitada, conclui: “isto procede do Senhor e é maravilhoso aos nossos olhos” (Mateus 21:42) — maravilha percebida por revelação. “A vós é dado conhecer os mistérios” reaparece (Lucas 8:10). Paulo lembra que Deus realiza uma “obra” que muitos “não crerão, ainda que alguém lha conte” (Atos 13:41). É nessa chave que ele se entende: “dispenseiros dos mistérios de Deus” (Primeira aos Coríntios 4:1); e pergunta: “que tens tu que não tenhas recebido?” (1 Coríntios 4:7), humilhando qualquer pretensão de originalidade humana. Até dons de línguas “falam mistérios” “no Espírito” (1 Coríntios 14:2); e, quando trata da ressurreição, diz: “Eis que vos digo um mistério” (1 Coríntios 15:51). O seu evangelho “não é segundo homem” (Gálatas 1:11), e ele pede oração para “me ser dada a palavra, para… fazer conhecido o mistério do evangelho” (Efésios 6:19). A igreja confessa: “grande é o mistério da piedade” (1 Timóteo 3:16). Até o modo de escrever ecoa Paulo: “por meio de Silvano… vos escrevi em poucas palavras” (1 Pedro 5:12) — o mesmo “pouco antes vos escrevi” de Efésios 3:3. Tudo converge para a fonte: “Revelação de Jesus Cristo” (João 1:1), até o dia em que “se cumprirá o mistério de Deus” (João 10:7).

Em Efésios 3:4 Paulo explica a finalidade pastoral do que escreveu: “pelo que, quando ledes, podeis perceber o meu entendimento no mistério de Cristo.” Ele espera que a leitura conduza à percepção. Isso casa com o ensino de Jesus: “a vós é dado conhecer os mistérios do Reino” (Evangelho segundo Mateus 13:11) e com o modo como Paulo ministra: entre os “perfeitos”, fala “sabedoria… de Deus, em mistério” (1 Coríntios 2:6–7); mas adverte que “entender todos os mistérios” sem amor nada aproveita (1 Coríntios 13:2); e, embora não tenha brilho retórico, “não sou inábil no conhecimento” (2 Coríntios 11:6) — o que ele pede aos efésios é que reconheçam essa compreensão ao relerem sua carta. O “mistério de Cristo” já fora anunciado: Deus “nos deu a conhecer o mistério da sua vontade” (Efésios 1:9); Paulo chamará de “grande mistério” a união Cristo–igreja (Efésios 5:32) e pedirá ousadia para “fazer conhecido o mistério do evangelho” (Efésios 6:19). O nascimento do Salvador é a boa notícia que põe o mistério em movimento na história (Lucas 2:10–11) e Jesus, de novo, fala dos “mistérios do Reino” (Evangelho segundo Lucas 8:10). Como “despenseiro dos mistérios” (Primeira aos Coríntios 4:1), Paulo quer levar a igreja “ao pleno entendimento… do mistério de Deus, Cristo” (Colossenses 2:2) e pede “porta da palavra para falar do mistério de Cristo” (Colossenses 4:3). Os diáconos devem “reter o mistério da fé” (1 Timóteo 3:9) e a confissão volta: “grande é o mistério da piedade” (1 Timóteo 3:16). Os paralelos recíprocos complementam: o escriba instruído “tira do seu tesouro coisas novas e velhas” (Mateus 13:52) — exatamente o que Paulo faz, conectando promessa antiga e revelação nova; não quer que ignorem “este mistério” sobre Israel e os gentios (Romanos 11:25); exorta a pensar “segundo a medida de fé” (Romanos 12:3) e lembra que “temos a mente de Cristo” (1 Coríntios 2:16). Até os dons precisam ser administrados “com revelação, ciência, profecia, doutrina” para “aproveitar” (1 Coríntios 14:6), e a vida apostólica é marcada por “ciência” (2 Coríntios 6:6): leitura que discerne Cristo no plano de Deus.

Em Efésios 3:5 Paulo contrasta épocas: “o qual, em outras gerações, não foi dado a conhecer aos filhos dos homens, como, agora, foi revelado aos seus santos apóstolos e profetas, pelo Espírito.” “Em outras gerações” inclui tanto o silêncio relativo quanto os vislumbres. O próprio versículo 9 dirá que esse mistério “desde os séculos esteve oculto em Deus” (Efésios 3:9). Jesus havia dito: “muitos profetas e justos desejaram ver o que vedes, e não viram” (Mateus 13:17); “reis e profetas desejaram ver… e não viram” (Lucas 10:24). Pedro precisou de revelação para cruzar a fronteira: “a mim Deus me mostrou que a nenhum homem devo chamar comum ou imundo” (Atos 10:28) — o próprio tema de Efésios 2–3. Paulo fecha Romanos declarando o evangelho “segundo a revelação do mistério guardado em silêncio… e agora manifestado” (Romanos 16:25). Esse “agora” é explicado como “manifesto pela aparição de nosso Salvador” (2 Timóteo 1:10), e, por isso, Paulo foi “constituído pregador, apóstolo e mestre dos gentios” (2 Timóteo 1:11). Deus “manifestou, a seu tempo, a sua palavra, pela pregação” (Tito 1:1–3). Os santos do passado “não alcançaram a promessa” (Hebreus 11:39–40), pois Deus “havia provido algo melhor para nós”; os profetas “indagaram… e lhes foi revelado que não para si mesmos, mas para vós, ministravam estas coisas… agora vos foram anunciadas pelo Espírito Santo enviado do céu” (1 Pedro 1:10–12). Quanto ao “como, agora”, Paulo liga a revelação à estrutura que o próprio Cristo colocou: “fundamentados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas” (Efésios 2:20); “ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas… para edificação” (Efésios 4:11–12). Jesus prometeu: “eis que vos envio profetas, sábios e escribas” (Mateus 23:34); “a Sabedoria de Deus disse: enviar-lhes-ei profetas e apóstolos” (Lucas 11:49). Deus, de fato, “pôs na igreja primeiramente apóstolos, em segundo lugar profetas” (1 Coríntios 12:28–29); os crentes são exortados a lembrar “os mandamentos… dos apóstolos” (2 Pedro 3:2) e “as palavras que… foram preditas pelos apóstolos” (Judas 1:17). O agente é “pelo Espírito”: Simeão “fora revelado pelo Espírito Santo” que veria o Cristo, e “movido pelo Espírito, foi ao templo” (Lucas 2:26–27); Jesus prometeu que “o Consolador… vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar” (João 14:26) e que “o Espírito da verdade vos guiará em toda a verdade” (João 16:13). Foi assim com Pedro: “o Espírito lhe disse: eis que três homens te buscam; levanta-te… vai com eles” (Atos 10:19–20), caminho que desemboca na confissão de Atos 10:28. Na igreja, “a um, pelo Espírito, é dada palavra de sabedoria; a outro, palavra de conhecimento… a outro, profecia…” (1 Coríntios 12:8–10): é o mesmo Espírito revelando o mesmo mistério, agora com nitidez apostólica.

As “recíprocas” de Efésios 3:5 abrem a amplitude bíblica desse “agora”. Jó pede que Deus “te mostre os segredos da sabedoria” (Jó 11:6); Isaías promete que Deus “aniquilará… o véu” sobre os povos (Isaías 25:7) e que “reis… verão o que nunca lhes foi contado” (Isaías 52:15); “nações” que não conheciam virão (Isaías 55:5); “desde a antiguidade não se ouviu… o que Deus preparou” (Isaías 64:4), texto que Paulo ecoa em Primeira aos Coríntios 2:9–10: agora o Espírito revelou. Daniel confessa: “Ele revela o profundo e o escondido” (Daniel 2:22). O Servo é dado às nações (Evangelho segundo Mateus 12:18). Jesus “abrirá em parábolas coisas ocultas desde a fundação do mundo” (Mateus 13:35) e diz a Pedro: “não foi carne e sangue quem to revelou, mas meu Pai” (Mateus 16:17). Até a parábola dos trabalhadores da undécima hora (Mateus 20:7) ilustra a irrupção tardia e generosa do plano de Deus no “tempo oportuno”. No testemunho, “não sois vós os que falais, mas o Espírito Santo” (Evangelho segundo Marcos 13:11). Jesus chama amigos, “porque tudo quanto ouvi de meu Pai vos dei a conhecer” (Evangelho segundo João 15:15). A promessa do Espírito “é para vós, para vossos filhos e para todos os que estão longe” (Atos dos Apóstolos 2:39); “o dom do Espírito Santo foi derramado também sobre os gentios” (Atos dos Apóstolos 10:45), e a igreja conclui: “Deus concedeu… arrependimento para a vida aos gentios” (Atos dos Apóstolos 11:18). Paulo, “separado para o evangelho de Deus” (Carta aos Romanos 1:1), fala de dons “segundo a graça” (Carta aos Romanos 12:6); reafirma que “Deus no-las revelou pelo Espírito” (Primeira aos Coríntios 2:10). Deus “revelou seu Filho” em Paulo (Gálatas 1:16) e, no resultado, “não há judeu nem grego” (Gálatas 3:28). Voltam as orações de Efésios por “revelação” (Efésios 1:17), a promessa de mostrar “nas eras vindouras a suprema riqueza da sua graça” (Efésios 2:7) e o fato de que os “que estavam longe” foram feitos “perto” (Efésios 2:13) — tudo consequência do mistério aberto. “Deu a si mesmo em resgate por todos, para servir de testemunho a seu tempo” (1 Timóteo 2:6); “grande é o mistério da piedade… pregado entre os gentios” (1 Timóteo 3:16); Deus “manifestou a sua palavra, pela pregação” (Tito 1:3); Pedro se apresenta como “apóstolo” receptor e transmissor (2 Pedro 1:1). O céu, por fim, celebra com “santos, apóstolos e profetas” (Apocalipse 18:20), e a cidade final repousa sobre “os doze fundamentos… dos doze apóstolos do Cordeiro” (Apocalipse 21:14).

Deste modo, cada referência bíblica — vocação de Paulo, definição do “mistério”, contraste de épocas, agência do Espírito e autoridade apostólico-profética — converge para a leitura precisa de Efésios 3:3–5: Deus rasgou o véu do seu plano, revelou a Paulo e, agora, por meio dos seus apóstolos e profetas, faz a igreja entender, pela leitura e pelo mesmo Espírito, o segredo anunciado: Cristo, em quem judeus e gentios são feitos um, e em quem “todas as coisas” se cumprem.

Em Efésios 3:6 Paulo condensa o conteúdo do “mistério” já mencionado: “os gentios são coerdeiros, membros do mesmo corpo e coparticipantes da promessa em Cristo Jesus por meio do evangelho”. Quando ele diz “os gentios”, retoma o que já expôs: em Efésios 2:13–22 os que estavam “longe” foram feitos “perto”, derrubou-se a parede divisória e formou-se “um só homem”. A Carta aos Romanos 8:15–17 explica o estatuto dessa inclusão: recebemos “espírito de adoção”, e, se filhos, “também herdeiros; herdeiros de Deus e coerdeiros com Cristo”, logo não há herança de segunda classe para gentios. Gálatas 3:26–29 afirma que, pela fé, todos são “filhos de Deus em Cristo Jesus… não há judeu nem grego”; se somos de Cristo, então somos “descendência de Abraão, herdeiros segundo a promessa”. Gálatas 4:5–7 descreve a mesma adoção culminando no clamor “Aba, Pai” e no resultado: “já não és escravo, porém filho; e, sendo filho, também herdeiro por Deus”. A segunda cláusula — “membros do mesmo corpo” — acentua a união orgânica. Efésios 4:15 diz que, “seguindo a verdade em amor”, crescemos “em tudo naquele que é a cabeça, Cristo”, e Efésios 4:16 mostra o corpo “bem ajustado e consolidado”, sinal de que judeus e gentios agora funcionam como um organismo. Efésios 5:30 aprofunda: “somos membros do seu corpo”, linguagem que impede qualquer segmentação étnica. A Carta aos Romanos 12:4–5 ensina que, sendo muitos, “formamos um só corpo em Cristo, e membros uns dos outros”, e a Primeira Carta aos Coríntios 12:12 compara essa unidade à de um corpo humano; a 1 Coríntios 12:27 aplica: “vós sois corpo de Cristo e, individualmente, membros desse corpo”. Colossenses 2:19 lembra que a coesão vem de Cristo, “da cabeça”, de quem “todo o corpo, suprido e bem vinculado, cresce” — por isso “o mesmo corpo” não é só uma metáfora, é um milagre de ligação vital. A terceira cláusula — “coparticipantes da promessa” — diz que gentios compartilham tanto o conteúdo quanto o selo da promessa. Gálatas 3:14 declara que “a bênção de Abraão” alcançou os gentios e que recebemos “a promessa do Espírito” pela fé; a Primeira Carta de João 1:3 chama isso de “comunhão com o Pai e com seu Filho”, que o evangelho cria; e a Primeira Carta de João 2:25 define a promessa em seu núcleo: “a vida eterna”.

As referências bíblica mostram como toda a Escritura preparou esse triplo “co-”. Gênesis 9:27 prevê Jafé “habitando nas tendas de Sem”, imagem ancestral de gentios dividindo a mesma casa da aliança. Números 9:10 registra que até o impuro ou o viajante “de longe” receberiam provisão no culto pascal, prenúncio de que Deus abre caminho até para quem não podia aproximar-se. Isaías 19:23 descreve uma estrada entre Egito e Assíria, e com Israel “serão uma bênção no meio da terra”, retrato de povos antes inimigos agora unidos sob Deus. Isaías 25:7 anuncia que Deus removerá “o véu… lançado sobre todos os povos”, isto é, a barreira que impedia ver e entrar nas promessas. Ezequiel 16:61 fala de “tomarás tuas irmãs… por filhas”, sem o antigo pacto, cena de incorporação imerecida; Ezequiel 47:22 determina “herança ao estrangeiro” dentro das tribos — coerdeiros por decreto divino. O Evangelho segundo Mateus 8:11 antecipa “muitos do oriente e do ocidente” à mesa com Abraão, Isaque e Jacó; Mateus 13:17 lembra que profetas desejaram ver esse dia; e Mateus 20:7 e 20:12, na parábola dos trabalhadores, defendem o salário igual aos da última hora, metáfora do direito pleno dos que chegaram tardiamente — os gentios. Lucas 13:29 repete a imagem de povos de todos os quadrantes sentando-se no Reino. Em Atos 10:11 Pedro vê o lençol com animais, sinal de que a distinção cerimonial acabou; Atos 10:28 o próprio Pedro confessa ter aprendido a não chamar ninguém de comum; Atos 10:35 conclui: “em toda nação aquele que o teme… é aceito”; Atos 15:9 sela: Deus “não fez distinção”; Atos 22:21 registra o envio específico “para longe, aos gentios”. Romanos 3:29 pergunta se Deus é Deus somente dos judeus; evidentemente, também dos gentios. Romanos 8:17 volta ao “coerdeiros”; Romanos 9:24 diz que Deus chamou “não só dentre os judeus, mas também dentre os gentios”; Romanos 10:12 repete: “não há distinção”; Romanos 11:17 descreve o “enxerto” na oliveira, gentios participando “da raiz e da seiva” — a própria ideia de coparticipação. A Primeira Carta aos Coríntios 1:9 fala de sermos “chamados à comunhão” do Filho; 1 Coríntios 10:17 usa a Ceia para afirmar: “sendo muitos, somos um só pão, um só corpo”; 1 Coríntios 12:13 explica o como: “em um só Espírito fomos todos batizados em um corpo… quer judeus, quer gregos”. A Carta aos Gálatas 2:12 narra a separação de mesas em Antioquia, um antievangelho que Efésios 3:6 corrige; Gálatas 3:29, de novo, chama os de Cristo de “herdeiros segundo a promessa”. Efésios 2:19 resume: “já não sois estrangeiros… mas concidadãos e da família de Deus”. Filipenses 1:5 chama isso de “comunhão no evangelho”; Colossenses 1:12 dá graças “que nos fez idôneos à herança dos santos”; Colossenses 3:11 proclama: “Cristo é tudo em todos”. 1 Timóteo 6:2 lembra que crentes “participam do benefício”, linguagem de coparticipação que atravessa o Novo Testamento; 2 Timóteo 1:1 fala da “promessa da vida” em Cristo — a promessa comum; Tito 2:11 afirma que a graça “se manifestou trazendo salvação a todos”, base universal para a inclusão; Filemom 1:17 pede que Onésimo seja recebido “como a mim mesmo”, a lógica fraterna do mesmo corpo; Hebreus 1:14 chama os anjos de ministros “a favor dos que hão de herdar a salvação”; Hebreus 3:1 fala de “participantes da vocação celestial” e Hebreus 3:14 de “participantes de Cristo”; 1 Pedro 3:7 chama marido e esposa de “coerdeiros da graça da vida” — o idioma da co-herança que Efésios 3:6 aplica à igreja inteira.

Em Efésios 3:7 Paulo passa do conteúdo do mistério ao seu próprio encargo: “do qual fui feito ministro, conforme o dom da graça de Deus, a mim concedida, segundo a eficácia do seu poder”. Quando ele diz “fui feito ministro”, repete o que já afirmara: em Efésios 3:2 recebeu uma “dispensação” para com os gentios; em Romanos 15:16 se entende como “ministro de Cristo Jesus entre os gentios, ministrando como sacerdote o evangelho de Deus” para apresentar uma oferta aceitável; em 2 Coríntios 3:6 Deus o “capacitou para ser ministro de uma nova aliança”; em 2 Coríntios 4:1 reconhece que tem “este ministério, segundo a misericórdia”; e em Colossenses 1:23–25 declara-se “ministro… segundo a dispensação de Deus… para cumprir a palavra de Deus”. Ao dizer “conforme o dom da graça”, Paulo sublinha que o chamado e a capacidade não são mérito. Efésios 3:8 reconhece ser “o mínimo de todos os santos”, e mesmo assim lhe foi “dada esta graça de anunciar… as insondáveis riquezas de Cristo”; Romanos 1:5 diz que recebeu “graça e apostolado”; Primeira aos Coríntios 15:10 confessa: “pela graça de Deus sou o que sou… trabalhei mais do que todos eles; todavia não eu, mas a graça de Deus comigo”; 1 Timóteo 1:14–15 descreve essa graça “superabundante”, justamente sobre quem era “blasfemo… perseguidor… o principal dos pecadores”, para que ficasse claro: o ministério é dom. A frase “segundo a eficácia do seu poder” explica o motor do ofício. Efésios 3:20 afirma que Deus “é poderoso para fazer infinitamente mais… segundo o seu poder que opera em nós”; Efésios 1:19 chamou de “suprema grandeza do seu poder” a energia que ressuscitou Cristo e agora atua nos crentes; Efésios 4:16 fala de uma “energia” que, “segundo a justa cooperação de cada parte”, efetua o crescimento do corpo. Isaías 43:13 pergunta: “operando eu, quem o impedirá?”, e o ministério de Paulo é prova dessa mão irrefreável. Romanos 15:18–19 diz que Cristo operou por seu intermédio “em palavra e obras… pelo poder de sinais e prodígios, pelo poder do Espírito”, desde Jerusalém até o Ilírico; 2 Coríntios 10:4–5 recorda que “as armas da nossa milícia… poderosas em Deus” derrubam fortalezas e cativam pensamentos à obediência de Cristo; Gálatas 2:8 testemunha que “aquele que operou eficazmente em Pedro… também operou eficazmente em mim para com os gentios”; Colossenses 1:29 resume o segredo do labor: “trabalho, lutando segundo a sua eficácia que opera em mim poderosamente”; 1 Tessalonicenses 2:13 acrescenta que “a palavra de Deus… opera eficazmente em vós, os que credes”; Hebreus 13:21 atribui a Deus “aperfeiçoar… operando em vós o que é agradável diante dele, por Jesus Cristo”.

As reciprocidades confirmam que esse ministério nasceu, foi confiado e é sustentado pelo céu. Salmos 145:12 dá a pauta: “fazer saber aos filhos dos homens as suas poderosas obras” — o que Paulo faz ao tornar conhecidas as riquezas de Cristo. O Evangelho segundo Lucas 1:2 fala de “ministros da palavra” e testemunhas oculares, matriz do serviço apostólico; Lucas 15:5 mostra o Pastor pondo a ovelha “sobre os ombros”, imagem do servo que carrega os que alcança. João 3:27 estabelece a regra: “o homem não pode receber coisa alguma se do céu não lhe for dada” — ministério é dádiva; João 17:18 mostra a cadeia do envio: “assim como me enviaste… também eu os enviei”. Atos 9:15 define Paulo como “vaso escolhido para levar o meu nome diante de gentios”; Atos 10:28, no episódio de Cornélio, mostra que Deus mesmo quebrou os tabus que emperrariam esse ministério; Atos 13:2 registra o chamado explícito do Espírito: “separai-me Barnabé e Saulo para a obra”; Atos 26:16 o ouviu do próprio Cristo: “para isto te apareci: para te constituir ministro e testemunha”; Atos dos Apóstolos 26:17 detalha o envio “aos gentios”. Romanos 12:3 autoriza Paulo a exortar “pela graça que me foi dada”, lembrando que cada função vem “segundo a medida de fé”; Romanos 15:15 diz que escreve “com mais ousadia… por causa da graça que me foi dada”; 1 Coríntios 15:9 confessa ser “o menor dos apóstolos”, para que fique patente que o que conta é a graça operante. Colossenses 2:12 explica o ambiente de todo esse agir: fé “no poder de Deus que o ressuscitou dentre os mortos”; a mesma energia sustenta o servo. 1 Timóteo 2:7 e 2 Timóteo 1:11 repetem a tríplice designação — “pregador, apóstolo e mestre” — como encargos recebidos; Hebreus 6:4 lembra que os crentes se tornam “participantes do Espírito Santo”, isto é, a capacitação vem do próprio Deus.

Assim, Efésios 3:6–7, lido à luz de cada referência bíblica, afirma que o segredo desvelado é este: gentios não são satélites do povo de Deus, mas coerdeiros, do mesmo corpo, co-participantes da mesma promessa; e quem anuncia isso não o faz por honra própria, mas como mordomo de uma graça e instrumento de um poder que opera — o próprio Deus, que chamou, enviou e sustenta o ministério até que toda a casa esteja cheia.

Em Efésios 3:8 Paulo se descreve como “o mínimo de todos os santos” e, exatamente assim, “foi-lhe dada a graça de anunciar entre os gentios as insondáveis riquezas de Cristo”. O primeiro movimento do versículo é a humildade radical do apóstolo. Provérbios 30:2–3 oferece o tom de Agur — consciência da própria limitação diante do Deus sábio — e Paulo canta na mesma clave: quanto mais alto o dom, mais baixa a postura. Romanos 12:10 manda “preferir uns aos outros em honra”, o que Paulo aplica a si quando se chama “o mínimo”. 1 Coríntios 15:9 vai além: “sou o menor dos apóstolos”, porque perseguiu a igreja; a Filipenses 2:3 pede que, “por humildade, cada um considere os outros superiores a si mesmo”, que é exatamente o que Paulo faz ao falar de si. 1 Timóteo 1:13 lembra que ele fora “blasfemo e perseguidor”, e, em 1:15, ele se chama “o principal dos pecadores”; por isso, 1 Pedro 5:5–6 — “Deus resiste aos soberbos, dá graça aos humildes… humilhai-vos debaixo da poderosa mão de Deus” — explica porque a graça escolheu precisamente esse “mínimo”.

O segundo movimento é a perplexidade agradecida com o privilégio recebido. Davi, em 1Crônicas 17:16, diz “Quem sou eu, Senhor Deus?”; e, nos 29:14–15, reconhece que tudo o que oferece veio primeiro das mãos de Deus — a mesma admiração de Paulo quando diz “me foi dada esta graça”. Os apóstolos, em Atos 5:41, “regozijaram-se por terem sido considerados dignos de sofrer afronta por esse Nome”: Paulo também lê seus encargos e sofrimentos como honra recebida. Romanos 15:15–17 junta as duas linhas: “pela graça que me foi dada… ministro de Cristo Jesus entre os gentios, ministrando como sacerdote o evangelho de Deus” — é este “serviço gracioso” que Efésios 3:8 nomeia.

Daí ele dizer “a mim foi dada a graça… de anunciar entre os gentios”. O verso amarra de novo o que já apareceu em Efésios 3:2: a “dispensação” confiada a Paulo. Gálatas 1:16 conta que Deus “aprouve revelar o seu Filho” para que ele “o pregasse entre os gentios”; Gálatas 2:8 diz que Aquele que operou em Pedro para com os circuncisos, “operou também em mim para com os gentios”; 1 Timóteo 2:7 e a 2 Timóteo 1:11 repetem o triplo selo — “pregador, apóstolo e mestre dos gentios”. Não é autopromoção; é prestação de contas do encargo.

Tudo isso converge na expressão “insondáveis riquezas de Cristo”. O contexto da carta define o conteúdo dessas riquezas: Efésios 3:16 fala das “riquezas da sua glória” fortalecendo “o homem interior”; Efésios 3:19 fala do amor “que excede todo entendimento”, plenitude que enche; Efésios 1:7–8 chama de “riquezas da sua graça” a redenção e o perdão derramados “com toda sabedoria e prudência”; Efésios 2:7 promete mostrar “nas eras vindouras” a “suprema riqueza” da graça. O Saltério canta: “Quão grande é a tua bondade, que guardaste para os que te temem” (Salmos 31:19) — tesouro reservado que, no evangelho, se abre. João 1:16 confessa: “de sua plenitude todos nós temos recebido, e graça sobre graça”; Romanos 11:33 exclama: “ó profundidade das riquezas… quão insondáveis são os seus juízos” — a própria palavra que Paulo usa em Efésios 3:8. A Primeira Carta aos Coríntios 1:30 mostra o que “as riquezas” nos dão: Cristo “feito por Deus sabedoria, justiça, santificação e redenção”; e 2:9 recorda que o que Deus preparou é maior do que olho viu ou coração imaginou, até que o Espírito o revele. Filipenses 4:19 promete que Deus supre “segundo as suas riquezas em glória, em Cristo Jesus”; Colossenses 1:27 chama de “riquezas da glória deste mistério” a realidade “Cristo em vós, esperança da glória”, enquanto Colossenses 2:1–3 diz que “em Cristo” estão escondidos “todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento”. Por isso o Ressuscitado aconselha Laodiceia: “compra de mim ouro refinado no fogo” (Apocalipse João 3:18) — é em Cristo que a igreja enriquece.

As referências bíblicas fazem esse versículo ressoar por toda a Escritura. A história do santuário já catequizava sobre “distribuir” tesouros de Deus ao povo: Êxodo 40:22 mostra a mesa posta “no tabernáculo” — pão de presença disponível; Números 18:7 chama o serviço sacerdotal de dom e encargo, linguagem que Paulo aplica ao seu ministério; e, quando Deus chama homens, o padrão é a pequenez: Juízes 6:15 (Gideão: “o menor”), 1 Samuel 9:21 (Saul: “da menor das tribos”), 2 Samuel 7:18 (Davi: “Quem sou eu?”), 2 Crônicas 2:6 (Salomão: “quem sou eu… para lhe edificar casa?”). Mesmo Salomão, “excedendo a todos os reis em riquezas” (Primeiro Livro dos Reis 10:23), serve de contraste pedagógico: as riquezas de Cristo são maiores, mais duráveis — “Riquezas e honra estão comigo” diz a Sabedoria em Provérbios 8:18 — e o mapa sacerdotal de cidades em Primeiro Livro das Crônicas 6:54 lembra que o Senhor reparte e instala o seu serviço como quer. Jó 11:7 pergunta se podemos “sondar a Deus” — resposta: não, por isso as riquezas são “insondáveis”. Salmos 119:127 ensina a amar a Palavra “mais do que ao ouro”, e Salmos 145:12 manda “fazer saber aos filhos dos homens as suas poderosas obras” — exatamente o que Paulo faz ao anunciar as riquezas de Cristo.

Os profetas alinham esse encargo com a missão. Isaías 6:8 registra o “Eis-me aqui, envia-me”, eco que pulsa no “a mim foi dada a graça de anunciar”; Isaías 42:1 apresenta o Servo em quem Deus se compraz e por quem justiça chega às nações — Cristo, cuja riqueza é para os gentios; Isaías 66:19 promete enviar sobreviventes “às nações” para que contem a glória de Deus — uma paráfrase do itinerário de Paulo. O próprio João Batista, em Mateus 3:11, diz-se indigno até de desatar sandálias: padrão de humildade que Paulo assume; Jesus, em Mateus 11:11, declara que, no Reino, “o menor” tem grandeza — Paulo toma esse lugar; em Mateus 11:19, “a sabedoria é justificada pelas suas obras”, sinal de que as “riquezas de sabedoria” de Cristo se verificam na vida do povo. As parábolas do tesouro em Mateus 13:19 (a Palavra do Reino), 13:46 (a pérola de grande valor) e 13:52 (o escriba que tira do tesouro coisas novas e velhas) explicam o que Paulo faz: abre o cofre antigo à luz nova em Cristo. Quando a mulher siro-fenícia pede “as migalhas” (Mateus 15:27; Marcos 7:28), a cena prefigura gentios alimentados com o pão da mesa; e Mateus 22:9 manda convidar “os que estiverem pelos caminhos” — exatamente a abrangência do “entre os gentios” de Efésios 3:8.

O Evangelho segundo Lucas confirma o mesmo: 1:2 fala de “ministros da palavra” — vocabulário de mordomia; 2:10 anuncia “boas novas de grande alegria que o serão para todo o povo” — amplitude gentílica; 6:45 diz que o homem bom tira do “bom tesouro do coração”, imagem do apóstolo que reparte o que Cristo depositou; 7:28 repete a grandeza do “menor” no Reino; 14:22 ouve-se: “ainda há lugar” — o banquete tem espaço para os de fora; 16:11 pergunta: “se não fostes fiéis nas riquezas injustas, quem vos confiará as verdadeiras?” — as “verdadeiras riquezas” são as de Cristo; 24:47 define o programa: “em seu nome se pregasse arrependimento e remissão de pecados a todas as nações”. O Evangelho segundo João 1:14 apresenta o Cristo “cheio de graça e de verdade”, fonte da abundância; João 3:27 lembra que “o homem não pode receber coisa alguma se do céu não lhe for dada” — inclusive o apostolado de Paulo; João 3:34 diz que Deus dá “o Espírito sem medida” — daí a superabundância; e João 7:35 já dispõe a pergunta: “irá aos gregos e os ensinará?” — sim, é o que o Ressuscitado faz por meio de Paulo.

Atos dos Apóstolos narra a mesma história em movimento: 9:15 define Paulo “vaso escolhido para levar o meu nome” aos gentios; 11:20 mostra a palavra alcançando gregos em Antioquia; 16:32 exibe o evangelho entrando em uma casa inteira; 26:16–17 registra o próprio Cristo dizendo: “para isto te apareci: para te constituir ministro… enviando-te aos gentios”. A teologia de Paulo responde: as “riquezas da sua bondade” conduzem ao arrependimento (Romanos 2:4); a bem-aventurança de Abraão alcança a incircuncisão (Romanos 4:9); a lei é espiritual e o homem, “carnal” (Romanos 7:14), por isso precisa de riqueza que venha de fora; Deus quis “dar a conhecer as riquezas da sua glória em vasos de misericórdia” (Romanos 9:23), sem distinção entre judeu e grego (Romanos 10:12); por isso ele envia pregadores (Romanos 10:15). A queda de Israel trouxe “riquezas para o mundo” (Romanos 11:12), e Paulo, “apóstolo dos gentios” (Romanos 11:13), escreve “segundo a graça” (Romanos 12:3) e chega a Roma “na plenitude da bênção de Cristo” (Romanos 15:29).

A Primeira Carta aos Coríntios 1:5 diz que a igreja foi “enriquecida” em Cristo “em toda palavra e todo conhecimento”; e 1:23 lembra que essa riqueza vem pelo Cristo crucificado — loucura para uns, poder e sabedoria para outros. 13:9 confessa “em parte conhecemos”, mostrando por que as riquezas são “insondáveis”; 15:10 explica o segredo do labor de Paulo: “pela graça de Deus sou o que sou”. 2 Coríntios 1:20 anuncia que “todas quantas promessas há de Deus, tantas têm nele o sim”; 4:1 chama o ministério de “misericórdia”; 4:7 diz que “temos este tesouro em vasos de barro”, para que fique claro que a riqueza é de Deus; 6:10 descreve apóstolos “pobres, mas enriquecendo a muitos”; 8:1 nota a “graça” dada às igrejas; 8:9 revela o cálculo divino: “sendo rico, se fez pobre… para que, pela sua pobreza, vos tornásseis ricos”; 12:11 junta humildade e autoridade: “embora nada seja”. Gálatas 2:9 narra os “colunas” reconhecendo a graça em Paulo; 3:1 denuncia quando o olhar sai de Cristo — só nele estão as “riquezas”. Efésios 1:18 fala das “riquezas da glória da sua herança”, 2:4 diz “Deus, sendo rico em misericórdia”, 3:7 volta ao “segundo o dom da graça”, 4:7 afirma que “a graça foi dada a cada um”, 6:18 manda pedir poder “em toda oração”.

Filipenses 3:8 conclui: “considero tudo perda por causa da excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor” — é a forma mais pessoal de dizer “insondáveis riquezas”. Colossenses 1:23 diz que esse evangelho “foi pregado a toda criatura”, 1:28 mostra o conteúdo da mordomia — “nós proclamamos Cristo”. 1 Tessalonicenses 2:4 confessa que fomos “aprovados por Deus para que o evangelho nos fosse confiado”, enquanto 2:16 registra a oposição que tenta impedir a palavra “aos gentios”; a 2 Timóteo 4:17 testemunha que “o Senhor me assistiu… para que, por meu intermédio, a pregação fosse plenamente cumprida, e todos os gentios a ouvissem”. Tito 3:6 lembra que o Espírito foi “derrivado sobre nós ricamente”, outra face das “riquezas”. Hebreus 11:26 diz que Moisés “considerou o opróbrio de Cristo por maiores riquezas do que os tesouros do Egito”; Tiago 2:5 declara os pobres “ricos em fé”; 1 Pedro 1:25 sela: “a palavra do Senhor permanece… esta é a palavra que vos foi evangelizada”; e 4:10 manda cada um servir como “bom despenseiro da multiforme graça de Deus” — exatamente o que Paulo está fazendo ao chamar de “graça” o seu ministério.

Assim, cada passagem converge para o sentido preciso de Efésios 3:8: o apóstolo se sabe o menor e, justamente por isso, é posto como mordomo; o conteúdo que reparte não tem fundo — Cristo mesmo, com suas riquezas de graça, sabedoria, perdão e presença; e o público a quem isso é entregue, por expressa ordem do céu, são “os gentios”, para que todos, sem distinção, participem do tesouro que Deus abriu em seu Filho.

Em Efésios 3:9 Paulo diz que recebeu a missão de “iluminar a todos” (mostrar, tornar claro) “qual seja a comunhão/dispensação do mistério, desde os séculos oculto em Deus, que criou todas as coisas”. Há três fios aqui: o “anunciar a todos”, o “conteúdo do mistério” e o “autor do mistério” (o Criador). Cada referência bíblica pousa exatamente sobre um desses fios e ajuda você a enxergar como o versículo funciona.

O “iluminar a todos” exige uma proclamação universal. É por isso que o Senhor manda que tudo o que os apóstolos ouviram “ao ouvido” seja “proclamado sobre os telhados” (Mateus 10:27), que “façam discípulos de todas as nações” (Mateus 28:19), que “vão por todo o mundo e preguem o evangelho a toda criatura”, com a chamada concreta à fé e ao batismo (Marcos 16:15–16), e que “em seu nome se pregasse arrependimento e remissão de pecados a todas as nações” (Lucas 24:47). Paulo identifica sua própria vocação com essa ordem quando afirma que o “mistério… agora se tornou manifesto… e, pelas Escrituras proféticas, segundo o mandamento do Deus eterno, foi dado a conhecer a todas as nações” (Romanos 16:26); quando declara que o evangelho “foi pregado a toda criatura que há debaixo do céu” (Colossenses 1:23); quando testifica que o Senhor o assistiu “para que, por meu intermédio, a pregação fosse plenamente cumprida, e todos os gentios a ouvissem” (2 Timóteo 4:17); e quando o Apocalipse retrata um anjo com “um evangelho eterno, para o proclamar aos que se assentam sobre a terra, e a toda nação, tribo, língua e povo” (João 14:6). Essas passagens não apenas ecoam Efésios 3:9; elas explicam a expressão “iluminar a todos” como programa missionário: o segredo agora aberto deve ser tornado público, em escala mundial.

O “conteúdo do mistério” é a própria “comunhão/dispensação” que Paulo já delineou no contexto. Ele acabou de dizer que recebeu por “revelação” o mistério (Efésios 3:3–5) e, antes, que Deus “nos deu a conhecer o mistério da sua vontade: fazer convergir, em Cristo, todas as coisas” (Carta aos Efésios 1:9–10). Quando Paulo chama isso de “mistério”, ele pensa no “segredo” que sempre esteve no coração de Deus e que, agora, é revelado: “grande é o mistério da piedade: Deus foi manifestado em carne… pregado entre os gentios, crido no mundo” (1 Timóteo 3:16). Assim, “comunhão/dispensação do mistério” em Efésios 3:9 amarra o que ele já escreveu “pouco antes”: judeus e gentios feitos “um só homem”, “um só corpo”, e a igreja como “casa de Deus” (Efésios 2:11–22). É exatamente esse o conteúdo que a proclamação torna claro.

Esse mistério, porém, não começou ontem; ele foi planejado “desde antes”. É por isso que Paulo remete “ao princípio”: fomos “eleitos nele antes da fundação do mundo” (Efésios 1:4); Jesus cumpre o que estava “oculto desde a fundação do mundo” (Mateus 13:35); o Reino é “preparado… desde a fundação do mundo” (Mateus 25:34); “conhecidas, desde a eternidade, são a Deus todas as suas obras” (Atos 15:18). Paulo chama de “mistério guardado em silêncio desde tempos eternos, e agora manifestado” (Romanos 16:25); “sabedoria de Deus, em mistério… a qual Deus pré-ordenou antes dos séculos, para nossa glória” (1 Coríntios 2:7); e diz que fomos “desde o princípio escolhidos para a salvação” (2 Tessalonicenses 2:13), “segundo o propósito e a graça que nos foi dada em Cristo Jesus antes dos tempos eternos” (2 Timóteo 1:9), conforme “a esperança da vida eterna, a qual Deus… prometeu antes dos tempos eternos” (Tito 1:2). Pedro confirma: Cristo “conhecido, com efeito, antes da fundação do mundo, porém manifestado no fim dos tempos por amor de vós” (1 Pedro 1:20); e o Apocalipse fala do Cordeiro “morto desde a fundação do mundo” (Apocalipse 13:8) e do “livro” cuja história remonta “desde a fundação do mundo” (Apocalipse 17:8). Todas essas passagens mostram por que Efésios 3:9 insiste em “desde os séculos”: o plano que agora é iluminado para todos estava desenhado no coração de Deus desde sempre.

Enquanto esse plano não vinha a público, ele esteve “oculto”. Paulo descreve o mesmo em linguagem quase idêntica: “o mistério que esteve oculto dos séculos e das gerações, agora, todavia, se manifestou aos seus santos” (Colossenses 1:26); e, quanto à nossa própria vida, “está escondida com Cristo em Deus” (Colossenses 3:3). Efésios 3:9, portanto, combina “oculto” (estado anterior) com “iluminar” (ação atual): o anúncio apostólico é a chave que abre o cofre.

E por que Paulo fecha o versículo dizendo “em Deus, que criou todas as coisas”? Porque o Deus que escondeu e revelou é o mesmo que fez tudo existir; o autor do plano é o autor do universo. O Saltério confessa: “pela palavra do SENHOR foram feitos os céus, e todo o exército deles, pelo sopro da sua boca” (Salmos 33:6). O profeta confirma: “Eu, o SENHOR, que faço tudo, que sozinho estendi os céus e espraiei a terra por mim mesmo” (Isaías 44:24). O Evangelho segundo João diz que o Verbo “estava no princípio com Deus; todas as coisas foram feitas por intermédio dele” (João 1:1–3); o próprio Jesus declara: “meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também” (João 5:17) e que nada faz “de si mesmo, senão o que vir o Pai fazer” (João 5:19), porque Ele e o Pai “são um” (João 10:30). Paulo sustenta que “nele foram criadas todas as coisas… tudo foi criado por meio dele e para ele; e ele é antes de todas as coisas, e nele subsistem” (Carta aos Colossenses 1:16–17). A Carta aos Hebreus repete que Deus “fez o universo” por meio do Filho (Hebreus 1:2), que o Filho “sustenta todas as coisas pela palavra do seu poder” (Hebreus 1:3), e conclui com uma máxima: “toda casa é edificada por alguém, mas o que edificou todas as coisas é Deus” (Hebreus 3:3–4). Assim, quando Efésios 3:9 ancora o mistério no Criador, ele garante duas coisas: autoridade (quem fez tudo pode dirigir a história) e amplitude (um plano que toca “todas as coisas” não é provinciano; é cósmico).

As referências recíprocas fecham o círculo. A Bíblia começa com “No princípio, criou Deus os céus e a terra” (Gênesis 1:1), e termina louvando: “porque tu criaste todas as coisas, e por tua vontade existiram e foram criadas” (Apocalipse de João 4:11); Efésios 3:9 está exatamente nesse eixo criação-revelação. O salmista se assombra com a mente de Deus: “quão preciosos, para mim, ó Deus, são os teus pensamentos!” (Salmos 139:17); Jeremias ora: “ah! Senhor Deus, eis que fizeste os céus e a terra… coisa alguma te é demasiadamente maravilhosa” (Jeremias 32:17) — por isso não é difícil crer que Ele guardou e agora abriu um segredo. Jesus mesmo dizia que, no Reino, “o menor… é maior” (Lucas 7:28), preparando a humildade com que Paulo ministra esse mistério. O prólogo de João volta a afirmar que “todas as coisas foram feitas por intermédio dele” (João 1:3) e que o propósito do testemunho é “para que todos cressem por ele” (João 1:7) — iluminar a todos. Paulo pede que ninguém ignore “este mistério” (Romanos 11:25) e lembra que Cristo “se nos tornou, da parte de Deus, sabedoria, justiça, santificação e redenção” (1 Coríntios 1:30): o conteúdo do mistério não é uma ideia, é uma pessoa. Ele já explicou que, “em outras gerações”, o segredo “não foi dado a conhecer… como, agora” (Efésios 3:5); por isso considera “tudo como perda, pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus” (Filipenses 3:8) e ora para que a igreja chegue “ao pleno entendimento… do mistério de Deus, Cristo” (Colossenses 2:2), “em quem estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento” (Colossenses 2:3). Efésios 3:9, lido com essas passagens, diz exatamente isto: o Deus Criador concebeu, escondeu e, no tempo devido, revelou seu plano em Cristo; e Paulo, comissionado, proclama esse segredo a todos, para que todos entrem na comunhão que o próprio Deus planejou “desde os séculos”.

Em Carta aos Efésios 3:10 Paulo revela a finalidade pública do “mistério” agora desvelado: Deus quer, “agora”, tornar conhecida “por meio da igreja”, às hierarquias celestiais, a sua “multiforme sabedoria”. A própria iconografia do culto antigo já sugeria isso: os querubins voltados para o propiciatório, sobre a arca, “olhando” para o lugar onde Deus se encontra com o seu povo, sinalizam criaturas celestiais contemplando a obra da graça (Êxodo 25:17–22, e o paralelo artesanal em Êxodo 37:9). Por isso os salmos convocam os anjos a bendizer o SENHOR, atentos à sua palavra e ao seu governo (Salmos 103:20; Salmos 148:1–2), e Isaías viu serafins clamando “Santo, Santo, Santo”, a glória que enche tudo (Isaías 6:2–4). Ezequiel ouviu a elevação e a voz que acompanha o mover de Deus (Ezequiel 3:12). No evangelho, o que era símbolo vira reportagem: “coisas que anjos desejam perscrutar” estão sendo anunciadas — a salvação pregada “pelo Espírito Santo enviado do céu” (Primeira Carta de Pedro 1:12). No trono, os anciãos e miríades celestiais adoram o Cordeiro “porque compraste para Deus gente de toda tribo, língua, povo e nação” (Apocalipse 5:9–14): é a igreja, resgatada de todos os povos, que exibe ao céu a sabedoria de Deus. É a esses “principados e potestades” que Paulo se refere, as mesmas autoridades sobre as quais Cristo foi exaltado (Efésios 1:21), que não podem separar-nos do amor de Deus (Romanos 8:38), que foram criadas por e para o Filho (Colossenses 1:16) e que estão sujeitas a ele à direita de Deus (1 Pedro 3:22). O palco dessa divulgação é “nas regiões celestiais” — o espaço teológico recorrente da carta (Efésios 1:3). E o que se mostra é “sabedoria multiforme”: o Deus que “nos enriqueceu… em toda sabedoria e prudência” (Efésios 1:8) é o mesmo que “em sabedoria fez todas as coisas” (Salmos 104:24), que esconde e revela aos pequeninos segundo o beneplácito do Pai e do Filho (Mateus 11:25–27). Daí o espanto de Paulo: “ó profundidade das riquezas, tanto da sabedoria como do conhecimento de Deus!” (Romanos 11:33). A chave é Cristo, “poder de Deus e sabedoria de Deus” (1 Coríntios 1:24); é uma “sabedoria… em mistério” (1 Coríntios 2:7), aquela mesma “grande é o mistério da piedade” — Deus manifestado, anunciado às nações, crido no mundo (1 Timóteo 3:16). Por isso o céu atribui ao Cordeiro “poder, riqueza, sabedoria, força, honra, glória e louvor” (Apocalipse 5:12). Assim, cada uma dessas passagens mostra por que a igreja — unida em Cristo — é a vitrine viva, no céu e na terra, da sabedoria multiforme de Deus.

Em Efésios 3:11 Paulo ancora esse plano no decreto eterno: tudo acontece “segundo o propósito eterno que fez em Cristo Jesus, nosso Senhor”. A carta já dissera que fomos “eleitos nele antes da fundação do mundo” (Efésios 1:4), que Deus nos “deu a conhecer o mistério da sua vontade” (Efésios 1:9) e que “faz todas as coisas conforme o conselho da sua vontade” (Efésios 1:11). Os profetas cantam a mesma firmeza: “assim como pensei, assim sucederá” (Isaías 14:24–27); “o meu conselho permanecerá… chamo a ave de rapina… executarei todo o meu conselho” (Isaías 46:10–11); “os desígnios do SENHOR se cumprem” mesmo no juízo sobre as nações (Jeremias 51:29). No evangelho, essa vontade eterna toma os nossos dias e os converte em bem: “todas as coisas cooperam para o bem dos que amam a Deus… porque aos que de antemão conheceu, também os predestinou… chamou… justificou… glorificou” (Romanos 8:28–30). Até a história de Israel ilustra que o “propósito de Deus, segundo a eleição” não depende de obras, mas do que chama (Romanos 9:11). E Paulo define a origem de tudo: “nos salvou e nos chamou… segundo o seu próprio propósito e graça, que nos foi dada em Cristo Jesus antes dos tempos eternos” (2 Timóteo 1:9). Efésios 3:11, portanto, é a costura: o Deus que planejou em Cristo cumpre, no tempo, aquilo que decretou na eternidade.

Em Efésios 3:12 Paulo volta à consequência devocional do mistério: “em quem temos ousadia e acesso com confiança, mediante a fé nele”. O “em quem” retoma o acesso que já havia sido afirmado: “por meio dele, ambos temos acesso, em um Espírito, ao Pai” (Efésios 2:18). É por isso que Jesus pode dizer “eu sou o caminho… ninguém vem ao Pai senão por mim” (Evangelho segundo João 14:6), e é nele que “obtivemos acesso a esta graça, na qual estamos firmes” (Romanos 5:2). A Carta aos Hebreus explica o clima desse acesso: temos “grande sumo sacerdote” (Hebreus 4:14), portanto “acheguemo-nos, pois, com confiança ao trono da graça” (Hebreus 4:16); “tendo, pois, intrepidez para entrar no Santo dos Santos, pelo sangue de Jesus… cheguemo-nos com coração sincero… em plena certeza de fé” (Hebreus 10:19–22). Tudo isso é a prática de Efésios 3:12: fé em Cristo, ousadia filial e entrada real à presença do Pai.

Em Efésios 3:13 Paulo aplica pastoralmente: “Portanto, peço que não desanimeis nas minhas tribulações por vós, pois são a vossa glória.” A Bíblia inteira prepara esse pedido. Moisés ensinou o arauto a dizer ao povo na hora da batalha: “não desanimeis” (Deuteronômio 20:3). Isaías reconhece que “os jovens se cansam e se fatigam”, mas promete que “os que esperam no SENHOR renovam as forças” (Isaías 40:30–31); Sofonias exorta: “não afrouxem as vossas mãos” (Sofonias 3:16). Os apóstolos confirmam: “através de muitas tribulações nos importa entrar no Reino de Deus” (Atos dos Apóstolos 14:22); “não nos cansemos de fazer o bem” (Gálatas 6:9); “não vos canseis de fazer o bem” (2 Tessalonicenses 3:13). A Carta aos Hebreus manda “considerar” o Cristo sofredor para não “desfalecerdes em vossas almas” e lembra a exortação filial: “meu filho, não desprezes a correção do Senhor” (Hebreus 12:3–5). É exatamente esse o sentido do “por vós”: as cadeias de Paulo são serviço que reverte em proveito da igreja. Ele já se apresentou como “prisioneiro” por causa dos gentios (Efésios 3:1); explicou aos coríntios que suas aflições são “para vossa consolação e salvação” (Segunda aos Coríntios 1:6); contou aos filipenses que “as coisas que me aconteceram têm antes contribuído para o progresso do evangelho” e encorajaram outros a falar sem medo (Filipenses 1:12–14); disse aos colossenses: “me alegro nos meus sofrimentos por vós… completo na minha carne o que resta das aflições de Cristo… em favor do seu corpo” (Colossenses 1:24); e preveniu os tessalonicenses de que “fomos destinados a isto” e, por isso, não deviam ser “abalados” pelas tribulações (1 Tessalonicenses 3:2–4). Vista desse modo, a tribulação do apóstolo é “glória” da igreja, porque autentica o evangelho, abre portas, fortalece os irmãos e exibe, mais uma vez, a multiforme sabedoria de Deus que transforma correntes em púlpitos e fraqueza em poder.

Em Efésios 3:14 Paulo descreve o gesto e o endereço da sua oração: “Por esta causa, dobro os joelhos perante o Pai…”. O próprio contexto de Efésios já preparou esse movimento: ele vinha “não cessando de dar graças” e pedindo iluminação, esperança e poder para a igreja (Efésios 1:16–19); agora, retoma a intercessão, mas com ênfase na postura. A Escritura inteira associa “dobrar os joelhos” à adoração e à súplica. Salomão, ao concluir a oração de dedicação do templo, “se levantou de joelhos” (1 Reis 8:54), e o cronista registra que ele “se ajoelhou sobre uma base de bronze… e estendeu as mãos para os céus” (2 Crônicas 6:13). Esdras, ao confessar os pecados do povo, relata: “caí de joelhos e estendi as mãos ao SENHOR meu Deus” (Esdras 9:5). O Salmo convoca: “Vinde, adoremos e prostremo-nos; ajoelhemos diante do SENHOR que nos criou” (Salmos 95:6). O profeta Isaías põe na boca do próprio Deus: “diante de mim se dobrará todo joelho” (Isaías 45:23), e Daniel, mesmo sob decreto hostil, “três vezes por dia… punha-se de joelhos e orava” (Daniel 6:10). Nos Evangelhos e em Atos, o Filho e seus servos oram de joelhos: Jesus, no Getsêmani, “se ajoelhou e orou” (Evangelho segundo Lucas 22:41); Estêvão, enquanto era apedrejado, “pôs-se de joelhos e clamou” (Atos dos Apóstolos 7:60); Pedro, diante de Tabita, “pôs-se de joelhos e orou” (Atos dos Apóstolos 9:40); Paulo, ao despedir-se dos presbíteros de Éfeso, “se ajoelhou e orou com todos eles” (Atos dos Apóstolos 20:36), e, pouco depois, toda a comunidade “ajoelhados na praia, oramos” (Atos dos Apóstolos 21:5). Quando Paulo diz que dobra os joelhos “perante o Pai”, ele está coerente com o início da carta: “Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo” (Efésios 1:3). As muitas ressonâncias “recíprocas” confirmam o quadro: desde que “se começou a invocar o nome do SENHOR” (Gênesis 4:26), a vida do povo de Deus é orante; Jesus disciplina essa vida (“entra no teu quarto e, fechada a porta, ora a teu Pai”, Mateus 6:6) e a fundamenta na mediação do Filho (“tudo quanto pedirdes em meu nome”, João 14:13; 16:23); os apóstolos abraçam um ministério “da palavra e da oração” (Atos 6:4), e Paulo faz da intercessão um labor contínuo (Romanos 1:9; Colossenses 1:3; Colossenses 1:9; Segunda aos Tessalonicenses 1:11). Diante desse Pai, único Deus de quem procedem todas as coisas (1 Coríntios 8:6), a igreja se curva — não diante de ídolos (contraste pedagógico com 1 Reis 19:18) — e confessa o senhorio que, no fim, fará “todo joelho dobrar” diante de Jesus (Filipenses 2:10).

Em Efésios 3:15 Paulo acrescenta que “toda família [ou: toda paternidade], nos céus e na terra, toma o nome” do Pai a quem ele ora. A carta já pintara o horizonte dessa família quando disse que Deus “recapitulou em Cristo todas as coisas, tanto as do céu quanto as da terra” (Efésios 1:10) e exaltou Cristo “acima de todo nome” (Efésios 1:21). É por isso que, no hino cristológico, Deus “lhe deu o nome que está acima de todo nome… para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho… e toda língua confesse” (Filipenses 2:9–11): nome e joelho pertencem ao mesmo senhorio. A Carta aos Colossenses 1:20 explica a abrangência: “reconciliar consigo mesmo todas as coisas”, unificando céu e terra em Cristo. Apocalipse, por sua vez, mostra essa família reunida: no capítulo 5, anciãos, seres viventes e miríades de anjos, com a igreja resgatada de “toda tribo, língua, povo e nação”, entoam um só louvor (Apocalipse 5:8–14); no capítulo 7, uma multidão de todas as nações adora no trono (Apocalipse 7:4–12). “Tomar o nome” também tem uma história: “chamar-se-ão por um outro nome” dado por Deus (Isaías 65:15), “O SENHOR Justiça Nossa” será o nome da cidade e do povo (Jeremias 33:16), “em Antioquia, os discípulos foram, pela primeira vez, chamados cristãos” (Atos dos Apóstolos 11:26), e o Ressuscitado promete “um novo nome” ao vencedor (Apocalipse 2:17; 3:12). Assim, Efésios 3:15 afirma que a igreja — família de Deus — recebe identidade do Pai, e que a comunhão da terra com o céu, agora em Cristo, manifesta-se no compartilhar desse Nome. Por isso mesmo, a comunidade é “da família da fé” (Gálatas 6:10), “concidadãos dos santos e membros da família de Deus” (Efésios 2:19), todos “irmãos” sob um único Mestre (Mateus 23:8).

Em Efésios 3:16 Paulo pede o conteúdo da benção: “que, segundo as riquezas da sua glória, vos conceda que sejais fortalecidos com poder, mediante o seu Espírito, no homem interior”. O padrão é a generosidade divina: na própria carta, “as riquezas da sua graça” nos redimem (Efésios 1:7), “as riquezas da glória” enchem os olhos da esperança (Efésios 1:18), e Deus planeja mostrar “nas eras vindouras… as abundantes riquezas da sua graça” (Efésios 2:7); aqui, Paulo pede que essa reserva inesgotável se traduza em vigor espiritual. Outras passagens reforçam que Deus dá “segundo as suas riquezas em glória” (Filipenses 4:19) e que o tesouro do evangelho é “Cristo em vós, a esperança da glória” (Colossenses 1:27). O pedido central é “fortalecer”. A Bíblia sabe que a força verdadeira vem do Senhor: “o SENHOR é a força do seu povo” (Salmos 28:8); “no dia em que clamei, me fortaleceste com vigor na minha alma” (Salmos 138:3); “Ele dá força ao cansado e multiplica as forças ao que não tem nenhum vigor… os que esperam no SENHOR renovam as suas forças” (Isaías 40:29–31); “não temas, porque eu sou contigo… eu te fortalecerei” (Isaías 41:10); “eu os fortalecerei no SENHOR” (Zacarias 10:12). No Novo Testamento, isso se concentra em Cristo: “fortalecei-vos no Senhor e na força do seu poder” (Efésios 6:10); “basta-te a minha graça, porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza” (Segunda aos Coríntios 12:9); “tudo posso naquele que me fortalece” (Filipenses 4:13); “fortalecidos com todo o poder, segundo a força da sua glória” (Colossenses 1:11); “o Senhor me assistiu e me revestiu de forças” (Segunda a Timóteo 4:17); e a galeria dos fiéis lembra que “da fraqueza tiraram forças” (Hebreus 11:34). O lugar onde essa força opera é “o homem interior”. O profeta antecipou: “porei a minha lei no seu interior” (Jeremias 31:33); Paulo fala da “circuncisão do coração, no espírito” (Romanos 2:29) e confessa “tenho prazer na lei de Deus, segundo o homem interior” (Romanos 7:22); mesmo quando “o homem exterior se corrompe, o interior se renova de dia em dia” (2 Coríntios 4:16); e Pedro chama esse núcleo de “o homem interior do coração”, “incorruptível” (Primeira de Pedro 3:4). O pedido de Paulo, portanto, é que o Espírito fortaleça esse centro — onde fé, amor e obediência são engendrados — “segundo as riquezas da glória” de Deus. E tudo isso ecoa a pedagogia do Antigo Testamento: Deus é quem dá força (1 Crônicas 29:12), quem cumpre os desejos dos que o temem (Salmos 145:19), quem faz “ir adiante no poder do SENHOR” (Salmos 71:16) e quem, quando clamamos, “fortalece” mãos trêmulas e corações cansados (Neemias 6:9; Salmos 119:28). É essa abundância que Paulo invoca — não um esforço estoico, mas a energia do próprio Deus no íntimo do seu povo.

Em Efésios 3:19 Paulo pede duas coisas que se entrelaçam: “conhecer o amor de Cristo” e, justamente por ser amor que “excede todo entendimento”, ser “tomados de toda a plenitude de Deus”. Não é um conhecimento meramente conceitual; é participação viva no amor com que Cristo nos amou, até nos encher de Deus. Por isso, logo antes, ele orou para que fôssemos “fortalecidos… no homem interior” (Efésios 3:16) e para que “Cristo habite, pela fé, no vosso coração” (Efésios 3:17–18). O próprio contexto imediato volta aqui: Efésios 3:18 fala de “compreender… qual seja a largura, o comprimento, a altura e a profundidade”, isto é, a imensidão do amor de Cristo que agora Paulo quer que “conheçamos”. Essa medida do amor aparece encarnada em toda a carta: “andai em amor, como também Cristo nos amou e se entregou por nós” (Efésios 5:2) e “maridos, amai vossas esposas, como também Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela” (Efésios 5:25). O Evangelho segundo João 17:3 define a vida eterna como “conhecer… a ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo”, explicando que “conhecer” aqui é relação de aliança, não apenas informação. Por isso também “o amor de Cristo nos constrange” (2 Coríntios 5:14): quando esse amor é conhecido de verdade, ele nos toma por dentro. Gálatas 2:20 traduz essa experiência: “já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim”; conhecer o amor é viver nessa união. Filipenses 2:5–12 mostra o conteúdo desse amor — a kenosis, a autoentrega que desce até a cruz — e nos chama a ter “em vós o mesmo sentimento”. Colossenses 1:10 ora para que “cresçais no pleno conhecimento de Deus”, o que desemboca em vida frutífera; 2 Pedro 3:18 manda “crescer na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo”, atando amor e conhecimento; a 1 João 4:9–14 mostra o amor manifesto (“Deus enviou seu Filho… para vivermos por meio dele”) e sua finalidade missionária (“enviou seu Filho para Salvador do mundo”): é esse amor, visto na cruz e derramado pelo Espírito, que Paulo quer que conheçamos.

Quando Paulo diz que esse amor “excede o conhecimento”, ele afirma que a realidade vivida ultrapassa a capacidade de mensuração mental. Um versículo aparentemente improvável ajuda a enxergar isso: “justo é que eu assim sinta acerca de todos vós, porque vos trago no coração… e todos vós sois participantes da minha graça” (Filipenses 1:7). Ali, “participantes” da graça e “no coração” esclarecem que o saber apostólico é afetivo e compartilhado — é comunhão em graça, não apenas ideia na cabeça. É por isso que a mesma carta falará da “paz de Deus, que excede todo entendimento” (Filipenses 4:7): o vocabulário do “exceder” reaparece para dizer que o dom de Deus ultrapassa o âmbito do cálculo intelectual, exatamente como Paulo diz em Efésios 3:19 sobre o amor de Cristo.

Daqui vem a meta: “para que sejais tomados de toda a plenitude de Deus”. Efésios 1:23 já havia dito que a igreja é “a plenitude daquele que a tudo enche em todas as coisas”; o mesmo apóstolo explicará que “nele habita corporalmente toda a plenitude da divindade, e estais perfeitos nele” (Colossenses 2:9–10), e o prólogo do Quarto Evangelho testemunha: “de sua plenitude todos nós temos recebido, e graça sobre graça” (João 1:16). O Saltério canta essa plenitude como satisfação em Deus: “eu me satisfarei da tua semelhança” (Salmos 17:15) e “chegarei ao altar de Deus, a Deus, minha grande alegria” (Salmos 43:4). O próprio Jesus prometeu bem-aventurança aos que “têm fome e sede de justiça” (Mateus 5:6), apontando para essa vida que se sacia em Deus. As visões do Apocalipse mostram o horizonte consumado dessa plenitude: o Cordeiro pastoreia e “os guia para as fontes da água da vida… e Deus enxugará de seus olhos toda lágrima” (Apocalipse 7:15–17); a nova Jerusalém vive à luz da glória de Deus e do Cordeiro (Apocalipse 21:22–24); ali “não haverá maldição… verão o seu rosto… e reinarão pelos séculos dos séculos” (Apocalipse 22:3–5). É isto que Paulo pede já agora: a vida de Deus enchendo o seu povo até transbordar.

As referências “recíprocas” confirmam e detalham esse pedido sob vários ângulos. A incomensurabilidade do amor e da sabedoria de Deus é um tema antigo: Jó pergunta se se pode “sondar a Deus… mais alta é… mais profunda é do que o inferno” (Jó 11:8), e o salmista mede o amor dizendo: “quanto o céu se eleva acima da terra, assim é grande a sua misericórdia” (Salmos 103:11). É por isso que Efésios 4:10 dirá que Cristo “subiu acima de todos os céus, para encher todas as coisas”, e Paulo, na mesma Carta aos Filipenses, chamará de “excelência do conhecimento de Cristo” (Filipenses 3:8) aquilo que supera todas as comparações. A imagem da “plenitude que enche” aparece no tabernáculo: os painéis “acoplados” que fecham as quinas (Êxodo 36:29) e o “interior adornado com amor” na liteira de Salomão (Cântico dos Cânticos 3:10) sugerem uma casa bem unida e cheia por dentro — figura da igreja que Deus habita. O Cântico dos Cânticos 7:4, com seus “olhos” comparados a fontes e reservas, dialoga com a oração paulina pelos “olhos do coração” iluminados (Efésios 1:17) para verem a riqueza dessa plenitude. O mesmo Antigo Testamento promete fartura espiritual: “abre bem a tua boca, e eu a encherei” (Salmos 81:10); “saciarei de gordura a alma dos sacerdotes, e o meu povo se fartará da minha bondade” (Jeremias 31:14); “quão grande é a sua bondade e quão grande é a sua formosura!” — quadros de trigo e vinho que alegram (Zacarias 9:17). Tudo converge na lógica do evangelho: “conheceis a graça de nosso Senhor Jesus Cristo, que, sendo rico, se fez pobre por amor de vós, para que, pela sua pobreza, vos tornásseis ricos” (Segunda aos Coríntios 8:9); por isso Paulo viaja com a certeza de “ir em plenitude da bênção de Cristo” (Romanos 15:29).

Essa plenitude, porém, não cancela o fato de que, agora, “em parte conhecemos” (1 Coríntios 13:9). É por isso que Jesus disse a Pedro: “não foi carne e sangue que to revelaram, mas meu Pai” (Mateus 16:17), e o sábio confessa: “não aprendi a sabedoria, nem tenho conhecimento do Santo” (Provérbios 30:3) — reconhecimento humilde que casa com a oração de Efésios 1:17 por “espírito de sabedoria e de revelação”. Mesmo assim, essa medida que nos falta não impede a experiência: “na tua presença há plenitude de alegria” (Salmos 16:11); “estas coisas foram escritas para que a vossa alegria seja completa” (1 João 1:4). A parábola da siro-fenícia, ao pedir “migalhas” (Mateus 15:27), mostra um amor tão abundante que transborda até para quem está à margem — retrato da plenitude que inclui os gentios; e o Mestre, ao concluir a parábola do bom samaritano, manda: “vai e procede tu de igual modo” (Lucas 10:37), isto é, quem conhece o amor passa a amar. O próprio Cristo é a plenitude em pessoa: “o Verbo se fez carne… cheio de graça e de verdade” (João 1:14); “eu sou o bom Pastor, e conheço as minhas ovelhas” (João 10:14) — conhecimento relacional que Paulo quer para nós. Quando o Espírito é derramado, “todos foram cheios do Espírito Santo” (Atos 2:4): aí está, historicamente, a “plenitude de Deus” enchendo o seu povo. Por isso nada “poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus” (Romanos 8:39); e Paulo pode desejar que sejamos cheios porque é Deus quem “dá” e “faz” (Efésios 3:8; Efésios 1:17). O clímax do vocabulário está naquela mesma paz “que excede todo entendimento” (Filipenses 4:7), paralela ao “amor que excede o conhecimento” em Efésios 3:19. No fim, o espanto se torna adoração: “vede que grande amor o Pai nos tem concedido” (1 João 3:1). Até ecos narrativos lembram que Deus nos dá mais do que pedimos: Davi se admira—“e isto é ainda pouco aos teus olhos?”—quando Deus lhe promete uma casa eterna (2 Samuel 7:19); e o sábio conclui que o amor tem “tempo” em que se manifesta (Eclesiastes 3:8). Mesmo uma nota aparentemente distante, como “quem é sábio observe estas coisas e entenderá as misericórdias do SENHOR” (Salmos 107:43), aponta ao ponto central: conhecer o amor de Cristo é compreender, pela prática da graça, as misericórdias de Deus.

Por isso, Efésios 3:19 exige exatamente o que as passagens citadas oferecem: contemplar o amor de Cristo na cruz e na sua entrega (Efésios 5:2; Efésios 5:25; Filipenses 2:5–12), recebê-lo como vida que nos habita (Gálatas 2:20), crescer nesse conhecimento relacional e obediente (João 17:3; Colossenses 1:10; 2 Pedro 3:18), aceitar que esse amor nos ultrapassa e, não obstante, nos toma por inteiro (Filipenses 1:7; Filipenses 4:7), até sermos saciados pela plenitude que o próprio Deus comunica em seu Filho (Efésios 1:23; João 1:16; Colossenses 2:9–10; Apocalipse 7; 21; 22). É essa cadeia — conhecer, ser excedido e ser cheio — que Paulo ora para que se cumpra em nós.

Em Efésios 3:19 Paulo pede que a igreja “conheça o amor de Cristo” — justamente um amor que “excede” a mera capacidade de conhecer — “para que sejais tomados de toda a plenitude de Deus”. O pedido se encadeia com o versículo anterior (“compreender… a largura, o comprimento, a altura e a profundidade”, Efésios 3:18) e com os retratos do próprio amor na carta: “andai em amor, como também Cristo nos amou e se entregou por nós” e “Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela” (Efésios 5:2; 5:25). A vida eterna é definida como esse conhecer relacional: “conhecer… a ti… e a Jesus Cristo” (João 17:3); por isso “o amor de Cristo nos constrange” (2 Coríntios 5:14) e “já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim” (Gálatas 2:20). O hino de Filipos mostra o contorno desse amor — o abaixamento até a cruz (Filipenses 2:5–12) — e a oração por “crescer… no pleno conhecimento de Deus” (Colossenses 1:10), repetida em “crescei na graça e no conhecimento” (2 Pedro 3:18), indica que esse “conhecer” é crescimento em comunhão. A Primeira Carta de João 4:9–14 mostra o amor de modo histórico (o envio do Filho) e missionário (o Salvador “do mundo”): é esse amor que Paulo quer que experimentemos. Quando ele diz que o amor “excede o conhecimento”, recorda o mesmo vocabulário com que, em Filipos, confessa uma graça “partilhada no coração” (Filipenses 1:7) e, no fim da mesma carta, falará da “paz… que excede todo entendimento” (Filipenses 4:7): o dom de Deus ultrapassa o cálculo mental. A finalidade é “serdes tomados da plenitude de Deus”: a carta já disse que a igreja é “a plenitude daquele que a tudo enche” (Efésios 1:23); o prólogo de João testifica: “de sua plenitude todos nós temos recebido” (João 1:16); em Cristo “habita corporalmente toda a plenitude da divindade” e “nele estais completos” (Colossenses 2:9–10). O Saltério descreve essa plenitude como saciedade em Deus (Salmos 17:15; Salmos 43:4) e o próprio Jesus promete encher de justiça quem tem fome e sede (Mateus 5:6). As visões do Apocalipse explicitam o alvo: o Cordeiro pastoreia e “os guia para as fontes da água da vida” (Apocalipse 7:15–17); a cidade não precisa de templo porque “o Senhor Deus todo-poderoso e o Cordeiro são o seu santuário” e sua luz enche tudo (Apocalipse 21:22–24; 22:3–5). É por isso que as referências “recíprocas” falam de medida que nos ultrapassa (Jó 11:8), de presença que satura (Salmos 16:11), de boca aberta que Deus enche (Salmos 81:10), de misericórdia alta como os céus (Salmos 103:11), de povo saciado de bondade (Jeremias 31:14), de beleza e abundância que espantam (Zacarias 9:17), de migalhas que bastam porque a mesa é superabundante (Evangelho segundo Mateus 15:27), de revelação que vence nossa insuficiência (Evangelho segundo Mateus 16:17), de conhecimento que se torna obediência amorosa (Lucas 10:37), do Verbo “cheio de graça e de verdade” (João 1:14) que conhece suas ovelhas (João 10:14) e de um povo “cheio do Espírito Santo” (Atos 2:4). Nada nos separa desse amor (Romanos 8:39); por isso Paulo pode desejar “ir em plenitude da bênção de Cristo” (Romanos 15:29) e, ao mesmo tempo, confessar “em parte conhecemos” (1 Coríntios 13:9). Tudo isso é o pano de fundo do pedido: conhecer o amor que nos excede até sermos cheios de Deus.

Em Efésios 3:20 Paulo transforma a oração em doxologia, declarando quem é o Deus a quem pede: “Àquele que é poderoso para fazer infinitamente mais do que tudo quanto pedimos ou pensamos, conforme o seu poder que opera em nós…”. O Antigo Testamento repete esse “poderoso para”: “Eu sou o Deus todo-poderoso” (Gênesis 17:1); “haveria coisa demasiadamente difícil para o SENHOR?” — pergunta que domina a visita a Abraão (Gênesis 18; e a resposta reaparece entre os recíprocos, Gênesis 18:14); “o SENHOR te pode dar muito mais do que isso” (Segundo Livro das Crônicas 25:9); “ah! Senhor Deus… nada te é demasiado maravilhoso” e “eu sou o SENHOR… acaso haveria alguma coisa demasiado difícil para mim?” (Jeremias 32:17; 32:27). Os livramentos ecoam: “o nosso Deus, a quem servimos, pode livrar-nos” (Daniel 3:17); Daniel é preservado na cova (Daniel 6; a cena culmina no anúncio de que Deus pôde guardá-lo). João Batista lembra que Deus “pode… destas pedras suscitar filhos a Abraão” (Evangelho segundo Mateus 3:9); Jesus e o Pai são um, e ninguém arrebata das suas mãos (João 10:29–30). Paulo se converteu crendo que Deus “era poderoso para cumprir o que prometera” (Romanos 4:21) e encerra Romanos louvando “aquele que é poderoso para vos confirmar” (Romanos 16:25). A Carta aos Hebreus proclama: “pode salvar totalmente os que por ele se chegam a Deus” (Hebreus 7:25); Abraão figurou essa confiança crendo que Deus “podia até ressuscitá-lo” (Hebreus 11:19); o “Deus de paz… vos aperfeiçoe em todo bem” (Hebreus 13:20–21). Tiago lembra que “um só é o legislador e juiz, o que pode salvar e destruir” (Tiago 4:12) e Judas doxologiza “ao que é poderoso para vos guardar de tropeçar” (Judas 1:24). Quando Paulo diz “infinitamente mais”, ele pisa um solo muito bíblico: o Deus “abundante em benignidade” (Êxodo 34:6) que fez a Davi “ainda mais” do que ele pensara (2 Samuel 7:19), que deu a Salomão além do pedido (1 Reis 3:13), que farta na sua casa e dá “rios de delícias” (Salmos 36:8–9), que convida: “comei, amigos; bebei, embriagai-vos de amores” (Cantares de Salomão 5:1), que faz o deserto florescer “abundantemente” (Isaías 35:2), que “multiplicamente perdoa” (Isaías 55:7), cujo Filho veio para que “tenham vida e a tenham em abundância” (João 10:10), que preparou coisas que “olho não viu” (1 Coríntios 2:9), cuja graça “superabundou” em Paulo (1 Timóteo 1:14) e que dará “ampla entrada” no Reino (2 Pedro 1:11). Mas Paulo não deixa essa grandeza na abstração: ela vem “conforme o poder que opera em nós” — o mesmo poder que o constituiu ministro (Efésios 3:7), a “suprema grandeza do seu poder” que ressuscitou Cristo (Efésios 1:19) e a energia segundo a qual ele “trabalha, lutando” (Colossenses 1:29). Por isso as passagens recíprocas alinham louvor e experiência: “enche o meu cálice” (Salmos 23:5), “abre a tua boca e eu a encherei” (Salmos 81:10), “clama a mim e responder-te-ei e anunciar-te-ei coisas grandes” (Jeremias 33:3), “tudo quanto pedirdes em meu nome, isso farei” (João 14:13). A doxologia de Paulo, então, é o reconhecimento de que Deus faz transbordar pedidos e pensamentos, e faz isso por meio do mesmo poder que já está operando na igreja.

Em Efésios 3:21 Paulo conclui: “a ele seja a glória, na igreja e em Cristo Jesus, por todas as gerações, para todo o sempre. Amém.” O destino de toda obra divina é a glória de Deus: a própria carta começara com “para louvor da glória da sua graça” (Efésios 1:6). Davi já orara: “tua, SENHOR, é a grandeza, o poder, a glória…” (1 Crônicas 29:11); os salmos mandam “tributai… glória ao SENHOR” (Salmos 29:1–2) e bendizem “o seu glorioso nome… a terra se encha da sua glória” (Salmos 72:19); “não a nós, SENHOR, não a nós, mas ao teu nome dá glória” (Salmos 115:1). Os profetas veem a terra cheia de “Santo, Santo, Santo” (Isaías 6:3) e conclamam a “dar glória” ao SENHOR (Isaías 42:12). Jesus nos ensinou a terminar a oração com “teu é o reino, o poder e a glória” (Mateus 6:13) e o nascimento do Salvador foi saudado com “glória a Deus nas alturas” (Evangelho segundo Lucas 2:14). Paulo confessa: “dele, por meio dele e para ele são todas as coisas; glória, pois, a ele” (Romanos 11:36); “ao Deus único e sábio, por meio de Jesus Cristo, a glória” (Romanos 16:27); “a ele a glória” (Gálatas 1:5; Filipenses 4:20; 2 Timóteo 4:18; Hebreus 13:21; 1 Pedro 5:11). O Apocalipse mostra a liturgia que fundamenta a frase “na igreja e em Cristo Jesus”: no céu, seres viventes, anciãos e miríades entoam: “Digno és… porque foste morto e com o teu sangue compraste… e para o nosso Deus os fizeste reino e sacerdotes” (Apocalipse 5:9–14); “ao que está sentado no trono e ao Cordeiro, sejam o louvor, e a honra, e a glória, e o domínio” (Apocalipse 4:9–11; 7:12–17). Aqui na terra, essa glória sobe “pela igreja”: “cheios do fruto de justiça… para glória e louvor de Deus” (Filipenses 1:11); “ofereçamos sempre, por meio dele, sacrifício de louvor… e não vos esqueçais da prática do bem” (Hebreus 13:15–16); “oferecer sacrifícios espirituais aceitáveis a Deus, por meio de Jesus Cristo” (1 Pedro 2:5). E ela sobe “por todas as gerações, para todo o sempre”: a carta já havia dito que Deus mostrará “nas eras vindouras” as riquezas da sua graça (Efésios 2:7); os apóstolos repetem a cadência de eternidade — “pelos séculos dos séculos” (1 Pedro 5:11; 2 Pedro 3:18; Judas 1:25). É este o fecho perfeito da oração: porque o amor de Cristo nos enche e o poder de Deus opera em nós, toda glória pertence a Deus, na igreja que Cristo resgatou, agora e sem fim.

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