Salmo 131 — Estudo Devocional
Salmo 131
Humildade e confiança em Deus
Canção de peregrinos. De Davi.
O Salmo 131 é um salmo curto, mas poderoso, que reflete uma postura de humildade e confiança em Deus. Incentiva-nos a ter uma fé infantil e a encontrar contentamento na presença de Deus. Aqui estão algumas aplicações de vida baseadas no Salmo 131:
1. Cultive a humildade: Abrace a humildade em seu relacionamento com Deus. Reconheça sua necessidade Dele e a importância de depender de Sua sabedoria e orientação.
2. Confie no tempo de Deus: Confie que o tempo de Deus é perfeito. Assim como uma criança desmamada confia no momento da alimentação da mãe, confie que Deus sabe quando suprir as suas necessidades.
3. Pratique o Contentamento: Encontre contentamento na presença e provisão de Deus. Evite o esforço excessivo e a busca de ambições mundanas que podem levar ao descontentamento.
4. Simplifique sua vida: simplifique sua vida concentrando-se no que realmente importa. Priorize seu relacionamento com Deus e seus entes queridos em detrimento dos bens materiais ou do sucesso mundano.
5. Fique quieto diante de Deus: Passe algum tempo em reflexão e oração silenciosa. Permita momentos de quietude e solidão para aprofundar sua intimidade com Deus.
6. Submeta-se à Vontade de Deus: Entregue seus desejos e planos a Deus. Busque a vontade Dele para sua vida e esteja disposto a alinhar seus objetivos com Seus propósitos.
7. Deixe de lado a ansiedade: Libere a ansiedade e as preocupações com o futuro. Confie que Deus está no controle e que Seus planos são para o seu bem-estar (Jeremias 29:11).
8. Abrace a fé infantil: Aborde sua fé com a simplicidade e a confiança de uma criança. Acredite na bondade, no amor e na fidelidade de Deus sem complicar demais as coisas.
9. Priorize relacionamentos: Dê muito valor aos seus relacionamentos com a família e entes queridos. Invista tempo e esforço para nutrir essas conexões.
10. Pratique o auto-exame: Examine regularmente seu coração e suas motivações. Identifique áreas de orgulho, autossuficiência ou inquietação que possam atrapalhar seu relacionamento com Deus.
11. Busque orientação e sabedoria: Ao enfrentar decisões, busque a orientação e a sabedoria de Deus. Confie que Ele o guiará no caminho certo e lhe dará clareza.
12. Viva com Gratidão: Cultive um coração de gratidão pelas bênçãos e provisões em sua vida. Expresse gratidão a Deus por Sua bondade.
13. Servir com Humildade: Envolva-se em atos de serviço e ministério com um coração humilde. Sirva aos outros como uma expressão do seu amor por Deus.
14. Promova um Espírito Tranquilo: Esforce-se pela paz interior e tranquilidade em sua vida diária. Evite o caos das ocupações e encontre momentos de quietude na presença de Deus.
15. Incentive os outros na sua fé: Seja um encorajamento para os outros na sua jornada de fé. Compartilhe suas experiências de encontrar paz e contentamento na presença de Deus.
16. Descanse no Amor de Deus: Descanse no conhecimento do amor profundo e permanente de Deus por você. Permita que Seu amor seja uma fonte de conforto e segurança em sua vida.
O Salmo 131 nos chama a cultivar a humildade, confiar no tempo de Deus e encontrar contentamento em Sua presença. Convida-nos a simplificar nossas vidas, priorizar relacionamentos e abraçar uma fé infantil em Deus. Em última análise, incentiva-nos a abandonar o orgulho e a ansiedade e a descansar no amor e no cuidado de nosso Pai Celestial.
Devocional
131.1 já não sou… deixei… não vou atrás. Orgulho, arrogância, altivez, ganância, vaidade… quantas características desonrosas podemos abrigar em nós! Veja que elas são muito encontradas e até valorizadas no mundo que nos cerca. Mais do que tudo, elas são disposições que nos levam a correr desesperadamente, sem noção de limites, atropelando pessoas e circunstâncias, nunca saciados com o que conquistamos. Davi, em seu relacionamento com Deus, aprendeu que é somente dele que precisamos — e assim a vida ficou bem melhor.
131.2 como a criança desmamada. Temos muito a aprender com as crianças, o que é essencial para nos relacionarmos com o Pai do Céu (veja, Mc 10.15). Se você tiver oportunidade, procure observar um bebê depois de mamar; ou com um pouco mais de idade, no processo de desmame. Veja o quadro “Aprendendo com a criança”.
131.2-3 estou satisfeito e tranquilo… o meu coração está calmo. Ao contrário da condição expressa no v. 1, ter a esperança posta em Deus induz à serenidade, ao sossego confiante e ao silêncio meditativo, capazes de produzir resultados apaziguadores sobre nosso corpo, alma e espírito. Que bela é a figura da criança amamentada e segura, adormecida nos braços da mãe, que nos ensina a atitude básica no relacionamento com Deus.
131.3 Povo de Israel, ponha a sua esperança em Deus. A partir de nossa experiência com Deus é que podemos ensinar aos outros, ajudando-os a também se aproximarem dele. Um exercício sugerido seria repetir este verso colocando o seu nome no lugar de “povo de Israel”: “Maria/José, ponha a sua esperança em Deus, o Senhor, agora e sempre!” Isso pode ser usado como finalização de uma reunião, de um estudo sobre este salmo. Outro exercício que se aplica aqui seria escrever um “antissalmo” (veja o quadro “Exercícios de oração nos Salmos”, Sl 23).
Aprendendo com a criança
Várias vezes a Bíblia nos chama a atenção para aprendermos com as crianças e também com situações da nossa infância. Por exemplo, ao lermos histórias bíblicas para nossos filhos, mesmo sem o perceber estamos passando para eles, além do conteúdo das histórias em si, toda uma comunicação de afeto, que talvez tenhamos nós mesmos recebido de nossas mães e pais. Esse afeto vem através do cuidado, da entonação da voz, do tempo dedicado e da atenção para com os pequeninos — geralmente na hora de dormir, acompanhado de uma oração a Deus, que também é pai-mãe, e isso tudo certamente associará coisas boas à Palavra de Deus. Leiamos este salmo numa tradução tradicional (AA):
Senhor, o meu coração não é soberbo
nem os meus olhos são altivos;
não me ocupo de assuntos grandes e maravilhosos demais para mim.
Pelo contrário, tenho feito acalmar e sossegar a minha alma;
qual criança desmamada sobre o seio de sua mãe,
qual criança desmamada está a minha alma para comigo.
Espera, ó Israel, no Senhor, desde agora e para sempre.
Eis a atitude da criança que sabe seu tamanho e sua fragilidade, requerendo a presença de um adulto protetor. Todos nascemos em desamparo, e uma das nossas tarefas na vida, segundo Freud, é aceitar o desamparo que tem sua matriz na infância mas que se manifesta também na vida adulta, pois perante forças da natureza e perante a morte não temos qualquer domínio. Uma das portas que se abre neste salmo é a aceitação do nosso desamparo, que acontece na presença de Deus.
Mas vamos nos deter no verso 2, no qual vemos duas possibilidades de interpretação, as duas igualmente legítimas e válidas:
Qual criança desmamada sobre o seio de sua mãe, qual criança desmamada está a minha alma para comigo.
1. Amamentação. A primeira possibilidade é de que essa criança foi recém amamentada — e portanto, está naquele torpor delicioso de saciedade. Neste caso, “Deus-mãe” me alimentou, Deus me saciou, nEle tenho meu alimento conjugado com o aconchego. O que sacia um bebê é a combinação de alimento e carinho — “com açúcar e com afeto”, diz o provérbio. Disso nossa teologia pode aprender que, além de boa de conteúdo — de nutrição — é necessário tornar-se também aconchegante e amorosa.
O Dr. Winnicott, que antes de psicanalista era pediatra, estudou especialmente a relação entre mãe/cuidador e bebê, e sua importância para a constituição do eu, da personalidade da criança. Uma das suas afirmações mais significativas é a de que não existe uma criança sem a mãe: o desenvolvimento da identidade do bebê só avança no ambiente de brincadeira, de amor, e acima de tudo, de percepção da atenção da mãe (biológica ou substituta).
Assim, a criança no colo da mãe neste salmo nos recorda que não existimos sem nosso Deus — o relacionar-se com Ele é, desde Adão e Eva, o que dá identidade ao nosso ser. A dependência infantil nos exorta a sempre lembrarmos desse fato, e nos inspira a “nascermos de novo” e a nos deixarmos recriar através da dependência de Deus. O místico Irmão Lourenço expressava que o hábito mais santo e necessário em nossa vida espiritual é a presença de Deus. Isso significa sentir um prazer constante em Sua companhia, falar com Ele humilde e amorosamente em todas as ocasiões, a cada momento, não limitando a conversação de forma alguma.
Alimentação é presença: Winnicott afirma que a alimentação da criança é uma questão de relacionamento mãe-filho, é o ato de pôr em prática a relação de amor entre dois seres humanos. Nutrição, em outras palavras, é a prática da relação de amor, de um corpo que se doa para outro corpo carente. Aqui está a matriz que será profundamente ressignificada no “Isto é meu corpo” da Santa Ceia. Jesus Cristo assenta na relação primeira — a mãe que dá o próprio corpo ao bebê — a instituição do mais significativo ritual cristão, e com isso atinge as marcas da experiência mais primitiva do ser humano (veja o quadro “O valor psicoteológico da Ceia”, At 20.)
E mais: o aleitamento, o fato concreto de tomar parte no corpo materno durante uma relação satisfatória, fornecerá um esquema para todos os tipos de experiências em que o instinto participa. Isto é, o salmista está fazendo diretamente esta ponte entre a experiência da amamentação e sua relação com Deus — “tal qual uma criança…” A satisfação originária se tornou um paradigma para as experiências de relação com outros humanos e com Deus.
Mas Winnicott também salienta que a alimentação não é só satisfação. O bebê, quando se sente esfomeado e desconfortável, ‘ataca’ vorazmente o peito, e fantasia que está agredindo o seio, para depois descobrir que “atacou” a própria mãe: “há um elemento agressivo muito forte no impulso primitivo de amor, que é o impulso para mamar”. Em outras palavras, o estado de satisfação pós-mamada também vem pela percepção de que a mãe sobreviveu ao ataque esfomeado, e continua amorosa e inteira. Desta forma, a mãe assegura a seu bebê que a fome dele não foi grande demais, e que ela é capaz de lidar com as intensidades do seu corpo e emoções. Experimentar graça e perdão também podem encontrar sua matriz aqui…
2. Desmame. A segunda possibilidade de interpretação do estado do bebê do Salmo 131 é de que o salmista se refira a uma criança um pouco maior, que está vivendo a situação de desmame: Qual criança desmamada sobre o seio de sua mãe.
Neste caso, o corpo da mãe já não fornece mais alimento, e a criança precisa contentar-se apenas com o aconchego. Ela teve de fazer uma passagem para outros alimentos, já não há aquela completude paradisíaca do começo da vida, onde ambos se bastavam. Assim, o salmista está se referindo a uma situação de acatamento, de renúncia e de apaziguamento, de “contentar-se com menos”.
Aqui temos uma base para as experiências de quando Deus não me dá tudo o que quero — as coisas grandes demais; essas experiências requerem que eu faça um trabalho de aquietamento interno — tenho feito acalmar e sossegar a minha alma. Este é um trabalho duro, do meu eu, que deve cessar de querer sempre tudo do bom e do melhor, e se contentar com menos. Como todo bom trabalho, este trará bons frutos para a experiência de si e de relacionamento com o outro.
Diz o Dr. Winnicot: “Na experiência do desmame, já é um fato importante que a mãe resista a todos os sentimentos associados ao desmame, e se resiste é porque, em parte, a criança a protege e, por outra parte, porque ela pode se proteger”. Ou seja, passar pela crise do desmame sem “acabar” com o outro fornece uma primeira experiência de superação de crise; e mais: houve crescimento mútuo! O bebê e sua mãe aprendem a lidar com frustrações e a se preservarem sem a intermediação do seio.
A teologia precisa resgatar este modelo de sobrevivência em crise para auxiliar pessoas a preservarem a relação com Deus depois de não receberem “grandes coisas”! Como um exemplo: todo o temor associado neuroticamente ao “pecado contra o Espírito Santo” mostra que há fantasias de que a relação com Deus não sobreviverá ao ataque do cristão raivoso (veja o quadro “A neurose do medo de Deus”, Lc 19), tal como a criança (mal) desmamada no colo de sua mãe, que imagina que “a mãe não sobreviveu” a seu ataque. Por outro lado, há cristãos que interpretam doenças, perdas ou acidentes como castigos de Deus por pecados cometidos, como se a mãe se vingasse e por isso “recusasse o seio”.
A frustração moderada é motor do crescimento, já diziam Freud e Winnicott, e possibilita que através da fantasia se construa satisfações provisórias, e que se aceite estas em lugar das primeiras. O paninho de fralda e a chupeta entram no lugar do seio, e o bebê com eles pode imaginar que voltou à situação paradisíaca. Imaginar, fantasiar é o motor da criatividade, e no sossego da alma a criança brinca, o adulto trabalha, o poeta compõe e o agricultor planta. E todos, com brincadeiras, canções, piadas e trabalhos, potencializam o gesto criativo pelo qual participam da atividade de Deus, e fazem andar a roda da vida.
Vemos, portanto, que o Salmo 131 nos dá um belo exemplo para considerar a relação mãe/pai — criança como um paradigma para a relação Deus-ser humano.