Interpretação de Hebreus 7

Hebreus 7

Hebreus 7 se aprofunda na comparação entre Jesus Cristo e a misteriosa figura de Melquisedeque do Antigo Testamento. O capítulo explora a superioridade do sacerdócio de Jesus sobre o sacerdócio levítico e sublinha a importância do papel de Cristo como sumo sacerdote eterno. Aqui está uma interpretação dos pontos-chave em Hebreus 7:

1. O encontro de Melquisedeque com Abraão: O capítulo começa contando o breve mas significativo encontro entre Abraão e Melquisedeque, rei de Salém (Jerusalém) e sacerdote do Deus Altíssimo. Melquisedeque abençoou Abraão, e Abraão deu-lhe o dízimo (um décimo) dos despojos de guerra. O autor destaca a singularidade do sacerdócio de Melquisedeque e a sua falta de genealogia, ao contrário dos sacerdotes levíticos (Hebreus 7:1-3).

2. Superioridade de Melquisedeque: O autor argumenta que Melquisedeque é maior que Abraão, embora Abraão seja o patriarca da nação israelita. Isto é demonstrado pelo fato de que Abraão pagou o dízimo a Melquisedeque, e Melquisedeque abençoou Abraão. O autor sugere que a pessoa menor é abençoada pela maior, implicando a superioridade do sacerdócio de Melquisedeque (Hebreus 7:4-7).

3. Comparação com o Sacerdócio Levítico: O capítulo contrasta o sacerdócio de Melquisedeque com o sacerdócio levítico estabelecido sob a lei mosaica. Os sacerdotes levíticos, que recebiam o dízimo dos israelitas, eram mortais e sujeitos à morte. Em contraste, o sacerdócio de Melquisedeque é descrito como não tendo começo nem fim, sem registro de sua morte ou genealogia. Isto destaca a natureza eterna do sacerdócio de Melquisedeque, tornando-o superior ao sacerdócio levítico (Hebreus 7:8-10).

4. Mudança de Sacerdócio: O autor argumenta que uma mudança de sacerdócio implica uma mudança na lei. Visto que Jesus é da tribo de Judá, e não de Levi, Seu sacerdócio representa um afastamento significativo da ordem levítica. Ele é um sacerdote de acordo com a ordem de Melquisedeque, não a ordem levítica, e Seu sacerdócio é estabelecido por um juramento de Deus, enfatizando sua natureza única e duradoura (Hebreus 7:11-22).

5. A Permanência do Sacerdócio de Jesus: O capítulo conclui afirmando que Jesus, como o sumo sacerdote eterno, é capaz de salvar completamente aqueles que se chegam a Deus através dele. Ele vive sempre para interceder por eles, tornando o Seu sacerdócio muito superior ao dos sacerdotes levíticos que ofereciam sacrifícios repetidamente. O sacerdócio de Jesus é imutável e garante uma aliança melhor (Hebreus 7:23-28).

Em Hebreus 7, o autor explora a figura misteriosa de Melquisedeque e estabelece a superioridade do sacerdócio de Jesus sobre o sacerdócio levítico. A comparação entre Melquisedeque e Abraão demonstra a grandeza do sacerdócio de Melquisedeque, que é ainda mais enfatizada pela sua natureza eterna. O capítulo destaca o significado de Jesus como o sumo sacerdote eterno que intercede pelos crentes e garante uma aliança melhor. Em última análise, Hebreus 7 sublinha a singularidade e a superioridade do papel sacerdotal de Jesus Cristo na Nova Aliança.

Interpretação

7:1-28 Melquisedeque é um tipo definido de Cristo. Tudo o que sabemos sobre Melquisedeque encontra-se em duas passagens do V.T. (Gn. 14:17-20, Sl. 110:4). Nos dois exemplos sua posição de sacerdote de Deus é transparente. Também a história da sua vida foi toda narrada na passagem de Gênesis. Nada mais se sabe sobre ele, e não está bem claro se a referência feita a Salém deve ser interpretada como feita a Jerusalém (Alf, IV, 125). Entretanto, não há nenhum engano em se aceitar Melquisedeque como um tipo do sacerdócio eterno de Cristo. Este pensamento serve para abrir caminho à discussão do sistema levítico.

Leonard indica 7:1–10:18 como o âmago da epístola. Ele fala dela considerando-a uma seção incomparável, havendo poucos paralelos seus, se é que há, no N.T., uma vez que desenvolve a avaliação comparativa dos mediadores sacerdotais das duas alianças (op, cit., pág. 32).

A importância de Melquisedeque e o significado da comparação de Melquisedeque e Cristo tem sido assunto de muita discussão. Opiniões sobre estas considerações variam grandemente. Cotton e Purdy (IB, XI, 660, 661) falam da “especulação de Melquisedeque” e do “método alexandrino de interpretação alegórica”, a qual significa, dizem eles, “uma falta de sinceridade com o fato histórico”. E ainda o comentário deles sobre a passagem prossegue destacando claramente que Melquisedeque estabelece a “validade e a dignidade do sacerdócio de Cristo” e que Melquisedeque é “o protótipo do Filho... Ele (o escritor de Hebreus) apresentou provas que Jesus é o Filho; ele tinha agora de mostrar que Ele é Sacerdote”.

A. B. Davidson, em seu The Epistle to the Hebrews (págs. 129,146 e segs.) discute todo o assunto do sacerdócio de Cristo, incluindo a questão de Melquisedeque. Ele estabelece corretamente o princípio básico. Com Melquisedeque, a função do sacerdócio não implica em discussão, mas sim as pessoas envolvidas no sacerdócio. Para todos os sacerdotes o ministério é essencialmente o mesmo, sendo apenas ampliado para o sumo sacerdote em relação ao Dia da Expiação. Assim o escritor relaciona Cristo com Melquisedeque a fim de enfatizar que Cristo é um sacerdote eterno.

7:1-3 O incidente histórico registrado em Gn. 14:17-20 volta à tona. O escritor indica que Melquisedeque era um rei e por isso recebeu tributo de Abraão; mas, o que é mais importante, ele foi sacerdote do Deus Altíssimo, e portanto recebeu os dízimos de Abraão. Mais adiante ele logra o seu intento com referência ao fato de Melquisedeque ser um sacerdote de Deus antes do sacerdócio levítico ser estabelecido. (vs. 4-6). Na porção parentética dos versículos 2, 3, nota-se o fato que Melquisedeque não tem registro de genealogia ou sucessão. Também não se menciona o seu nascimento nem a sua morte foi registrada. Sua história é de alguém que não tinha princípio de dias nem fim de existência, mas foi feito semelhante ao Filho de Deus. Esta falta de informação a respeito do nascimento fortalece a tipologia de Melquisedeque em relação a Cristo. Assim o Sl. 110:4 enfatiza a eternidade do sacerdócio de Melquisedeque, eis to dienekes, perpetuamente, continuamente, para sempre (Hb. 7:3).

7:4-14 O que significa toda esta discussão sobre Melquisedeque espiritualmente? Considerai, ou contemplai (theoreite) a grandeza daquele a quem Abraão reconheceu ser superior dando-lhe dízimos. A verdade importante é que o sacerdócio de Melquisedeque era maior do que o sacerdócio de Arão e dos levitas porque (figuradamente) este último sacerdócio oferecia dízimos a Deus através do primeiro sacerdócio ou de Melquisedeque na pessoa de Abraão. Deste modo o menor, isto é, os levitas, é abençoado pelo superior, isto é, Melquisedeque. As implicações todas têm a intenção de demonstrar a superioridade e eternidade do sacerdócio deste último, que funcionou como sacerdote quando abençoou Abraão e (figuradamente) Arão e os levitas.

Nesta sequência discute-se a relação do sacerdócio levítico com Cristo (vs. 11-14). Jesus não era de Levi mas de Judá. Isto O exclui da ordem dos sacerdotes sob a Lei. Sua humanidade O relacionava com a tribo de Judá, e portanto (v. 13) Ele não era qualificado no plano humano para servir no altar como sacerdote, pois Moisés não pronunciou nenhuma palavra concedendo autoridade ou função sacerdotal a Judá.

7:15-28 A pergunta técnica se Cristo era /é um sacerdote responde-se por si mesma porque Ele é de outra ordem sacerdotal. Esta ordem adjudicou-se superior em todos os pontos ao sacerdócio levítico, e esta ordem é eterna.

7:16 O poder de vida indissolúvel (akatalytos) não aparece em nenhum outro lugar do N.T.

7:18-20 A Lei de Moisés mencionada na frase se revoga a anterior ordenança foi ab-rogada ou posta de lado porque Cristo é o sacerdote de Deus selado com um juramento (Sl. 110:4).

7:22 Cristo é o fiador (engyos) de que o juramento divino será cumprido nas promessas e garantias da nova aliança.

7:23-28 Cristo continua para sempre e não está sujeito à morte. A sepultura foi derrotada. Ele pode portanto salvar totalmente, completamente e até o fim, isto é, eternamente, qualquer um que invocá- Lo. Do mesmo modo Sua intercessão pelos Seus não tem fim. Estes ministérios são garantidos pelo Seu próprio caráter (santo, inculpável, sem mácula, separado dos pecadores), Suas funções (como sacrifício expiador), e Seu relacionamento.

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