Provérbios 11 — Análise Bíblica

Provérbios 11

Provérbios 11 fornece sabedoria prática sobre vários aspectos da vida justa, da conduta ética e das consequências das ações de alguém. Enfatiza o valor da honestidade, generosidade, sabedoria no falar, boa reputação e busca de conselho. O capítulo sublinha a ideia de que a justiça é, em última análise, recompensada e que Deus se deleita naqueles que vivem virtuosamente e com justiça.

Análise

11:1-31 O primeiro provérbio desse capítulo nos transporta para o mundo dos negócios. Contrasta aquilo que o Senhor aborrece com aquilo em que ele se deleita. Como Hubbard comenta, “as palavras são fortes e conferem ao âmbito comercial um tom claramente religioso” (CC). Não há dúvida de que a lei (Lv 19:35-36; Dt 25:13-16), os profetas (Ez 45:9-12; Am 8:4-6) e a literatura sapiencial são unânimes quanto à balança enganosa e ao peso justo (11:1; cf. tb. 20:10, 33). De acordo com 11:2, a soberba é acompanhada de desonra, mas o fruto da humildade é a sabedoria. Em seguida, o autor contrasta a integridade do justo que os guia e a falsidade dos infiéis que os destrói (11:3). Numa passagem anterior (10:15), o autor declarou que as riquezas são como “cidade forte” de quem a possui. Agora, porém, afirma que de nada aproveitam no dia da ira, mas a justiça livra da morte (11:4). “A retidão agradável a Deus é, portanto, mais valiosa que as riquezas quando se espera justiça divina” (EBC). 

Os dois versículos seguintes podem ser considerados uma unidade. A justiça do íntegro endireita o seu caminho (11:5a); a justiça dos retos os livrará (11:6a). Mas pela sua impiedade cai o perverso (11:56) e na sua maldade os pérfidos serão apanhados (11:66). Encontramos outro exemplo de paralelismo sintético em 11:7, que parece expandir a segunda parte do paralelismo antitético de 10:28. Ali, a esperança parece ser extinguida enquanto a pessoa ainda está viva; aqui, sua extinção vem com a morte. A presença da conjunção “e” na segunda parte de 11:8 pode causar confusão. 

Em seu lugar, deveria ser empregada a conjunção “mas” (presente no texto hebraico) para indicar contraste: O justo é libertado da angústia, mas o perverso a recebe em seu lugar No contraste de 11:9, enquanto o ímpio, com a boca, destrói o próximo [...] os justos são libertados pelo conhecimento. Os versículos 10-11 podem ser considerados uma unidade, apesar de o primeiro ser sintético ou contínuo (retoma a ideia de regozijar-se) e o segundo ser antitético. Em essência, 11:10 afirma que há júbilo quando a justiça prevalece, como fica implícito na prosperidade do justo e perecimento do perverso. Para expandir essa ideia, 11:11 retrata como o destino da cidade é afetado pela bênção que os retos suscitam e pela boca dos perversos. Graças à primeira, a cidade se exalta e, em razão da última, é derribada.

O contraste de 11:12 é entre o falto de senso e o homem prudente. O primeiro despreza o próximo, enquanto o segundo se cala (cf. tb. 10:19). O versículo seguinte volta a tratar da fala. O mexeriqueiro é alguém que descobre o segredo (11:13, cf. tb. 20:19), mas o fiel de espírito o encobre. 

O provérbio seguinte trata de questões que afetam a nação, mas o princípio também se aplica a decisões na igreja, nos negócios e na vida pessoal. Contrasta a falta de sábia direção com a presença de multidão de conselheiros. A primeira situação provoca a queda de uma nação, enquanto a segunda proporciona segurança (11:14). Kidner resume: “Obtenha todo conselho que puder” (TOT), mas acrescenta uma advertência: “Evite o excesso de opiniões” (TOT). É preciso certificar-se também de que os conselheiros são idôneos, pois, do contrário, pode-se acabar numa situação semelhante à que Nelson Mandela se referiu em seu famoso comentário sobre a política do presidente norte-americano Bush em relação ao Iraque: “É um homem de caráter, mas cercado de dinossauros”. Com referência a 11:15, ver comentários sobre 6:1-5 (cf. tb. 17:18; 20:16; 27:13). Encontramos na sequência uma comparação rara entre mulheres e homens: A mulher graciosa alcança honra, como os poderosos adquirem riqueza (11:16). 

O termo “poderosos” também pode ser traduzido por “cruéis” (NVI) ou “violentos” (RC). Na opinião de alguns intérpretes, o provérbio significa que o alvo principal da mulher deve ser a obtenção de “honra e respeito que lhe conferirão importância e estima na comunidade” (CC), enquanto o objetivo maior do homem deve ser a obtenção de segurança financeira “que lhe permita cuidar da família, compartilhar seus bens com seu próximo [...] e louvar a Deus, de quem provêm todas as bênçãos” (CC). Mas, ao considerarmos esse versículo em conjunto com o seguinte, o homem bondoso faz bem a si mesmo, mas o cruel a si mesmo se fere (11:17), parece mais provável que o contraste seja entre “graciosa” e “poderosos” (ou “cruéis”, “violentos”). Pelo visto, Kidner apoia essa ideia quando diz: “A crueldade não é a única maneira de chegar ao poder” (TOT). É possível que também haja um contraste entre “honra” e “riqueza” em 11:16: “O provérbio sugere a possibilidade de obter riqueza de várias maneiras, mas a honra é a recompensa natural para a pessoa graciosa” (EBC).

O provérbio seguinte trata de um conceito semelhante: O perverso recebe um salário ilusório (11:18; cf. tb. 10:16), mas o que semeia justiça terá recompensa verdadeira. A compara­ção entre as duas classes de pessoas continua em 11:19: Tão certo como a justiça conduz para a vida, assim o que segue o mal, para a sua morte o faz. É possível que os versículos 20-21 formem um conjunto: Abomináveis para o Senhor são os perversos de coração (11:20a) e, por esse motivo, o mau [...] não ficará sem castigo (11:21a). Mas os que andam em integridade são o seu prazer (11:20b) e, portanto, a geração dos justos é livre (11:216). Em hebraico, a expressão traduzida por é evidente em 11:21 significa, literalmente, “de mãos dadas” e lembra o aperto de mão entre duas pessoas usado para indicar a conclusão de um contrato. A ênfase é sobre a certeza da retribuição. Em 11:22, outro dito comparativo se destaca entre os provérbios antitéticos desses capítulos. 

Quem seria tolo de colocar uma joia valiosa no focinho de um porco, especialmente no contexto da sociedade israelita que desprezava os porcos por serem animais impuros? A joia perderia seu valor, assim como a beleza é desperdiçada numa mulher formosa que não tem discrição. Um provérbio tigrigna da Eritréia expressa a mesma verdade: ‘seeli ab geli (lit., “uma pintura num caco de cerâmica”). Quando alguém quebra uma vasilha, joga os cacos fora, pois não têm nenhuma utilidade. Fazer uma bela pintura num caco é um desperdício de trabalho e recursos. Uma mulher bonita sem aptidões, tato ou sabedoria é igualmente inútil, no sentido bíblico exato do termo. Como vimos nos capítulos 1 a 9, nada se compara à sabedoria. “Não há beleza física que compense a falta [de sabedoria]. Na verdade, a disparidade entre graça de feições e formas e a grosseria de palavras e comportamentos é tão dissonante quanto o desperdício de um ‘brinco de ouro’ colocado no ‘focinho’ furado de um porco” (CC). O desejo dos justos tende somente para o bem, mas a expectação dos perversos redunda em ira (11:23). 

O provérbio mostra como a justiça retributiva se aplica à vida de pessoas de duas categorias. Na sequência, encontramos outro conjunto de provérbios, desta vez a respeito da generosidade (11:24-26). O primeiro deles, em 11:24, dá a impressão de ser paradoxal. Como é possível a distribuição generosa de bens aumentar a riqueza? o paradoxo é solucionado quando nos lembramos que o Senhor é a fonte de riqueza e aquele que administra a justiça (cf. Mt 16:25; Lc 6:38). Já 11:25 é um provérbio sintético, pois a segunda linha desenvolve a ideia mencionada na primeira. Aqui, o autor elogia a prática de compartilhar recursos com outros, enquanto 11:26 condena o acúmulo de bens e o egoísmo: Ao que retém o trigo, o povo amaldiçoa, mas bênção haverá sobre a cabeça do seu vendedor. O verbo “reter” sugere especulação à custa de outros. De acordo com Hubbard: “O dito pressupõe que as práticas comerciais normais foram suspensas devido a propósitos escusos do vendedor” (CC).

Apesar de 11:27 não mencionar especificamente a generosidade, princípios semelhantes se aplicam a este versículo. Como Kidner comenta: “Você obtém para si aquilo que busca para os outros” (TOT). As riquezas voltam a ser mencionadas em 11:28: Quem confia nas riquezas cairá (fica implícito que a confiança nas riquezas substitui a confiança no Senhor), mas os justos reverdecerão como a folhagem (cf. Sl 1:3). A imagem natural da folhagem verde é substituída por outra imagem da natureza no versículo seguinte: O que perturba a sua casa herda o vento, e o insensato é servo do sábio de coração (11:29). Aqui, o “vento” é uma referência ao nada, a algo tão insubstancial quanto o vento. Esse é o primeiro fruto produzido “por um homem avarento que priva sua família do sustento e não lhe proporciona outra coisa além de aflição” (EBC). O fruto do justo, pelo contrário, é árvore de vida (11:30a). O significado da frase o que ganha almas é sábio (11:30b) não está claro. De acordo com a interpretação de Kidner, “o homem justo possui uma influência vivificadora, e o sábio conquista outros para a sabedoria” (TOT; cf. tb. Dn 12:3). O último provérbio do capítulo emprega a forma condicional: Se o justo é punido na terra, quanto mais o perverso e o pecador! (11:31). As palavras são tranquilizadoras para os justos e ameaçadoras para os ímpios. Indicam que a retribuição já se evidencia aqui na terra.

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